Boa noite!!!
Ultimo dia. Choveu, ventou e refrescou. Ufa.
Ontem: fiz a visita guiada ao Teatro Colon. E maravilhoso, foi construido no comeco do seculo XX, e demorou um tempao pra ficar pronto porque os dois primeiros arquitetos responsaveis fizeram o favor de bater as botas – o primeiro ficou doente e morreu, o segundo foi assassinado.
Depois da visita ao museu, uma overdose de cafes antigos, com o intuito primeiro de fugir ao calor horrendo, mas tambem para curtir o clima sofisticado e elegante. Primeiro, com Chendo e Ana, fomos ao Petit Colon, onde ficamos horas batendo papo e delineando um projeto maluco, a redescoberta de uma gramatica de um idioma indigena escrita por um padre espanhol no seculo XVII. A seguir, conheci Laura, amiga do Juan, e fomos ao Gato Negro, outro cafe do comeco do seculo, que tem a peculiaridade de tambem vender especiarias. O perfume, quando a gente entra, e maravilhoso. Dica: se voce vier ao Gato Negro, suba ao primeiro andar com o pretexto de ir ao banheiro e aproveite para olhar o salao do cafe a partir da escada. É lindo!
Hoje: o ultimo dia. Chendo e Cristina me levaram para visitar o Tigre, uma regiao ao norte da cidade de BsAs onde existe o que chamam de Delta, um imenso emaranhado de ilhas e canais recobertos por uma vegetacao densa de matas. Resolvemos fazer um tour fluvial e embarcamos no Azalea. Que maravilha!!! Eu nao fazia a minima ideia de que existisse algo semelhante por aqui! O Delta e a versao portenha dos Everglades: ao longo dos incontaveis canais que dividem as ilhas, centenas de casas as quais so se chega por barco, cada uma com seu atracadouro, a maioria sobre palafitas para evitar problemas com as enchentes. Todas construidas em meio a uma vegetacao luxuriante, quase tropical. Inacreditavel!!! E pelo caminho fomos vendo toda a atividade normal de uma cidade onde as ruas nao sao de asfalto mas de agua: os postos de abastecimento de barcos, o barco-supermercado, o barco-sorveteiro, o barco-patrulha, os barcos-coletivos que servem de onibus para os moradores das ilhas. Muitas casa eram espetaculares. Outras estavam caindo aos pedacos, e mereceriam figuram em algum texto de Hemingway. Gente pescando, familias nadando, cachorros em piers nos observando enquanto passavamos. A maioria das pessoas que viamos sao veranistas vindos de Buenos Aires, mas tem gente que mora aqui. Segundo nossa guia nao-muito-confiavel, que nao sabia os numeros em ingles (ela nao lembrava nunca da palavra thousand, e sempre dizia hundred... ou million, o que devia dar um verdadeiro nó na cabeca dos gringos que faziam o passeio), a populacao das ilhas e de tres mil pessoas, existem tres igrejas e 26 escolas. Fiquei maravilhada com o lugar. Que tal: botar o laptop debaixo do braco, alugar uma casa num canal bem isolado, cercada de arvores e sem vizinhos, e passar um mes so escrevendo! Um sonho!!!
Terminado o passeio, voltamos ao calor sufocante; por uns vinte minutos batemos perna a procura de um buteco que tivesse sanduices e ar condicionado e que fosse barato. Nao e que achamos?! Ficamos horas ai, mesmo depois de termos terminado de almocar. Nenhum de nos tinha coragem de voltar a encarar o calor. Mas nao tinha outro jeito. Calculamos a rota mais curta e sombreada ate onde o carro estava estacionado e partimos decididos. No meio do caminho, passamos por um casal de turistas, gente muito simples de quem eu tinha tirado uma foto horas antes. Com grandes sorrisos desdentados, eles me chamaram e pediram por favor para tirar uma foto comigo, para ter uma lembranca da brasilera. Fiquei pensando como seria rotineira e insossa a vida dessas pessoas, para quem o encontro casual com alguem do pais vizinho constituiu um momento memoravel das ferias de verao.
A viagem se completou com uma volta por San Isidro, cidade historica repleta de antigas mansoes e com uma arborizacao belissima.
Seriam umas cinco da tarde quando voltamos a casa, e nossa chegada se deu sob um ceu carregado e ameacador, que logo nos presenteou com um aguaceiro muito bem vindo. Nao assisti, porem, ao espetaculo da tempestade caindo. Estava muito ocupada em um delicioso banho de imersao, em agua morna e perfumada, minhas musicas favoritas nos fones de ouvido, e absolutamente nenhuma preocupacao.
Agora sao dez da noite de meu ultimo dia completo fora do Brasil. Amanha embarco ao meio dia, e antes da noite chegar estarei em casa.
Nao vai ser o fim da viagem. Viagens como essa nunca terminam. Elas seguem e seguem em nossa memoria, e a elas voltamos cada vez que relembramos os lugares, momentos e detalhes. As vezes tenha a impressao de que a verdadeira viagem so comeca quando retornamos, que tudo o que vivemos so faz sentido realmente quando, sentados no sofa da sala, nos perdemos nas lembrancas que ficaram.
Mas no momento essas reflexoes nao interessa pois, seja como for...
Estou voltando pra casa!
Beijos felizes a todos!!!
Martha Argel
sexta-feira, 30 de janeiro de 2004
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