De volta a Bariloche.
Ainda tao longe de casa,e a sensacao e de volta ao lar.
Engracado como e certo o que dizem, ha coisas que a gente so encontra quando nao esta procurando. Quando sai do Brasil, ha tantos dias, me ocorreu que talvez esta fosse a primeira viagem em que tudo o que importava era a viagem em si, nao o que deixava para tras, nao a BUSCA em si. Apenas uma perambulacao, uma jornada de observacao, de descoberta do mundo.
E tantas coisas aconteceram, tanta gente cruzou meu caminho, tantas portas parecem ter-se aberto, coisas que poderiam mudar a vida de uma pessoa. Ou que nao significariam mais do que um detalhe como qualquer outro. Tudo depende do que ainda acontecera.
Voltei do Chile ontem, um sentimento misto dominando acima de qualquer outro. O agridoce sabor de ter encontrado algo, um afeto, do qual tao rapidamente me separei, e pela cabeca passam as ideias mais desencontradas. A decisao de nao pensar num futuro, ou em qualquer futuro, e a irresistivel tentacao de planificar o destino.
Nao sei. Melhor pensar apenas no agora, no sol lindo que faz la fora, no lago azul e gelado em cujas margens dentro em pouco estarei com amigos compartilhando o onipresente ritual do mate. Na atracao inescapavel das compras, dos "recuerdos". Nos chocolates que comi ha pouco, espetaculares, mas que trazem um peso terrivel a consciencia.
Ontem: uma despedida e o comeco de uma saudade doce. E entao a viagem, mais uma vez atraves dos Andes. A visao magnifica do vulcao Osorno e de seu irmao mais modesto cujo nome nao sei. As paisagens quase europeias de pastagens e campos de cultivo salpicados de casinhas bonitas. Ja chegando ao sope da cordilheira, o insolito bosque valdiviano, a densa floresta temperada que reveste a escarpa voltada para o Pacifico, fruto das abundantes chuvas orograficas. Num dado momento, a nossa frente, um caminhao com placas de Sao Paulo, SP (tao longe!!!), e a saudade de minha cidade, de meu pa?s, bate no peito.
Os companheiros de viagem: Andrea, boliviana de La Paz, com um piercing de prata no nariz. Simone, a suica que perdeu o papel de entrada no Chile, e que se tornou alvo das brincadeiras do chofer durante os tramites aduaneiros (alias, foi a primeira vez que vi agentes da policia federal rindo, em qualquer lugar do mundo!). Mauricio, o mochileiro chileno que da aula para jovens com problemas mentais ou sociais. Um grupo de turistas israelenses que me fez babar durante toda a viagem; um deles em particular era um monumento de olhos claros, e a forma como passava os dedos entre os cabelos loiros e longos nao faria feio em nenhum comercial de moda. No meio de tanta gente interessante, o unico outro brasileiro do onibus, um babaquinha movido a manivela, lerdo e sem qualquer capacidade de comunicacao com o proximo. No final da viagem nos juntamos, o chileno, outras duas chilenas, a suica, a boliviana e eu, naquele espirito instintivo de partilha e ajuda mutua que une viajantes solitarios por todo o mundo, e que e uma das melhores experiencias de uma viagem. O brasileiro? Nem nos olhou. Que fosse a merda. Esse tolinho era um turista. Nos somos viajantes.
Tanta gente que fui deixando ao longo do caminho: Francisca, do Acre. Chendo, de Buenos Aires. Anita, Chichina, Guille, Damian, Tino, Ercilia, Mirta, Susana, de Rauch. Daniela, de La Plata. Silvia, Marina, Pato, Carlos, Alicia, de Bariloche. David, Carmen, Ismael, Marcelo,Yasmin, Rocio, Cecilia, Olivia, de Puerto Montt. Viviana, de Valdivia. Carmen e Marcelo, de Santiago. Anne, de Versalhes.
E os reencontros: Alicia com sua gatinha P?ru,que ontem quase me brindou um ataque de bronquite. Dario, que ainda nao vi apesar de ter me recebido em sua casa. Ana e Jorge, que em breve verei.
Parece que faz um ano. Foram ate agora 17 dias. Mais 12 pela frente, e parece tao, mas tao pouco.
Beijos a todos.
Martha Argel
segunda-feira, 19 de janeiro de 2004
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