sexta-feira, 19 de abril de 2013

Dúvidas, dúvidas...

Que fazer?

Dia desses, recebo um e-mail de um garoto de 14 anos pedindo, muito coisa querida, alguns esclarecimentos sobre um conto que saiu em um livro que publiquei faz muito, muito tempo. Era matéria de prova na escola.

Uau! Uma professora adotou um texto meu como leitura em sala de aula? Fantástico.

Mas...

A escola é em uma cidade pequena de outro estado. Será que a professora pediu para os alunos comprarem o livro para ler? Duvido muito. A obra sumiu do mercado faz muito tempo e, além do mais a editora faliu meses atrás (olha a safadeza: dando calote em TODOS os credores, inclusive eu).
Mas o livro foi pirateado e jogado na rede a minha revelia (mais uma safadeza!).

É mais lógico pensar que foi na internet que a professora conseguiu o livro. E, por comodismo, pouco caso ou por desconhecimento mesmo, fez cópias do conto para seus alunos.

Então fico cá eu com sentimentos contraditórios. Pelo visto, o texto é bom o suficiente para ser usado em sala de aula. Viva! Eu poderia estar recebendo uma remuneração justa pelo tempo que investi na escrita, sendo adotada em escolas, se não tivesse sido desrespeitada primeiro pela editora (que nunca me pagou os direitos autorais) e depois por moleques "ciberativistas" que acham que autores não têm contas a pagar.

E quanto à professora? Escrevo para ela solicitando informações sobre como o conto foi utilizado? Indago se houve afronta a meus direitos de autora? Faço um salseiro?

Tentando decidir, entro na página dela, na página da escola, e descubro que têm um trabalho bonito, educação ambiental, proposta pedagógica moderna, coisa e tal. Legal fazer parte disso tudo, mesmo que involuntariamente.

Poxa, um professor adotar um texto de autor brasileiro, contemporâneo e ainda por cima de terror? Quantos outros por aí têm semelhante atitude de aproximação com o público leitor que tentam formar?

Que faço? Decisão difícil.

Decido não fazer nada.

Que os alunos tenham gostado da leitura. Que tenham sentido um arrepio de medo e que a atividade não tenha sido (mais) um fardo daqueles que o ensino tradicional costuma jogar nas costas do aluno perdido entre tanta informação inútil. Que tenham se saído bem na prova. E que tenham, ao menos alguns, sentido uma atraçãozinha pela prática da leitura, e se sintam estimulados a ler outros autores, melhores e mais profundos do que eu. E que a professora continue a levar em conta o que um adolescente de 14 anos mais gostaria de ler!

================

Adendo (10 de maio ): Mais um melancólico lance da novela desse livro de que tanto gosto, e que tantas amarguras me traz. Ofereci-o para uma editora grande que quer publicar algo meu; fui honesta e informei que foi pirateado. Compreensivelmente, responderam que não têm interesse em um texto nessa situação. Obrigada, senhores piratas, por roubarem mais esta oportunidade de uma escritora que luta há anos por um espaço no mundo editorial!