quarta-feira, 10 de setembro de 2003

É tão mais fácil escrever sobre a dor, sobre a desilusão e o desencanto do que sobre a paz, a satisfação, a serenidade. Quando inquietos é que precisamos desabafar. Então a escrita. Mas quando os dias passam mansos, pra quê tentar encontrar as palavras certas se estamos tão ocupados vivendo?
A chuva cai lá fora, tranqüilizadora, lenta. Como lentos têm sido meus dias. A retomada das caminhadas me trouxe a sensação boa do reencontro. Velhos amigos: pessoas, árvores, os cães sempre tão irresistíveis, a paisagem familiar das casas que reconheço, uma a uma, os jardins e as calçadas. Perfumes. Os manacás estão floridos de novo, deliciosos. E ontem um cheiro tão bom me fez parar, confusa, em uma esquina e procurar ansiosa por sua origem, até meus olhos descobrirem um cinamomo totalmente recoberto com suas pequenas flores delicadas. O carinho que sinto por essa árvore vem da infância.
E quem disse que a cidade é cinza? Ipês-amarelos, jacarandás-mimosos, beijos, rabos-de-papagaio, bauínias, azaléias, quaresmeiras. Manacás e cinamomos. Ela é colorida e perfumada. Pra quem sabe ver e sentir. E aproveitar a paz.

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