quarta-feira, 15 de outubro de 2003

Bom dia. Está escuro lá fora mas depois da meia-noite talvez o correto seja dizer "bom dia" e não "boa noite", pelos mesmos e tortuosos caminhos lógicos que levam alguém a nos dizer "bom dia" depois do meio-dia e então explicar "ainda não almocei". No fundo, lógica nenhuma.

Bolívia
Tenho um carinho especial por esse lindo país andino. La Paz é uma cidade maravilhosa. Na primeira visita, ao entrar num elevador, dei de cara com o sujeito que governava então, e ainda governa, a nação. Ex-milico. Meus amigos bolivianos, cultos e esclarecidos, lamentavam que tivesse sido eleito; lamentaram, depois, que fosse reeleito. Como o Brasil, a Bolívia não merece a elite político-econômica que tem. Canalhas que enriquecem às custas de um povo miserável. Lá, como cá. E no meio de tudo, os órgãos repressores ianques que, com a desculpa de "combater o tráfico", controlam o fornecimento do mais fino pó para os mais finos consumidores no Grande Irmão do Norte. Ou vocês acham que os congressistas da terra do Tio Sam compram qualquer farinha vagabunda por aí? Pobre Bolívia. George Killer Bush já disse: não vai permitir ameaças à ordem democrática e à constitucionalidade. Pra quem mesmo ele disse isso uns meses atrás? Dessa vez, talvez o próprio governador da Califórnia encabece as tropas de libertação.
E antes que eu me esqueça: POR UMA SAÍDA BOLIVIANA PARA O PACÍFICO!

Saramago à moda da casa
Pois é. Saramago ontem na Livraria Cultura da Paulista. Um tumulto. Um caos. Ameaça de quebra-quebra. Imaginem trazer um Prêmio Nobel de Literatura pra um evento, na melhor livraria da maior cidade brasileira... e onde não cabem mais do que 30 ou 40 pessoas?! Só podia dar no que deu: merda. Fiquei horas lá e só consegui avistar o Zé através de vidros: o da livraria, e o do carro, quando corri até o estacionamento, tipo tiete deslumbrada, num último e vão esforço de conseguir seu autógrafo em meu velho e alquebrado exemplar de "A Jangada de Pedra". Não assisti palestra, não vi o homem cara a cara, meu livro permaneceu virgem da caneta dele, mas me diverti muito. Fiquei um tempão com a minha amiga Patricia Bigarelli, talentosa artista plástica que está expondo no saguão do Conjunto Nacional. Revi a Chica, ex-entomóloga do Museu de Zoologia, hoje também dedicada às artes. Filei poucos mas deliciosos canapés numa noite de autógrafos menos conturbada e mais nutritiva. Reencontrei, na malograda e furada fila de autógrafos, a Kaoru, que foi uma de minhas professoras mais queridas nos bons e velhos tempos de USP. E dei autógrafos! Vejam só, teve gente que saiu sem a assinatura do português mas levou a minha, no mundialmente famoso Café Literário! Pra mim o melhor foi quando, cercado pela turba furiosa com o fim da sessão no meio da fila e a ponto de ser linchado, o funcionário incumbido de acalmar os ânimos me avista lá longe, assistindo tudo de camarote, e acena pra mim "Oi, Martha!". Muitos rostos se viraram, dei meu melhor sorriso cínico, e acenei de volta. Serenada a revolução, multidão dispersada, fui bater papo com o Wilson e acabamos, depois do expediente, sentados no Fran?s com a simpática e bióloga Lica, também da Cultura, e batendo um papo muito legal. Moral da história: meus brincos novos são um sucesso, um monte de gente reparou!

E é isso. Tanta coisa tem acontecido que eu gostaria de postar aqui, mas não tá dando. Trabalho, escritos, leituras. Tanta coisa para ocupar o tempo.

Vivam intensamente!

Martha Argel

Nenhum comentário: