quinta-feira, 8 de janeiro de 2004

Affff, e eu que pensei que ia ter de enrolar neste diário enquanto estivesse aqui en Rauch que, afinal, é uma cidadezinha pacata onde nada acontece. Nada o quê!
Ontem de noite, uma galera me convidou para ir ao Castillo, o castelo, que é como conhecem aqui uma mansao imensa, com tres andares e 77 aposentos, no meio da pampa, abandonada há anos. Fpi construída em 1918, e dizem que a primeira família que morou aí abandonou o lugar de repente, deixando tudo para trás, depois que um dos membros morreu. Dècadas depois, a mansao foi transformada em reformatório, mas a instituicao foi fechada depois que um dos internos assassinou um dos professores.
Meus amigos ficaram de me pegar às oito da noite, apareceram às nove e meia e estivemos perdidos pelas estradas da regiao até quase as onze. Finalmente encontramos o caminho no meio do bosque que levava al castelo, que iluminado pela imensa lua cheia que brilhava num céu limpo e estrelado. Incrível.
Entramos com velas, lanternas e um lampiao que, frente ao protesto de algumas meninas, foi apagado pra dar mais clima. Corujas (suindaras, também conhecidas como rasga-mortalha) voavam por cima do castelo enchendo a noite de griots arrepiantes. Em muitas salas, a luz da lanterna perturbava colonias inteiras de morcegos que revovavam assustados. A casa está aos pedacos, já náo tem vidros, em alguns pontos o teto está caindo e o assoalho idem. Paredes pichadas por levas e levas de babacas, em alguns lugares parecendo uma versáo tosca do Kama Sutra. Nao me animei a subir as escadas, embora as janelas dos andares superiores prometessem uma paisagem maravilhosa. Tirei algumas fotos, mas nao sei se alguma vai sair, pois nao conheco bem a camera recám-comprada. Depois de explorar a mansao e uma parte do bosque que a circunda (e que aqui se chama monte), nos sentamos e ficamos um bom tempo mateando (tomando chimarrao) e falando bobagens. Contei a todos o que significava "abobrinha" em paulistanês, e entao batizamos aquela hora, meia-noite passada, de La hora del zapallo (a hora da abóbora). Era mais de duas da manha quando finalmente voltei pra casa. Estávamos todos maravilhados com a aventura.

Alguns detalhes pitorescos desta cidadezinha perdida no meio da pampa: a quantidade de sapos atropelados pelas ruas. Como a cidade é muito plana, todos usam bicicletas, amigas pedalam lado a lado, de maos dadas, e namorados conseguem pedalar abracados, cada um na sua! Você tem de cumprimentar TODO MUNDO quando anda na rua; as formulas mais aceitas sao adiós, chau, hola que tal, buen dia, benas tardes, como le va. A siesta dura do meio dia às quatro da tarde, mas em compensacao as lojas ficam abertas até as dez da noite. Todos que me conhecem dizem, invariavelmente "Brasil, ¡ ay, que lindo! Me encanta."

É isso aí. Espero que por aì esteja fazendo o mesmo calor que aqui (para eu nao estar sofrendo sozinha!)

Beijos e queijos
Martha Argel

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