quinta-feira, 26 de julho de 2007

26 de julho de 2007

Mais um dia tipicamente turístico ontem. Sempre acordo cedo, mas entre tomar banho, escolher a roupa do dia (toda uma ciência, mesmo que eu sempre saia de jeans e camiseta), dar uma arrumada no quarto, escrever o diário e procurar uma internet pra atualizar, já são dez e meia, onze horas quando afinal consigo cair no mundo.
Seria mais fácil se eu pudesse usar por dez minutos o computador do hotel pra carregar o post do blog, mas sempre tem um desocupado olhando as notícias do Pan, ou algum adolescente no orkut ou msn. E adivinha. Sempre compatriotas.
O pior é que ontem a Cintia me mandou um e-mail com um artigo sobre a brasileirização do mundo, como alguns sociólogos (de fora do Brasil, hein?) chegaram à conclusão de que fenômenos sociais e comportamentais aparecem na nossa adorável terrinha antes, e depois se espalham como uma peste pelo resto do globo. Mais pior ainda? Ontem, conversando com um amigo, ele mencionou, cheio de dedos, a brasileirização da Argentina (empobrecimento da população, aumento da desigualdade social, sucateamento da infraestrutura, etc), sem que eu tivesse sequer mencionado o e-mail da Cin. Algo me diz que, por mais assustador que seja, o fenômeno é real. Medo. Tenham muito medo.
Mas voltando a assuntos mais amenos e menos aterrorizantes. No fim da manhã minha mãe e eu saímos pela avenida de Mayo, destino calle Florida. Enroscamos na primeira loja. Na segunda (que era uma livraria). Na terceira. Bem mais carregadas, chegamos ao que seria uma parada para tomar algo. Era o Café Tortoni, famosíssimo por ter sido um ponto de encontro de Borges e outros escritores e artistas. Acabamos ficando umas duas horas lá, almoçamos e tomamos vinho (que café, o quê!). Sugestão: se vierem a Buenos Aires, não percam esse programa por nada do mundo.
Depois de comer, meio vacilantes das pernas, nos separamos. Minha mãe voltou ao hotel e eu saí para percorrer Florida (leia-se visitar a livraria El Ateneo).
Pelo meio do caminho fiquei pela Plaza de Mayo, onde depois de muitos anos visitei a Catedral, imponente e solene. Já estava de saída quando o órgão começou a soar. Que bonito!
Na Plaza de Mayo queria visitar, ainda, o Cabildo, talvez o edifício histórico mais importante da Argentina, pois ali foi declarada a independência. Cheguei a entrar no prédio, mas desisti. Havia uma manifestação do MST (!) ali do lado, barulhenta, com um sujeito cantando pelo alto-falante uma ladainha engajada, horrorosa, desafinada. Tinham fechado duas ruas e soltavam rojões um atrás do outro. Guardas de trânsito tentavam por ordem na baderna. Com medo que a coisa deteriorasse, resolvi me afastar. Já saindo da praça, escuto o seguinte diálogo entre duas vendedoras de rua. "Y... eso lo vamos a tener por toda la tarde", afirmou uma, aborrecida. "Siiiii, porque esos son de los pesados", respondeu a outra, com ar de entendedora.
Então cheguei a Florida. Uma hoste de brasileiros num frenesi de comprar, pra variar. Os mais diversos sotaques brasileiros, discutindo preços, comparando câmbio, decidindo em que loja entrar. Num dado ponto havia um daqueles mímicos de rua, que ficam parados como estátuas. Esse estava vestido de demônio! No meio da audiência que se juntara a seu redor, duas mocinhas com vestidos típicos de algum luar (que concluí serem mexicanas). O demônio estava tentando convencer a menina a tirar uma foto com ele, sob as risadas da platéia. Quando estendeu a mão e tentou pegá-la pelo braço, ela deu um grito de terror e saiu correndo, arrastando a amiga que tentava segurá-la. Vai ver que o sujeito era mesmo um demônio, e só ela percebeu... Mais adiante, um turista italiano dançava tango com uma moça de um grupo de dança. O sujeito estava dando um show. Até os próprios argentinos paravam para olhar, e trocavam comentários de aprovação.
Afinal consegui passar algum tempo em El Ateneo e comprar algumas coisas interessantes sobre arte, dinossauros e lobisomens. Desta vez, nada de vampiros.
Saindo da livraria, o passeio prolongou-se até a Plaza San Martín, linda, com árvores imensas e amplos passeios. Ali, numa área fechada, os cachorreiros (os passeadores de cachorros tão típicos de B. A.), deixam livres seus protegidos, que correm, brincam, fazem cocô e xixi, estabelecem sua rede de relacionamentos e latem alucinados para os semelhantes que passam do lado de fora. Um barato. Cachorros grandes, pequenos, velhos, peludos, pelados, sujos, limpos, de tudo. A maioria de roupinha. Um tinha tipo uma camiseta de mangas longas enfiada nas patas da frente. Fiquei um tempão ali olhando, e de vez em quando acariciando um labrador que me seguia ao redor da grade.
Voltei dali para o hotel, descansei um pouco e às sete e meia já tomava o metrô para ir me encontrar com amigos. Aquela linha de metrô era velhíssima! Nos vagões, bancos de madeira e iluminação com a abajures de teto e lâmpadas incandescentes! As portas eram abertas pelos próprios usuários. Uma viagem no tempo.
Fomos a La Violeta, um bar antigo que foi remodelado, lindíssimo. Outro programa que recomendo. Pedimos uma tábua de frios e queijos e, claro, vinho.
Demos a noite por encerrada às onze e meia, e para minha surpresa, me informaram que o metrô já tinha fechado. Meus amigos me acompanharam até o ponto do ônibus, me explicaram direitinho onde tinha que descer e eu, claro, desci no lugar errado, várias quadras antes. Foi uma linda caminhada pela avenida de Mayo, à meia-noite, e cheguei sã e salva ao hotel. Claro que tinha um brazuca olhando as notícias do Pan. Putz, se tivesse ficado no Brasil ia ser mais fácil de acompanhar os jogos, né?!

beijos a todos!
Martha Argel

quarta-feira, 25 de julho de 2007

25 de julho de 2007

Ontem tive um típico dia de turista em Buenos Aires. Nos enrolamos no hotel de manhã, esperando que os primos Suzana e Negro chegassem de Rauch. Enquanto isso, deleitei-me com o charme e a malemolência de nossos compatriotas no saguão do hotel, principalmente os adolescentes idiotas que não saíam do orkut, no computador disponibilizado para os hóspedes, ao lado do qual um cartazinho rogava que o tempo de uso não superasse os quinze minutos. Rá.
Só saímos ao meio-dia, e logo estávamos na calle Florida, reduto dos brazucas consumistas aqui em terras austrais. Jesus amado. Um mar de tapuias ávidos por investir em pechinchas duvidosas seus reais transformados em pesos e dólares. Eu estava por pedir arrego, por falta de ar e uma incipiente alergia aos conterrâneos, quando minha prima nos arranca do caos e nos leva por uma rua lateral. Ufa! Destino: uma loja com um nome absolutamente improvável.
"Vamos a Perramus".
E foi em Perramus que se produziu um milagre. Depois de anos de busca infrutífera, comprei fi-nal-men-te meu sobretudo longo! Custou tão, mas tão caro, que minha posterior visita à famosa livraria El Ateneo foi estéril e inútil. Estado de choque.
Não tive outro remédio senão voltar ao hotel, largar as poucas compras que tinha feito, vestir meu sobretudo novo e cair na rua outra vez.
Fui para a avenida Corrientes, a meca portenha do livro barato, e junto com meu amigo Juan passamos em revista umas dez ou quinze. O estado de choque já tinha passado, e comprei vários livros, mas não encontrei os dois que queria – um está esgotado, e o outro parece que não existe.
Teve um diálogo que foi uma pérola: "O senhor tem o livro de Rodolfo Coria, Los dinosaurios en la Patagonia? " E o livreiro, com cara de ofendido: "No, no, señora! Mas se esse livro está esgotado faz muito, porque é um trabalho muito sério sobre os dinossauros da nossa Patagônia! "
Como disse o Juan, "Gostei da inteligência do comentário". Vai que de repente o título da obra me levasse a crer que o livro era sobre os besouros do Chile.
Durante nossa caminhada, enfrentamos algumas vezes uma turba diferente dos turistas verde-amarelos: crianças. Milhares delas. Com o começo das férias de inverno, elas estão por toda parte, um tsunami nanico, ruidoso e totalmente fora de controle.
No fim, quando escureceu, entramos no café La Paz, em Corrientes e Uruguay (acho), onde o sistema de vedação da área dos fumantes é bem menos que perfeito. Daí a pouco eu não podia respirar. Minha amiga Ana Inés chegou, e Juan se foi. Apesar da poluição atmosférica, e do óbvio resfriado dela, ficamos conversando por umas duas horas. Quando resolvi que já tinha alugado demais a coitada, e sugeri que ela fosse embora pra casa, descansar, ela me perguntou o que eu planejava fazer.
"Continuar visitando as livrarias". Eram umas oito e meia da noite. "Ah, então vou com você". Isso por mais quase uma hora. Não há resfriado, nem frio, que detenha um bibliófilo alucinado!
No meio da caçada literária, passamos por El Gato Negro, um café onde eu já tinha estado uns anos antes, e que vende especiarias. Um monte delas eu nunca tinha visto antes. Acabei comprando coriandro e junípero, pra fazer vinho quente quando volte ao Brasil. Putz, fazia uns três anos que eu buscava esses dois condimentos.
Depois de me despedir de Ana Inés, voltei caminhando, quase dez e meia da noite, por avenidas cheias de gente. Isto é Buenos Aires.
E hoje tem mais... apesar do frio que voltou!

Besos y quesos
Martha Argel

terça-feira, 24 de julho de 2007

21 a 24 de julho

Em Buenos Aires, estou novamente conectada com o mundo!!!
Nos últimos dias, nao deixei de escrever o diário, o problema é que nao tinha como carregar.
Agora, vai tudo de uma vez!
Divirtam-se!

beijosssss
M

21 de julho de 2007

Estou em La Plata, na casa de minha prima Maria Delia. Menos frio, mais cidade, e muitas risadas.
Falamos tanto que não tenho tempo de atualizar o diário!

18 de julho. Três dias atrás, o último que passei em Rauch, o dia foi bem jururu, por conta da depressão pós-acidente. Se eu sentia aqui, imagino como se sentiam as pessoas aí no Brasil. Passei a manhã tentando achar notícias na internet, mas naquela lerdeza internética do interior pampeano, a tarefa era inglória. Desisti e fui "hacer unos mandados". De tarde voltei a tentar conectar-me, e dessa vez foi pior ainda – uma vez mais toda a internet estava ruim na cidade inteira. De resto, só me despedi de todo mundo, fiz as malas e comecei a pensar na próxima etapa da viagem.

19 de julho. A logística da viagem foi meio complicada. Os ônibus para La Plata tinham horários muito ruins, e acabei decidindo que o melhor era o das sete e dez da manhã, madrugada pelos padrões invernais argentinos. Como chegar à rodoviária, a meras três quadras da casa de Suzana, carregando as malas e em plena noite? Tive de tomar um táxi, imaginem só. A coisa mais engraçada: como as distâncias são tão curtas, o pessoal dirige beeeeeem devagar, que é pra viagem durar mais (e não estou falando do táxi, isso é todo mundo!).
De forma que, às sete da manhã, estava eu congelando de frio, esperando o ônibus de pé, porque os bancos eram de metal... e eu não queria gelar a bunda!
O ônibus chegou só dez minutos atrasado, a viagem foi tranqüila, ninguém fumou e cheguei a La Plata na hora exata. Desci do ônibus numa esquina qualquer, e então lembrei que não tinha o endereço de minha prima. Quando liguei pra casa dela, ela não estava. Lembrei de ligar para o celular, e ela estava me esperando numa esquina onde eu não tinha descido porque o motorista não quis. No fim, ela veio andando até onde eu estava, voltamos andando (e carregando as malas) até a casa dela, e tudo terminou bem.
A casa é super-acolhedora, assim como minha prima. Passamos o resto da tarde falando e rindo, até que chegou Daniela, a filha dela, que estuda biologia. Então continuamos falando e rindo, até que desistimos e fomos dormir.

20 de julho. Ontem continuamos rindo e falando por toda manhã. Era o Dia do Amigo aqui. No Brasil também tem isso?! Tentei ligar para o celular de minha mãe e não consegui. A mocinha que me atendeu no cibercafé, Lucrecia (o mesmo nome da que trabalhava no ciber em Rauch, será um complô?), me disse que as linhas telefônicas estavam saturadas por causa do dia do amigo. Putz! Depois minha prima me disse que durante o dia do amigo 800 milhões de mensagens de texto foram mandadas por celular na Argentina!
De tarde Daniela e eu fomos ao Museu de La Plata, onde ela estagia. O prédio é maravilhoso, antigo, com escadarias, colunas, pé direito altíssimo com grandes janelas. Visitamos a exposição e vi dinossauros, megatérios e gliptodonte.Ueba! Uma das salas mais lindas é a que está abarrotada com dezenas de esqueletos enormes de mamíferos, até pendurados do teto. Bem século dezenove. Deve estar exatamente igual ao que estava quando o museu foi inaugurado (quando estiver de volta ao Brasil, espero colocar as fotos no multiply!). Depois de percorrer a parte aberta ao público, fomos à parte reservada, onde Daniela estagia. Adoro as entranhas de museus, quem acompanha meus diários de viagem já deve ter percebido. Passamos por salas abandonadas, com múmias e esqueletos que me lembro de ter visto quando criança, subimos por escadas geladas e atravessamos galerias escuras e desertas. No final, saímos a um corredor no teto do museu. Uau. No fim do corredor, por uma porta chegamos a uma ala de laboratórios. Putz, dá pena. A pesquisa científica na Argentina é muito mais difícil que no Brasil. Os cientistas argentinos não têm equipamentos, verba e muitos nem mesmo salário têm. Tudo tão, mas tão precário, e não obstante eles seguem em frente. Meu, dá dó ver tanta determinação e perseverança, tanta qualidade de trabalho e tanto sofrimento. Daniela me mostrou a sala onde trabalha com produção primária de campos naturais – só vi sacos plásticos de lixo, uma balança velha, uma mesa de madeira e o sinal das décadas. Mas tenho certeza de que o artigo científico que vai resultar do esforço dela vai ser de primeira.
Não podia parar de pensar nos últimos museus que visitei, o Royal Ontario Museum e o American Museum of Natural History. Life is not always fair.
Depois do museu, saímos para fazer uma caminhada pela cidade. Já anoitecia. Daniela me levou a lugares lindos, praças, edifícios históricos, um centro cultural maravilhoso. Aí havia uma exposição de Salvador Dalí, mas era paga e não quisemos entrar. Mas havia outra de um pintor local, que assina Cardén, e como era grátis, entramos. Quadros lindos, pelo menos para meu gosto. O artista retrata lugares e cenas de La Plata. De repente, uma pintura me chamou a atenção. "Daniela, corre aqui! Não é o teto do museu, por onde a gente passou hoje?!" Caraca, era!!!! Que coincidência mais bizarra! (quando puder, coloco no ar a foto do quadro e vocês vão ver como é o lugar).
Retomamos o passeio, e já era noite. As ruas estavam totalmente abarrotadas de gente. É o costume no Dia do Amigo. Todo mundo sai para se reunir com seus amigos. Se encontram nas praças, fazem picnics, tocam música, enchem a cara, fumam unzinho. Lindo. A coisa vai embora, madrugada adentro. No dia seguinte, o centro está nojento de tanto lixo, sacos plásticos, embalagens de bolachas, garrafas vazias.
O último ponto que visitamos foi a Plaza Moreno, ponto de encontro principal durante o dia. A multidão já estava indo embora, deixando detrás de si um rastro de detritos. A praça, defronte à belíssima catedral, tem várias estátuas que, como Daniela me contou e demonstrou, fazem sinal de chifres, todas, com o indicador e mínimo em direção à casa do senhor. Muito interessante.
Tomamos um ônibus repleto para voltar pra casa. Num ato de genialidade, nos havíamos nos afastado da praça até um ponto distante cerca de meio quilômetro, para só então subirmos. O ônibus lotou tanto que, quando passamos pelo ponto da praça, sequer parou. Hahaha.
Bom, enquanto o dia ontem estava lindo e ensolarado, hoje já nasceu nublado e feio. Dizem que o frio volta. Até hoje todos falam da neve e de como está forte esse inverno. Azar o meu. Fiquei só com a parte ruim. Mas sobreviverei!

Beijos e queijos a todos!
Martha Argel


22 de julho de 2007

Ontem fiquei emputecida por não conseguir postar o loooongo texto que tinha escrito. No ciber, não podia colocar CD em nenhuma máquina. Droga.
Foi um dia muito jururu. Nublado, úmido, e a temperatura voltou a cair. Não dava vontade de botar o nariz fora de casa. O único lugar a que fomos foi uma distribuidora de "golosinas", a três quadras da casa de minha prima. Imaginem só, chocolate por atacado. Uaaaaaah! Vocês não têm idéia do despropósito que foi. Vou voltar pro Brasil rolando.
Fora isso, fiquei trabalhando no livro das aves do Brasil. E, claro, rindo e falando.
Desta vez, nossas vítimas foram nossos ancestrais bascos e italianos. Os alvos favoritos foram os bisavôs ou trisavôs Quirico e Giosne, e as bisavós, tataravós, tias-trisavós, todas elas Marias ou Maries. Entre elas, Marie Etchalecou levou a taça. Que raio de sobrenome!
Pois é, o que o inverno não faz a gente fazer. Ficar trancado em casa, diante do calefactor sacaneando gente que morreu há mais de um século.
Amanhã deixo La Plata. Espero conseguir atualizar o blog quando estiver em Buenos Aires.

Beijos e queijos
Martha Argel


23 de julho de 2007

Putz, o frio polar voltou com tudo (e polar aqui é literal; a frente fria está mesmo chegando da Antártica!). Esta noite, meu nariz ficou gelado. Em nenhuma noite isso tinha acontecido.
Vi ontem na televisão que nos próximos dias são esperadas temperaturas abaixo de zero. Ai. O repórter perguntou à climatóloga, esperançoso, o que todo mundo quer saber: já que vamos sofrer, pelo menos vamos ter neve? E ela, toda séria, explicando que o aquecimento global, que a irresponsabilidade das pessoas, que a seriedade da ciência, que no fim das contas não ia dizer nada. Muito, muito compenetrada. Aí o repórter: "mas ao menos podemos sonhar, não?" E ela abre num sorriso infantil: "ah, sim, vamos torcer, quem sabe volta a nevar".
O dia ontem foi tão miserável quanto anteontem. Talvez mais, pois não só continuou chovendo como a temperatura continuou caindo, e ficou por volta dos seis graus. Com as deficiências de aquecimento das casas aqui, jesus amado!
Algo inesperado: um leitor meu me telefonou, um amigo de minha prima que, pra variar, é biólogo e adora vampiros. Puxa vida! Tenho mesmo leitores aqui na Argentina!
Na hora em que falávamos ao telefone, mais uma surpresa: um alarme de carro dispara na frente de casa, e eram minha mãe com meu primo Ernesto que vinham nos visitar. Eita!
Como nos divertimos. Meu primo é um genealogista (existe essa palavra?) amador e há anos vem estudando nossos antepassados. E dá-lhe contar histórias ancestrais.
Moral da história: ele já traçou a origem de todos os bisavôs dele, exceto... quem? Claro, nosso bisavô Pedro Argel. Mas ele me contou que a família vivia mesmo no país basco francês, embora provavelmente tenha vindo de algum outro lugar. E há variações do sobrenome, como Archel e Argeles. Bacana, né?
Eles se foram cedo, porque o dia estava mesmo miserável, e ainda por cima meu primo (tão fanático por esporte quanto a irmã María Délia) queria assistir a um jogo de futebol. Sem nada pra fazer, nós três inventamos uma sessão de fotos, e passamos um bom tempo gargalhando das palhaçadas que inventamos.
Fazia tanto frio que logo, a cama era a única opção...

Beijos e queijos novamente gelados a todos
Martha Argel.

24 de julho de 2007

Mais uma etapa da viagem ontem: a viagem La Plata – Buenos Aires foi tranqüila e rápida. O frio intenso do começo da manhã arrefeceu rapidamente, e o resto do dia foi muito mais suportável que os que passei em Rauch.
Como Buenos Aires é linda. Sair do subúrbio onde vive minha prima, e de repente ver-se numa calçada movimentada, em plena avenida 9 de Julho, foi como um ato de mágica. Aquele monte de pessoas apressadas e elegantes, os edifícios altos, antigos e de ar muito europeu... O conjunto é muito Buenos Aires. Não tem como confundir BsAs com nenhuma outra metrópole.
Puxa vida, nos últimos meses estive em Toronto, Nova York, Rio de Janeiro, São Paulo (claro!) e agora Buenos Aires. O que falta? Cidade do México, talvez. Ah, quem me dera!
Daniela veio comigo desde La Plata, o que foi uma mão na roda considerando-se o tamanho de minhas malas.
Nem bem me instalei no quarto, minha mãe chegou de Monte Grande, e saímos para comer. Espantosamente, nenhuma de nós pediu carne argentina! Eu estava com saudades de meu franguinho light com salada, minha mãe pediu tortilla e minha prima adora nhoques.
Depois do almoço, acompanhei Daniela, que precisava visitar sua sogra, e passamos horas divertidas com Evis e Jorge, ela psiquiatra, ele escritor-músico-revisor de textos. Muito boa gente, os dois!
Daniela se foi no fim da tarde, e eu bati perna pela cidade até que anoiteceu. Ficar no hotel mofando? Nem pensar, isto é Buenos Aires! Assim, convenci minha mãe e fizemos um lindo passeio noturno pela Avenida de Mayo, conhecendo os edifícios históricos, a maioria dos primeiros anos do século vinte. Acabamos no restaurante do Palácio Barolo, uma das jóias da arquitetura portenha, e pedimos uma tábua de frios e queijos, que consumimos enquanto nos embebedávamos, ela com chopp escuro, eu com vinho tinto.
Depois disso, ainda passeei mais um tempo pelas ruas ainda cheias de gente, enquanto dona Martha voltou pro hotel.
Hoje tem mais. Oba!

Besos, fríos y quesos a todos!
Martha Argel

PS. Acho que achei um passatempo novo. Cada linha de ônibus urbano, aqui, tem um padrão de cor diferente e pertence a uma companhia diferente. Tenho um guia da cidade de tem o itinerário e o desenhinho de todos os ônibus. Ontem um procurava no guia cada um que passava. Vou começar a anotar. Não tem os train-spotters? Então, agora sou uma bus-spotter!

sábado, 21 de julho de 2007

INTERVALO A CONTRAGOSTO

Raios!!!!
Preparei um post lindo, atualizando o diário com todo cuidado, e o que acontece?!
Simplesmente sou sabotada pela tecnologia (ou falta de).
Aqui neste ciber nao posso carregar o arquivo a partir do CD. Putz, cada vez pior, a coisa, hein???
E isso que já nao estou no interior, e sim numa grande cidade, La Plata...
Pois bem, sim, estou PUTA.
Acho que agora, só segunda feira, mesmo.
Tenham todos um ótimo final de semana.

beijos e queijos
Martha Argel

quarta-feira, 18 de julho de 2007

17-18 de julho de 2007

(ontem deu uma merda geral na internet aqui na cidade, e nao pude postar o que tinha escrito. posto hoje, sem muita vontade, passada com o acidente terrível ocorrido em minha cidade)

17 de julho de 2007

Dizem que não existe cansaço acumulado. Sei lá. O fato é que, de uns dias pra cá, bateu uma vontade de trabalhar que há muito eu não sentia. Depois dos primeiros dias de lezeira total, não consigo mais ficar na cama por muito tempo, dá uma vontade danada de levantar e fazer algo que preste.
Ontem, mais uma vez, às seis e meia estava diante do computador trabalhando no livro das aves do Brasil. Como a consciência começa a pesar se eu também não fizer algo físico, dei o trabalho por encerrado às dez e meia e saí para, como se diz aqui, "hacer unos mandados", ou seja, fazer as coisas que se tem que fazer na rua. O frio já tinha diminuído de forma sensível. Hurra!
Passei por um dos dois caixas eletrônicos que existem na cidade, fui à livraria bater papo com o dono, Gabriel Fedor (que nome!), e então me encontrei com minha mãe e uma amiga dela para tomar algo e "picar" (comer uns aperitivos) no café Paris (se pronuncia Páris).
O Paris parece algum lugar saído de um filme. Antiquado, acolhedor, com uma dúzia de mesas de cadeira maciça e cadeiras pesadas de assento estofado. Os fregueses são pessoas de meia idade que se encontram aí para conversar e, detalhe importante, observar pela enorme vidraça a vida que passa na calçada em frente. Cada um que desfilava diante da vidraça do Paris era objeto de um longo e detalhado relatório por parte da amiga de minha mãe, uma senhora elegante, de belos olhos azuis e porte aristocrático.
"Y... Así es la vida en el pueblo, ¿viste?" Assim é a vida na cidade pequena. Não há muito o que fazer a não ser manter-se a par da vida alheia.
"Agora já não é como antes. Antes se conhecia todo mundo, agora já tem tanta gente jovem que não dá pra saber quem são". A cidade cresce. Os velhos costumes são duros de manter. Mas nestes dias vi gente novinha mantendo a tradição. "Que sobrenome tem?" Filho de fulana, vizinho do velho sicrano, o avô é o falecido beltrano.
E sem perceber de repente você se vê privando da intimidade de gente que morreu há vinte, trinta anos. Mas o passado, no "pueblo", não morre, e quando diferentes gerações se reúnem a "matear", pontes formam-se através das décadas, histórias antigas repetem-se, enriquecidas pelo presente, enriquecendo novas histórias. Campo fértil para um historiador. Não vi nenhum historiador profissional por aqui, mas historiadores amadores os há de monte.
Entre os Argel há uma verdadeira paixão em traçar sua própria história, talvez por ser um sobrenome tão peculiar, tão único. Aparentemente, todos os Argel, ao menos na América do Sul, provém do mesmo e diminuto estoque original que aportou aqui vindo da Vascongada francesa, a quase desconhecida porção do País Basco que a fronteira separou das muito mais conhecidas províncias bascas da Espanha – Alava, Guipúzcoa e Navarroa, aprendi quando era criança.
Os Argel percorrem a Argentina, cruzam o "charco" (o Oceano Atlântico), entrevistam os poucos velhos que restam, buscam os outros Argel. Criam teorias, revelam histórias que ninguém sabe se são reais. Como boa Argel, faço também minha parte. Um dia vou escrever um livro, minha versão fantasiosa dos Argel, família misteriosa que simplesmente surgiu na América, pois ninguém ainda a encontrou, ou a sua origem, no Velho Mundo... Peculiar simetria: uma família basca repetindo o própria história do povo basco.
Afff, que digressão genealógica de uma herdeira das tradições vilarinhas!
Voltando a um passado bem mais recente, depois do ritual no Paris fui ao cibercafé colocar em dia minhas obrigações eletrônicas. Lucrécia, que atende atrás do balcão, abriu um sorriso. Eu tinha reaparecido depois de vários dias! O fato é que Sérgio, outras das pessoas que trabalha ali, e que também tem um programa em uma rádio local, estava doido atrás de mim. Ele já tinha até divulgado no ar que ia entrevistar "em breve", uma escritora brasileña que andava pela cidade... e a referida escritora tinha sumido! Putz, eu já tinha dito que não queria falar pela rádio, muito menos ao vivo... Mas parece que ninguém deu muita bola. Não tive como escapar. Assim, se algum de vocês aí estiver passando por Rauch hoje, às dez e meia da manhã, não perca, hein?!
No fim da tarde (pouco depois das cinco!), depois de "hacer unos mandados más", fui visitar uma amiga, Anita, e me arrependi de não ter feito isso antes. Anita é cheia de energia, de iniciativa, uma daquelas pessoas que dá vida a um lugar morto como este, que sente um prazer imenso em conectar as pessoas. Pegou o celular e num instante comunicou a meio pueblo que eu estava aqui, e restabeleceu contatos que fiz anos atrás e tinha esquecido.
Puxa vida, que droga. Demoro em sair da toca, e aparece um monte de coisa interessante pra fazer, justo quando acabo de traçar os planos para sair da cidade.
Bom, não dá pra gente fazer tudo, né? E descansar um pouco às vezes é necessário. Se bem que descansar demais pode ser um saco...

Beijos (não tão gelados) e queijos (con dulce de membrillo) a todos!
Martha Argel


18 de julho de 2007

Chocada com a acidente de ontem. Tão perto de minha casa, e eu tão longe.
Nem dá vontade de relatar minha aventuras tão banais, mas vá lá, pra cumprir tabela, mesmo porque enquanto as coisas aconteciam eu, sem uma bolo de cristal à mão, estava me divertindo muito.
Primeiro, não atualizei o blog com o que tinha escrito porque esqueci o cabo do iPod em casa quando fui ao ciber, e depois quando voltei a internet não funcionava (como de resto não funcionava em toda a cidade!).
Depois dei a entrevista na rádio R, e embora não me lembre direito do que falei, parece que as pessoas curtiram, porque um monte de gente veio falar comigo e disseram que adoraram.
Aí saí pra tomar um café com um amigo meu que é repórter do jornal local, e depois fui almoçar com minha mãe e suas amigas.
À tarde, depois de voltar ao ciber e xingar por um bom tempo, desisti, fui pra livraria Fedor (de novo, que nome!)e lá passei um com tempo – e gastei uma boa grana! Quer dizer, boa em termos, comprei sete livros e gastei uns noventa reais.
De noite fui à casa de uma amiga, depois a um aniversário de criança e então à casa de uma prima.
Que dia!
Bom, espero que a internet tenha voltado. Estar longe de casa e não ter notícias é horrível.

Martha Argel

PS. este é meu último dia aqui em Rauch. Amanhã viajo cedo para La Plata. Não sei se terei acesso à internet pelos próximos dias.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

16 de julho de 2007

Lá se foi o fim de semana. Nem vi passar. Como se estivesse em casa: trabalhei pra carai. De repente bateu uma dor danada na consciência, e me vi levantando de madrugada (bom, seis e meia da manhã, nestas latitudes austrais, é de madrugada) pra trabalhar no livro de aves brasileiras, pés gelados e tudo.
Parece que nunca sai do lugar!
No sábado de tarde, saímos para visitar parentes. Entra aqui, toma um mate (é como o chimarrão se chama aqui na Argentina). Entra ali, toma mais um mate. Bater papo e colocar a conversa em dia, sem mate nem pensar!
No meio da parentada toda, reencontrei-me com minha prima Alicia, que mora em Ushuaia, no fim do mundo. Dez anos atrás, tentei visitá-la. Digo "tentei" porque, embora eu tenha passado 15 dias lá, foi justo quando ela estava aqui em Rauch. O mais engraçado foi que, dez anos depois, ela me contou que, ao chegar em casa então, depois que eu já havia partido de volta para o Brasil, havia recados para mim em sua secretária-eletrônica! Imaginem só, alguém que chega pra você e diz: "ah, em 1997, quando cheguei em casa, tinha dois recados de um amigo seu pra você".
(Claro, depois que voltei daquela viagem, encontrei a pessoa que tentara me encontrar na Terra do Fogo, e a verdade é que continuei me encontrando com ele por muitos anos. Vejam só, um cara foi até o fim do mundo à minha procura. E não é modo de falar! Quantas mulheres mais podem dizer isso?!).
Ontem, domingo, passamos o dia na fazenda de minha prima Susana. Foi uma delícia. O lugar é bonito, e meu primo fez um churrasco de costela e frango, que estava o máximo. Descobri que maçã verde assada é demais!
Pra variar, exagerei na comida. Acreditem, é impossível vir pra Argentina e comer pouco.

beijos e queijos a todos!
Martha Argel

sábado, 14 de julho de 2007

14 de julho de 2007

Nada de neve, droga. Estava seco demais.
Pois é, passamos o da inteiro em Tandil. Às nove da manhã, um termômetro na rua marcava zero grau, o que significa que durante a noite a temperatura esteve negativa. Dizem que esteve a menos seis, mas não creio. Dizem também que até congelou uma represa que tem por lá. Também não creio.
Meu testemunho pessoal é: saímos de Rauch ainda no escuro e pegamos o amanhecer no meio do caminho – (amanhece super tarde, por volta das oito e meia, e anoitece cedo. Quando clareou, eu não podia ver a paisagem porque as janelas de trás da camionete estavam embaçados. Então tentei limpar, e descobri que não era vapor, mas uma camada de gelo que revestia o vidro por dentro!
Em suma: fazia um frio do cão, mas isso não nos impediu de passar a manhã inteira batendo perna e fazendo compras. O frio, aliás, é um excelente pretexto pra entrar num café e ficar lá sentado, comendo e batendo papo, e olhando as pessoas passarem encolhidas e apressadas na rua.
Me chamou a atenção a quantidade de produtos brasileiros a venda nas lojas, incluindo até mesmo tênis, botas de couro e chocolates!
Na hora em que todas as lojas fecharam para a siesta (sim, o hábito se mantém!), fomos comer. O self-service é daquele tipo burro que tem na (caríssima) lanchonete do MASP, em Sampa: você não pega a quantidade que quer do que quer, como nos "por quilo". Você compra a porção... e que porção! Imensa! Aí acaba não podendo comer toda a variedade que quer, e sobra tudo o que não consegue comer...
Depois do almoço passeamos pelos arredores da cidade, pelas montanhas que são tão raras nestas paragens. Como em toda montanha próxima a cidades, uma inundação de chalés, pousadas, hotéis, tudo num estilo alpino-fake, todo fofinho. Deve ser algo inerente ao ser humano, porque muda o país mas o impulso de "alpinizar" a paisagem é incontrolável.
Na rápida volta às compras pós-passeio, acabei não resistindo: me enfiei numa livraria, eeeeeh!
De novo: incrível a variedade de títulos numa livraria dessas, de cidade do interior. Acabei achando até uma coisa bizarra, uma edição em espanhol de um autor brasileiro de fantasia que é esnobado por muita gente "do meio" no Brasil. O pessoal fala mal e menospreza, mas o fato é que ele foi traduzido, e os detratores não. Ele está numa livraria em Tandil, Argentina, e os críticos não. Tudo bem que estava numa mesa de ofertas, mas nada é perfeito, né? Mesmo porque ele estava em excelente companhia, cercado de clássicos e best-sellers.
Chegamos em Rauch só de noite (grande coisa! Anoitece às seis!), e jantamos pizza feita em casa acompanhada por algo bem argentino: um vinho tinto maravilhoso (Norton Malbec D.O.C., Reserva Especial) que se chegasse no Brasil custaria uma fortuna!

Beijos e queijos a todos!
Martha Argel

P.S. se alguém aí se interessa... meus pés estão gelados.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

12 de julho de 2007

Definitivamente, com esse céu limpo, não vai haver mais neve. Droga.
Não obstante (é uma boa expressão, não?), pela manhã as temperaturas continuam abaixo de zero. Minha prima acaba de entrar revoltada: de novo foi lavar a calçada e a água congelou. De novo temos a zona de perigo diante da porta.
O dia de ontem foi de tanta lezeira quanto anteontem. Fiquei em casa toda a manhã, trabalhando em um conto que não vai em frente nem com reza brava. Acho que o cérebro ainda estava congelado (assim como os pés).
De tarde, saí para visitar minha tia Dora, já velhinha, tão encorujada que, instalada em sua cadeira de balanço, fica com os pezinhos pendurados no ar. Parece uma bruxa do bem, com os olhos claros arregalados por trás dos óculos de lentes gordas. Na sala quentinha, também estava tio Pibe, sentado em sua cadeira favorita, ao lado da janela, de onde vigia tudo o que se passa na rua. Tio Pibe é basco. Aqui na Argentina se diz que os quanto mais velhos os bascos ficam, mas próximos fica o nariz do queixo. Tio Pibe deve ter uns cento e cinqüenta anos.
Seriam umas quatro da tarde quando resolvi ir ao cibercafé (que de café não tem nada, é um computador num posto telefônico, que aqui se chamam locutórios e são mais comuns que ratos). Para chegar lá atravessei o conjunto de praças que há no centro. Tão, tão lindo! As árvores sem folhas, tudo tão limpinho, as pessoas encolhidas detrás de seus cachecóis... Como o inverno é lindo, apesar do frio insuportável.
Depois dos deveres internéticos, dei um pulo numa livraria que havia visitado três anos atrás. É incrível que uma cidadezinha como esta tenha uma livraria maravilhosa como aquela. Mesmo em São Paulo é difícil achar a variedade de livros que os donos, Gabriel e Claudia, conseguiram juntar ali. Basta dizer que entrei procurando dois contos... e saí com os dois! E olha que eu sabia apenas o nome de um deles, e do outro nem isso! Dá-lhe, Gabriel!
Hoje os planos incluem ir comer churrasco com Chichina, uma amiga de minha mãe, divertidíssima, e depois voltar à livraria para bater papo com Gabriel e garimpar um pouco mais..
Amanhã não devo postar, pois viajaremos para Tandil, a uns 80 km daqui. É uma cidade linda, situada no sopé de uma das raras serras que rompem a interminável planície pampeana. E, pela altitude, é um lugar frio. Muito frio. Quem sabe de repente rola uma nevezinha básica.

Beijos e queijos a todos!
Martha Argel
PS – e JURO que hoje faz mais frio que nos outros dias!!!

quarta-feira, 11 de julho de 2007

11 de julho de 2007

Meus pés continuam gelados, e a possibilidade de ver neve vai se tornando remota.
Ontem demoramos a sair de casa. O sol lá fora não enganava. O azul do céu também não. Quando por fim saímos, e já passava das dez, a faxineira de minha prima avisou: cuidado com a calçada, que tentei lavar e não consegui. O fato é que ela jogou água nas pedras do calçamento e quando foi secar com um trapo, congelou tudo. O trapo ficou grudado. Moral da história, havia uma fina camada de gelo a cruzar, no trajeto entre porta e rua. Putz. Não tem NADA tão escorregadio quanto uma calçada de pedra coberta de gelo.
Mas atravessamos galhardamente o obstáculo e ganhamos o mundo.
Até que não parecia tão frio, mas o gelo que víamos aqui e ali nos mostrava que continuávamos abaixo de zero. As pessoas que passavam de bicicleta e de moto sem exceção iam enroladas em cachecóis, só os olhos de fora. Todo mundo parecia gordo, apressado, arrepiado, encolhido. E reclamava do frio.
De novo a constatação curiosa: nós que moramos em lugares quentes achamos que quem vive onde tem inverno de verdade está acostumado ao frio. Mas não. Não tem um lugar frio em que eu tenha estado onde os nativos não vociferem sem cessar contra as baixas temperaturas. Seres humanos, todos iguais. Reclamar é o barato. Do que quer que seja.
Depois de conseguirmos dinheiro num caixa automático (viva a tecnologia!), e de umas comprinhas básicas, minha mãe teve a genial idéia de comprar um celular. Sessenta pesos (uns cinqüenta reais, talvez?) e pronto. Temos nosso próprio número na Argentina (de novo, viva a tecnologia!).
Embora as temperaturas subissem acima de zero com o passar das horas, o resto do dia não teve mais muita novidade. Quem sabe a criatividade também se congela sob frio intenso.
Passei praticamente toda a tarde dentro de casa, trabalhando ao computador (hã... como era mesmo aquele lance de viva a tecnologia?), até que o irresistível poder da cama se fez sentir. Deitei para ler e... não consegui mais escapar, até hoje de manhã.
Com as coisas gostosas que tem pra comer aqui... algo me diz que vou voltar pro Brasil rolando!

Beijos com sabor de chocolate... gelado
Martha Argel.

terça-feira, 10 de julho de 2007

10 de julho de 2007

Pés gelados. Provavelmente será esta a tônica da viagem. É minha situação agora, sentada na cozinha da casa de minha prima Susana, vendo pela janela do pátio interno uma nesga de céu azul lá fora. Céu azul significa rápida troca de calor entre terra e atmosfera, e significa que as temperaturas caem rápido quando a noite cai.
Não sei exatamente qual a temperatura externa agora, mas deve beirar zero grau. Tandil, cidade vizinha, tinha menos seis, sensação térmica menos dez, às sete da manhã.
Quando a Susana nos alertou "tragam muita roupa quente, porque está fazendo muito frio", a gente não sabia bem o quê, exatamente, era muito frio. Descobrimos no segundo exato em que saímos pela portinhola do avião, ontem, no aeroporto de Ezeiza.
Eu já tinha achado que o início de viagem tinha sido venturoso, pois ainda no aeroporto de Cumbica eu encontrara, no minúsculo quiosque da livraria LaSelva no embarque internacional não um, mas dois, livros de vampiros... que eu não tinha!
A viagem pela Lan Argentina foi impecável, decolagem na hora exata, aterrissagem ainda mais pontual, serviço de bordo gentil e eficiente, companheiro de banco amável.
Enquanto descíamos para a aterrissagem, pela janela só se via uma massa impenetrável de nuvens. Assim, quando minha mãe saiu do avião antes de mim, duas pessoas entre nós impedindo que eu visse o dia lá fora, ouvi sua exclamação deliciada, achei que havia visto o sol. Mas assim que saí para o começo de tarde plúmbeo, a voz dela me alcançou:
"Neve! Está nevando em Buenos Aires!"
Nevava! O ar estava repleto de minúsculos flocos caindo muito mais lentos que chuva. As pessoas encapotadas que nos recebiam na pista estavam cobertas de partículas brancas. Todos olhavam ao redor de si, encantados, queixos caídos, meio sem acreditar.
Nunca neva em Buenos Aires! Uma nevada acontecida há quase um século ainda era tratada como um episódio quase tão inexplicável quanto discos-voadores ou o monstro do lago Ness. E agora, descendo do avião, éramos recebidos por... neve!
Quando o motorista nos encontrou no saguão, explicou que não era bem neve, era o que aqui se chama água nieve, flocos muito pequenos que derretem ao tocarem qualquer superfície. Em Rauch, a pequena cidade pampeana que era nosso destino, não estava nevando e muito menos chovendo, pois havia uma forte seca, informou ele.
E de fato. A água nieve nos acompanhou por uma parte do caminho. Chegamos sob céu ainda cinzento mas com mostras de estar abrindo, sob um frio intenso mas sem uma gota de neve, água nieve ou chuva. Já instaladas na sala aconchegante de Susana, descobrimos pela tevê que provavelmente estamos numa das raríssimas regiões do país que não estava debaixo de nevascas. E que, depois de nossa breve passagem pela Grande Buenos Aires, a agua nieve tinha se transformado em neve de verdade, e toda a região metropolitana estava absolutamente branca! Caramba, e a gente perdeu esse momento histórico!
Bom, pelo menos agora temos um propósito: vamos tentar achar neve. Aguardem os próximos capítulos de nossa busca.

Beijos gelados a todos
Martha Argel, direto de Rauch, Argentina
P.S. Minha mãe acaba de me chamar para ir ao quintal "Vem ver uma coisa que você nunca viu". Fui. "Toca o roupa no varal". Toquei. Dura como papelão. Congelada. De fato, eu nunca tinha visto. Já deu pra notar que a coisa não vai ser fácil...

domingo, 1 de julho de 2007

FANTASTICON 2007 - Minha participação

Caros amigos:

No próximo domingo (8 de julho), participarei do FANTASTICON 2007, numa mesa redonda junto com os conhecidos escritores André Vianco e Giulia Moon:

Domingo, 8 de julho das 16:00 às 17:30
Mesa-redonda "Como transformar uma idéia em uma boa história"
Escritores consagrados revelarão seus segredos e inspirações na arte de transformar suas idéias em histórias cativantes.
Participação: André Vianco, Martha Argel e Giulia Moon
Auditório Armando Bogus - Auditório A.

O Fantasticon integra a décima quinta edição do evento mais importante de RPG brasileiro, o Encontro Internacional de RPG.
Vale a pena comparecer, muitos outros escritores, editores e artistas vão estar presentes. Será uma ótima oportunidade de saber como anda a produção e a divulgação da literatura fantástica no Brasil!
Clique aqui, pra ver a programação completa no site Bloodsteps.
Visite também o site oficial do evento: http://www.devir.com.br/rpg/15_eirpg_fantasticon.php

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Fantasticon 2007 – Simpósio de Literatura Fantástica
7 e 8 de julho de 2007 (sábado e domingo)
Colégio Marista Arquidiocesano
R. Domingos de Moraes, 2565, Vila Mariana, São Paulo, SP (metrô Santa Cruz).
Organização: Silvio Alexandre. Apoio: Devir Livraria, Terramédia e Pixel Media Editora.
Evento integrante do XV Encontro Internacional de RPG.
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Espero todos vocês lá!!!!
E levem seus livros para serem autografados, pois depois da mesa-redonda haverá uma sessão de autógrafos / bate-papo.

Beijos
Martha Argel