quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

Último post do ano. Vi por aí, nos blogs, gente fazendo as habituais retrospectivas do que aconteceu ao longo do ano. Como é que elas conseguem? No meu ano acontecem tantas coisas que sou incapaz de fazer um resumo. Talvez elas passem o ano inteiro tomando notas, pensando já na elaboração de seu relatório anual. Affff, tô fora.

Mas vou tentar fazer uma retrospectiva dos últimos dias, incluindo eventos escolhidos de forma totalmente aleatória.

Coisas que rastejam de noite: noite dessas, enquanto estava no banheiro, luz apagada e sem óculos, como é meu hábito, senti algo fazendo cócegas no dorso do pé. Achei que era o cinto do roupão, pendurado na parede, mas pelas dúvidas corri pôr os óculos e acendi a luz. Argh. Era uma barata que tinha tentado subir no meu pé!

El perro volador: dia 25, Thor, meu pitpulga, no entusiasmo de latir pra um cachorro que passava, caiu da varanda. Três metros de altura. Meu coração ficou miudinho quando vi o bichinho lá embaixo na rua, encolhido, babando e cercado de sangue. Depois de muito examinar, o diagnóstico: duas unhas quebradas nas patas de trás. Já tá zero bala. Quem me deu a maior força foi a Wyrm, que é veterinária. Liguei pra ela e ela foi dando todas as instruções. VALEU, WYRM, AMIGA DO CORAÇÃO!

Transpiros ou vampestis?: ontem de madrugada, ação policial na frente de casa. Quatro viaturas pararam um táxi levando três travestis que tinham assaltado um rapaz. Os travestis mais medonhos que já vi na vida, diga-se de passagem. De repente, um policial de lanterna vai até a vítima, afasta o colarinho e examina seu pescoço, de um lado e de outro; o rapaz até inclinava a cabeça para colaborar. Fiquei pasma. Igualzinho filme de Drácula! Travestis... vampiros?! Depois, quando o policial examinou também as costas do cara, entendi: ele tinha sido agredido pelas moçoilas... a unhadas!!! Vixe, cada coisa que acontece...

Temível predador: numa de minhas caminhadas matutinas, uma cena insólita. No meio da rua três pombos comendo quaisquer que sejam as porcarias que pombos comem, e muito agachadinho, na tocaia, um gato amarelo, daqueles gatos adolescentes, magrelos, pernudos e tontos, crente de que suas presas não o viam. De repente ele dava uma corridinha, rastejante, rumo às aves, e elas, sem se abalar, simplesmente andavam um pouquinho mais pra frente, mantendo a distância. E o gatolo lá, lambendo os beiços e se achando uma temível fera das selvas.

Produtividade: acabei hoje de escrever um conto. 16 páginas, o mais longo que já escrevi. Há três anos e meio não escrevia uma ficção científica. Termino feliz o ano.

Moluscos de Natal: na noite de Natal, teve comilança, sim, senhor. Mas teve também um documentário sobre a vida sexual das lulas gigantes. Fascinante. Gosto de biólogo não se discute, ok?

Año Nuevo, libros y alfajores: depois de amanhã a estas horas, estarei batendo perna por Florida, a rua mais agitada de Buenos Aires, provavelmente fazendo compras ou tomando algo num café. A capital portenha é uma das poucas cidades do mundo onde você pode comprar livros à uma da manhã. Os habitantes locais vão dormir tão tarde que provavelmente o estilo de vida de um vampiro passaria totalmente despercebido!

É isso aí, amigos. Pra todos um FELIZ ANO NOVO. E acompanhem aqui, a partir de 2 de janeiro, a crônica on-line de minha viagem rumo à Patagônia!

Besos y quesos y hasta pronto!

Martha Argel

sábado, 20 de dezembro de 2003

Bons dias. O Natal se aproxima, tenebroso: fim de ano, fim de fôlego, balanço do que deu errado, perspectivas inquietantes. No fundo, no fundo, não dá pra sentir nenhum clima de festa. As pessoas estão exaustas e sabem que o descanso (pouco) será insuficiente pra agüentar o país de 2004.

O fim da infância
Nesta nossa era de adultescência hiperprolongada, a maturidade vem aos poucos, principalmente pra quem é como eu, profissional liberal do gênero feminino, descasada, sem filhos e aspirante a uma vida econômica próspera o suficiente para garantir ao menos a grana pro asilo na velhice. Eventos únicos marcam esse processo: a morte do pai, o casamento, a separação, o primeiro compromisso profissional no exterior, o livro nas livrarias, a abertura da empresa. Engraçado, também me senti mais adulta o dia em que descobri quais os dias do lixeiro e assumi a responsabilidade de pôr o lixo pra fora no momento certo.
Outro dia encontrei um bilhetinho em minha geladeira: "Gosto muito de você e queria saber se você quer ser minha madrinha, vou continuar gostando mesmo se você não quiser, beijos". Obra da Letícia, 12 anos, moradora de uma periferia miserável.
Difícil conter as lágrimas. Difícil não lembrar da merda social que é esse país, da passividade de uma classe média egocêntrica, egoísta e insensível. Dos seres humanos desperdiçados em meio à indignidade de favelas e invasões.
Bateu um medo de ser igual à maioria inerte. O medo de não estar à altura de minha responsabilidade, da responsabilidade que deveria ser de todos. A certeza de que a Letícia merece muito, muito, muito. Muito mais do que poderei dar.
De qualquer maneira, paúra à parte, vamos lá. Pelo menos minha parte vou tentar cumprir. Já é bem mais do que a maioria faz.


O rapto do Menino Jesus
Hoje de manhã aproveitei a caminhada e entrei na igreja para pensar um pouco na vida. Tinha um presépio armado e parei pra olhar. Figuras bonitas, muitas flores, provavelmente colocadas por fiéis, dois embrulhos de papel que talvez fossem oferendas e... Jesus! Quer dizer: cadê Jesus?! A manjedoura estava vazia. Maria, José e um pastorzinho tocador de flauta olhavam fixamente o lugar onde deveria estar deitadinho o salvador recém-nascido e onde não havia nada. Era como se estivessem pasmos, não acreditando no que viam. Ou no que não viam. Eu também não acreditei. Desviei os olhos, olhei de novo, vai que deu um curto no meu nervo óptico, mas não, nada de errado com minhas sinapses, o Filho de Deus NÃO ESTAVA LÁ! Raios. Saí em busca de algum funcionário da igreja. Lá fora achei um: “Desculpe, senhor, por que é que o Menino Jesus não está no lugar?" "Ele tá lá" "Não tá. A manjedoura está vazia" "Ah, fala com o guarda" "Mas o senhor não é guarda?" "Tem um guarda dentro na igreja" "Não tem, eu não vi" "Tem sim, procura lá" Ele deve ter pensado que eu era meio idiota: não via Jesus, não via guarda... Voltei lá e por fim achei o guarda num canto. E ele resolveu o mistério: ninguém tinha levado embora o Redentor, não. Já tinha acontecido antes, sim, mas dessa vez era só o costume da igreja: o Menino Jesus é colocado no presépio quando montam, mas depois eles tiram. Só voltam a colocar à meia-noite do Natal. Faz sentido, não faz? Simbologia do nascimento, e enquanto isso Maria, José, o pastor, você e eu ficamos olhando e venerando um leito vazio. Bonito. Uma prova de fé por parte dos paroquianos.

Peixe podre
Li no jornal agora há pouco: 99,9998% do iG pertencem à iG Cayman, com base nas ilhas Cayman, que são muito mais do que um idílico arquipélago tropical. Algo fede muito nessa história. Gente honesta não costuma ter empresas em paraísos fiscais.

Noite de autógrafos
Giulia Moon e eu estaremos autografando nossos livros Luar de vampiros e O vampiro de cada um neste domingo, dia 21, no Absolute Beginners, que vai rolar no DJ Club, na al. Franca, 241 Jardins (perto do metrô Trianon-Masp), a partir das 18:30 - até 19:15 a entrada é livre!). O som é anos 80, com destaque para o gótico. O lugar é muito bacana. Apareçam por lá. Não vão se arrepender!

Beijos e queijos, e desde já cuidado pra não se descontrolarem na comilança de fim de ano!

Martha Argel

segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

Bom dia ensolarado de verão. A manhã luminosa sinaliza que o dia vai ser fogo. Ontem, voltando pra casa depois de um delicioso buffet no Viena, a Giu e eu não acreditamos nos termômetros que marcavam 34 graus. Todos errados, reclamamos. Mas chegando em casa chequei meu próprio termômetro, mais confiável que as geringonças eletrônicas da prefeitura, e era isso mesmo! Affff!

Faz tempo que não posto. No que tenho ocupado meus dias? Muito trabalho, viagens a campo, reuniões, eventos de todos os tipos, contatos literários a rodo, minhas listas de discussão, a burocracia que vem associada à atividade profissional intensa, preparativos para a ida ao Sul Distante, compromissos com amigos.

No meio de tudo isso, tento escrever um pouco. Só de pensar que não vou poder escrever durante todo o mês de janeiro, já me arrependo um pouco de ter inventado a ida à Patagônia. Mas é sempre assim, já acostumei. Vou ficar cada vez mais irritada e mal-humorada com "essa viagem idiota" até o momento de botar a mochila nas costas e trancar a casa. A partir daí, acabam-se os problemas, os filhos-da-puta sacanas e traiçoeiros desaparecem da minha vida, os contos inacabados tornam-se irrelevantes e o aluvião de preocupações que encontrarei ao voltar deixa de merecer qualquer impulso elétrico do mais desprezível neurônio de meu cérebro.

E antes que eu esqueça, novidade:

Já está disponível o FicZine, uma publicação criada em parceria da escritora Giulia Moon e que traz, nesta edição n. 1, três contos de Natal.
Pra quem não conhece a Giulia, é autora de Luar de vampiros (Scortecci, 2003) e tem uma escrita elegante e grande versatilidade. Seu conto Pé de moleque em dezembro traz uma versão bem brasileira do Natal, misturando com muita sensibilidade Fantasia e Humor.
Nosso convidado deste número é Rogério Amaral de Vasconcellos. Natal no Olimpo é um conto de Ficção Científica -- como é o Natal num planeta onde não existem calendários?
E, completando esta edição, meu conto O Natal de Igor, uma fantasia em que até o humilde serviçal de um estranho nobre sonha com sua noite feliz...
Vocês podem baixar o arquivo em pdf do FicZine a partir do site da Giulia, http://www.giuliamoon.com.br, no link de Downloads.

E logo, logo, meu novo site, agora em domínio próprio, vai estar no ar. Aguardem!!!

É isso aí. Aproveitem bem seu tempo. Façam coisas boas pra vocês e pros outros.

Martha Argel

segunda-feira, 8 de dezembro de 2003

Maluquice.

Parece que todos meus clientes resolveram acordar de uma hora pra outra. O que está aparecendo de trabalho é brincadeira. Se neste país trabalhar deixasse a gente rica, eu já tava milionária.

Infelizmente, o meio mais fácil não só de ganhar dinheiro, mas também de fazer fama, é sendo filho da puta. Hoje me liga uma amiga pra me contar algo que eu não sabia e que me deixou furiosa e indignada. Palavras dela: "esse seu amigo é um filho da puta, o que ele fez com você é antiético, mas pode deixar que nunca mais chamo ele pra trabalho nenhum, porque com esse sujeito eu não quero mais contato". Ok. Beleza. Já começa a pagar por ser mau-caráter.

E as coisas que acontecem comigo! Acabo de receber um e-mail desesperado, perguntando se eu teria possibilidade de ir como ornitoguia para a Antártida de 10 a 20... de dezembro!!! Hahaha, depois de amanhã, acha??? Porra, porque não me chamam pra ir em janeiro? Afinal, vou estar lá pertinho, em plena Patagônia argentina, durante todo o mês.

É isso aí. Em breve vou estar de página nova na rede, com meu próprio domínio. Depois eu posto a URL aqui.
Ah, sim, estou reativando minha lista de notícias, onde mando textos meus e novidades sobre lançamentos e noites de autógrafos:

http://br.groups.yahoo.com/group/marthaargel/

Se alguém aí quiser se inscrever, a honra será toda minha!

abraços e até não sei quando!

Martha Argel

quarta-feira, 26 de novembro de 2003

Lindo sol lá fora. Vocês já perceberam que é época de floração das camélias? O perfume delas é algo extraordinário, faz pensar em palácios e jardins franceses e rendas e um entardecer suave.

O perfume das camélias tem me ajudado nestes dias em que ando nervosa, irritada e disposta a comprar briga por todo e qualquer motivo. Por sorte tenho ouvido muita gente amiga me dizendo "calma" ou "cautela" ou "vai devagar" ou "não vale a pena". Esses amigos estão certos: existem pessoas demais no mundo que não valem a pena. A grande catástrofe é ter uma pessoa que não vale a pena num cargo onde ela pode colocar as manguinhas de fora, tomar decisões, dar canetadas e atrapalhar a vida de gente que vale. A expressão "abuso de autoridade" tem povoado minhas conversas nos últimos dias.

E também "cérebro de minhoca". Esta ofensa aos pobres anelídeos oligoquetas me faz rir e diminui um pouco a tensão. Me lembra algo que li, há décadas, no livro "A ilha" de Aldous Huxley. Não vou ocupar espaço contando. Leiam o livro e descubram.

Nesta minha fase de indignação com a palermice de muitos que me cercam, o que segura a barra é a contagem regressiva. Cada dia que passa é um dia a menos para A Viagem. Os Preparativos avançam, pois uma Viagem como essa deve ser bem pensada. Ontem gastei uma grana violenta (do tipo quatro dígitos) e cometer essa audácia me fez bem, muito bem.

Sem esquecer de agradecer a quem deixa comentários (que recebo com carinho e leio com atenção, embora nem sempre responda) despeço-me, lembrando a todos que a vida é curta demais pra gente perder com pessoas chatas e bobas e que, coitadas, não sabem o que fazem.

Beijos e queijos e muito suco de cupuaçu a todos.

Martha Argel

sexta-feira, 21 de novembro de 2003

Bom dia a todos. Na madrugada chove, e o sabiá canta lá fora. Já não canta como há um mês. A estação reprodutiva vai bem avançada, e os machos não precisam mais conquistar fêmeas, e sim criar os filhotes, que há vários dias começaram a sair dos ninhos.

Quais as cenas mais horripilantes em que vocês pensam quando alguém diz cemitério? Pois faço aqui um breve relato de minha recente experiência.

Ontem visitei, a trabalho, um cemitério num município da Grande São Paulo. Cemitério-parque, bonito, florido. Ladeando cada lápide, dois tubos enterrados no chão, suponho que de PVC, com cerca de dez centímetros de diâmetro e uns vinte de profundidade, fechados no fundo e destinados a servirem de vasos. Na maioria das vezes, porém, servem como armadilhas. Vocês calculam a quantidade de baratas que existem num cemitério?! Pois é. Adivinhem o que elas comem. A gente não percebe, mas os bichinhos infestam o lugar. Devem sair de noite, passeiam por toda parte e... caem nos tubos e não conseguem mais sair, pois os tubos são lisos e altos. Minha sócia Cli e eu, morbidamente interessadas, examinamos dúzias de armadilhas. Em muitas, havia uma camada compacta de uns cinco centímetros de espessura, dezenas de baratas movendo-se frenéticas, umas sobre as outras, agitadíssimas, tentando sair desesperadas. Algumas tinhas as asas roídas, indicando que, quando a fome aperta, elas se comem entre si. Nalguns tubos, a água de chuva acumulada transformava-se num caldo espesso de baratas podres. Vimos tanta barata que chegou a hora em que eu tinha a nítida impressão de que elas estavam subindo por dentro da minha calça. Aterrorizante.

Mas outra coisa também me horrorizou. Estavam sendo feitos quatro enterros. A maioria de rapazes novos. "É o mais comum por aqui, rapazinhos mortos em violência ou acidentes", esclareceu nosso contratante. O "por aqui" significa a periferia de uma cidade pobre, violenta e populosa. Dois enterros eram de jovens mortos numa briga de gangues. Mortos por engano. Os cortejos me assustaram. Muitos rapazes, provavelmente as gangues, mas poucas lágrimas. Ali a morte é banal. O crime é aceitável e a violência uma necessidade. Pobre Brasil. Construído com a ajuda de todos aqueles que fumam unzinho no fim da tarde, "pra relaxar", ou dão uma cheiradinha antes da festa, "pra ficar legal". Vão todos à merda.

Bom, menos papo e mais trabalho. Abraços, aproveitem o dia e levem um guarda-chuva, porque parece que vai chover.

Martha Argel

quinta-feira, 20 de novembro de 2003

Bons dias.

Está no ar, no site Planeta Zeist, meu conto Incompatibilidade Imortal. O site é dedicado a fanfics sobre o seriado Highlander, do qual sou fã de carteirinha. Pra quem não sabe, fanfic é a ficção escrita por fãs, que pegam emprestado personagens e situações de seus livros, seriados e filmes favoritos e criam suas próprias tramas. Meu conto é o que se chama de cross-over, que é o cruzamento de dois universos ficcionais diferentes; nele, aproveito para misturar o universo de Highlander com outro universo que os leitores de meus livros conhecem muito bem...
O site é mantido por minha amiga Aka Draven MacWacko, do fã-clube de Highlander no Brasil. Você pode acessar diretamente meu conto clicando aqui. Mas não deixe de ler os contos dos outros autores, hein?

Agora vou andando. Hoje tem trabalho de campo. Coisinha básica: um cemitério. Almas penadas e alminhas emplumadas.

Aproveitem bem o dia.

Martha Argel

quarta-feira, 19 de novembro de 2003

Boa tarde a todos.

Só pra dizer que este blog NÃO está morto.

Pessoal que deixou comentário, obrigada pela visita e pela gentileza. Quem não deixou, idem.

Bem, vejamos, um breve resumo dos últimos dias (mais de meio mês? vixe!), usando o muito útil conceito das palavras-chave.
Viagem: sol, paisagens, céu azul, estradas sem fim, bons amigos, maria-mole, rios e cachoeira, leituras, gente gentil, maria-mole, varanda & pôres-de-sol, cidadezinhas acolhedoras, paz, maria-mole, pequenas compras fúteis e divertidas, cachorrinhos, muita paz.
Pós-viagem: muito trabalho, viagens a campo, reuniões produtivas (e como é BOM sentir reconhecida sua competência), agenda lotada, contos terminados.

E para hoje, nada de palavras-chave: trabalho novo, e desci a serra por essa maravilha que é a Nova Imigrantes. Sempre é bom ver o mar, sempre é bom saber que tua participação vai ajudar a vida de muita gente.

Tanta coisa que tenho pensado em postar aqui, mas não tenho tido oportunidade. Estou correndo contra o tempo: teve início a contagem regressiva para a próxima Grande Viagem. Mal posso esperar que janeiro chegue.

Cuidem-se, e não se esqueçam de construir seus Grandes Planos para o ano que está chegando.

Martha Argel

sábado, 1 de novembro de 2003

Dia de luz, manhã de sol...

Gafanhoto
Agora há pouco, vinha eu pela rua, caminhando distraída de volta do supermercado e meditando sobre questões profundas como o fato dos rolos de papel higiênico terem encurtado de 40 para 30 metros e os pacotes de absorventes trazerem 8 em vez de 10 unidades, quando escuto "Psiu, moça". Olhei. Um vigia de rua, sentado numa cadeira. "Por favor", disse ele, me chamando com a mão. Ué. Achei que ele ia pedir as horas. "Pois não?" "A senhora é discípula de Shao-Lin?" Hã, como é que é?! "Como assim?" Aí ele apontou para o dragão de estanho que eu trazia ao pescoço. "É que a senhora usa isso aí" ele apontou de novo "e nos filmes os discípulos de Shao-Lin usam uma coisa parecida. A senhora é budista?". Essa eu nunca tinha ouvido! Já me perguntaram se eu era bruxa (uma vez em que usava um pentagrama) e vampira de verdade (numa noite de autógrafos). Uma outra vez, enquanto eu observava aves, uma mocinha me perguntou, com olhos arregalados e assombro na voz, "a senhora é... cientista?!", e só faltou me cutucar com o dedo pra comprovar que eu era de verdade. Mas nunca tinham me parado na rua pra perguntar se era budista! E antes de eu ir embora, inconformado, o rapaz ainda tentou de novo: "Mas a senhora luta, né?".

Ritual noturno
Ontem foi noite de Halloween. Não fui a nenhuma das festas que pulularam por aí, em parte por um certo desencontro e falta de comunicação. Mas principalmente porque, em homenagem à data e como boa escritora de histórias macabras, tive de participar de um ritual secreto. Algo muito mais sério que uma festa. Só para iniciados. Éramos três durante a cerimônia, realizada em um recinto especial, na calada da noite, em torno de uma mesa especialmente preparada para a ocasião. Sobre a mesa, a vítima ritual, coberta por rubro e vital líquido em homenagem a uma entidade antiqüíssima e muito cultuada, proveniente da península itálica. Num ato de sublime abnegação, comungamos e compartilhamos nossa vítima, por nós consumida até que, como exigia o ritual, não restasse dela vestígio algum. Foi uma cerimônia maravilhosa, que nos deixou num estado de plena satisfação, tão total que sentíamos como se não coubéssemos mais dentro de nós mesmos. Vocês deveriam tentar. Todos nós, adoradores desse entidade divina, nos sentimos felizes em nossa devoção. Seu nome, glorioso, magnífico, único e redentor, é... Parmeggiana!


Hasta la vista, babies!
Para este blog não vai fazer muita diferença porque à vezes passo quase duas semanas sem postar, mas estou saindo para breves férias numa cidadezinha pacata e bonita. Estarei fora do ar. Lá não tem internet. Deixo aqui os problemas, as frustrações, os incompetentes, mal-educados e filhos da puta com que sou forçada a conviver e interagir. Os amigos e as coisas boas carrego sempre comigo, na alma e no coração. Assim como carrego os sonhos e os planos para os próximos meses.

Fiquem bem, acalentem e alimentem seus ideais.

Martha Argel

segunda-feira, 27 de outubro de 2003

Querido ciberdiário, os últimos dias foram agitados. O final de semana conseguiu se superar. Amigos que não via há tempos, lugares novos e lugares antigos, muita festa, muitas caras novas. Encontros inesperados, desencontros já previstos. Eventos X e eventos bizarros. Há muito tempo não me divertia tanto.

Telefone de emergência
Sábado, fim de tarde na minha varanda deliciosa, a Giu e eu tentando nos recuperar do animado encontro 007-Highlander que aconteceu na Comix (valeu, Aka Draven, valeu, Marcus!!) e aos poucos fomos nos dando conta de um vozerio na rua que cruza a minha. "Nossa, que que é isso?" exclamou a Giu. Olhei por cima do muro e não consegui ver nada, só a primeira casa da outra rua. O burburinho era na segunda. Mas vi minha vizinha também espiando por cima do muro dela, o marido logo atrás. Chamei "Psiu, psiu, que que tá acontecendo?" Eles contaram que estavam passeando com a cachorrinha e viram dois sujeitos se pegando a soco no meio da rua. Entraram correndo, assustados. Então percebemos algo estranhíssimo. "Eles estão falando árabe!" Uma mulher entrou no bafafá, também em árabe. A gritaria continuava e a gente sem ver nada. "Olha, os carros estão parando!" exclamou a Giu. Eles deviam ter partido pra porrada, porque quem cruzava a rua parava o carro pra olhar. ?E se forem terroristas?? especulei. ?Uma célula!? complementou a Giu. "Vou chamar a polícia", decidi. Disquei 190. Atenderam no ato: "190. O número para chamadas de emergência está temporariamente congestionado por excesso de ligações." O QUE É QUE É ISSO?!!! Tentei mais duas vezes. Idem. Resultado: desisti. Por sorte, alguém chegou e conseguiu serenar os ânimos de nossos terroristas, que calaram a boca. Ouvi um carro se afastando e o resto da célula entrou em casa. Fim da história. Mas... e se eu precisasse MESMO da polícia? Como é que ficava?!

Crimes a granel
Redescobri uma paixão da adolescência: romances policiais. Estou lendo um atrás do outro. Só que os olhos são outros, pois agora junto com leitora voraz está a escritora curiosa. Continuo curtindo as tramas, os personagens, o suspense que faz o coração bater mais forte e as palmas das mãos transpirarem. Mas o mais fascinantes, agora, é descobrir truques, macetes e hábitos dos autores. Até agora, meu preferido foi A ilha do medo, de Nelson DeMille; a ironia e o humor dele são ótimos. Li também Jeffery Deaver (lembram-se de O colecionador de ossos? Então.), Sue Grafton (e pretendo ler TODOS os livros dela), Greg Iles (gostei muito!) e Nora Roberts. Esta última é bem previsível, e suponho que no final a mocinha e o mocinho sempre fiquem juntos e a gente suspire de felicidade, de modo que nem preciso ler mais nada dela. Como consigo ler tanto, e ainda trabalhar como doida e escrever? Também tenho meus truques e segredos...

FicZine
Ah! Quase ia esquecendo! A Giulia Moon e eu lançamos um fanzine. Chama-se FicZine e tem como objetivo divulgar um pouco mais nossos textos. O número Zero é especial e traz fanfics nossas com personagens da série Highlander (que adoramos!). E temos um convidado: Renato A. Azevedo, que reúne James Bond e Fox Mulder em um único conto! Vale a pena! Onde conseguir seu exemplar? Fácil, comparecendo a nossas sessões de autógrafos...

Beijos e queijos (e chocolates. Tem coisa melhor?!)

Martha Argel

sexta-feira, 24 de outubro de 2003

Boa tarde a todos, lindo dia de sol lá fora.

Alta tensão
Meu amigo do peito hoje, neste momento, se chama Ritmoneuran cápsulas. Passiflora alata, Erythrina mulungu, Leptolobium elegans, Adonis vernalis. As duas últimas eu não faço idéia do que são, as duas primeiras eu costumo ver na bibliografia botânica que uso pros meus laudos e pareceres. Mas agora esses nominhos lindos, latinizados e tudo, estão no rótulo de um simpático frasquinho que já esteve cheio de pequenos cilindros branco-e-vinho, mas que agora só tem três. Os outros eu engoli em ocasiões apropriadas. Como hoje. Mas não sei o que aconteceu. Tomei dois, e nunca tinha feito isso, nunca tinha precisado, e o chá reforçado, camomila E erva-cidreira, também foi uma primeira vez. Não foi café demais, quem sabe sono de menos. Nem idéia. O fato é que me sinto uma lâmpada 110 em 220. Afff! Não dá pra armazenar a energia excedente? Putz, Furnas tem o mesmo problema e não resolveu, vou lá eu achar que consigo?!

Baixa voltagem
Tem alguém com quem convivo que tem uma visão de mundo absolutamente estarrecedora. Esse ser tem a capacidade de ver o aspecto negativo de tudo tudo tudo o que há ao seu redor. É inacreditável como pode haver alguém assim!! Tudo para esse ser triste, trágico, ilegal, deprimente, violento, degradante, corrupto, nojento, desprezível. Toda sua interpretação da realidade é negra. Esse ser consegue uma façanha: me faz pensar na possibilidade efetiva da existência dos tais psi-vampiros. Eu me sinto completamente drenada de saco quando estou em sua presença. Vampiros de paciência, alguém já tinha ouvido falar?

Retaliação?
Falando nisso... um tempo atrás perdi a paciência com uma pessoa e, em público, fiz o que outros, tão incomodados como eu, poderiam ter feito mas não tiveram poder de decisão suficiente para fazer: cortei o barato dela. O fato é que essa pessoa se considera investida de poderes sobrenaturais. Depois do entrevero, pensei cá com meus botões "agora rola uma vingancinha paranormal básica ", e fiquei esperando pra ver. Bem Scully. Esperei e esperei. Nada. Não sofri nenhum acidente, não perdi uma grana preta em nenhum cassino, não tive minha reputação conspurcada por nenhum escândalo, não perdi meus amigos e ninguém detonou meus livros numa resenha devastadora. Muito pelo contrário. Saúde, saldo bancário, prestígio, reputação e reações às publicações não poderiam estar melhores. Se alguma obscura vingança foi tentada, só deu certo pra mim. Eita! Vai lá saber como esses mistérios esotéricos funcionam...

Notícias incríveis
Juan de Bs As e Cli Cordeiro, vocês me deixaram imensamente FELIZ com as novidades, com as coisas que disseram e com seus respectivos projetos. Não há nada que se compare com a alegria de ver o trabalho da gente dar frutos TÃO especiais. Obrigada aos dois.

Beijos e abraços a todos

Martha Argel

terça-feira, 21 de outubro de 2003

Bom dia, como o tempo está instável, não? Amanheceu de chuva mas agora parece que o sol vai sair.

Agradecendo
Obrigada a quem me visita. Desculpem não responder a cada comentário. A desculpa é velha, usada, abusada mas juro que é real: falta de tempo. Na verdade, eu respondo a todos, na minha cabeça, só que ninguém mais fica sabendo...
Ceres, Trosco, Déia, Nikki, vocês foram devidamente visitados. Daniel Zamister, visitei sua página, muito legal, parabéns, muito sucesso com sua banda The Nutshell!!! Carollia, Karen e Giu, não consigo navegar nos blogs de vocês. Mea culpa, eu já devia ter chamado o Tetsuo pra dar um jeito no meus computadores.
Trosco, valeu. Eu sei que o site do Pingüim tá cheio de problemas. Os putos do HPG andaram deletando porradas de arquivos. O mesmo com o argel.hpg. Tô providenciando uma debandada daquela bosta, mas vide a desculpa do primeiro parágrafo.

... e mais trabalho de campo
Ontem: na conclusão do trabalho de campo do projeto no qual estou envolvida, visita à Favela Naval. Lembram? Há alguns anos, as tevês exibiram à exaustão o vídeo dos aterrorizantes e fatais abusos policiais cometidos aí, na calada da madrugada. Por algum, motivo, consciente ou inconsciente, deixei esse ponto de estudo por último, e não consegui evitar um arrepio enquanto percorria a rua Naval. Tinha de me lembrar o tempo todo: os criminosos tinham sido os policiais, não os moradores do lugar.
Mas por outro aspecto, minha visita à favela me deixou revoltada: nunca tinha visto tanto passarinho engaiolado como vi ali. Pixarros, pássaros-pretos, pixoxós. Animal silvestre em cativeiro, sem autorização, é crime, mas parece que nisso a polícia não está muito interessada.
E perto da favela, uma cena que me deixou enjoada. Ou ainda mais enjoada, porque não é pra qualquer estômago trabalhar do lado de córregos que são esgoto a céu aberto. Lá estava eu, estudando as aves na beira de uma dessas nojeiras, quando vejo, entre os pés de mamona na outra margem, um cavaleiro vindo na direção do córrego, com outro cavalo a reboque. O sujeito veio vindo, vindo, vindo, desceu pela ribanceira e entrou na água com os dois animais! Eu não conseguia acreditar! Aquele esgoto nauseabundo, e os cavalos com água pelas canelas, cruzando lentamente até chegar do lado de cá, subir pela margem e se afastar como se acabassem de sair de um rio murmurejante de águas cristalinas. Meu, que nojo! Que vampiros, o quê. Isso é que é terror!

TARDE DE AUTÓGRAFOS JUNTO COM A GIULIA MOON!!!
Giulia Moon e eu participaremos no ENCONTRO 007/HIGHLANDER (sábado, 25.out, das 13:00-18:00), na Comix Book Shop, Al. Jaú, 1998 (Sampa).
Além de autografar nossos livros (que estarão à venda, com um brinde especial pra quem comprar durante o evento), a gente tem uma surpresa pra todo mundo que curte nossos contos: estaremos distribuindo um fanzine com fanfics escritas por nós e por nosso convidado especial, Renato A. Azevedo, ufólogo e colunista da revista Sci Fi News!
O evento será um encontro inédito entre fãs de James Bond e Highlander, com palestras e exibição de vídeos que mostrarão vários pontos em comum entre os dois universos, além de sorteios, jogos, tira-dúvidas, muita diversão e excelente companhia!
Ingresso: um pacote ou uma lata de ração para cães ou gatos, que irão para grupos de proteção animal. A organização é de Clan MacWacko Highlander Brasil & Comunidade 007 Brasil.
Apareçam!!!

Que todos tenham uma ótima semana.

Martha Argel

sábado, 18 de outubro de 2003

Bom dia de sol e passarinhos cantando.

Y se fue Goni
O gringo caiu! Gonzalo Sánchez de Lozada renunciou à presidência da Bolívia. Vitória chola, colla, camba, aimará. Que os vencedores saibam o que fazer, agora que se cumpriu sua vontade. Que o bem do povo esteja acima dos egos e ganâncias que, sabe-se, não estão ausentes entre os mentores da revolta popular. O inimigo interno, um perigo. E não menos ameaçador é o perigo externo: Tio Sam, preocupado com o fim de sua aliança com o grande país andino, articula seus milicos. Você já não viu esse filme antes?

Gentileza e retribuição
Ontem, trabalho de campo numa cidade do ABC. Bairro pobre de periferia, há horas enfrentando tráfego pesado, poeira e muito sol, e bate uma vontade imperiosa de ir ao banheiro. Numa distribuidora de bebidas, um homem e uma mulher parados à porta, esperando clientes. "Poderia, por favor, usar o banheiro?" Resposta dupla, rápida. A mulher: "Tá quebrado". O homem: "Tá lá do lado do cachorro, só a gente pode usar". Ok, tudo bem, péssimas as mentiras, vão lamber sabão. Nova tentativa, numa loja de doces, e a mocinha de rosto suave só faltou me estender um tapete vermelho. Banheiro limpíssimo, ah, que alívio. O resultado foi que a Izabel e eu compramos montes de chocolates na loja, e a mocinha ficou feliz. Diz então a Izabel, "Tô com sede, vamos comprar água?". Ok. Passamos na frente da loja dos mal-educados. "Foi aqui que não me deixaram usar o banheiro". "Então vamos comprar ali na frente!". Que aqueles dois tenham tanta utilidade para seu precioso banheiro como seus concorrentes terão para a graninha que deixamos lá!

Manias paulistanas
Talvez seja até mania nacional, mas eu só sei o que se passa em minha cidade, minha Sampa do coração, corpo e alma. Os anéis das latinhas de refri e cerva se tornaram uma verdadeira obsessão. Em tempos de vetustas vacas magras, já é difícil encontrar latinhas jogadas por aí, pois agora são fonte de renda complementar para uma multidão de famintos. E quando a gente encontra, pode apostar: o anel já sumiu. Vai ser trocado por brindes, ou virar algum bizarro artesanato de crochê. Hoje, em minha caminhada matinal, topei com uma raridade: uma lata de cerveja com o anelzinho no lugar. Prodígio! Assombro! E o que fiz? Deixei a lata na sarjeta pra que mais tarde alguém a recolhesse. Mas levei o anel. Afinal, sou fornecedora... pra três pessoas!

IG E HPG, VÃO À MERDA
O Hpg tirou do ar minha página da Lucila. Era o melhor meio de contato com os leitores de meu romance Relações de Sangue. Fiquei perdida por uns dias, desesperada, inconformada com a falta de respeito por sequer ter sido comunicada com antecedência sobre a mudança das regras do jogo. Como eu, milhares de pessoas foram atropeladas pela arrogância e pela falta de ética, de consideração e de profissionalismo do Ig. Os administradores desse serviço não passam de moleques ineptos. Querem que eu pague? Vão à merda. Em breve a página da Lucila voltará ao ar. E assim que possível minhas outras páginas vão sair do Hpg. Que esse bando de palhaços IGnóbeis fiquem com o que desejam: páginas medíocres, conteúdo pueril ou netamente imprestável, e sexo, muito sexo para adolescentes espinhentos se masturbarem. A cara do Brasil.

Tenham todos um bom final de semana!

Martha Argel

quarta-feira, 15 de outubro de 2003

Bom dia. Está escuro lá fora mas depois da meia-noite talvez o correto seja dizer "bom dia" e não "boa noite", pelos mesmos e tortuosos caminhos lógicos que levam alguém a nos dizer "bom dia" depois do meio-dia e então explicar "ainda não almocei". No fundo, lógica nenhuma.

Bolívia
Tenho um carinho especial por esse lindo país andino. La Paz é uma cidade maravilhosa. Na primeira visita, ao entrar num elevador, dei de cara com o sujeito que governava então, e ainda governa, a nação. Ex-milico. Meus amigos bolivianos, cultos e esclarecidos, lamentavam que tivesse sido eleito; lamentaram, depois, que fosse reeleito. Como o Brasil, a Bolívia não merece a elite político-econômica que tem. Canalhas que enriquecem às custas de um povo miserável. Lá, como cá. E no meio de tudo, os órgãos repressores ianques que, com a desculpa de "combater o tráfico", controlam o fornecimento do mais fino pó para os mais finos consumidores no Grande Irmão do Norte. Ou vocês acham que os congressistas da terra do Tio Sam compram qualquer farinha vagabunda por aí? Pobre Bolívia. George Killer Bush já disse: não vai permitir ameaças à ordem democrática e à constitucionalidade. Pra quem mesmo ele disse isso uns meses atrás? Dessa vez, talvez o próprio governador da Califórnia encabece as tropas de libertação.
E antes que eu me esqueça: POR UMA SAÍDA BOLIVIANA PARA O PACÍFICO!

Saramago à moda da casa
Pois é. Saramago ontem na Livraria Cultura da Paulista. Um tumulto. Um caos. Ameaça de quebra-quebra. Imaginem trazer um Prêmio Nobel de Literatura pra um evento, na melhor livraria da maior cidade brasileira... e onde não cabem mais do que 30 ou 40 pessoas?! Só podia dar no que deu: merda. Fiquei horas lá e só consegui avistar o Zé através de vidros: o da livraria, e o do carro, quando corri até o estacionamento, tipo tiete deslumbrada, num último e vão esforço de conseguir seu autógrafo em meu velho e alquebrado exemplar de "A Jangada de Pedra". Não assisti palestra, não vi o homem cara a cara, meu livro permaneceu virgem da caneta dele, mas me diverti muito. Fiquei um tempão com a minha amiga Patricia Bigarelli, talentosa artista plástica que está expondo no saguão do Conjunto Nacional. Revi a Chica, ex-entomóloga do Museu de Zoologia, hoje também dedicada às artes. Filei poucos mas deliciosos canapés numa noite de autógrafos menos conturbada e mais nutritiva. Reencontrei, na malograda e furada fila de autógrafos, a Kaoru, que foi uma de minhas professoras mais queridas nos bons e velhos tempos de USP. E dei autógrafos! Vejam só, teve gente que saiu sem a assinatura do português mas levou a minha, no mundialmente famoso Café Literário! Pra mim o melhor foi quando, cercado pela turba furiosa com o fim da sessão no meio da fila e a ponto de ser linchado, o funcionário incumbido de acalmar os ânimos me avista lá longe, assistindo tudo de camarote, e acena pra mim "Oi, Martha!". Muitos rostos se viraram, dei meu melhor sorriso cínico, e acenei de volta. Serenada a revolução, multidão dispersada, fui bater papo com o Wilson e acabamos, depois do expediente, sentados no Fran?s com a simpática e bióloga Lica, também da Cultura, e batendo um papo muito legal. Moral da história: meus brincos novos são um sucesso, um monte de gente reparou!

E é isso. Tanta coisa tem acontecido que eu gostaria de postar aqui, mas não tá dando. Trabalho, escritos, leituras. Tanta coisa para ocupar o tempo.

Vivam intensamente!

Martha Argel

quinta-feira, 2 de outubro de 2003

Boa noite a todos.
O bicho tá pegando por aqui. Trabalho a dar com pau, e não estou reclamando. Entrou um estudo enorme pra fazer, e ontem me abalei até um município vizinho pra uma ''sabatina'' com um pessoal que ostenta o pomposo título de "missão do Banco Fulano" (um desses bancos internacionais poderosos que financiam obras caríssimas). Eram dois brazucas, mas pelo recinto zanzavam outros burocratas de sotaque hispano -- inclusive um que chavecava descaradamente uma secretária até que bonitona. Nossos inquisidores eram qualquer nota. Chatos. Pernósticos. Um tédio. Terminado o compromisso, um par de telefonemas me forneceu o perfil de um deles. ''Ele tem problema'', foi o comentário sucinto de meu informante. Tá. Ok. Espero que isso não se transforme em meu problema...

O GRITO
Quem não foi, perdeu. Foi divertidíssimo! Talvez mais para nós que passamos o sábado fazendo milagre com a decoração do recinto. Giulia, Bila, Brida, Fernando, Rodrigo, vocês são ótimos!!! A Piper dava dó, correndo de um lado pro outro com assuntos familiares e pedindo desculpa toda vez que passava ventando. E, no domingo, o stress contínuo, a solução a toque de caixa de cada problema inesperado que ia aparecendo, os improvisos, tudo isso foi se encaixando e o resultado se estampava na cara de todos, organizadores e participantes. Um sucesso. Todo mundo curtindo.
Pra Giulia e pra mim, o evento foi excelente: carinho dos leitores, a maravilhosa reação a nossos textos... e boas vendas!!! Que se deveram, em grande parte, à fantástica atuação de nossa super-vendedora Mônica Beta, que fez um trabalho incrível.
O pessoal da PDY, Brida, Piper, Samara, Johnny, está de parabéns. E também a incrível turma do Anne Rice - BR; sem a empolgação e a animação deles, o evento não teria um terço do brilho que teve. E teve ainda o Eduardo com sua fantasia extraordinária, a Íris com sua simpatia e suas bijus de dar água na boca, o pessoal do Boca do Inferno, a Eliana Gomes e suas lindas bruxas, a Aniete com sua arte em sabonetes, o Dri e a Lila e o zine do Adorável Noite (tem conto meu nesse número!!!), o pessoal do Evento X, O Cid Vale Ferreira e todo mundo que apareceu por lá.
Deu um trabalho insano. Mas valeu a pena. O próximo é o Halloween. Você que no domingo não levantou a bunda do sofá tem mais uma chance de se divertir.

E é isso. Pelas próximas semanas continuarei infrequente por aqui. É um alívio ter tanto trabalho. É ótimo ser uma profissional respeitada. E é maravilhoso poder trabalhar no que a gente adora!

Cuidem-se, sejam felizes.

Martha Argel

sábado, 27 de setembro de 2003

Bons dias a todos!

Tenho várias boas desculpas para não ter postado nos últimos dias. O de sempre: excesso de planos, excesso de sonhos e, felizmente, excesso de idéias. Este último é o que mais me alegra. Desde o dia 15 escrevi quatro contos (o mesmo que tinha escrito do começo do ano até então!). E parte do resultado desse upwelling de criatividade já vai estar disponível para leitura a partir de amanhã! Vejam aí embaixo:


O GRITO -- PRIMEIRO ENCONTRO DE VAMPIROS E TERROR

Convido todo mundo a comparecer ao evento "O Grito - Primeiro Encontro de Vampiros e Terror", onde estarei autografando meu livro mais recente, "O vampiro de cada um", uma coletânea com 13 contos que mostram as diferentes faces dos filhos das trevas.
Espero todo mundo lá no evento!
(Ficha do livro: O vampiro de cada um. São Paulo, 2003, edição de autor. Contos. 120 p. Preço: R$ 15,00. Informações e venda: http://www.ovampirodecadaum.hpg.com.br)

O Grito - Primeiro Encontro de Vampiros e Terror

-- Exposições e vendas de produtos -- Estandes de fã-clubes -- Escritores autografando livros de vampiros -- Venda de livros -- RPG -- Trilha sonora vampírica -- Debates -- Exibição de Animês, Seriados e Curtas -- Sorteios -- Encontro das listas de escritores de vampiros e terror -- Prêmios e sorteios ? Distribuição gratuita de fanzines

Entrada:
-- R$ 1,00 + 1 kg de alimento não perecível
-- lanche comunitário: um prato de salgado (mulheres) ou doce (homens)

Data: 28 de setembro de 2003
Horário: das 11:00 às 18:00
Local: R. Conselheiro Furtado, 1411 (Aclimação)


Realização: PDY Eventos
Apoio: Carcasse / Adorável Noite / Boca do Inferno
Escritoras: Giulia Moon / Martha Argel / Eliana Gomes
Grupos da Internet: AnneRice-BR / TintaRubra / CryaContos


... mas, Martha, que diabos é upwelling!?
Ah, quando a gente menos espera, o passado aflora à superfície. Fazia anos que eu não via essa palavra, que dirá usá-la. Upwelling é um termo usado em oceanografia e traduzido para o português como 'ressurgência'. É mais fácil explicar seu significado com um exemplo real: por baixo da corrente marinha de água quente que desce rumo sul ao longo da costa brasileira (Corrente do Brasil, claro), existe uma corrente submarina de água fria correndo no sentido oposto, isto é, subindo para norte. Quando essa corrente chega na altura do Rio de Janeiro, a costa (que nesse trecho tem orientação leste-oeste) barra o caminho e ela não pode continuar sua rota. Todo esse tremendo rio é então desviado pra cima, e as águas geladas surgem à superfície. (up + welling = brotar pra cima; ressurgência = surgir de novo). Uma ilha de mar polar em pleno trópico. Não é outro o motivo da cidade de Cabo Frio se chamar Cabo Frio... Ou vocês nunca tinham pensado no porquê do nome?

Tenham todos um bom final de semana. Espero-os, domingo, lá n'O GRITO!!!

Martha Argel

segunda-feira, 22 de setembro de 2003

Bons dias. Hoje: nublado, 16 graus.

Thor
Carollia, a morcególoga, perguntou do Poderoso, o pitpulga, o puldog. Vai muito bem, cada vez mais enturmado com o sofá da sala. As visitas não resistem, e sem exceção testam as mil-e-uma formas de cobri-lo com o aguayo, a mantinha boliviana que já se tornou sua possessão. E tem foto dele na internet! O site é http://www.mikelhasa.hpg.com.br, e as fotos estão na galeria de AUmigos, página 16. Visitem meu filhote lá!

Aves, gastronomia e U2
E passou o Juan por aqui de novo. No sábado descobrimos aqui perto de casa um restaurante capixaba. Esqueçam a tal moqueca baiana. A VERDADEIRA é a do Espírito Santo. Saudades do ano que passei nesse Estado maravilhoso!
Depois do banquete, fomos com a Giulia à Benedito Calixto, onde causou certa incredulidade o fato de sermos DOIS os ornitólogos no local.
De lá o Juan voltou pra casa, enquanto a Giu e eu demos prosseguimento a uma programação vampírica. Voltamos a nos encontrar de noite, em casa, para um papo regado a vinhos bons e ruins e música do U2. A noite foi coroada com um documentário es-pe-ta-cu-lar sobre The Joshua Tree, o inigualável cd lançado em 1986 pelos irlandeses e que, para mim, é o melhor disco de todos os tempos.
O domingo foi de muitas conversas interessantes e de noite passou o Dante aqui e carregou embora o Juan para uma aventura ornitológica que espero que dê certo.
Foi bom voltar por algumas horas ao universo passarinheiro.

Cenas das caminhadas. I
Todo dia vejo um senhor caminhando. Passos apressados e curtos, braços num movimento pendular rápido e nervoso, no mesmo ritmo. Um chapeuzinho de lona, abas moles, pequeno demais e equilibrado no alto da cabeça. Não olha para os lados, sempre para o chão a sua frente. Não cumprimenta ninguém. Deve caminhar porque o médico mandou. Ontem, numa ligeira mudança de itinerário, flagrei-o no retorno ao lar, abrindo a porta de uma casa decrépita. Paredes manchadas, janelas tristes, jardim abandonado. Velha, construída na década de 50, quando o bairro surgiu e extinguiu a pastagem que revestia as colinas suaves do atual Planalto Paulista. Casa e morador envelhecendo juntos, sentindo os efeitos da idade. Que ele ameniza caminhando. Mas a casa trai a decadência. De ambos.

Cenas das caminhadas. II
Se a gente se convence de que sempre há alguma surpresa no trajeto de todos os dias, elas inevitavelmente aparecem.
Por exemplo o ipê-amarelo prematuramente carregado de frutos que vi hoje. Não por acaso essa é a árvore nacional do Brasil: no mês de setembro, em que o ufanismo oficial comemora a independência que de fato nunca obtivemos, os ipês se despedem das folhas, vestem-se de flores e se transformam em grandes manchas amarelas na paisagem, vistosos, alegres, vigorosos. Pois esse ipê que encontrei ignorou o calendário, as flores já se foram e ele se transformou numa árvore triste, ainda desfolhada, com os longos frutos pendendo como grandes lágrimas de doentio tom ocre. Contra o fundo cinzento do céu nublado, me fez sentir, de repente, uma melancolia profunda, uma sensação de desespero. Fui salva pelo bom-dia de uma moça que passeava seu cão, olhos de um azul luminoso e sorriso radiante ao me ver tentando estabelecer amizade com o bichinho. Ufa. Quando olhei de novo o ipê, o que vi, pendendo dos galhos, foi a promessa de futuras árvores.

Tenham todos uma boa semana.

Martha Argel

PS. Trosco e Lúcia, obrigada pela visita! Saudades de BH!!

quinta-feira, 18 de setembro de 2003

Querido diário, ontem o dia começou com um longo passeio pela Rede, visitando a esmo sites com fotos de cachorros. Ainda bem que não houve testemunhas para os sons decididamente debilóides que eu produzia a cada foto. Minha favorita foi a Estrupícia, uma SRD espertíssima !
Então a caminhada diária, uma consulta encorajadora à balança (apesar do consumo abusivo de porcarias, não engordei, invejem-me) e a visita meramente estética à igreja, tentativa de serenar o turbilhão mental.
De volta ao lar, a re-escrita de um conto -- sim, voltei à ficção curta, após meses.
A seguir, um dos compromissos do dia me mostrou que ainda consigo assistir uma palestra de cabo a rabo. Aliás, fui uma das escassas pessoas que o fizeram ontem. Não por falha do palestrante: Claudio Willer, presidente da União Brasileira de Escritores, numa excelente exposição sobre 'Paródia, sátira e intertextualidade no Modernismo', muito clara e didática. Primeira vez que assisti a uma aula sobre literatura. Me fascinaram os pontos de contato entre a teoria literária e tantos temas que me interessam dentro da ciência. Adorei encontrar, ao longo da preleção, conceitos que absorvi de uma obra que está na estante especial de livros-que-marcaram-a-minha-vida: A construção das ciências, de Gérard Fourez. Uma pena o público não estar à altura. Universitários, daquele tipo já conhecido, de outros carnavais e oba-obas. Nem os professores ficaram até o fim. O auditório em si parecia calculado para ofender palestrantes e público: todo espelhado, cada pessoa que saía ?discretamente? tinha sua imagem multiplicada ao infinito e era como se uma multidão estivesse se retirando em desprezo ao orador. É essa nossa elite cultural. Parabéns, discentes e docentes dessa universidade privada (ambas acepções), onde os guichês de pagamento formam um longo corredor, de dar inveja ao Pacaembu.
Findo o evento, aproveitei para mergulhar na Liberdade. Compras, window-shopping e almoço de palitinho, sentada na praça em companhia de uma amiga.
Daí me abalei para o próximo compromisso e, pra não chegar meia hora adiantada, nada mais conveniente do que um passeio pelo cemitério. Entrada restrita, mas me vendo toda de preto (é óbvio), o segurança deixou passar: 'Vai pro velório, não é'?. Não neguei nem confirmei, mas entrei.
O passeio me deu alguma tranqüilidade e, no bate-papo ao qual cheguei pontualmente, até consegui aceitar sem muita consternação a opinião de alguém que entende da coisa. É bom ouvir a argumentação de um expert, que além de dicas valiosas, me ofereceu ajuda. Não gostei muito do raciocínio lógico dele, mas no fundo eu já sabia. Continuo não gostando da idéia. E minha porção sabotadora me faz ir sempre pelo carreiro mais sinuoso e difícil. Mas é isso: depende de mim, e depende de minha decisão.
No total, um dia bom.
Espero que o dia de vocês também tenha sido.
Cuidem-se.

Martha Argel

segunda-feira, 15 de setembro de 2003

Bom dia.
Mais um dia cinzento amanhecendo lá fora. Antes de mais nada, obrigada Trosco, Amanda, Carollia, Ceres, Kiki, Cid e Carmilla, pelos comentários, e a todos os anônimos, como o Carlos, que visitam quietinhos e que ocasionalmente me surpreendem (''ah, li no teu blog...'').
Os últimos dias foram interessantes. Novos amigos, alguns velhos amigos, novas leituras, releituras. A vida aos poucos vai mudando, se transformando sem que a gente perceba, mas definitivamente deixando para trás hábitos, pessoas, interesses que o tempo se encarrega de desatualizar em nossa mente. Acontece, com simplicidade, em silêncio, e a dor da perda nem sempre é sentida porque sequer a perda é notada. Uma amizade pode ser esquecida como um guarda-chuva no assento de um ônibus. Simples assim.
Terminei um livro que nem mesmo eu sabia que estava escrevendo (contabilidade: agora são nove).
Baixei a pilha de livros não lidos. Reli um autor que devorava quando criança, e foi uma decepção. O livro se passava na Bolívia, uma de minhas três paixões (as outras, claro, são Brasil e Argentina). O autor obviamente NUNCA pôs os pés lá. O livro é um paradidático que ensina BOBAGENS!!!! O sujeito ensina, por exemplo, que a flor nacional boliviana é a ''kantrita'', e isso aparece até na ficha de estudo dirigido. Talvez ele seja um gênio, e tenha descoberto que esse é o nome correto da Cantua buxifolia, que todos os livros citam como ''kantuta''. Ou talvez ele tenha simplesmente feito uma pesquisa porca e apressada pra ganhar mais um troco com mais um livro mal-escrito. As descrições que ele faz do povo boliviano, da paisagens, do rio Choqueyapu, da montanha Chacaltaya, das ruínas de Tiahuanaco são estapafúrdias. Eu adorava os livros dele quando adolescente. Ele se orgulha de ter escrito mais de 160 livros. Agora eu só posso me horrorizar com a quantidade de erros que ele enfiou garganta abaixo de seus leitores adolescentes.
E li alguns livros de contos de autores pouco conhecidos. Nenhum deles é mal escrito. Linguagem correta, boas construções. Aqui e ali um conto memorável, bom mesmo, com esta ou aquela idéia muito bem sacada. Mas de forma geral, um vazio na mensagem. Ou antes: a mesma mensagem transmitida N vezes. Se tirar o nome do autor, poderia ser tanto um quanto outro a escrever qualquer dos contos. Variações (pequenas) sobre o mesmo tema: divagações sobre a vida. Poderiam ser minhas, de vocês que me lêem ou de qualquer um desses autores. Escrever bem não é suficiente para um autore se destacar. Se assim fosse, os professores de gramática ocupariam o topo de todas as listas de best-sellers.
Finalmente: COMPREI O CD DO EVANESCENCE!!! Delícia, delícia, delícia!!!! Com um vinho tinto e um cobertor quentinho, numa tarde fria e cinzenta, é um delírio (quase tão bom quanto After Forever ou Ambeon, mas tá de bom tamanho, considerando-se que são meros ianques).

Desejo-lhes uma boa semana. Que consigam perceber os tesouros que temos sempre a nosso lado e aos quais raramente damos valor.

Martha Argel


quinta-feira, 11 de setembro de 2003

Um texto que escrevi hoje, mais cedo, num lugar especial (pra mim, pelo menos):

''Neste momento, nos termômetros urbanos, 10 graus. São Paulo se veste de cores escuras, ar europeu, classudo. Estou sentada em um banco azul, árvores e edifícios à minha frente. Atrás de mim, um prédio enorme, fileiras intermináveis de janelas, uma data na fachada: 1954. Ano que vem faz meio século.
Pra mim, tudo começou neste lugar. Quarto 505, que hoje não consegui visitar. Há 42 anos nós, nenês, nascíamos aos montes por aqui. Hoje não. Em breve voltarão a nascer. ''Questão de dias'', informa o porteiro. Mas hoje os quartos que já viram tantos paulistaninhos vir ao mundo estão vazios. ''Não há pacientes, o centro cirúrgico está em reformas'', ele explica, ''os carros aí fora são dos prédios vizinhos''.
Nas árvores do jardim ouço cambacicas, bentevis e maritacas. Não cantam os sabiás cujos antepassados cantavam numa manhã clara, tantos anos atrás.
É a segunda vez que venho aqui. Cheguei caminhando. Na primeira, não. Cheguei de outra forma. E em outro sentido, muito mais amplo.
O vento frio sopra e balança as folhas ao meu redor.
É estranho. Já subi os Andes, desci ao Fim do Mundo, atravessei o Atlântico. Mas estou aqui. Tantos anos e tantos quilômetros, e estou de volta exatamente ao mesmo ponto onde começou esta minha longa viagem.
Acabo de ver um sabiá. Agradeço-lhe pela trilha sonora, a primeira de minha vida.
E então, no meio da folhagem, outro sabiá começa a cantar.
Era isso que eu queria. Cumpri minha missão.
Hora de tocar a vida adiante.''

Fiquem bem, todos.

Martha Argel
Onzes de setembros

Este onze de setembro ainda não amanheceu .
Noutro onze de setembro, faz exatamente um ano, eu postava aqui uma história triste. ''Ainda. Sempre.'' ela se chamava. Me fez chorar então. Hoje não faz. Devo estar num daqueles períodos glaciais que às vezes se impõem ao coração da gente. Talvez seja a força preservante do gelo que nos traz a paz.
Há dois anos, em outro onze de setembro, o mundo descobria o quão frágil é a vida. Eu vivia meu momento particular de inquietude e sobressalto, e me indignei com a intrusão insolente da política internacional em minha vida e em meu caos emocional. Por que justo num onze de setembro? Porque justo naquele onze de setembro?
Ainda num onze de setembro, trinta anos atrás, eu brincava, espalhada no assoalho do meu quarto junto com livros, brinquedos, tesourinha de ponta redonda e recortes de papel, e pela janela aberta entrava o sol de quase-primavera, quando ouvi no rádio a notícia. Lembro-me de levantar a cabeça, assustada, ao saber que, enquanto eu estreava feliz os meus doze anos, a milhares de quilômetros uma revolução fazia um presidente aplicar um tiro fatal na própria cabeça. Um militar subiu ao poder. Mesmo sem entender de política, concedi a esse ditador o status terrível de meu inimigo pessoal. Nunca lhe desculpei pela afronta de me ensinar que a vida é desigual, e que, no mesmo instante em que estamos cercados pela felicidade, outras pessoas sofrem. E morrem. Anos atrás, seu processo, sua extradição e sua doença tiveram para mim sabor de justiça.
E faz quarenta e dois anos, meu primeiro onze de setembro. Numa manhã ensolarada, o sabiá cantou pra mim.
Como canta agora, na madrugada de mais um onze de setembro. Chuva, frio e vento lá fora, reflexos brilhantes das luzes nas poças d'água. Ainda é noite. Mas ele já canta.
Canta pra mim.
Alguém aí duvida?

beijos a todos

Martha Argel


quarta-feira, 10 de setembro de 2003

É tão mais fácil escrever sobre a dor, sobre a desilusão e o desencanto do que sobre a paz, a satisfação, a serenidade. Quando inquietos é que precisamos desabafar. Então a escrita. Mas quando os dias passam mansos, pra quê tentar encontrar as palavras certas se estamos tão ocupados vivendo?
A chuva cai lá fora, tranqüilizadora, lenta. Como lentos têm sido meus dias. A retomada das caminhadas me trouxe a sensação boa do reencontro. Velhos amigos: pessoas, árvores, os cães sempre tão irresistíveis, a paisagem familiar das casas que reconheço, uma a uma, os jardins e as calçadas. Perfumes. Os manacás estão floridos de novo, deliciosos. E ontem um cheiro tão bom me fez parar, confusa, em uma esquina e procurar ansiosa por sua origem, até meus olhos descobrirem um cinamomo totalmente recoberto com suas pequenas flores delicadas. O carinho que sinto por essa árvore vem da infância.
E quem disse que a cidade é cinza? Ipês-amarelos, jacarandás-mimosos, beijos, rabos-de-papagaio, bauínias, azaléias, quaresmeiras. Manacás e cinamomos. Ela é colorida e perfumada. Pra quem sabe ver e sentir. E aproveitar a paz.

terça-feira, 9 de setembro de 2003

Bom dia de sol tímido mas gostoso.

Uma decepção, uma traição
Uma pessoa que eu considerava amiga e parceira, que eu achava que tinha consideração por minha capacidade e por meu histórico profissional me passou uma rasteira colossal. E o pior, em associação com alguém que já está em minha mira há muito, por sua arrogância e falta de consideração. Oportunismo seria a palavra correta. Estou decepcionada. Estou enfurecida. E impotente. Contra traidores e fuinhas não existem pesticidas eficientes.

Descoberta arrepiante
Ontem, mato. De novo.
Área na periferia de uma megalópole mais selvagem do que qualquer floresta. A trilha começava numa pinguela sobre um córrego que não era esgoto mas que trinta metros pra baixo seria. Trilha bem batida, escalando o morro e cruzando a mata, fuleira como todas as que sobraram no entorno paulistano. O de sempre, árvores finas e por baixo capins, taquarinhas, samambaias e muito lixo. Até que chegamos numa clareira inesperada, árvores ainda de pé mas toda a vegetação rasteira, incluindo os galhos baixos, removida. Até o folhiço tinha sido afastado, deixando o solo exposto. Limpinho. Coisa esquisita, a trilha chegava bem batida mas do outro lado saía muito menos usada. E dava noutra clareira. E então terminava. Estranho. Esse tipo de trilha costuma ser de passagem, um meio de cortar caminho de um lado a outro do mato, mas neste caso estava evidente que o destino eram as clareiras. Pra quê, nos perguntamos? Aí prestei atenção. Farrapos de uma lona nas bordas da segunda clareira e trapos amarrados nos troncos indicavam que algum tempo antes tinha sido montado um toldo. No chão, lixo nenhum exceto tiras de papel bem branco, como nomes de pessoas escritos com caneta azul. Sempre mais de um nome por papel, em geral ‘fulana e fulano’ mas tinha um com ‘fulano e família’, e outro com cinco nomes. A maioria das tiras tinha sido reduzida a pedacinhos pequenos. Examinando melhor, descobri os mesmos papeizinhos na primeira clareira e em outras duas mais. Alguns sacos de supermercado jogados, sempre nas bordas, sugeriam que algo havia sido levado às clareiras e que, fosse o que fosse, tinha ido embora junto com os freqüentadores. Saí de lá apressada, ansiosa por voltar pro carro e, admito, com os joelhos tremendo.
O que quer que aconteça naquelas clareiras, acontece com freqüência. Não sei o que pode ser e não tenho certeza se quero saber...

Fim de Inverno – bis
Outra ave de volta a Sampa: a tesourinha, Tyrannus savana. Vi hoje pela primeira vez depois do frio.
E já aparecem pelas calçadas as cascas vazias dos ovinhos eclodidos das rolinhas. Já temos os primeiros filhotes da temporada 2003-2004!

Aproveitem os dias.

Martha Argel

domingo, 7 de setembro de 2003

(escrevi este texto ontem de madrugada, quando deveria ter sido postado, não fosse por esse maldito Blogger que tava fora do ar...)

Bons dias a todos.

Fim de inverno
Lá fora o sabiá canta a madrugada paulistana. De poeta, artista, sonhador ele não tem nada. É macho, e demarca o território pra conquistar da fêmea o direito de perpetuar seus genes. Mas é o sinal do fim. Fim do frio besta do curto inverno do trópico de Capricórnio.
E corroborando o sabiá... eles chegaram! Ontem ouvi, antes de ver, o primeiro andorinhão. Mas só ele. Parece que o resto da esquadrilha não tá muito convencido da honestidade de nosso veranico. A Giulia me perguntou se o andorinhão é muito maior que a andorinha.Vamos por partes: pra começar, não é o andorinhão ou a andorinha. No Brasil tem 16 espécies de andorinhões e 15 espécies de andorinhas. Em São Paulo, a andorinha mais comum é a Notiochelidon cyanoleuca, nome comprido pra um bicho pequeno, que eu chamo de nocy; nosso andorinhão é a Chaetura andrei, que batizei de chan. E por fim, quanto ao tamanho: a nocy tem 12 cm de comprimento, e o chan tem... 11,5! Não me perguntem nada, que eu não sei o porquê.

Eu na Sci Fi News
Saiu uma notinha sobre meus livros, e sobre o livro da Giulia, na Sci Fi News deste mês de setembro. Somos citadas, ainda, no artigo da Lu Costa sobre a Sci Fi Con 2003. A revista está interessante, tem uma matéria sobre os filmes Piratas do Caribe e Liga Extraordinária.
(Um parênteses: me decepcionei ao saber que o primeiro foi baseado num brinquedo da Disney e o segundo numa história em quadrinhos. Pasteurização total. Podem me chamar de antiquada. Quando era criança, li the real thing: Robert Louis Stevenson, H. G. Wells, Emilio Salgari, Júlio Verne, Alexandre Dumas. Os personagens desses caras foram roubados por nerds rasos, vazios de respeito e plenos de oportunismo. Blé.)

Últimas leituras
Dois livros que recomendo, de autores que conheci há pouco, ambos muito simpáticos.
Patagônia, de João Batista Melo (Rocco): em clima de velho oeste, um brasileiro chega à Patagônia em busca do homem que assassinou seu irmão. E o malfeitor não é outro senão o infame Butch Cassidy, o pistoleiro estadunidense! Boa leitura, estilo fluido, correto e absorvente. Talvez um ritmo algo lento para o que são meus dias corridos, mas é o ritmo patagônico, sem tirar nem pôr. O João Batista foi perfeito; nas suas viagens ao lejano sur, o sul distante, ele conseguiu captar com exatidão a paisagem imensa e monótona que se entranha na mente e nos ossos do visitante, de tal forma que ele nunca mais vai deixar de se sentir um pouco patagônico. Me deu inveja.
O Cristo rosa, de Silvio Piresh: Cristo retorna após 2000 anos, em pleno Vaticano, só que a volta do Salvador é algo inaceitável para a Santa Mãe Igreja. O estilo é gostoso, me lembrou o Dalton Trevisan na forma (embora não no cinismo ranço e desagradável do curitiboca) e a leitura é rápida, embora eu tenha pulado alguns trechos de reflexões pra voltar à trama, muito bem urdida. O Sílvio tem um humor notável, e seus diálogos são ágeis, inteligentes e surpreendentes. Opiniões firmes, dá pra notar. Vale a pena ler.
E agora estou lendo o passeio do duque a cavalo e outros poemas, do meu amigo, o poeta Luiz Carlos de Moura Azevedo. Não faço segredo de minha incapacidade para ler poesia. Mas o Luiz Carlos é especial. Ele eu consigo ler. Ele já tinha dito que eu conseguiria. Deve ser porque ele é arquiteto e consegue, como eu, olhar pra fora...

Fiquem bem, curtam o final de semana porque vocês merecem.

Martha Argel

quinta-feira, 4 de setembro de 2003

Ontem, 3 de setembro, foi o Dia do Biólogo. Parabéns pra nós!!! Tenho tido muito contato com meus colegas ultimamente. É TÃO bom encontrar amigos e parceiros que falam a mesma língua, com os mesmos valores e que compartilham nossos ideais.
Usei a data como pretexto pra comemorar comprando livros. E mais um pingüim de pelúcia pra coleção.
E a Suely me convenceu a assistir Piratas do Caribe. Acho que eu já disse aqui que não sou cinéfila (shame on me!), que minha cultura cinematográfica é pífia e que raramente vou ao cinema. Mas quando a Su se entusiasma com algo, é porque é bom. E fomos. AAAAAAAAAAAH!
Que delícia de filme. Johnny Depp e Orlando Bloom juntos, minhanossiora!!! Visualmente é tudo uma maravilha. Os cenários e as poses (principalmente do capitão Jake Sparrow) são perfeitos, tudo aquilo que a gente espera de um filme de corsários. E o humor é espetacular!
Depois do filme, comemos uma massa que... ai, Jesus! Ainda bem que não estou nem um pouco preocupada com a balança.
Gente que comenta, obrigada.
Trosco, é uma pena que vc esteja aí em BH. Pensei muito em vc anteontem, ao visitar a Catedral da Sé. Me intrigava muito o porquê de uma construção gótica em pleno século XX, mas agora matei a charada. Ah, como eu queria ter um arquiteto de plantão pra encher de perguntas!!!
Ceres, salvo como dever escolar, nenhum leitor tem obrigação de ler um livro. A obrigação é do autor, de tornar sua escrita cativante a ponto de manter o leitor até o fim. Se ele não consegue, todo seu trabalho terá sido em vão, pois ele falhou em sua missão única: transmitir suas idéias.
Kiki, estou absolutamente enlouquecida com estes malditos carrapatos. Já passei por isto outras vezes. Vou sofrer por meses. Maldita alergia. E eles são nojentos.
Carollia, como foi seu dia do biólogo? Tenho falado com o pessoal da Toca. Saudades de Ctba. Preciso arranjar um pretexto...
É isso. Que os dias sejam bons para quem é bom. Sejam AMIGOS não só em aparência mas em essência.

Martha Argel

segunda-feira, 1 de setembro de 2003

Segunda feira fria, de madrugada, e eu correndo contra o relógio para manter minha fama de profissional séria e pontual. Às dez, chova, neve ou haja um terremoto, tenho de estar no escritório do contratante com o documento pronto. Moleza.
Os últimos dias foram bons, mantendo a tendência já observada de melhora em todos (ou quase todos) os indicadores de bem-estar. Contatos e planos novos, como sempre. Projetos que eu achava terem sido arquivados, de repente voltando à tona. Gosto disso. Dá uma sensação de movimento à vida. Em meu entender não há coisa pior que a imobilidade, aquela sensação de um-dia-depois-do-outro-e-todos-exatamente-iguais.
Sexta-feira viajei. Seis da manhã, 11 graus nos relógios de rua, Aniete e eu pegamos a estrada e fomos bater num lugar lindo, beira do rio Sorocaba, mata ribeirinha e uma antiga usina hidrelétrica, fantástica, feita de negras pedras basálticas. Pela primeira vez na vida fiz rapel, para conseguir atravessar o rio por sobre as ruínas da barragem. Adorei, talvez fique viciada: uma corda, equilíbrio, um pouquinho de concentração, e você chega onde jamais teria chegado se desse ouvidos a seus receios e à cautela. É bom. Não tão bom ter encontrado um antro de carrapatos e micuins do outro lado, mas são os ossos do ofício.
Eles fizeram um estrago em mim; nada de febre ou reações pelo corpo, a resposta alérgica é local, mas o antialérgico tópico não está funcionando. Quem sabe hoje procuro outra solução.
E o final de semana foi o que há muito eu precisava. Não botei o nariz fora de casa, e fiz o que me dava na telha, i.e. li muito. Basicamente sobre arquitetura gótica, neo-gótica e um pouco de barroco, e agora já consigo entender um pouquinho certas coisas que me intrigavam.
Também aproveitei para baixar a pilha de livros que esperavam pacientemente ser lidos. Destaque absoluto para "El anatomista", do argentino Federico Andahazi. ESPETACULAR!!!! Um romance de época, sobre o cirurgião renascentista que descobre o que ele chamou de "Amor Veneris", o ponto do corpo feminino onde está sediado o amor. Estou apaixonada por Andahazi, o estilo dele é fluido, irônico, rápido. Sem enrolação. E ele é um gato!!
No meio de leituras, muito chocolate quente e música para acompanhar o espírito das leituras, um detalhe que não deixou de ter seu interesse, ou repercussões de fundo egótico: o celular tocando insistentemente na noite de sábado, a cobrar. Não atendi, desliguei. Estou sem BINA e não sei quem era. Mas imagino; por trás, uma história curta e nada interessante, mas suficiente para dar uma pontinha de satisfação, ah, isso sim!
Seis da manhã, já, e preciso voltar pro documento.
Tenham todos uma boa semana e não fiquem parados, inertes. Façam algo por si mesmos.

Martha Argel

quarta-feira, 27 de agosto de 2003

Frio, frio, frio.
Eu gosto, sim, de frio, mas o problema é ter de passar horas praticamente imóvel na frente do computador, e sentir os pés e mãos aos poucos ir congelando.
Ontem curti o frio. Pelo menos uma vez na vida acertei a roupa ao sair de casa de manhã. O casaco de couro (fajuto) e os coturnos com meia grossa ajudaram a enfrentar o vento gelado, e enquanto ia ao Fran's com o Júlio, meu amigo e parceiro de consultoria, tomar o que ele chama de "o cafezinho mais caro de São Paulo", quase me senti em alguma cidade européia.
E uma passada na livraria Cultura me reservou (além da frustração de sempre por não poder comprar TUDO o que gostaria) uma grande supresa, quase um milagre: um livro exatamente sobre o que eu procurava, a Itália no século XVII!!! Foi uma facada em meu cartão de crédito, mas hoje ele tá ali, bonitinho, na minha estante.

Obrigada a todos os que me visitam, mesmo que não deixem comentários (entre eles, os Fernandos, o que mora mais ao norte e o que mora mais ao sul). Desculpem não retribuir as visitas. O LoveSan ferrou com meu Explorer, e só dá merda quando começo a navegar. Algum dia mando consertar.

Fiquem bem, tão bem como eu me sinto nos últimos dias -- em paz, tranqüila, satisfeita com a vida; que essa paz seja eterna enquanto dure!

Martha Argel

domingo, 24 de agosto de 2003

Olás. De volta, e pra variar, após longa ausência.
Os dias passam tão rápidos, e as coisas se sucedem sem pausas nem intervalos para respirar.
Trabalho, muito, multiplicado por aquele caos mental que resulta do cansaço, e da necessidade de pensar e planejar N coisas simultaneamente. Estou indo adiante ou correndo para ficar no mesmo lugar?
Mais uma noite de autógrafos. Mais um encontro dos amigos. Valeu Ni, Lilica e Aniete, por emprestarem o cantinho tão bom. Valeu a todos que foram.
Ontem, festa do TintaRubra no Tribehouse. Revi amigos. Tive notícias boas (Carmilla, foi a maior alegria em muito, muito tempo o que aconteceu ontem!!!), conheci gente e aproveitei a noite. Me deixei envolver em pequenos eventos que me deixaram encantada com a simplicidade de certas ações, e reações, e com o valor do agora, puro e simples.
Sinto-me cansada, mas um cansaço daqueles que faz a gente encostar a cabeça no travesseiro e sorrir nos escassos momentos que precedem o sono imediato e sem sonhos. As últimas semanas foram intensas e férteis. Falta, porém, o tempo para assimilar o que significaram. É atrás desse tempo que ando agora. O tempo de pedir licença e me recolher e organizar arquivos mentais e pôr em prática o que no momento são planos, idéias, projetos.
Dia 24 de agosto. Há um ano eu tinha sonhos e sorria com eles. Sonhos que morreram no pântano viscoso das decepções e recriminações, e hoje são só uma história que o tempo está se encarregando, com pleno êxito, de pasteurizar.
Mas também há um ano, em outro fim de inverno, assisti à chegada dos andorinhões-do-temporal (Chaetura andrei) aos céus paulistanos, marcando a volta do calor. Hoje meus olhos vão vasculhar o azul-cinza que cobre a cidade seca e poluída. Quem sabe estarão lá de novo, assinalando, impiedosos, a passagem do tempo que, como disse um poeta qualquer, não pára.

beijos a todos

Martha Argel

terça-feira, 19 de agosto de 2003

Bom dia (ou boa noite? droga, sempre a dúvida!)

Estou com insônia. Não dá pra acreditar que a MESMA prefeitura que perdeu minha nota fiscal há algumas semanas... FEZ ISSO DE NOVO!!! Ainda tive que ouvir um moleque idiota me dizendo com cara de songo-mongo 'Tava na minha gaveta, mas sumiu, eu não achei', tipo 'O problema agora é todo teu'. BANDO DE INCOMPETENTES, ter um bostinha desses como funcionário é um atestado de imbecilidade!!! Eu definitivamente devia armar um belo processo pra cima do prefeito, mas sou mole demais pra isso. Ia até falar bem da cidade, que visitei ontem e cujo centro histórico me surpreendeu. Mas por conta dessa insônia que me proporcionaram, vou aproveitar pra mandar o município À MERDA.

Bem diferente o que tenho a dizer a respeito de outra cidade: Dois Córregos. A cidade é linda e limpa, com muita gente bacana. O pessoal de lá precisaria dar mais valor a si mesmo, à riqueza humana, ao patrimônio cultural e natural que o município tem. Largar a postura desanimada e meter a mão na massa, e FAZER, porque potencial existe, e muito (Claro que DC tem sua dose de filhos da puta, como os cornos que organizam aquelas malditas festas com música bate-estaca, que perturbam a cidade inteira, por conta de um punhado de idiotinhas que não têm mais nada a fazer do que perder a audição durante baladas recheadas de música e bebida ruins e companhia pior ainda. Afff, tô REALMENTE de mau humor!)

Dois Córregos sediou o II Encontro Estadual de Escritores, do qual participei autografando 'O Vampiro de Cada Um' e o 'Relações de Sangue'. Fiquei toda feliz com o sucesso dos livros: de todos os presentes na coletiva, fui quem mais autografou (e quem mais vendeu!!!). O marketing funcionou: todo mundo me reconhecia ('Ah, você é a vampira!') e vinha bater papo. Muitos leitores do 'RdS' ansiosos pelo novo livro, e muita gente vindo me contar que meu livro foi adotado por um professor para trabalhar a linguagem contemporânea na literatura. Meu orgulho: o professor é o Pedro, que todo mundo concorda em entitular 'o melhor professor de português da cidade'!!! Conheci muita gente: escritores ganhadores do Prêmio Jabuti, autoridades ligadas à cultura, editores, cineastas, jornalistas. Sem dúvida, nunca tinha tido tantos bons contatos.
E o povo que eu curti: como sempre, o Chico e a Maria Helena, pela doçura e pelo empenho para que o evento fosse um sucesso. Adorei conhecer o Emerson, um cara super talentoso, poeta, uma voz maravilhosa, um senso de humor incrível, com a tremenda sorte de ser casado com a Ester, historiadora, que deve ser um show como professora, por tudo que ouvi! A Débora, catorze anos de uma energia e uma simpatia inacreditáveis, prometendo um futuro simplesmente es-pe-ta-cu-lar. E o Silvio Pires, um dos caras mais malucos e mais gente fina que já conheci; algum dia coloco algum post sobre seu livro 'Vampires', que foi até objeto de exposição no MAM. São pessoas que gostaria de ter como amigas por muito tempo! CLARO que conheci mais gente ÓTIMA por lá, mas o tempo, como sempre, foi curto pra um contato maior. Tenho certeza de que vou reencontrar esse pessoal por aí.
O encontro em si foi produtivo e estimulante, e promete virar uma rotina. Dois Córregos, que tem a chance de virar um pólo estadual de cultura, merece. A Literatura merece. A Cultura nacional merece.

Bom, quem sabe agora consigo dormir. Ou pelo menos ler mais um pouco de 'Chore para o céu', da Anne Rice. Estou achando interessante, menos arrastado que obras mais recentes. A pesquisa dela é de dar inveja! A tradução não compromete, apesar da falta de nexo de algumas frases.

Tenham uma boa semana.

Martha Argel

(creedo, gerenciar os posts nesta porcaria é uma tortura!!!)

quarta-feira, 13 de agosto de 2003

Olá a todos.

Pois é. Voltei de Belo Horizonte. Cidade linda, deliciosa apesar da secura desta época do ano. Não imaginava que, distante de São Paulo apenas sete horas by bus, a capital das Minas Gerais pudesse ser tão mais quente que a Terra da Garoa!

Salão do Livro de Minas Gerais
Não tem, claro, as dimensões mastodônticas da Bienal paulistana, mas tem aquele clima que enlouquece os fanáticos por livros, como eu. Sem muito o que fazer, por três dias percorri os corredores e conversei com livreiros e vendedores em tudo quanto foi estande, sem exceção uma gente maravilhosa, apaixonada pelo trabalho, pela leitura, pelas letras, cheios de assunto e que me ajudaram com entusiasmo toda vez que eu procurava algum livro sobre os assuntos mais bizarros.
O pessoal da Leitura da Savassi foi o máximo. Não lembro o nome de todos, mas agradeço ao Carlos, ao Evandro, ao Gustavo, ao Paulo, à Lionara ?Bruxa?, à Cintia e a todos os demais. Quem apareceu todas as noites foram o Nitro e a Tuz, simpáticos e animados como sempre, com uma galera ótima: Trosco, Hermann, Anderson, Cristiano, Flávio e mais gente que não lembro o nome (sorry!!!). Conheci leitoras muito gracinhas, entre elas a Lucy e a Alice. Valeu, meninas, pela alegria ao levarem o livro pra eu autografar!
Revi gente conhecida, que não esperava encontrar. O professor Angelo Machado, cujo livro de neurobiologia foi meu terror no curso de Fisio Humana, especialista afamado em libélulas e educador ambiental de primeira, estava autografando seus livros infantis. Grande surpresa foi topar com o Roberto de Sousa Causo, especialista em literatura fantástica, autografando seu tratado Ficção científica, fantasia e horror no Brasil (ed. da UFMG), obra já indispensável para todos os interessados. Conversamos muito e aprendi um bocado com ele sobre literatura.
Conheci o José Carlos Neves, que tem um site dedicado a Alan Moore, autor de terror. Bati bons papos com o escritor João Batista Melo, super simpático. Encontrá-lo foi uma grande coincidência, pois umas duas semanas atrás teria comprado seu livro Patagônia (ed. Rocco), não fosse o berreiro do grilo falante chamado Saldo Bancário. Mas desta vez comprei. Temos em comum a paixão por el sur lejano e o fato de que seu livro é sobre Butch Cassidy e seu bando, que uma vez pensei em usar numa história de vampiros. Quem sabe lendo o livro (autografado!) me animo!

... e nas horas vagas...
Fiquei novamente hospedada na biblioteca.... ops, no apartamento da Clau, que agüentou meu surto obsessivo pela Itália pós-Renascimento. Claro que foi o lugar certo para ser atacada pela enfermidade, pois a quantidade de livros que minha amiga tem sobre a Itália é espantosa. Enchei o caderno que levei e me vi obrigada a usar as margens das folhas... Por que tanto interesse? Meu próximo livro, claro! Torçam pra que eu consiga. É meu projeto literário mais ambicioso até o momento.
E numa pausa da pesquisa bibliográfica, assistimos O filho da noiva, belíssimo filme argentino. Ma-ra-vi-lho-so. Chorei muito e também ri muito. Deu vontade de fazer as malas e me mudar pra Buenos Aires (rá, como se essa vontade nunca tivesse existido...).

Bom, é isso. Curtam a vida e façam de tudo pra realizar seus melhores sonhos, sem ferir os outros.

Martha Argel

PS. meu Explorer tá dando uns paus homéricos. Não consigo abrir os comentários dos blogs que estou visitando!!! Lucy, Trosco, Mexicano, Tuz, Nitro, Flávio, passei pra agradecer por tudo, mas...

terça-feira, 5 de agosto de 2003

(Ui, que ódio dessa porcaria de blogger. Publicou meu post duas vezes e, como sempre, é impossível consertar. Ódio, ódio, ódio. Será que colocando este novo postzinho o eco some???)
Oiiiiiis!

Sábado foi uma delícia! SciFi Con 2003, na Oficina Cultural Mazzaropi. EU ME SENTI NORMAL!!!! Primeiro passava um elfo. Depois a Princesa Lea, e aquele ali num canto era o James Bond. Mas o mais sensacional de todos foi o Morpheus, igualzinho o personagem daquele filme que me deu sono. Eu tava quase indo pedir autógrafo.
E não sabia pra onde olhar. Tava no stand do Adorável Noite, dos adoráveis Lila & Dri, mas queria visitar o Highlander, o Arquivo X, o Harry Potter, a Buffy...
O Paulo Chede e a Lu Costa, da Sci Fi News, estão de parabéns pelo evento delicioso que conseguiram organizar, assim como estão de parabéns todos os fã-clubes que fizeram essa festa. E ainda não sei, como não sabia então, se devo dar os parabéns ou o muito obrigado ao vereador Roger Lin, que apoiou o evento.
Menção especial ao nosso Lord Dri, o Adriano Siqueira, que desta vez conseguiu se superar: reuniu praticamente TODOS os escritores brasileiros que lançaram livros sobre vampiros: Flávia Muniz, André Vianco, Giulia Moon, Cid Vale Ferreira, Eliana Gomes Clementino, Marcos Torrigo e eu. A troca de experiências foi FANTÁSTICA!

Domingo eu estava acabada. Adrenalina a mil, uma ansiedade inexplicável, talvez resultado das mil conversas do dia anterior, da proximidade da viagem a Belo Horizonte, de ainda não ter me acostumado à idéia de que O vampiro de cada um já está pronto, de ter virtualmente terminado o Amores Perigosos e de ter dado início ao novo romance, ainda sem nome oficial. Resolvi que tinha de fazer algo para me acalmar: nada de trabalho, nada de planos, nada de nada. Colocar a leitura em dia. Escolhi um volume autografado: O caminho das pedras, o diário da peregrinação de meu amigo Auro Lúcio Silva a Santiago de Compostela. ESSE CARA É O MÁXIMO!!! O LIVRO É MARAVILHOSO!!! Eu não poderia ter escolhido livro melhor que a descrição não de uma caminhada mera e simples, mas de uma viagem interior, contada numa prosa deliciosa, bem humorada, fluida, repleta de detalhes preciosos. Lúcio, o oráculo estava certo: VEJA OS DETALHES. Palavra de quem já leu MUITO na vida: vocês são tontos se não lerem o livro desse cara!

Segunda, e ainda não me recuperei. Por culpa do papo de HORAS que tive com o pessoal do AnneRice-BR, lá na convenção, estou completamente afônica. E o doutor Lúcio, por melhor médico e escritor que seja, não conseguiu curar minha ansiedade, mas tudo bem, consegui um vidro de tranqüilidade na farmácia – ei, é fitoterápico, hein? – e o troço funciona!
Estou lendo outro livro ESPETACULAR, Expedições Urbenauta – São Paulo: uma aventura radical, de Eduardo Emílio Fenianos, mais um de minha coleção de volumes com autógrafos. Suas aventuras pelos bairros mais pobres de São Paulo são de arrancar lágrimas dos olhos - lágrimas de vergonha pela discriminação social dessa bosta de classe média / média-alta à qual pertencemos. O livro do Eduardo é uma aula de cidadania e tolerância e é incrível como se aproxima ao livro do Lúcio na filosofia e nas conclusões, embora não na metodologia. Impressionante a convergência das idéias de ambos.

E é isso. Tenho de pedir perdão por ter me tornado visitante tão irregular em meu próprio blog. Mas meu reencontro com a ficção, com amigos dos quais há muito tinha me afastado, e comigo mesma, tinham de ter alguma conseqüência logística: o tempo não alcança pra tudo.
Beijos a todos. Lembrem-se de ler livros BONS, que fazem a gente suspirar, já de saudades, no fim.

Martha Argel.

quarta-feira, 30 de julho de 2003

O VAMPIRO DE CADA UM

Já está no ar o site com as informações sobre meu último livro! Informações sobre o livro, noites de autógrafos e onde comprar estão em www.ovampirodecadaum.hpg.com.br.
Apareçam por lá e deixem um comentário!

As sessões de autógrafos já confirmadas são as seguintes:

*** DIA 2 DE AGOSTO -- SÃO PAULO, SP ***
SCI FI CON 2003
Oficina Cultural Mazzaropi -- R. Coronel Albino Bairão, 196, Bresser
Stand do Site Adorável Noite
A partir das 14:00

*** DIA 9 DE AGOSTO -- Belo Horizonte, MG ***
SALÃO DO LIVRO DE MINAS GERAIS
Serraria Souza Pinto -- Av. Assis Chateaubriand, 809, Centro
Stand da Livraria Leitura
das 19:00 às 21:00

E o livro já está disponível tanto pela internet quanto em lojas, nos seguintes endereços:

* pela Internet
Livraria Asabeça (São Paulo, SP) - www.asabeca.com.br

* em São Paulo (SP)
PINHEIROS:
Livraria Asabeça - R. Deputado Lacerda Franco, 187
(11) 3031-3956
SÃO JUDAS:
Coisas de Mulher - Av. Indianópolis, 3408
próximo à Estação São Judas de Metrô
(11) 5071-7930

O livro tem 119 páginas, e custa R$ 15,00

Beijos felizes a todos!
Martha Argel

terça-feira, 29 de julho de 2003

Pois é, há quanto tempo não apareço por aqui. Será que ainda tenho leitores?

O que andei fazendo todo este tempo: trabalhando. Correndo atrás da grana que é minha mas que ninguém quer pagar. Ou melhor: não pode pagar. Trabalho eu tenho, crédito também. Mas que adianta, se ninguém tem dinheiro para honrar seus compromissos?
E o que mais? Dando um gás no Amores perigosos. Falta muito, muito pouco.
E minha grande alegria: ficou pronto o O vampiro de cada um. Fui pegar na gráfica ontem. Quanto mais eu olho, mais lindo me parece. A capa é do meu irmão. Assim que eu tiver um pouco de paciência para editar a imagem eu coloco no ar. Se tiver alguém aí bem curioso, tem uma notinha, já no ar, no site da Editora Scortecci (procure na colona da esquerda).
Vou estar, junto com a Giulia Moon, num evento neste final de semana, o Sci Fi Con, organizado pela revista Sci Fi News. Estaremos no stand do Adorável Noite, do Adriano Siqueira, autografando nossos livros: ela com o Luar de Vampiros, eu com o Relações de Sangue e este lançamento super-recente. Outros autores de vampiros já confirmaram a presença, como o André Vianco e o Marcos Torrigo. Puxa, ando tão desencanada que não tenho as informações sobre o evento pra passar pra vocês. Quando conseguir, vou tentar colocar mais detalhes aqui.
Minha mãe voltou ontem de viagem. Eu realmente senti a falta dela!
Ah, muita gente perguntou do bicho maldito: a chinchila é uma gracinha. Adora que eu coçe a cara dela, fecha os olhinhos e entorta a cabeça. Toma banho com um pó branco, que o pessoal chama de pó de mármore, mas acho que é gesso. Ama uva passa, mas não pode comer muita, e semente de girassol. Coloco alfafa seca para ela todos os dias. É MUITO bonitinha. Não fede nada se você mantiver a higiene da gaiola.
Mas o meu xodozinho é mesmo o Thor. Irresistível quando está dormindo no sofá, em cima de meu pano boliviano que ele adotou como seu. Nenhuma visita consegue resistir, vai lá, cobre ele e aconchega o cobertorzinho das formas mais meigas possíveis. Ele parece um bichinho de pelúcia. Fica lá o dia inteiro. Vocês não fazem idéia! Se eu pudesse, ficava aninhando ele o tempo todo!!!
É isso. Curtam o friozinho, trabalhem e se orgulhem de vocês mesmos.

Martha Argel

sexta-feira, 18 de julho de 2003

Eu nas bancas de jornal
Tá chegando nas bancas por todo o Brasil a revista Pesca Esportiva no. 73 (julho), que traz uma matéria minha, “As aves pescadoras”. Ficou linda, oito páginas (!!!) com fotos coloridas, inclusive uma que eu mesma tirei, de um pingüim (que não é o JC, O Pingüim Viajante). É minha estréia como colaboradora de revistas de grande circulação!

Telefonema de longa distância
Ontem minha mãe ligou, pra me contar em excelente portunhol, que ela e a Natália estão em Buenos Aires, que tinham feito um tour pelo Teatro Colón, que tinham percorrido a Calle Florida, feito compras em El Ateneo (a livraria mais sensacional de uma cidade que tem mais livrarias que o Brasil inteiro) e logo iam sair numa excursão, acho que para o Tigre, a belíssima zona estuarina ao norte da cidade. ESTOU ME ROENDO DE INVEJA!!!

O maldito bicho
E também ontem meu sobrinho joga a mochilinha nas costas e anuncia “Tô indo pra Dois Córregos”. Maravilha, mas quem vai tomar conta do bicho? Quando minha mãe viajou, o trato era que eu cuidaria do cachorro mas a chinchila não era em absoluto problema meu. Pois o imprestável do moleque encolheu os ombros, num sei-lá mudo, virou as costas e se mandou. FILHO DA PUTA!!! Fui olhar pra ver se o bicho estava em ordem e ele estava era morto de fome. A porrinha ainda por cima é exigente com a comida. Tentei de tudo, e nem uva-passa aceitou. Toca eu ir numa pet shop comprar ração, petisco, o caralho a quatro. Comprei, o bicho gostou. Só que percebi, tarde demais, que esqueci na loja o cartão de crédito. Merrrrda, vou ter de voltar lá hoje. Não bastasse isso, meu irmão chega em casa à meia-noite e me chama “O bicho fugiu!”. Caceta, a casa é enorme. “Vamos passar a noite todo procurando essa porcaria”. Por sorte não. Encontrei ela atrás do piano. Mas quem diz que conseguia pegar? Foi um baile. Mas afinal ela voltou pra gaiola. MERDA DE BICHO!!!!

Enquanto isso, minha porção escritora está feliz com:
- a confirmação da noite de autógrafos do Relações de Sangue no Salão do Livro de Belo Horizonte, dia 9 de agosto, das 19 às 21 horas (depois coloco mais detalhes);
- o iminente parto de O vampiro de cada um, que deve sair da gráfica semana que vem;
- o progresso com Amores Perigosos, que depois de três anos parece finalmente ter chegado à reta final!

É isso aí. Fiquem bem, bom final de semana.

Martha Argel

segunda-feira, 14 de julho de 2003

Aí foi assim:
Graças à noite de autógrafos de meu romance Relações de Sangue em Dois Córregos (SP), me senti famosa não por quinze minutos, mas por quatro dias. Saí nos dois jornais da cidade, o Democrático e o Independente. Dei entrevista para a rádio (e quis morrer de vergonha, há anos não gravava). Todos a quem meus cicerones me apresentavam já sabiam que eu estava na cidade (“Recebi o convite”, “Ouvi na Transamérica”, “Você saiu nos dois jornais hoje”). Dei palestra sobre vampiros para uma turma de adolescentes de um programa de apoio a jovens problemáticos, e eles demonstraram sua aprovação (“Ô dona, nóis gosta de firme de terror”, “Hoje eu nem durmi na palestra!”, “Palestra assim é boa, podia sê sempre assim, é sempre só droga, droga, droga, nóis sai daqui com vontade de fumá”).
Pro evento fizemos uma decoração especial no salão do Centro Cultural. O Chico, a Patrícia e o Celso se esmeraram e ficou um barato. Um painel negro de parede inteira com a fachada de uma casa antiga (feita com fita crepe!), um teto negro, um tapete pra esquentar um pouco o ambiente, panos pretos, rendas e quadros pelas paredes, candelabros com velas roxas e pretas por toda parte. Ficou o máximo! A gente tava esperando a hora que alguém ia entrar e perguntar de quem era o velório!
Como já era de se esperar, não foi exatamente uma multidão que compareceu, mas valeu a pena, e muito. Além da “família” (a relação é difícil explicar, então esquece), tinha escritores, jornalistas e professores. Toda cidade tem um punhado de pessoas que agita a vida cultural, e eram essas as pessoas que estavam lá. A ausência mais comentada foi a do prefeito, mas deixa pra lá, não sou da cidade e não vou dar palpite na política. A trilha sonora foi Cocteau Twins, dei uma micropalestra sobre vampiros e um de meus amigos, o Branco, fez a leitura de um trecho do livro. Claro que eu usava minhas roupinhas góticas, e um rapazinho tímido chegou a me perguntar, sério e assustado, se eu era uma vampira de verdade! A má notícia: esqueci de tirar fotos. A boa notícia: o fotógrafo de um dos jornais (não lembro qual) tirou algumas, prometeu mandar por e-mail e ainda autorizou a colocar na internet. Ueba!
De resto, durante minha estada na cidade, arranjei um monte de novos amigos; filei bóia todos os dias na casa da dona Téia, e vocês não imaginam o que é a calda de vinho tinto e canela que ela faz pro manjar branco; em reuniões e em conversas informais conheci mais a fundo os problemas ambientais do município; assisti a uma sessão de cinema fantástica, não pelo filme, um blockbuster besta a não mais poder, mas pelo teatro lotado, pela atmosfera, pela cena impagável das luzes se acendendo e o Chico pedindo desculpas porque o projetor antiqüíssimo tinha dado problema mas que ia ter sessão mesmo assim (“Achei que iam me vaiar”); terminei mais um capítulo do Amores Perigosos; vi, pelo janelão da sala do apartamento, a lua cheia no céu límpido das madrugadas frias.
Por enquanto foi só, mas logo tem mais: a noite de autógrafos do novo livro, O Vampiro de Cada Um, foi confirmada para o Encontro de Escritores que vai acontecer lá mesmo, em Dois Córregos, em 16-17 de agosto.
Tenham todos uma boa semana e não esqueçam de perseguir seus sonhos e ideais.

Martha Argel

quarta-feira, 9 de julho de 2003

Bom dia a todos.

Ok, de volta ao normal.
Anteontem a garrafa durou até o final de meus planos e de minha consciência. Morri pro mundo e acordei só no dia seguinte com todas as seqüelas de uma garrafa de vinho barato, mas mesmo com o demoniozinho martelando meu crânio pelo lado de dentro e com a sensação de estar ligeiramente defasada com relação ao resto do mundo, respirei fundo, meti as caras e fui resolvendo merda por merda. Claro que isso me custou três documentos que eu teria de terminar, mas no final do dia consegui respirar aliviada.

Noite de autógrafos em Dois Córregos
Pois é, minha primeira noite de autógrafos de verdade!
No sábado, dia 12, por volta das 19:00, estarei autografando meu livro ?Relações de Sangue? no Centro Cultural de Dois Córregos (SP). Logo depois haverá uma sessão especial de cinema, com a projeção de um filme de vampiros que ainda não foi definido.
Dois Córregos é uma bonita cidade situada entre Brotas, Barra Bonita e Jaú, e já foi cenário de vários filmes do conhecido cineasta Carlos Reichenbach, que voltará a filmar lá em inícios do ano que vem. A cidade sediará, em agosto, um encontro de escritores que será bem interessante. Saiba mais acessando o site da cidade . A noite de autógrafos está sendo organizada pelo Chico Cestari, diretor do Centro Cultural. Valeu, Chico!

O Vampiro de Cada Um
Finalmente fiz a última revisão de meu próximo livro e ele entra na gráfica amanhã.
O Vampiro de Cada Um reúne 13 contos escritos entre 2000 e 2003, cada um com uma visão diferente dessa figura sedutora e assustadora.
A edição é própria. Em breve colocarei por aqui novidades sobre o lançamento.

Luar de Vampiros, de Giulia Moon
E FICOU PRONTO O LUAR DE VAMPIROS, DA ESCRITORA GIULIA MOON!!!! Ela não sabe, mas tive o livro nas mãos antes dela sequer saber que tinha saído da gráfica. Está lindo, lindo, lindo. E o melhor: é um livro ótimo, com contos excelentes, como não poderia deixar de ser em se tratando da autora. Saiba mais sobre o livro, clicando aqui. A Giulia vai estar autografando o livro no Vamp Festival 4, que acontece neste sábado, 12 de julho. Pra quem estiver interessado:

VAMP FESTIVAL 4
Data e horário: Sábado, 12 de julho de 2003, às 23:00
Entrada: Homens R$15,00, Mulheres R$13,00
Local: TRIBEHOUSE - Av.Henrique Schaumann, 517, Pinheiros, São Paulo
Ponto de Referência: Próximo à Estação Clínicas do Metrô
Telefone: (11) 3083-5876
Informações: (11) 9205-3150 / rufinoni@ig.com.br
http://www.vampfestival.tk/

O Adriano Siqueira também vai estar lá, distribuindo seu fanzine Adorável Noite.
(eu não vou, é justo a noite de minha noite de autógrafos)

Estou indo hoje para Dois Córregos. Até a volta!

Martha Argel

segunda-feira, 7 de julho de 2003

O dia hoje foi uma porrada. Pesado. Não bastava o trabalho na periferia, que é sempre uma merda. Angústia. Desespero. Como é que as pessoas conseguem viver, sobreviver, naquelas condições desumanas? Cara, eu sempre fico arrasada quando tenho de trabalhar na periferia. [aviso aos navegantes: estou completamente bêbada. Se os erros de digitação são mínimos, é porque eu, em minha obsessão por perfeição, corrijo exaustiva e mecanicamente -- obsessivamente -- toda e qualquer palavra digitada]
Não bastasse o trabalho deprimente. A revolta por viver nesta merda de megalópole desumana de terceiro mundo. Ainda por cima o celular insistia em funcionar, em despejar porrada em cima de porrada.
Cara, foi um dia ruim, muito ruim, pela carga de reveses que trouxe.
Vou, claro, sobreviver. Eu sempre sobrevivo. Corrijo meus erros, apesar de estar completamente tonta, mundo girando e tudo o mais, por um implacável piloto automático.
Ok, o dia foi difícil, mas vou sobreviver.
Só que eu poderia ter ficado sem a pentelhação de alguém que é persona non-grata neste blog. Paulo, se enxerga. Olhe-se no espelho antes de achar que pode dar lições baratas de moral. Eu já respeitei você, e suas opiniões, e seus textos. Aí eu descobri que você era só um moleque inseguro e boboca. Me esquece e não enche o saco.
Meu medo agora é que a garrafa acabe antes do alívio da inconsciência.
Como eu disse, o dia foi uma merda mas como sempre sobreviverei à angústia dos problemas que escapam a meu controle. Sobreviverei à angústia de ter, mais uma vez, convivido com a realidade da miséria de minha cidade de dez milhões de habitantes. Foi ruim. Cadê o governo para os pobres? Cadê as promessas de dignidade? Não é digno morar à beira de um córrego que é merda correndo a céu aberto. Não é digno morar uma rua que fede a lixo, a carniça. Não é digno ser cidadadão de segunda.
O que transformou o dia numa merda foi a combinação da conscîência do problema de outros com a BOSTA dos problemas pessoais advindos de estupidez, burocracia, desrespeito, descaso, incompetência, presunção...
E como eu disse, a coisa mais importante do mundo, agora, é o que resta de vinho na taça de cristal. Que, pelo menos, seja suficiente para apagar a consciência, os problemas, a bosta do senso de responsabilidade.
Ok, se eu consegui postar algo inteligível, no estado em que estou, no fim da garrafa, no fim do SACO, no fim do dia, então eu posso TUDO.
Vocês, que merecem, fiquem bem. Quem não merece, só me deixe em paz

Martha Argel