quinta-feira, 18 de setembro de 2003

Querido diário, ontem o dia começou com um longo passeio pela Rede, visitando a esmo sites com fotos de cachorros. Ainda bem que não houve testemunhas para os sons decididamente debilóides que eu produzia a cada foto. Minha favorita foi a Estrupícia, uma SRD espertíssima !
Então a caminhada diária, uma consulta encorajadora à balança (apesar do consumo abusivo de porcarias, não engordei, invejem-me) e a visita meramente estética à igreja, tentativa de serenar o turbilhão mental.
De volta ao lar, a re-escrita de um conto -- sim, voltei à ficção curta, após meses.
A seguir, um dos compromissos do dia me mostrou que ainda consigo assistir uma palestra de cabo a rabo. Aliás, fui uma das escassas pessoas que o fizeram ontem. Não por falha do palestrante: Claudio Willer, presidente da União Brasileira de Escritores, numa excelente exposição sobre 'Paródia, sátira e intertextualidade no Modernismo', muito clara e didática. Primeira vez que assisti a uma aula sobre literatura. Me fascinaram os pontos de contato entre a teoria literária e tantos temas que me interessam dentro da ciência. Adorei encontrar, ao longo da preleção, conceitos que absorvi de uma obra que está na estante especial de livros-que-marcaram-a-minha-vida: A construção das ciências, de Gérard Fourez. Uma pena o público não estar à altura. Universitários, daquele tipo já conhecido, de outros carnavais e oba-obas. Nem os professores ficaram até o fim. O auditório em si parecia calculado para ofender palestrantes e público: todo espelhado, cada pessoa que saía ?discretamente? tinha sua imagem multiplicada ao infinito e era como se uma multidão estivesse se retirando em desprezo ao orador. É essa nossa elite cultural. Parabéns, discentes e docentes dessa universidade privada (ambas acepções), onde os guichês de pagamento formam um longo corredor, de dar inveja ao Pacaembu.
Findo o evento, aproveitei para mergulhar na Liberdade. Compras, window-shopping e almoço de palitinho, sentada na praça em companhia de uma amiga.
Daí me abalei para o próximo compromisso e, pra não chegar meia hora adiantada, nada mais conveniente do que um passeio pelo cemitério. Entrada restrita, mas me vendo toda de preto (é óbvio), o segurança deixou passar: 'Vai pro velório, não é'?. Não neguei nem confirmei, mas entrei.
O passeio me deu alguma tranqüilidade e, no bate-papo ao qual cheguei pontualmente, até consegui aceitar sem muita consternação a opinião de alguém que entende da coisa. É bom ouvir a argumentação de um expert, que além de dicas valiosas, me ofereceu ajuda. Não gostei muito do raciocínio lógico dele, mas no fundo eu já sabia. Continuo não gostando da idéia. E minha porção sabotadora me faz ir sempre pelo carreiro mais sinuoso e difícil. Mas é isso: depende de mim, e depende de minha decisão.
No total, um dia bom.
Espero que o dia de vocês também tenha sido.
Cuidem-se.

Martha Argel

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