segunda-feira, 22 de setembro de 2003

Bons dias. Hoje: nublado, 16 graus.

Thor
Carollia, a morcególoga, perguntou do Poderoso, o pitpulga, o puldog. Vai muito bem, cada vez mais enturmado com o sofá da sala. As visitas não resistem, e sem exceção testam as mil-e-uma formas de cobri-lo com o aguayo, a mantinha boliviana que já se tornou sua possessão. E tem foto dele na internet! O site é http://www.mikelhasa.hpg.com.br, e as fotos estão na galeria de AUmigos, página 16. Visitem meu filhote lá!

Aves, gastronomia e U2
E passou o Juan por aqui de novo. No sábado descobrimos aqui perto de casa um restaurante capixaba. Esqueçam a tal moqueca baiana. A VERDADEIRA é a do Espírito Santo. Saudades do ano que passei nesse Estado maravilhoso!
Depois do banquete, fomos com a Giulia à Benedito Calixto, onde causou certa incredulidade o fato de sermos DOIS os ornitólogos no local.
De lá o Juan voltou pra casa, enquanto a Giu e eu demos prosseguimento a uma programação vampírica. Voltamos a nos encontrar de noite, em casa, para um papo regado a vinhos bons e ruins e música do U2. A noite foi coroada com um documentário es-pe-ta-cu-lar sobre The Joshua Tree, o inigualável cd lançado em 1986 pelos irlandeses e que, para mim, é o melhor disco de todos os tempos.
O domingo foi de muitas conversas interessantes e de noite passou o Dante aqui e carregou embora o Juan para uma aventura ornitológica que espero que dê certo.
Foi bom voltar por algumas horas ao universo passarinheiro.

Cenas das caminhadas. I
Todo dia vejo um senhor caminhando. Passos apressados e curtos, braços num movimento pendular rápido e nervoso, no mesmo ritmo. Um chapeuzinho de lona, abas moles, pequeno demais e equilibrado no alto da cabeça. Não olha para os lados, sempre para o chão a sua frente. Não cumprimenta ninguém. Deve caminhar porque o médico mandou. Ontem, numa ligeira mudança de itinerário, flagrei-o no retorno ao lar, abrindo a porta de uma casa decrépita. Paredes manchadas, janelas tristes, jardim abandonado. Velha, construída na década de 50, quando o bairro surgiu e extinguiu a pastagem que revestia as colinas suaves do atual Planalto Paulista. Casa e morador envelhecendo juntos, sentindo os efeitos da idade. Que ele ameniza caminhando. Mas a casa trai a decadência. De ambos.

Cenas das caminhadas. II
Se a gente se convence de que sempre há alguma surpresa no trajeto de todos os dias, elas inevitavelmente aparecem.
Por exemplo o ipê-amarelo prematuramente carregado de frutos que vi hoje. Não por acaso essa é a árvore nacional do Brasil: no mês de setembro, em que o ufanismo oficial comemora a independência que de fato nunca obtivemos, os ipês se despedem das folhas, vestem-se de flores e se transformam em grandes manchas amarelas na paisagem, vistosos, alegres, vigorosos. Pois esse ipê que encontrei ignorou o calendário, as flores já se foram e ele se transformou numa árvore triste, ainda desfolhada, com os longos frutos pendendo como grandes lágrimas de doentio tom ocre. Contra o fundo cinzento do céu nublado, me fez sentir, de repente, uma melancolia profunda, uma sensação de desespero. Fui salva pelo bom-dia de uma moça que passeava seu cão, olhos de um azul luminoso e sorriso radiante ao me ver tentando estabelecer amizade com o bichinho. Ufa. Quando olhei de novo o ipê, o que vi, pendendo dos galhos, foi a promessa de futuras árvores.

Tenham todos uma boa semana.

Martha Argel

PS. Trosco e Lúcia, obrigada pela visita! Saudades de BH!!

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