quarta-feira, 31 de dezembro de 2003

Último post do ano. Vi por aí, nos blogs, gente fazendo as habituais retrospectivas do que aconteceu ao longo do ano. Como é que elas conseguem? No meu ano acontecem tantas coisas que sou incapaz de fazer um resumo. Talvez elas passem o ano inteiro tomando notas, pensando já na elaboração de seu relatório anual. Affff, tô fora.

Mas vou tentar fazer uma retrospectiva dos últimos dias, incluindo eventos escolhidos de forma totalmente aleatória.

Coisas que rastejam de noite: noite dessas, enquanto estava no banheiro, luz apagada e sem óculos, como é meu hábito, senti algo fazendo cócegas no dorso do pé. Achei que era o cinto do roupão, pendurado na parede, mas pelas dúvidas corri pôr os óculos e acendi a luz. Argh. Era uma barata que tinha tentado subir no meu pé!

El perro volador: dia 25, Thor, meu pitpulga, no entusiasmo de latir pra um cachorro que passava, caiu da varanda. Três metros de altura. Meu coração ficou miudinho quando vi o bichinho lá embaixo na rua, encolhido, babando e cercado de sangue. Depois de muito examinar, o diagnóstico: duas unhas quebradas nas patas de trás. Já tá zero bala. Quem me deu a maior força foi a Wyrm, que é veterinária. Liguei pra ela e ela foi dando todas as instruções. VALEU, WYRM, AMIGA DO CORAÇÃO!

Transpiros ou vampestis?: ontem de madrugada, ação policial na frente de casa. Quatro viaturas pararam um táxi levando três travestis que tinham assaltado um rapaz. Os travestis mais medonhos que já vi na vida, diga-se de passagem. De repente, um policial de lanterna vai até a vítima, afasta o colarinho e examina seu pescoço, de um lado e de outro; o rapaz até inclinava a cabeça para colaborar. Fiquei pasma. Igualzinho filme de Drácula! Travestis... vampiros?! Depois, quando o policial examinou também as costas do cara, entendi: ele tinha sido agredido pelas moçoilas... a unhadas!!! Vixe, cada coisa que acontece...

Temível predador: numa de minhas caminhadas matutinas, uma cena insólita. No meio da rua três pombos comendo quaisquer que sejam as porcarias que pombos comem, e muito agachadinho, na tocaia, um gato amarelo, daqueles gatos adolescentes, magrelos, pernudos e tontos, crente de que suas presas não o viam. De repente ele dava uma corridinha, rastejante, rumo às aves, e elas, sem se abalar, simplesmente andavam um pouquinho mais pra frente, mantendo a distância. E o gatolo lá, lambendo os beiços e se achando uma temível fera das selvas.

Produtividade: acabei hoje de escrever um conto. 16 páginas, o mais longo que já escrevi. Há três anos e meio não escrevia uma ficção científica. Termino feliz o ano.

Moluscos de Natal: na noite de Natal, teve comilança, sim, senhor. Mas teve também um documentário sobre a vida sexual das lulas gigantes. Fascinante. Gosto de biólogo não se discute, ok?

Año Nuevo, libros y alfajores: depois de amanhã a estas horas, estarei batendo perna por Florida, a rua mais agitada de Buenos Aires, provavelmente fazendo compras ou tomando algo num café. A capital portenha é uma das poucas cidades do mundo onde você pode comprar livros à uma da manhã. Os habitantes locais vão dormir tão tarde que provavelmente o estilo de vida de um vampiro passaria totalmente despercebido!

É isso aí, amigos. Pra todos um FELIZ ANO NOVO. E acompanhem aqui, a partir de 2 de janeiro, a crônica on-line de minha viagem rumo à Patagônia!

Besos y quesos y hasta pronto!

Martha Argel

sábado, 20 de dezembro de 2003

Bons dias. O Natal se aproxima, tenebroso: fim de ano, fim de fôlego, balanço do que deu errado, perspectivas inquietantes. No fundo, no fundo, não dá pra sentir nenhum clima de festa. As pessoas estão exaustas e sabem que o descanso (pouco) será insuficiente pra agüentar o país de 2004.

O fim da infância
Nesta nossa era de adultescência hiperprolongada, a maturidade vem aos poucos, principalmente pra quem é como eu, profissional liberal do gênero feminino, descasada, sem filhos e aspirante a uma vida econômica próspera o suficiente para garantir ao menos a grana pro asilo na velhice. Eventos únicos marcam esse processo: a morte do pai, o casamento, a separação, o primeiro compromisso profissional no exterior, o livro nas livrarias, a abertura da empresa. Engraçado, também me senti mais adulta o dia em que descobri quais os dias do lixeiro e assumi a responsabilidade de pôr o lixo pra fora no momento certo.
Outro dia encontrei um bilhetinho em minha geladeira: "Gosto muito de você e queria saber se você quer ser minha madrinha, vou continuar gostando mesmo se você não quiser, beijos". Obra da Letícia, 12 anos, moradora de uma periferia miserável.
Difícil conter as lágrimas. Difícil não lembrar da merda social que é esse país, da passividade de uma classe média egocêntrica, egoísta e insensível. Dos seres humanos desperdiçados em meio à indignidade de favelas e invasões.
Bateu um medo de ser igual à maioria inerte. O medo de não estar à altura de minha responsabilidade, da responsabilidade que deveria ser de todos. A certeza de que a Letícia merece muito, muito, muito. Muito mais do que poderei dar.
De qualquer maneira, paúra à parte, vamos lá. Pelo menos minha parte vou tentar cumprir. Já é bem mais do que a maioria faz.


O rapto do Menino Jesus
Hoje de manhã aproveitei a caminhada e entrei na igreja para pensar um pouco na vida. Tinha um presépio armado e parei pra olhar. Figuras bonitas, muitas flores, provavelmente colocadas por fiéis, dois embrulhos de papel que talvez fossem oferendas e... Jesus! Quer dizer: cadê Jesus?! A manjedoura estava vazia. Maria, José e um pastorzinho tocador de flauta olhavam fixamente o lugar onde deveria estar deitadinho o salvador recém-nascido e onde não havia nada. Era como se estivessem pasmos, não acreditando no que viam. Ou no que não viam. Eu também não acreditei. Desviei os olhos, olhei de novo, vai que deu um curto no meu nervo óptico, mas não, nada de errado com minhas sinapses, o Filho de Deus NÃO ESTAVA LÁ! Raios. Saí em busca de algum funcionário da igreja. Lá fora achei um: “Desculpe, senhor, por que é que o Menino Jesus não está no lugar?" "Ele tá lá" "Não tá. A manjedoura está vazia" "Ah, fala com o guarda" "Mas o senhor não é guarda?" "Tem um guarda dentro na igreja" "Não tem, eu não vi" "Tem sim, procura lá" Ele deve ter pensado que eu era meio idiota: não via Jesus, não via guarda... Voltei lá e por fim achei o guarda num canto. E ele resolveu o mistério: ninguém tinha levado embora o Redentor, não. Já tinha acontecido antes, sim, mas dessa vez era só o costume da igreja: o Menino Jesus é colocado no presépio quando montam, mas depois eles tiram. Só voltam a colocar à meia-noite do Natal. Faz sentido, não faz? Simbologia do nascimento, e enquanto isso Maria, José, o pastor, você e eu ficamos olhando e venerando um leito vazio. Bonito. Uma prova de fé por parte dos paroquianos.

Peixe podre
Li no jornal agora há pouco: 99,9998% do iG pertencem à iG Cayman, com base nas ilhas Cayman, que são muito mais do que um idílico arquipélago tropical. Algo fede muito nessa história. Gente honesta não costuma ter empresas em paraísos fiscais.

Noite de autógrafos
Giulia Moon e eu estaremos autografando nossos livros Luar de vampiros e O vampiro de cada um neste domingo, dia 21, no Absolute Beginners, que vai rolar no DJ Club, na al. Franca, 241 Jardins (perto do metrô Trianon-Masp), a partir das 18:30 - até 19:15 a entrada é livre!). O som é anos 80, com destaque para o gótico. O lugar é muito bacana. Apareçam por lá. Não vão se arrepender!

Beijos e queijos, e desde já cuidado pra não se descontrolarem na comilança de fim de ano!

Martha Argel

segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

Bom dia ensolarado de verão. A manhã luminosa sinaliza que o dia vai ser fogo. Ontem, voltando pra casa depois de um delicioso buffet no Viena, a Giu e eu não acreditamos nos termômetros que marcavam 34 graus. Todos errados, reclamamos. Mas chegando em casa chequei meu próprio termômetro, mais confiável que as geringonças eletrônicas da prefeitura, e era isso mesmo! Affff!

Faz tempo que não posto. No que tenho ocupado meus dias? Muito trabalho, viagens a campo, reuniões, eventos de todos os tipos, contatos literários a rodo, minhas listas de discussão, a burocracia que vem associada à atividade profissional intensa, preparativos para a ida ao Sul Distante, compromissos com amigos.

No meio de tudo isso, tento escrever um pouco. Só de pensar que não vou poder escrever durante todo o mês de janeiro, já me arrependo um pouco de ter inventado a ida à Patagônia. Mas é sempre assim, já acostumei. Vou ficar cada vez mais irritada e mal-humorada com "essa viagem idiota" até o momento de botar a mochila nas costas e trancar a casa. A partir daí, acabam-se os problemas, os filhos-da-puta sacanas e traiçoeiros desaparecem da minha vida, os contos inacabados tornam-se irrelevantes e o aluvião de preocupações que encontrarei ao voltar deixa de merecer qualquer impulso elétrico do mais desprezível neurônio de meu cérebro.

E antes que eu esqueça, novidade:

Já está disponível o FicZine, uma publicação criada em parceria da escritora Giulia Moon e que traz, nesta edição n. 1, três contos de Natal.
Pra quem não conhece a Giulia, é autora de Luar de vampiros (Scortecci, 2003) e tem uma escrita elegante e grande versatilidade. Seu conto Pé de moleque em dezembro traz uma versão bem brasileira do Natal, misturando com muita sensibilidade Fantasia e Humor.
Nosso convidado deste número é Rogério Amaral de Vasconcellos. Natal no Olimpo é um conto de Ficção Científica -- como é o Natal num planeta onde não existem calendários?
E, completando esta edição, meu conto O Natal de Igor, uma fantasia em que até o humilde serviçal de um estranho nobre sonha com sua noite feliz...
Vocês podem baixar o arquivo em pdf do FicZine a partir do site da Giulia, http://www.giuliamoon.com.br, no link de Downloads.

E logo, logo, meu novo site, agora em domínio próprio, vai estar no ar. Aguardem!!!

É isso aí. Aproveitem bem seu tempo. Façam coisas boas pra vocês e pros outros.

Martha Argel

segunda-feira, 8 de dezembro de 2003

Maluquice.

Parece que todos meus clientes resolveram acordar de uma hora pra outra. O que está aparecendo de trabalho é brincadeira. Se neste país trabalhar deixasse a gente rica, eu já tava milionária.

Infelizmente, o meio mais fácil não só de ganhar dinheiro, mas também de fazer fama, é sendo filho da puta. Hoje me liga uma amiga pra me contar algo que eu não sabia e que me deixou furiosa e indignada. Palavras dela: "esse seu amigo é um filho da puta, o que ele fez com você é antiético, mas pode deixar que nunca mais chamo ele pra trabalho nenhum, porque com esse sujeito eu não quero mais contato". Ok. Beleza. Já começa a pagar por ser mau-caráter.

E as coisas que acontecem comigo! Acabo de receber um e-mail desesperado, perguntando se eu teria possibilidade de ir como ornitoguia para a Antártida de 10 a 20... de dezembro!!! Hahaha, depois de amanhã, acha??? Porra, porque não me chamam pra ir em janeiro? Afinal, vou estar lá pertinho, em plena Patagônia argentina, durante todo o mês.

É isso aí. Em breve vou estar de página nova na rede, com meu próprio domínio. Depois eu posto a URL aqui.
Ah, sim, estou reativando minha lista de notícias, onde mando textos meus e novidades sobre lançamentos e noites de autógrafos:

http://br.groups.yahoo.com/group/marthaargel/

Se alguém aí quiser se inscrever, a honra será toda minha!

abraços e até não sei quando!

Martha Argel