Boa noite!!!
Ultimo dia. Choveu, ventou e refrescou. Ufa.
Ontem: fiz a visita guiada ao Teatro Colon. E maravilhoso, foi construido no comeco do seculo XX, e demorou um tempao pra ficar pronto porque os dois primeiros arquitetos responsaveis fizeram o favor de bater as botas – o primeiro ficou doente e morreu, o segundo foi assassinado.
Depois da visita ao museu, uma overdose de cafes antigos, com o intuito primeiro de fugir ao calor horrendo, mas tambem para curtir o clima sofisticado e elegante. Primeiro, com Chendo e Ana, fomos ao Petit Colon, onde ficamos horas batendo papo e delineando um projeto maluco, a redescoberta de uma gramatica de um idioma indigena escrita por um padre espanhol no seculo XVII. A seguir, conheci Laura, amiga do Juan, e fomos ao Gato Negro, outro cafe do comeco do seculo, que tem a peculiaridade de tambem vender especiarias. O perfume, quando a gente entra, e maravilhoso. Dica: se voce vier ao Gato Negro, suba ao primeiro andar com o pretexto de ir ao banheiro e aproveite para olhar o salao do cafe a partir da escada. É lindo!
Hoje: o ultimo dia. Chendo e Cristina me levaram para visitar o Tigre, uma regiao ao norte da cidade de BsAs onde existe o que chamam de Delta, um imenso emaranhado de ilhas e canais recobertos por uma vegetacao densa de matas. Resolvemos fazer um tour fluvial e embarcamos no Azalea. Que maravilha!!! Eu nao fazia a minima ideia de que existisse algo semelhante por aqui! O Delta e a versao portenha dos Everglades: ao longo dos incontaveis canais que dividem as ilhas, centenas de casas as quais so se chega por barco, cada uma com seu atracadouro, a maioria sobre palafitas para evitar problemas com as enchentes. Todas construidas em meio a uma vegetacao luxuriante, quase tropical. Inacreditavel!!! E pelo caminho fomos vendo toda a atividade normal de uma cidade onde as ruas nao sao de asfalto mas de agua: os postos de abastecimento de barcos, o barco-supermercado, o barco-sorveteiro, o barco-patrulha, os barcos-coletivos que servem de onibus para os moradores das ilhas. Muitas casa eram espetaculares. Outras estavam caindo aos pedacos, e mereceriam figuram em algum texto de Hemingway. Gente pescando, familias nadando, cachorros em piers nos observando enquanto passavamos. A maioria das pessoas que viamos sao veranistas vindos de Buenos Aires, mas tem gente que mora aqui. Segundo nossa guia nao-muito-confiavel, que nao sabia os numeros em ingles (ela nao lembrava nunca da palavra thousand, e sempre dizia hundred... ou million, o que devia dar um verdadeiro nó na cabeca dos gringos que faziam o passeio), a populacao das ilhas e de tres mil pessoas, existem tres igrejas e 26 escolas. Fiquei maravilhada com o lugar. Que tal: botar o laptop debaixo do braco, alugar uma casa num canal bem isolado, cercada de arvores e sem vizinhos, e passar um mes so escrevendo! Um sonho!!!
Terminado o passeio, voltamos ao calor sufocante; por uns vinte minutos batemos perna a procura de um buteco que tivesse sanduices e ar condicionado e que fosse barato. Nao e que achamos?! Ficamos horas ai, mesmo depois de termos terminado de almocar. Nenhum de nos tinha coragem de voltar a encarar o calor. Mas nao tinha outro jeito. Calculamos a rota mais curta e sombreada ate onde o carro estava estacionado e partimos decididos. No meio do caminho, passamos por um casal de turistas, gente muito simples de quem eu tinha tirado uma foto horas antes. Com grandes sorrisos desdentados, eles me chamaram e pediram por favor para tirar uma foto comigo, para ter uma lembranca da brasilera. Fiquei pensando como seria rotineira e insossa a vida dessas pessoas, para quem o encontro casual com alguem do pais vizinho constituiu um momento memoravel das ferias de verao.
A viagem se completou com uma volta por San Isidro, cidade historica repleta de antigas mansoes e com uma arborizacao belissima.
Seriam umas cinco da tarde quando voltamos a casa, e nossa chegada se deu sob um ceu carregado e ameacador, que logo nos presenteou com um aguaceiro muito bem vindo. Nao assisti, porem, ao espetaculo da tempestade caindo. Estava muito ocupada em um delicioso banho de imersao, em agua morna e perfumada, minhas musicas favoritas nos fones de ouvido, e absolutamente nenhuma preocupacao.
Agora sao dez da noite de meu ultimo dia completo fora do Brasil. Amanha embarco ao meio dia, e antes da noite chegar estarei em casa.
Nao vai ser o fim da viagem. Viagens como essa nunca terminam. Elas seguem e seguem em nossa memoria, e a elas voltamos cada vez que relembramos os lugares, momentos e detalhes. As vezes tenha a impressao de que a verdadeira viagem so comeca quando retornamos, que tudo o que vivemos so faz sentido realmente quando, sentados no sofa da sala, nos perdemos nas lembrancas que ficaram.
Mas no momento essas reflexoes nao interessa pois, seja como for...
Estou voltando pra casa!
Beijos felizes a todos!!!
Martha Argel
sexta-feira, 30 de janeiro de 2004
quinta-feira, 29 de janeiro de 2004
Correndo o risco de me repetir... este calor me mata. Ah, nao: segundo Crift, e a sabedoria popular, "lo que mata es la humedad". Efeito panela de pressao, entendem?
Ontem almocei com Ana e conheci seus pais. Turismo interativo. Nao ha forma melhor de entender um país. O restaurante onde almocamos e de bairro. Pelo bom gosto da decoracao e pela carne saborosa que serviram, se fosse no Brasil custaria os olhos da cara. E qual o publico que frequenta o lugar? Moradores dos arredores, grupos de aposentados, gente comum do dia a dia. A elegancia e o esmero estao entranhados no povo argentino.
A tarde visitamos o Museu de Historia Natural Bernardino Rivadavia, e ai vi alguns dos dinossauros que estavam me faltando: o Carnotaurus sastrei, o carnivoro de aparencia temivel que Diseny usou como vilao, e o Amargasaurus, bizarro com seus longos espinhos dorsais. Completando meu tour paleontologico por terras austrais, estavam la representantes de toda a megafauna quaternaria: o gliptodonte, o megaterio, um mamute sul-americano e... um urso gigante encontrado no subsolo da propria cidade de Buenos Aires!!! Ah, Giulia, o tigre de dentes de sabre TAMBEM ESTA LA!!!! O acervo do museu e excelente. Ja o mesmo nao pode ser dito sobre os cartazes informativos, as etiquetas e todo o aspecto museologico. Ao assinar o livro de visitas, caprichei no comentario a respeito, com o apoio entusiastico de Ana, que estava indignada com a pobreza das informacoes e com o obvio "portenhocentrismo" do museu. Pra completar, tasquei um Ph.D. bem pomposo apos meu nome. Ah, e na lojinha nao deixei passar batido o fato de haver camisetas com tiranosauros, estegosauros e outros bichos gringos, mas nao das especies argentinas, muito mais interessantes, etc. etc. (poupo-lhes do discurso que voces mais do que conhecem).
No fim da tarde e comeco de noite bati perna por San Telmo, bairro antigo, e percorri ruas onde os ingleses que invadiram a cidade seculos atras foram recebidos com banhos de oleo fervente, que as familias atiravam pelas janelas do piso superior das casas.
Chegando a casa, exausta, quase 11 da noite, por fim conheci Cristina, minha anfitria e mae do Juan, e ficamos conversando ate quase a uma.
Apesar do calor sufocante, dormi muito melhor do que na noite passada. O segredo? Ahá, um tubo de repelente de mosquitos que comprei enquanto voltava pra casa. Os malditos bichos nao tiveram a menor chance!
Beijos a todos
Martha Argel
Ontem almocei com Ana e conheci seus pais. Turismo interativo. Nao ha forma melhor de entender um país. O restaurante onde almocamos e de bairro. Pelo bom gosto da decoracao e pela carne saborosa que serviram, se fosse no Brasil custaria os olhos da cara. E qual o publico que frequenta o lugar? Moradores dos arredores, grupos de aposentados, gente comum do dia a dia. A elegancia e o esmero estao entranhados no povo argentino.
A tarde visitamos o Museu de Historia Natural Bernardino Rivadavia, e ai vi alguns dos dinossauros que estavam me faltando: o Carnotaurus sastrei, o carnivoro de aparencia temivel que Diseny usou como vilao, e o Amargasaurus, bizarro com seus longos espinhos dorsais. Completando meu tour paleontologico por terras austrais, estavam la representantes de toda a megafauna quaternaria: o gliptodonte, o megaterio, um mamute sul-americano e... um urso gigante encontrado no subsolo da propria cidade de Buenos Aires!!! Ah, Giulia, o tigre de dentes de sabre TAMBEM ESTA LA!!!! O acervo do museu e excelente. Ja o mesmo nao pode ser dito sobre os cartazes informativos, as etiquetas e todo o aspecto museologico. Ao assinar o livro de visitas, caprichei no comentario a respeito, com o apoio entusiastico de Ana, que estava indignada com a pobreza das informacoes e com o obvio "portenhocentrismo" do museu. Pra completar, tasquei um Ph.D. bem pomposo apos meu nome. Ah, e na lojinha nao deixei passar batido o fato de haver camisetas com tiranosauros, estegosauros e outros bichos gringos, mas nao das especies argentinas, muito mais interessantes, etc. etc. (poupo-lhes do discurso que voces mais do que conhecem).
No fim da tarde e comeco de noite bati perna por San Telmo, bairro antigo, e percorri ruas onde os ingleses que invadiram a cidade seculos atras foram recebidos com banhos de oleo fervente, que as familias atiravam pelas janelas do piso superior das casas.
Chegando a casa, exausta, quase 11 da noite, por fim conheci Cristina, minha anfitria e mae do Juan, e ficamos conversando ate quase a uma.
Apesar do calor sufocante, dormi muito melhor do que na noite passada. O segredo? Ahá, um tubo de repelente de mosquitos que comprei enquanto voltava pra casa. Os malditos bichos nao tiveram a menor chance!
Beijos a todos
Martha Argel
quarta-feira, 28 de janeiro de 2004
E o calor continua. Noite infernal, deixei a janela meio aberta pra refrescar e em vez de ventinho o que e que entra? Mosquitos!!! Lamentavel.
E o dia de ontem foi uma longa e lenta caminhada pela cidade, quase a esmo. Almocei com o Chendo, que fez uma exigencia peremptoria: tinha de ser um lugar com ar condicionado. Ok. Depois de comer, visitamos algumas livrarias e acabamos nos refugiando do calor num bar tradicionalissimo da cidade, o Richmond. Como o nome sugere, parecia um club ingles, um enorme salao com paredes revestidas de madeira, poltronas confortaveis e cavalheiros de terno e gravata mergulhados em profundas conversacoes. Nao era barato, mas num lugar desse voce paga pelo clima.
O Chendo tinha mais o que fazer (afinal, quem esta de ferias sou eu, nao o mundo) e foi cuidar da vida. Eu, mais do que depressa fui para a Calle Corrientes, a maior densidade de livrarias por metro quadrado na America do Sul. Se pudesse, teria comprado um caminhao de livros. De vez em quando, o foco da atencao se voltava para cds, roupas, lingeries e para as infindaveis lojas de acessorios & quinquilharias.
Aproveitei para observar a gente comum que caminha pelas ruas, o dia a dia da cidade nos bairros cada vez mais distantes do centro turistico.
Ja escurecia quando escolhi um restaurante simpatico. Em Buenos Aires, como os bonaerenses: quando voce entra a um restaurante ou bar e se senta a uma mesa, a passagem do tempo muda de ritmo. Nao existe pressa. Voce le o jornal, um livro ou simplesmente pensa na vida enquanto o garçom, que tampouco tem pressa, nao volta com seu pedido. Fiquei quase uma hora ali, primeiro lendo, depois comendo com vagar a salada que tinha pedido. Nenhum garçom veio me apressar. Nas outras mesas, gente fazendo exatamente o mesmo que eu: deixando o tempo passar, sem stress.
Pra voltar pra casa, foi so tomar o metro na estacao que estava bem na frente do restaurante. Uma coisa e esquisita: o metro corre no sentido oposto do metro de Sampa, ou seja, na mao inglesa. Voce espera que ele venha de um lado e ele aparece, de repente do outro. Existe uma porta de comunicacao entre os vagoes, e quando o trem faz a curva a gente se arrepia todo, achando que ele vai sair dos trilhos. Os bancos, paralelos as laterais do vagao, um de cada lado, sao longos e revestidos de veludo, e as pessoas quando se acomodam parecem estar no sofa de suas proprias salas. E a quantidade de gente lendo livros e impressionante. Bem que no Brasil podia ser assim...
Maximas previstas para hoje: Puerto Montt 24, Bariloche 25, Neuquen 35, Buenos Aires 36. Afff!!!! Em Sao Paulo, maxima prevista de 28. Em minha cabeca, ja estou voltando. Saudades de casa, de minha cama, dos amigos, da rotina.
As ferias servem para isso: para nos dar forca e vontade de encarar o dia a dia.
Ate amanha, todos, e nao se esquecam de aproveitar todos as pequenas alegrias de todos os dias.
Martha Argel,
uma vampira assando no calor portenho
E o dia de ontem foi uma longa e lenta caminhada pela cidade, quase a esmo. Almocei com o Chendo, que fez uma exigencia peremptoria: tinha de ser um lugar com ar condicionado. Ok. Depois de comer, visitamos algumas livrarias e acabamos nos refugiando do calor num bar tradicionalissimo da cidade, o Richmond. Como o nome sugere, parecia um club ingles, um enorme salao com paredes revestidas de madeira, poltronas confortaveis e cavalheiros de terno e gravata mergulhados em profundas conversacoes. Nao era barato, mas num lugar desse voce paga pelo clima.
O Chendo tinha mais o que fazer (afinal, quem esta de ferias sou eu, nao o mundo) e foi cuidar da vida. Eu, mais do que depressa fui para a Calle Corrientes, a maior densidade de livrarias por metro quadrado na America do Sul. Se pudesse, teria comprado um caminhao de livros. De vez em quando, o foco da atencao se voltava para cds, roupas, lingeries e para as infindaveis lojas de acessorios & quinquilharias.
Aproveitei para observar a gente comum que caminha pelas ruas, o dia a dia da cidade nos bairros cada vez mais distantes do centro turistico.
Ja escurecia quando escolhi um restaurante simpatico. Em Buenos Aires, como os bonaerenses: quando voce entra a um restaurante ou bar e se senta a uma mesa, a passagem do tempo muda de ritmo. Nao existe pressa. Voce le o jornal, um livro ou simplesmente pensa na vida enquanto o garçom, que tampouco tem pressa, nao volta com seu pedido. Fiquei quase uma hora ali, primeiro lendo, depois comendo com vagar a salada que tinha pedido. Nenhum garçom veio me apressar. Nas outras mesas, gente fazendo exatamente o mesmo que eu: deixando o tempo passar, sem stress.
Pra voltar pra casa, foi so tomar o metro na estacao que estava bem na frente do restaurante. Uma coisa e esquisita: o metro corre no sentido oposto do metro de Sampa, ou seja, na mao inglesa. Voce espera que ele venha de um lado e ele aparece, de repente do outro. Existe uma porta de comunicacao entre os vagoes, e quando o trem faz a curva a gente se arrepia todo, achando que ele vai sair dos trilhos. Os bancos, paralelos as laterais do vagao, um de cada lado, sao longos e revestidos de veludo, e as pessoas quando se acomodam parecem estar no sofa de suas proprias salas. E a quantidade de gente lendo livros e impressionante. Bem que no Brasil podia ser assim...
Maximas previstas para hoje: Puerto Montt 24, Bariloche 25, Neuquen 35, Buenos Aires 36. Afff!!!! Em Sao Paulo, maxima prevista de 28. Em minha cabeca, ja estou voltando. Saudades de casa, de minha cama, dos amigos, da rotina.
As ferias servem para isso: para nos dar forca e vontade de encarar o dia a dia.
Ate amanha, todos, e nao se esquecam de aproveitar todos as pequenas alegrias de todos os dias.
Martha Argel,
uma vampira assando no calor portenho
terça-feira, 27 de janeiro de 2004
Buenos dias, Buenos Aires!
Vixe, que calor faz nesta terra!!!
Anteontem, quando me aprontava para tomar o onibus em Neuquen, achei que ia derreter de tanto calor. Mas ja imaginava o que estava me esperando na outra ponta da looonga estrada que percorreria. O onibus era o maximo, um conforto so, leito, com cobertorzinho de fleece, rodomoço de gravata, refeicoes melhores que as de um aviao, e ate champanhe! Que tal, tomar champanhe cruzando o deserto patagonico? Mas eu nao tomei. Dormi ate babar. Um dos filmes que passaram foi Dinossauro, dos estudios Disney. Estranho ver os bichos na telinha e do lado de fora, como se fosse uma imensa televisao, a paisagem arida e interminavel.
E um contraste maluco: ja de noite, no meio do nada surge uma cidadezinha com nome de filme de aventura, Puelches (devem ter sido alguma tribo), e o onibus chiquitissimo e modernesimo, para na frente de uma vendinha pauperrima. Em frente a venda, uma mesa com dois homens jantando ao fresco, tranquilos, descansados. Um cachorro esticado ao lado, morto de calor. O rodomoço sai do onibus, entra na venda e dai a pouco reaparece trazendo nos bracos um saco preto do qual sobresaem... duas patas de cabrito!
Eu havia torcido para que a meu lado nao se sentasse ninguem simpatico (ah, e o Trauco, pensando sempre em meu bem estar, me enviou votos solidarios de que nenhum rapaz simpatico compartilhasse a viagem comigo...). Bem, ao subir no onibus descobri que havia uma mulher sentada em meu lugar, e fiz com que ela mudasse de lugar. Excelente inicio! Nas primeiras horas nem nos olhamos. Num dado momento, porem, ela me fez uma gentileza, eu agradeci com um sorriso, coisa e tal, e terminamos a viagem tagarelando as duas, Ana Maria e eu, como velhas amigas.
Chegando a Buenos Aires ontem de manha, tive alguns pequenos contratempos, e Ana foi de uma atencao extraordinaria, acompanhando-me e fazendo companhia ate que consegui mais ou menos resolver tudo. Fim da historia: me deu seu telefone e disse que, caso eu nao tivesse onde ficar, fosse para a casa dela! Ok, e eu torcendo por encontrar alguem antipatico!
Fui para o apartamento de Juan (que esta na Antartida) e de sua mae. Maravilhoso, super bem decorado e muuuuito confortavel, mas nao fiquei nem meia hora, e ja peguei a estrada de novo. Fui para La Plata, com a Ana Ines (que conheci no onibus para Bariloche). A viagem foi um fracasso retumbante: o Museu de Historia Natural estava fechado e ela nao conseguiu fazer o que precisava. Mas nos divertimos muito. A cidade e bonita, arborizada, com edificios antigos e imponentes, e jardins amplos. E planejada, um perfeito tabuleiro de xadrez, exceto por algumas diagonais, que eram nosso terror: voce entra numa delas e so Deus sabe onde vai parar!
Voltamos a Buenos Aires e nosso onibus pegou um tremendo congestionamento. Surpresa! Uma manifestacao monstro!!! Sendo Ana sociologa, nao deu outra: turismo sociologico, e seguimos a manifestacao ate a Plaza de Mayo. Um barato, embora, confesso, tenha sentido um pouco de medo quando cruzavamos com manifestantes encapuçados e armados com pedacos de pau.
Ja eram umas nove da noite quando comecamos a visitar livrarias. Fiz boas compras.
Cheguei de volta a casa era mais de dez da noite, e-xaus-ta.
Hoje cedo, lendo o jornal, soube duas coisas: que a manifestacao reuniu 15.000 pessoas (achei que eram muito mais) e que ontem foi o dia mais quente do ano, com quase 37 graus.
Hoje vai ser dia de bater perna pela cidade e de aproveitar um pouco os cafes e livrarias.
tenham todos um dia excelente
Martha Argel
Vixe, que calor faz nesta terra!!!
Anteontem, quando me aprontava para tomar o onibus em Neuquen, achei que ia derreter de tanto calor. Mas ja imaginava o que estava me esperando na outra ponta da looonga estrada que percorreria. O onibus era o maximo, um conforto so, leito, com cobertorzinho de fleece, rodomoço de gravata, refeicoes melhores que as de um aviao, e ate champanhe! Que tal, tomar champanhe cruzando o deserto patagonico? Mas eu nao tomei. Dormi ate babar. Um dos filmes que passaram foi Dinossauro, dos estudios Disney. Estranho ver os bichos na telinha e do lado de fora, como se fosse uma imensa televisao, a paisagem arida e interminavel.
E um contraste maluco: ja de noite, no meio do nada surge uma cidadezinha com nome de filme de aventura, Puelches (devem ter sido alguma tribo), e o onibus chiquitissimo e modernesimo, para na frente de uma vendinha pauperrima. Em frente a venda, uma mesa com dois homens jantando ao fresco, tranquilos, descansados. Um cachorro esticado ao lado, morto de calor. O rodomoço sai do onibus, entra na venda e dai a pouco reaparece trazendo nos bracos um saco preto do qual sobresaem... duas patas de cabrito!
Eu havia torcido para que a meu lado nao se sentasse ninguem simpatico (ah, e o Trauco, pensando sempre em meu bem estar, me enviou votos solidarios de que nenhum rapaz simpatico compartilhasse a viagem comigo...). Bem, ao subir no onibus descobri que havia uma mulher sentada em meu lugar, e fiz com que ela mudasse de lugar. Excelente inicio! Nas primeiras horas nem nos olhamos. Num dado momento, porem, ela me fez uma gentileza, eu agradeci com um sorriso, coisa e tal, e terminamos a viagem tagarelando as duas, Ana Maria e eu, como velhas amigas.
Chegando a Buenos Aires ontem de manha, tive alguns pequenos contratempos, e Ana foi de uma atencao extraordinaria, acompanhando-me e fazendo companhia ate que consegui mais ou menos resolver tudo. Fim da historia: me deu seu telefone e disse que, caso eu nao tivesse onde ficar, fosse para a casa dela! Ok, e eu torcendo por encontrar alguem antipatico!
Fui para o apartamento de Juan (que esta na Antartida) e de sua mae. Maravilhoso, super bem decorado e muuuuito confortavel, mas nao fiquei nem meia hora, e ja peguei a estrada de novo. Fui para La Plata, com a Ana Ines (que conheci no onibus para Bariloche). A viagem foi um fracasso retumbante: o Museu de Historia Natural estava fechado e ela nao conseguiu fazer o que precisava. Mas nos divertimos muito. A cidade e bonita, arborizada, com edificios antigos e imponentes, e jardins amplos. E planejada, um perfeito tabuleiro de xadrez, exceto por algumas diagonais, que eram nosso terror: voce entra numa delas e so Deus sabe onde vai parar!
Voltamos a Buenos Aires e nosso onibus pegou um tremendo congestionamento. Surpresa! Uma manifestacao monstro!!! Sendo Ana sociologa, nao deu outra: turismo sociologico, e seguimos a manifestacao ate a Plaza de Mayo. Um barato, embora, confesso, tenha sentido um pouco de medo quando cruzavamos com manifestantes encapuçados e armados com pedacos de pau.
Ja eram umas nove da noite quando comecamos a visitar livrarias. Fiz boas compras.
Cheguei de volta a casa era mais de dez da noite, e-xaus-ta.
Hoje cedo, lendo o jornal, soube duas coisas: que a manifestacao reuniu 15.000 pessoas (achei que eram muito mais) e que ontem foi o dia mais quente do ano, com quase 37 graus.
Hoje vai ser dia de bater perna pela cidade e de aproveitar um pouco os cafes e livrarias.
tenham todos um dia excelente
Martha Argel
domingo, 25 de janeiro de 2004
PARABENS SAO PAULO!!!! EU TE AMO!!! MESMO TAO LONGE, MESMO CERCADA DE PAISAGENS TAO ESPETACULARES, MEU CORACAO AINDA ESTA EM MINHA CIDADE!!!! FELIZ ANIVERSARIO, SAMPA!!!
Ultimo dia em Neuquen. Parto hoje para Buenos Aires, onde devo chegar amanha, apos 18 horas de estrada. Tomara que nao se sente ninguem simpatico a meu lado. Quero - e necessito - esse tempo para dormir e pensar e divagar e fazer planos.
Dormi muito mal esta noite. Um calor sufocante, e um pesadelo interminavel com... dinossauros!
Aqui no sul distante o ritmo de vida e tao diferente do que estou acostumada! Os dias de verao sao muito longos. Pouca coisa acontece de manha, as pessoas parecem funcionar a meia corda. E' depois das tres que a atividade se acelera, e continua ate o por do sol -- 'as 22 horas -- prolongando-se noite adentro. Ontem fui dormir cedo, as onze e meia, mas praticamente nunca dei meu dia por encerrado antes das duas da manha.
Ontem meu periplo paleontologico culminou com algo muito especial. Fomos todos (Dominga, Claudio, Rosario, Alejandro e eu, a "turma da camiseta branca") a um lugar chamado Los Barreales, que vem a ser o sitio paleontologico mais espetacular que se possa imaginar. Facil de chegar, localizado as margens de uma represa maravilhosa. cercado por penhascos esculpidos pelo vento e pela agua, e com um tesouro fossil incalculavel. Funciona ai um centro de pesquisas inacreditavel: quinze abnegados trabalham sem salario, sem verba, na raca, extraindo alguns dos dinossauros mais impressionantes do mundo. Gente, acreditem, e de cair o queixo. Meu mais novo dino favorito e o Megaraptor, cuja garra de 30 cm de comprimento faz o Velociraptor parecer um ursinho de pelucia. Vimos fosseis assombrosos que ainda nao foram publicados, novidades exclusivas para os visitantes do lugar. Conheci os paleontologos Lucas Fiorelli, Magdalena Perini e Laura Cruz, jovens tao especiais, tao dedicados que nao ha como nao querer sua amizade e desejar-lhes TODO o sucesso do mundo. Quem quiser conhecer um pouquinho de Los Barreales, pode visitar a pagina do Proyecto Andino, mantido pela Universidade del Comahue. E se alguem ai planeja visitar Bariloche, aproveite para dar um pulo em Neuquen (sao so 400 km de distancia!) e ir ate Los Barreales, pois a UNICA grana que esses caras tem vem da merrequinha paga pelos turistas para visitar o lugar! Essa e a ciencia a moda latino-americana.
Lamento tanto, tanto, tanto ter de seguir viagem. Meus primos me receberam tao bem, encontrei aqui tanta coisa interessante, as paisagens sao tao grandiosas que sinto como se deixasse algo de mim aqui (como de resto, vou deixando pelo caminho, por onde quer que passe e encontre a acolhida gentil e o calor humano que fui encontrando por todos os lugares onde passei). Mas e hora de continuar rumo norte.
Minha cidade me espera. Em uma semana, verei o sol nascendo no LAR.
beijos a todos
Martha Argel
(PD. me estas siguiendo, Trauco? Ahora te tengo conmigo, sentado en el cordon de la acera, sonriendo bajo el timido sol de Ancud)
Ultimo dia em Neuquen. Parto hoje para Buenos Aires, onde devo chegar amanha, apos 18 horas de estrada. Tomara que nao se sente ninguem simpatico a meu lado. Quero - e necessito - esse tempo para dormir e pensar e divagar e fazer planos.
Dormi muito mal esta noite. Um calor sufocante, e um pesadelo interminavel com... dinossauros!
Aqui no sul distante o ritmo de vida e tao diferente do que estou acostumada! Os dias de verao sao muito longos. Pouca coisa acontece de manha, as pessoas parecem funcionar a meia corda. E' depois das tres que a atividade se acelera, e continua ate o por do sol -- 'as 22 horas -- prolongando-se noite adentro. Ontem fui dormir cedo, as onze e meia, mas praticamente nunca dei meu dia por encerrado antes das duas da manha.
Ontem meu periplo paleontologico culminou com algo muito especial. Fomos todos (Dominga, Claudio, Rosario, Alejandro e eu, a "turma da camiseta branca") a um lugar chamado Los Barreales, que vem a ser o sitio paleontologico mais espetacular que se possa imaginar. Facil de chegar, localizado as margens de uma represa maravilhosa. cercado por penhascos esculpidos pelo vento e pela agua, e com um tesouro fossil incalculavel. Funciona ai um centro de pesquisas inacreditavel: quinze abnegados trabalham sem salario, sem verba, na raca, extraindo alguns dos dinossauros mais impressionantes do mundo. Gente, acreditem, e de cair o queixo. Meu mais novo dino favorito e o Megaraptor, cuja garra de 30 cm de comprimento faz o Velociraptor parecer um ursinho de pelucia. Vimos fosseis assombrosos que ainda nao foram publicados, novidades exclusivas para os visitantes do lugar. Conheci os paleontologos Lucas Fiorelli, Magdalena Perini e Laura Cruz, jovens tao especiais, tao dedicados que nao ha como nao querer sua amizade e desejar-lhes TODO o sucesso do mundo. Quem quiser conhecer um pouquinho de Los Barreales, pode visitar a pagina do Proyecto Andino, mantido pela Universidade del Comahue. E se alguem ai planeja visitar Bariloche, aproveite para dar um pulo em Neuquen (sao so 400 km de distancia!) e ir ate Los Barreales, pois a UNICA grana que esses caras tem vem da merrequinha paga pelos turistas para visitar o lugar! Essa e a ciencia a moda latino-americana.
Lamento tanto, tanto, tanto ter de seguir viagem. Meus primos me receberam tao bem, encontrei aqui tanta coisa interessante, as paisagens sao tao grandiosas que sinto como se deixasse algo de mim aqui (como de resto, vou deixando pelo caminho, por onde quer que passe e encontre a acolhida gentil e o calor humano que fui encontrando por todos os lugares onde passei). Mas e hora de continuar rumo norte.
Minha cidade me espera. Em uma semana, verei o sol nascendo no LAR.
beijos a todos
Martha Argel
(PD. me estas siguiendo, Trauco? Ahora te tengo conmigo, sentado en el cordon de la acera, sonriendo bajo el timido sol de Ancud)
sábado, 24 de janeiro de 2004
Vixe, nao e facil lidar com dois idiomas ao mesmo tempo. Relendo assim por cima o que tenho escrito, noto quantos deslizes aparecem em meu texto em portugues. E logo depois de atualizar este blog, meu castelhano se transforma em qualquer coisa.
Ontem foi um dia de andancas urbanas. Tinha um monte de coisas pra fazer, revelar fotos, conhecer um pouquinho da cidade, fazer umas comprinhas, organizar a proxima etapa da viagem.
A viajante super experiente aqui deu uma mancada tremenda, que poderia ter tido consequencias desagradaveis, nao fosse a gentileza natural aos neuquinos: ao comprar minha passagem para Buenos Aires (sim, tenho de seguir viagem. Tudo o que e bom dura pouco) simplesmente esqueci no balcao da empresa meu cartao de credito! A sorte foi ter perguntado as atendentes onde era a oficina de turismo. Qual nao foi meu espanto quando eu, em bom papo com o pessoal de la, vejo chegar esbaforida a mocinha que acabara de me atender! Ela ficou tao aliviada quanto eu.
A tarde Dominga me levou para conhecer os rios que cercam a cidade, o Limay e o Neuquen, que mais abaixo se juntam para formar o rio Negro. Fomos tambem a um mirante, no alto da barda, a meseta tao caracteristica da paisagem patagonica. De la a gente se da conta do milagre que e a agua no deserto. A cidade e as margens dos rios, densas de vegetacao luxuriante, sao como uma ilha no meio de uma paisagem arida imensa, que domina o horizonte em todas as direcoes para onde se olhe. E impressionante, algo grandioso. A agua, e os sistemas de irrigacao, tem uma forca e um poder inacreditaveis.
Andando pela cidade, os gramados verdes e os jardins floridos sao uma maravilha. Quanta agua nao sera necessaria! E em um certo ponto da cidade, num bairro fechado de altissima renda, a coisa mais disparatada do mundo: um campo de golf. Quando uma boa parte da populacao pobre da cidade nao tem agua para tomar banho, os novos-ricos locais, protegidos por alambrados e uma guarda particular, cultivam seu proprio jardim do Edem. Essa e nossa amada e pobre America do Sul.
Hoje de manha, com preguica de levantar, sintonizei uma radio local. Dois anuncios me chamaram a atencao.
O primeiro: Sabe porque Mickey esta em Disney e nao aqui em Neuquen? Porque nos em Neuquen temos o ExtermiNeuquen, que acaba com todos os roedores! Achei hilariante!
O segundo era um comercial musical, bem tipo Broadway, do Cassino que existe aqui, com vozes felizes e entusiasmadas cantando venha divertir-se, passar momentos maravilhosos, sentir-se como um rei. Isso acentuou uma impressao que venho tendo ha dois dias, e que tinha se tornado mais aguda ao ver ontem o campo de golf: em varios aspectos Neuquen se assemelha a Las Vegas, a cidade que cresceu no deserto as custas do esforco humano. Por sorte Neuquen e uma cidade de verdade e pelo que pude ver o Cassino nao tem qualquer influencia no dia a dia das pessoas daqui. E apenas uma excrescencia, uma armadilhazinha para incautos e desamparados, da mesma forma como os bingos que abundam em minha propria cidade.
Hoje, ao que tudo indica, novamente terei dinossauros.
E isso ai. Curtam-se a si mesmos e criem suas proprias oportunidades.
Desde la Patagonia Argentina se despide
Martha Argel
PS. Ontem e hoje carreguei algumas fotos na pagina Yahoo de minha lista de distribuicao de noticias. Clique aqui para ve-las (se voce nao esta inscrito aproveite e inscreva-se!)
Ontem foi um dia de andancas urbanas. Tinha um monte de coisas pra fazer, revelar fotos, conhecer um pouquinho da cidade, fazer umas comprinhas, organizar a proxima etapa da viagem.
A viajante super experiente aqui deu uma mancada tremenda, que poderia ter tido consequencias desagradaveis, nao fosse a gentileza natural aos neuquinos: ao comprar minha passagem para Buenos Aires (sim, tenho de seguir viagem. Tudo o que e bom dura pouco) simplesmente esqueci no balcao da empresa meu cartao de credito! A sorte foi ter perguntado as atendentes onde era a oficina de turismo. Qual nao foi meu espanto quando eu, em bom papo com o pessoal de la, vejo chegar esbaforida a mocinha que acabara de me atender! Ela ficou tao aliviada quanto eu.
A tarde Dominga me levou para conhecer os rios que cercam a cidade, o Limay e o Neuquen, que mais abaixo se juntam para formar o rio Negro. Fomos tambem a um mirante, no alto da barda, a meseta tao caracteristica da paisagem patagonica. De la a gente se da conta do milagre que e a agua no deserto. A cidade e as margens dos rios, densas de vegetacao luxuriante, sao como uma ilha no meio de uma paisagem arida imensa, que domina o horizonte em todas as direcoes para onde se olhe. E impressionante, algo grandioso. A agua, e os sistemas de irrigacao, tem uma forca e um poder inacreditaveis.
Andando pela cidade, os gramados verdes e os jardins floridos sao uma maravilha. Quanta agua nao sera necessaria! E em um certo ponto da cidade, num bairro fechado de altissima renda, a coisa mais disparatada do mundo: um campo de golf. Quando uma boa parte da populacao pobre da cidade nao tem agua para tomar banho, os novos-ricos locais, protegidos por alambrados e uma guarda particular, cultivam seu proprio jardim do Edem. Essa e nossa amada e pobre America do Sul.
Hoje de manha, com preguica de levantar, sintonizei uma radio local. Dois anuncios me chamaram a atencao.
O primeiro: Sabe porque Mickey esta em Disney e nao aqui em Neuquen? Porque nos em Neuquen temos o ExtermiNeuquen, que acaba com todos os roedores! Achei hilariante!
O segundo era um comercial musical, bem tipo Broadway, do Cassino que existe aqui, com vozes felizes e entusiasmadas cantando venha divertir-se, passar momentos maravilhosos, sentir-se como um rei. Isso acentuou uma impressao que venho tendo ha dois dias, e que tinha se tornado mais aguda ao ver ontem o campo de golf: em varios aspectos Neuquen se assemelha a Las Vegas, a cidade que cresceu no deserto as custas do esforco humano. Por sorte Neuquen e uma cidade de verdade e pelo que pude ver o Cassino nao tem qualquer influencia no dia a dia das pessoas daqui. E apenas uma excrescencia, uma armadilhazinha para incautos e desamparados, da mesma forma como os bingos que abundam em minha propria cidade.
Hoje, ao que tudo indica, novamente terei dinossauros.
E isso ai. Curtam-se a si mesmos e criem suas proprias oportunidades.
Desde la Patagonia Argentina se despide
Martha Argel
PS. Ontem e hoje carreguei algumas fotos na pagina Yahoo de minha lista de distribuicao de noticias. Clique aqui para ve-las (se voce nao esta inscrito aproveite e inscreva-se!)
sexta-feira, 23 de janeiro de 2004
Hoje o calor aqui em Neuquen vai ser demais. Quem diria, nao e? Quando a gente ouve falar de Patagonia, pensa em ventos gelados e temperaturas abaixo de zero. So que estamos no curto verao austral, e por tres meses e isso que temos hoje: temperaturas que passam dos trinta graus, sem piedade, todos os dias. De noite refresca, mas com o surgir do sol nao tem perdao.
Ontem fomos a Villa El Chocon, em busca de mais dinossauros, e nao nos decepcionamos. Pelo contrario, terminamos por nos deparar com algo espetacular e inesperado: uma excavacao aberta a visitacao publica, onde estao desenterrando tres exemplares, um carnivoro e dois herbivoros. E o melhor de tudo: A GENTE PODE EXCAVAR OS FOSSEIS!!!! Nao imaginam como e emocionante: uma especie de estilete e um pincel de pintar parede, e a gente vai removendo pouco a pouco a argila endurecida e expondo o osso. Os dois tecnicos que estavam la, Cristian e Mari, nos explicaram um monte de coisa sobre as campanhas de campo, a rotina de excavacao e transporte, o trabalho de laboratorio. Nos contaram de dois caminhoneiros que um dia pararam para dar uma olhada e ficaram tao alucinados que agora a cada tanto aparecem com barracas e ficam dias excavando junto com os paleontologos. Minha prima Dominga ficou alucinada, e comecou a fazer planos de vir trabalhar alguns dias no local.
Depois da excavacao, fomos a vila, que nasceu de um acampamento implantado quando da construcao da represa de El Chocon, um lago impressionante, de belissimas aguas azuis, em meio a aridez da estepe e sob um ceu absolutamente limpo. Na vila, as margens do lago, visitamos o museu paleontologico, onde novamente nos deparamos com o Giganotosaurus carolinii, em varias versoes. Esse bicho tremendo foi descoberto justamente ai, por um morador do local, Carolini, que hoje e diretor do museu. Infelizmente, ele ja tinha ido embora quando chegamos, e nao pude conhece-lo.
Depois de uma rapida visita a barragem, e uma aulinha muito interessante sobre seu funcionamento, dada por Claudio, decidimos voltar. Mas as surpresas nao haviam terminado. Na saida da cidade, a meia encosta entre a vegetacao patagonica, nos esperava, imponente e assustador, um legitimo Giganotosaurus da fibra de vidro mais pura e resistente que possa existir! Foi um barato! Nos divertimos pra caramba pendurando-nos nas garras, subindo nos pes, escalando suas costas.
Na viagem de volta estavamos mortos, e pra mim, o U2 foi a trilha sonora de um majestoso por de sol patagonico.
Engracado como as outras etapas de minha viagem, Buenos Aires, Rauch, Bariloche, Puerto Montt, parecem algo tao remoto, como se tivessem acontecido em outra era, com outra pessoa.
Beijos a todos.
Martha Argel
Ontem fomos a Villa El Chocon, em busca de mais dinossauros, e nao nos decepcionamos. Pelo contrario, terminamos por nos deparar com algo espetacular e inesperado: uma excavacao aberta a visitacao publica, onde estao desenterrando tres exemplares, um carnivoro e dois herbivoros. E o melhor de tudo: A GENTE PODE EXCAVAR OS FOSSEIS!!!! Nao imaginam como e emocionante: uma especie de estilete e um pincel de pintar parede, e a gente vai removendo pouco a pouco a argila endurecida e expondo o osso. Os dois tecnicos que estavam la, Cristian e Mari, nos explicaram um monte de coisa sobre as campanhas de campo, a rotina de excavacao e transporte, o trabalho de laboratorio. Nos contaram de dois caminhoneiros que um dia pararam para dar uma olhada e ficaram tao alucinados que agora a cada tanto aparecem com barracas e ficam dias excavando junto com os paleontologos. Minha prima Dominga ficou alucinada, e comecou a fazer planos de vir trabalhar alguns dias no local.
Depois da excavacao, fomos a vila, que nasceu de um acampamento implantado quando da construcao da represa de El Chocon, um lago impressionante, de belissimas aguas azuis, em meio a aridez da estepe e sob um ceu absolutamente limpo. Na vila, as margens do lago, visitamos o museu paleontologico, onde novamente nos deparamos com o Giganotosaurus carolinii, em varias versoes. Esse bicho tremendo foi descoberto justamente ai, por um morador do local, Carolini, que hoje e diretor do museu. Infelizmente, ele ja tinha ido embora quando chegamos, e nao pude conhece-lo.
Depois de uma rapida visita a barragem, e uma aulinha muito interessante sobre seu funcionamento, dada por Claudio, decidimos voltar. Mas as surpresas nao haviam terminado. Na saida da cidade, a meia encosta entre a vegetacao patagonica, nos esperava, imponente e assustador, um legitimo Giganotosaurus da fibra de vidro mais pura e resistente que possa existir! Foi um barato! Nos divertimos pra caramba pendurando-nos nas garras, subindo nos pes, escalando suas costas.
Na viagem de volta estavamos mortos, e pra mim, o U2 foi a trilha sonora de um majestoso por de sol patagonico.
Engracado como as outras etapas de minha viagem, Buenos Aires, Rauch, Bariloche, Puerto Montt, parecem algo tao remoto, como se tivessem acontecido em outra era, com outra pessoa.
Beijos a todos.
Martha Argel
quinta-feira, 22 de janeiro de 2004
Hola todos.
Estou em Neuquen desde anteontem. A Patagonia cerca toda a cidade, com sua paisagem arida, interminavel, perturbadora. Cheguei aqui, vinda de Bariloche, no mesmo onibus que carregou Jorge e Ana para Buenos Aires. O plano e que nos reencontremos daqui uma semana.
A viagem teve a trilha sonora perfeita, "The Joshua Tree", do U2. Desde que ouvi pela primeira vez a musica "Where the streets have no name", foram essas paisagens desoladas que me vieram a cabeca, o altiplano, a estepe patagonica. Afinal reuni ambos, trilha sonora e paisagem.
Estou na casa de Dominga Argel, uma prima distante, e de Claudio e Rosario. Ah, e de Sissi, uma viralatinhas preta e branca que e a coisa mais simpatica do mundo. Saudades do Thor! Apos minha chegada, tinha tanto assunto para colocar em dia que o tempo nao alcancava. Papo de familia. Claudio preparou um churrasco tao bom que comi demais e quase passei mal.
Ontem: nao postei porque o cyber a que fui estava uma merrrrrda. Se algum de voces vier a Neuquen, minha dica e o Cyber del Alto. O outro era muito mais bonito, mas foi pura perda de tempo.
De manha passeei com Dominga pela cidade: 300 mil habitantes e apenas um seculo de idade. Tudo por aqui e muito novo. A conquista da patagonia e coisa do seculo XX. E de tarde...
FINALMENTE!!!! Conheci Plaza Huincul. Esse lugarejo petroleiro e, hoje, um dos principais centros de pesquisa de dinossauros do mundo todo. Visitamos o museu Carmen Funes e puta que o pariu, voces nao fazem ideia do TAMANHO do Argentinosaurus huinculensis, descoberto ali na localidade. E o maior dinosauro do mundo, e passar por baixo de um monstro com 40 m de comprimento foi um delirio. Alem dele, havia ainda um exemplar de Giganotosaurus carolinii, que pra mim tinha um interesse especial. Continuem lendo e verao.
A emocao que senti ao entrar no museu foi imensa. Era um sonho que tinha desde 1997, quando li uma materia na National Geographic sobre dinossauros patagonicos. Depois, li o livro de Rodolfo Coria, Dinosaurios en Patagonia, e fiquei obcecada com a ideia de ir ate esse lugar. Coria e hoje o diretor do museu, e nao estava la, mas conheci Osmar Garcez, que e o cozinheiro das expedicoes paleontologicas, e que com muita simplicidade descreveu a rotina do acampamento e como descobriu dentes do Giganotosaurus. Esse dino deixa o gringo T. rex no chinelo: e maior e sua cara e muito mais malvada. Alias pra quem leu o Relacoes de Sangue, ta la: fiz questao de falar desse predador fantastico! E nunca imaginei que conheceria em pessoa alguem que estava presente na expedicao que descobriu o mais famoso exemplar da especie. Alem de Osmar, conheci Clarita, que nao so tem o nome de meu personagem principal, mas e alucinada por vampiros, e Alfredo Gerez, tecnico do museu que escreve contos de Terror!!! E ainda, bati papo com uma paleontologa muito simpatica, Premji Paulina, que desenvolve uma tese com o basicraneo de teropodos, inclusive do Giganotosaurus. Uau! Em pouco mais de dez minutos de conversa delineamos alguns planos bem interessantes. Caramba, se der certo, vai ser o maximo!!!
Sai de Plaza Huincul com a sensacao boa de que em algum dia nao muito distante vou voltar, e que esses dinos tambem vao ser, no futuro, um pouco meus.
Hoje, o calor sufocante dos ultimos dias foi substituido por um chuvisco agradavel e bem-vindo. A secura tem sido tamanha que uma verruga que ha anos me incomodava no dedo medio da mao direita, secou e caiu! Ainda estou impressionada.
Beijos a todos. Aproveitem a vida e as pessoas interessantes, e nao percam tempo com os chatos.
Martha Argel
uma vampira entre dinossauros
Estou em Neuquen desde anteontem. A Patagonia cerca toda a cidade, com sua paisagem arida, interminavel, perturbadora. Cheguei aqui, vinda de Bariloche, no mesmo onibus que carregou Jorge e Ana para Buenos Aires. O plano e que nos reencontremos daqui uma semana.
A viagem teve a trilha sonora perfeita, "The Joshua Tree", do U2. Desde que ouvi pela primeira vez a musica "Where the streets have no name", foram essas paisagens desoladas que me vieram a cabeca, o altiplano, a estepe patagonica. Afinal reuni ambos, trilha sonora e paisagem.
Estou na casa de Dominga Argel, uma prima distante, e de Claudio e Rosario. Ah, e de Sissi, uma viralatinhas preta e branca que e a coisa mais simpatica do mundo. Saudades do Thor! Apos minha chegada, tinha tanto assunto para colocar em dia que o tempo nao alcancava. Papo de familia. Claudio preparou um churrasco tao bom que comi demais e quase passei mal.
Ontem: nao postei porque o cyber a que fui estava uma merrrrrda. Se algum de voces vier a Neuquen, minha dica e o Cyber del Alto. O outro era muito mais bonito, mas foi pura perda de tempo.
De manha passeei com Dominga pela cidade: 300 mil habitantes e apenas um seculo de idade. Tudo por aqui e muito novo. A conquista da patagonia e coisa do seculo XX. E de tarde...
FINALMENTE!!!! Conheci Plaza Huincul. Esse lugarejo petroleiro e, hoje, um dos principais centros de pesquisa de dinossauros do mundo todo. Visitamos o museu Carmen Funes e puta que o pariu, voces nao fazem ideia do TAMANHO do Argentinosaurus huinculensis, descoberto ali na localidade. E o maior dinosauro do mundo, e passar por baixo de um monstro com 40 m de comprimento foi um delirio. Alem dele, havia ainda um exemplar de Giganotosaurus carolinii, que pra mim tinha um interesse especial. Continuem lendo e verao.
A emocao que senti ao entrar no museu foi imensa. Era um sonho que tinha desde 1997, quando li uma materia na National Geographic sobre dinossauros patagonicos. Depois, li o livro de Rodolfo Coria, Dinosaurios en Patagonia, e fiquei obcecada com a ideia de ir ate esse lugar. Coria e hoje o diretor do museu, e nao estava la, mas conheci Osmar Garcez, que e o cozinheiro das expedicoes paleontologicas, e que com muita simplicidade descreveu a rotina do acampamento e como descobriu dentes do Giganotosaurus. Esse dino deixa o gringo T. rex no chinelo: e maior e sua cara e muito mais malvada. Alias pra quem leu o Relacoes de Sangue, ta la: fiz questao de falar desse predador fantastico! E nunca imaginei que conheceria em pessoa alguem que estava presente na expedicao que descobriu o mais famoso exemplar da especie. Alem de Osmar, conheci Clarita, que nao so tem o nome de meu personagem principal, mas e alucinada por vampiros, e Alfredo Gerez, tecnico do museu que escreve contos de Terror!!! E ainda, bati papo com uma paleontologa muito simpatica, Premji Paulina, que desenvolve uma tese com o basicraneo de teropodos, inclusive do Giganotosaurus. Uau! Em pouco mais de dez minutos de conversa delineamos alguns planos bem interessantes. Caramba, se der certo, vai ser o maximo!!!
Sai de Plaza Huincul com a sensacao boa de que em algum dia nao muito distante vou voltar, e que esses dinos tambem vao ser, no futuro, um pouco meus.
Hoje, o calor sufocante dos ultimos dias foi substituido por um chuvisco agradavel e bem-vindo. A secura tem sido tamanha que uma verruga que ha anos me incomodava no dedo medio da mao direita, secou e caiu! Ainda estou impressionada.
Beijos a todos. Aproveitem a vida e as pessoas interessantes, e nao percam tempo com os chatos.
Martha Argel
uma vampira entre dinossauros
terça-feira, 20 de janeiro de 2004
Bom dia.
Ainda por aqui, a vontade de ir embora e zero.
Ontem, andando pelas ruas da cidade, a esmo, topei com Andrea e Simone, e acabamos indo tomar sol na beira do lago. Comecamos com uma modesta sessao de fotos, daquelas classicas "tramos uma foto juntas pra nos lembrarmos depois". So que o classico pedido ao primeiro que passa "pode tirar nossa foto", acabou se tornando uma bola de neve, com uns pedindo aos outros, e a gente que passava se juntando porque lhes parecia uma boa ideia, e o fato e que acabei com uma filmadora nas maos filmando um casal ja de idade, muito sorridente. Resolvi fazer uma entrevista com eles e encerrei sugerindo que eles dessem um mergulho nas aguas geladas. Eles riram muito e adoraram. A gravacao ate que ficou bacana.
Depois, Alicia, Ana, Jorge e eu saimos de passeio. Demos uma longa e tradicional volta, conhecida como Circuito Chico, que passa por lagos, bosques e mirantes. Paramos num lugar lindo e tranquilo para tomar mate e, pra variar, rimos MUITO. Fizemos uma caminhada atraves de um bosque de lengas, e parecia que a qualquer momento essas arvores espetaculares sairiam caminhando, transformadas nos ents de Tolkien. Cruzamos no caminho com tres jovens que pediam carona e que pareciam hobbits. Pena, nao cabia tanta gente no nosso carro. O pequeno passeio acabou se estendendo, estendendo, estendendo, e terminou com um delicioso vinho... as tres da manha!!!
Ok, a ideia e ir hoje pra Neuquen. O longo caminho de volta. Sentimentos desencontrados: queria continuar me afastando de casa, mas por outro lado as saudades apertam.
Beijos, cuidem-se
Martha Argel
(Trauco, estas por ahi? Te hubiera encantado el paseo ayer. Me hubiera encantado tenerte aqui)
Ainda por aqui, a vontade de ir embora e zero.
Ontem, andando pelas ruas da cidade, a esmo, topei com Andrea e Simone, e acabamos indo tomar sol na beira do lago. Comecamos com uma modesta sessao de fotos, daquelas classicas "tramos uma foto juntas pra nos lembrarmos depois". So que o classico pedido ao primeiro que passa "pode tirar nossa foto", acabou se tornando uma bola de neve, com uns pedindo aos outros, e a gente que passava se juntando porque lhes parecia uma boa ideia, e o fato e que acabei com uma filmadora nas maos filmando um casal ja de idade, muito sorridente. Resolvi fazer uma entrevista com eles e encerrei sugerindo que eles dessem um mergulho nas aguas geladas. Eles riram muito e adoraram. A gravacao ate que ficou bacana.
Depois, Alicia, Ana, Jorge e eu saimos de passeio. Demos uma longa e tradicional volta, conhecida como Circuito Chico, que passa por lagos, bosques e mirantes. Paramos num lugar lindo e tranquilo para tomar mate e, pra variar, rimos MUITO. Fizemos uma caminhada atraves de um bosque de lengas, e parecia que a qualquer momento essas arvores espetaculares sairiam caminhando, transformadas nos ents de Tolkien. Cruzamos no caminho com tres jovens que pediam carona e que pareciam hobbits. Pena, nao cabia tanta gente no nosso carro. O pequeno passeio acabou se estendendo, estendendo, estendendo, e terminou com um delicioso vinho... as tres da manha!!!
Ok, a ideia e ir hoje pra Neuquen. O longo caminho de volta. Sentimentos desencontrados: queria continuar me afastando de casa, mas por outro lado as saudades apertam.
Beijos, cuidem-se
Martha Argel
(Trauco, estas por ahi? Te hubiera encantado el paseo ayer. Me hubiera encantado tenerte aqui)
segunda-feira, 19 de janeiro de 2004
De volta a Bariloche.
Ainda tao longe de casa,e a sensacao e de volta ao lar.
Engracado como e certo o que dizem, ha coisas que a gente so encontra quando nao esta procurando. Quando sai do Brasil, ha tantos dias, me ocorreu que talvez esta fosse a primeira viagem em que tudo o que importava era a viagem em si, nao o que deixava para tras, nao a BUSCA em si. Apenas uma perambulacao, uma jornada de observacao, de descoberta do mundo.
E tantas coisas aconteceram, tanta gente cruzou meu caminho, tantas portas parecem ter-se aberto, coisas que poderiam mudar a vida de uma pessoa. Ou que nao significariam mais do que um detalhe como qualquer outro. Tudo depende do que ainda acontecera.
Voltei do Chile ontem, um sentimento misto dominando acima de qualquer outro. O agridoce sabor de ter encontrado algo, um afeto, do qual tao rapidamente me separei, e pela cabeca passam as ideias mais desencontradas. A decisao de nao pensar num futuro, ou em qualquer futuro, e a irresistivel tentacao de planificar o destino.
Nao sei. Melhor pensar apenas no agora, no sol lindo que faz la fora, no lago azul e gelado em cujas margens dentro em pouco estarei com amigos compartilhando o onipresente ritual do mate. Na atracao inescapavel das compras, dos "recuerdos". Nos chocolates que comi ha pouco, espetaculares, mas que trazem um peso terrivel a consciencia.
Ontem: uma despedida e o comeco de uma saudade doce. E entao a viagem, mais uma vez atraves dos Andes. A visao magnifica do vulcao Osorno e de seu irmao mais modesto cujo nome nao sei. As paisagens quase europeias de pastagens e campos de cultivo salpicados de casinhas bonitas. Ja chegando ao sope da cordilheira, o insolito bosque valdiviano, a densa floresta temperada que reveste a escarpa voltada para o Pacifico, fruto das abundantes chuvas orograficas. Num dado momento, a nossa frente, um caminhao com placas de Sao Paulo, SP (tao longe!!!), e a saudade de minha cidade, de meu pa?s, bate no peito.
Os companheiros de viagem: Andrea, boliviana de La Paz, com um piercing de prata no nariz. Simone, a suica que perdeu o papel de entrada no Chile, e que se tornou alvo das brincadeiras do chofer durante os tramites aduaneiros (alias, foi a primeira vez que vi agentes da policia federal rindo, em qualquer lugar do mundo!). Mauricio, o mochileiro chileno que da aula para jovens com problemas mentais ou sociais. Um grupo de turistas israelenses que me fez babar durante toda a viagem; um deles em particular era um monumento de olhos claros, e a forma como passava os dedos entre os cabelos loiros e longos nao faria feio em nenhum comercial de moda. No meio de tanta gente interessante, o unico outro brasileiro do onibus, um babaquinha movido a manivela, lerdo e sem qualquer capacidade de comunicacao com o proximo. No final da viagem nos juntamos, o chileno, outras duas chilenas, a suica, a boliviana e eu, naquele espirito instintivo de partilha e ajuda mutua que une viajantes solitarios por todo o mundo, e que e uma das melhores experiencias de uma viagem. O brasileiro? Nem nos olhou. Que fosse a merda. Esse tolinho era um turista. Nos somos viajantes.
Tanta gente que fui deixando ao longo do caminho: Francisca, do Acre. Chendo, de Buenos Aires. Anita, Chichina, Guille, Damian, Tino, Ercilia, Mirta, Susana, de Rauch. Daniela, de La Plata. Silvia, Marina, Pato, Carlos, Alicia, de Bariloche. David, Carmen, Ismael, Marcelo,Yasmin, Rocio, Cecilia, Olivia, de Puerto Montt. Viviana, de Valdivia. Carmen e Marcelo, de Santiago. Anne, de Versalhes.
E os reencontros: Alicia com sua gatinha P?ru,que ontem quase me brindou um ataque de bronquite. Dario, que ainda nao vi apesar de ter me recebido em sua casa. Ana e Jorge, que em breve verei.
Parece que faz um ano. Foram ate agora 17 dias. Mais 12 pela frente, e parece tao, mas tao pouco.
Beijos a todos.
Martha Argel
Ainda tao longe de casa,e a sensacao e de volta ao lar.
Engracado como e certo o que dizem, ha coisas que a gente so encontra quando nao esta procurando. Quando sai do Brasil, ha tantos dias, me ocorreu que talvez esta fosse a primeira viagem em que tudo o que importava era a viagem em si, nao o que deixava para tras, nao a BUSCA em si. Apenas uma perambulacao, uma jornada de observacao, de descoberta do mundo.
E tantas coisas aconteceram, tanta gente cruzou meu caminho, tantas portas parecem ter-se aberto, coisas que poderiam mudar a vida de uma pessoa. Ou que nao significariam mais do que um detalhe como qualquer outro. Tudo depende do que ainda acontecera.
Voltei do Chile ontem, um sentimento misto dominando acima de qualquer outro. O agridoce sabor de ter encontrado algo, um afeto, do qual tao rapidamente me separei, e pela cabeca passam as ideias mais desencontradas. A decisao de nao pensar num futuro, ou em qualquer futuro, e a irresistivel tentacao de planificar o destino.
Nao sei. Melhor pensar apenas no agora, no sol lindo que faz la fora, no lago azul e gelado em cujas margens dentro em pouco estarei com amigos compartilhando o onipresente ritual do mate. Na atracao inescapavel das compras, dos "recuerdos". Nos chocolates que comi ha pouco, espetaculares, mas que trazem um peso terrivel a consciencia.
Ontem: uma despedida e o comeco de uma saudade doce. E entao a viagem, mais uma vez atraves dos Andes. A visao magnifica do vulcao Osorno e de seu irmao mais modesto cujo nome nao sei. As paisagens quase europeias de pastagens e campos de cultivo salpicados de casinhas bonitas. Ja chegando ao sope da cordilheira, o insolito bosque valdiviano, a densa floresta temperada que reveste a escarpa voltada para o Pacifico, fruto das abundantes chuvas orograficas. Num dado momento, a nossa frente, um caminhao com placas de Sao Paulo, SP (tao longe!!!), e a saudade de minha cidade, de meu pa?s, bate no peito.
Os companheiros de viagem: Andrea, boliviana de La Paz, com um piercing de prata no nariz. Simone, a suica que perdeu o papel de entrada no Chile, e que se tornou alvo das brincadeiras do chofer durante os tramites aduaneiros (alias, foi a primeira vez que vi agentes da policia federal rindo, em qualquer lugar do mundo!). Mauricio, o mochileiro chileno que da aula para jovens com problemas mentais ou sociais. Um grupo de turistas israelenses que me fez babar durante toda a viagem; um deles em particular era um monumento de olhos claros, e a forma como passava os dedos entre os cabelos loiros e longos nao faria feio em nenhum comercial de moda. No meio de tanta gente interessante, o unico outro brasileiro do onibus, um babaquinha movido a manivela, lerdo e sem qualquer capacidade de comunicacao com o proximo. No final da viagem nos juntamos, o chileno, outras duas chilenas, a suica, a boliviana e eu, naquele espirito instintivo de partilha e ajuda mutua que une viajantes solitarios por todo o mundo, e que e uma das melhores experiencias de uma viagem. O brasileiro? Nem nos olhou. Que fosse a merda. Esse tolinho era um turista. Nos somos viajantes.
Tanta gente que fui deixando ao longo do caminho: Francisca, do Acre. Chendo, de Buenos Aires. Anita, Chichina, Guille, Damian, Tino, Ercilia, Mirta, Susana, de Rauch. Daniela, de La Plata. Silvia, Marina, Pato, Carlos, Alicia, de Bariloche. David, Carmen, Ismael, Marcelo,Yasmin, Rocio, Cecilia, Olivia, de Puerto Montt. Viviana, de Valdivia. Carmen e Marcelo, de Santiago. Anne, de Versalhes.
E os reencontros: Alicia com sua gatinha P?ru,que ontem quase me brindou um ataque de bronquite. Dario, que ainda nao vi apesar de ter me recebido em sua casa. Ana e Jorge, que em breve verei.
Parece que faz um ano. Foram ate agora 17 dias. Mais 12 pela frente, e parece tao, mas tao pouco.
Beijos a todos.
Martha Argel
domingo, 18 de janeiro de 2004
Meio-dia, e eu com preguica de sair do hotel.
Volto hoje a Bariloche.
Ontem: fui apresentada a paila, um prato de frutos do mar, um monte de tipos diferentes de moluscos. Gostoso e forte. Achei que mais tarde teria de chamar o Hugo, porque foi uma panelada de coisas estranhas, mas pelo visto meu organismo aceitou muito bem.
Fiquei o dia inteiro caminhando pela beira mar, observando e pensando.
Um exemplo maravilhoso do jogo de cintura latino-americano: num embarcadouro onde a populacao toma o barco para cruzar a ilha fronteira a cidade, um senhor anunciava um passeio para ir ver de perto o imenso transatlantico ancorado na baia. Os gringos ricos pagam uma nota preta para vir conhecer os pobres cucarachas, e os cucarachas pagam moedas pra ir espiar os ricos. Quase fui.
Conversei muito, tambem. Conheci David, um chilota que me contou um monte de historias de assombracoes que ele mesmo viu na ilha. E me falou muito sobre os Argel de Chiloe. Sao reputados marinheiros. Estou fascinada pela ilha e por meus parentes distantes!
No todo, o dia de ontem foi toda uma viagem em si. Uma viagem emocional, sobre a qual provavelmente ainda terei muito o que pensar. Ha certas coisas que podem mudar pra sempre a vida da gente. Ou nao mudar nada. A maravilha de VIVER.
O proximo post sera novamente a partir da Argentina.
beijos a todos
Martha Argel
(musu, Trauco)
Volto hoje a Bariloche.
Ontem: fui apresentada a paila, um prato de frutos do mar, um monte de tipos diferentes de moluscos. Gostoso e forte. Achei que mais tarde teria de chamar o Hugo, porque foi uma panelada de coisas estranhas, mas pelo visto meu organismo aceitou muito bem.
Fiquei o dia inteiro caminhando pela beira mar, observando e pensando.
Um exemplo maravilhoso do jogo de cintura latino-americano: num embarcadouro onde a populacao toma o barco para cruzar a ilha fronteira a cidade, um senhor anunciava um passeio para ir ver de perto o imenso transatlantico ancorado na baia. Os gringos ricos pagam uma nota preta para vir conhecer os pobres cucarachas, e os cucarachas pagam moedas pra ir espiar os ricos. Quase fui.
Conversei muito, tambem. Conheci David, um chilota que me contou um monte de historias de assombracoes que ele mesmo viu na ilha. E me falou muito sobre os Argel de Chiloe. Sao reputados marinheiros. Estou fascinada pela ilha e por meus parentes distantes!
No todo, o dia de ontem foi toda uma viagem em si. Uma viagem emocional, sobre a qual provavelmente ainda terei muito o que pensar. Ha certas coisas que podem mudar pra sempre a vida da gente. Ou nao mudar nada. A maravilha de VIVER.
O proximo post sera novamente a partir da Argentina.
beijos a todos
Martha Argel
(musu, Trauco)
sábado, 17 de janeiro de 2004
Eu de novo.
Ha pouco: de frente para a imensa baia, que em algum lugar se abre para o ainda mais imenso oceano Pacifico. Comendo cerejas maduras, doces e vermelhas, compradas na rua a uma vendedora ambulante. O vento sul, incessante, gelando pes e maos desta paulistana audaz (ou ingenua?) a ponto de chegar as terras mais austrais do mundo (quase) sem lenco nem documento. Nas aguas cinzentas e tranquilas que justificam o nome do oceano, sob um ceu totalmente encoberto, a delicia e o pesadelo de uma ornitologa que, num lugar novo e desconhecido, esqueceu de trazer seus manuais e guias de campo: especies incognitas de gaivotas, trinta-reis e mergulhoes. E pelicanos! E lobos-marinhos.
E que dizer quando todas suas musicas preferidas fazem todo o sentido do mundo? Quando a trilha sonora de sempre por primeira vez e perfeita e exata em sua medida, momento e lugar?
Isso e a felicidade?
Felicidade e vir ao fim do mundo e, simbolicamente,ter a sua frente um transatlantico (ou seria transpacifico?!) chamado The World, enquanto entende ao menos por um instante o que significa VIDA.
Chora-se de felicidade. Eu choro de felicidade. Que ela seja eterna enquanto dure.
Martha Argel
Ha pouco: de frente para a imensa baia, que em algum lugar se abre para o ainda mais imenso oceano Pacifico. Comendo cerejas maduras, doces e vermelhas, compradas na rua a uma vendedora ambulante. O vento sul, incessante, gelando pes e maos desta paulistana audaz (ou ingenua?) a ponto de chegar as terras mais austrais do mundo (quase) sem lenco nem documento. Nas aguas cinzentas e tranquilas que justificam o nome do oceano, sob um ceu totalmente encoberto, a delicia e o pesadelo de uma ornitologa que, num lugar novo e desconhecido, esqueceu de trazer seus manuais e guias de campo: especies incognitas de gaivotas, trinta-reis e mergulhoes. E pelicanos! E lobos-marinhos.
E que dizer quando todas suas musicas preferidas fazem todo o sentido do mundo? Quando a trilha sonora de sempre por primeira vez e perfeita e exata em sua medida, momento e lugar?
Isso e a felicidade?
Felicidade e vir ao fim do mundo e, simbolicamente,ter a sua frente um transatlantico (ou seria transpacifico?!) chamado The World, enquanto entende ao menos por um instante o que significa VIDA.
Chora-se de felicidade. Eu choro de felicidade. Que ela seja eterna enquanto dure.
Martha Argel
Bom dia a todos.
O tempo virou, faz frio aqui. Deixei meu casaco mais quente em Bariloche. No fim do mundo sem agasalho? Bem...
Anteontem: depois de sair do cyber, fui dar uma volta por Puerto Montt. Acabei caindo no Pueblito, uma comunidade de artesaos, e la conheci a Carmen, que tem uma barraquinha, tres filhos e uma simpatia imensa. Estivemos conversando um tempao, e ela me indicou um restaurante bacana, La Mami. Recomendo, gente. La comi um prato carissimo, um molusco chamado loco, que e ESPETACULAR. Valeu cada dolar. E depois dos locos, fui a beira mar e fiquei um tempao, com minha "musica de viagem", olhando o Pacifico, as aves marinhas e pensando na vida. Outro tipo de viagem. Pela primeira vez desde que sai do Brasil fui dormir cedo e funcionei em meu proprio ritmo de eremita voluntaria.
Ontem: oito da manha e eu ja chegava na rodoviaria. Excursao: Ilha de Chiloe. Ficaria horas aqui falando sobre esse lugar magico e especial, num dia magico e especial, mas como disse anteontem, a internet aqui e beeeem cara. So os pontos essenciais: Chiloe e conhecida por sua mitologia farta e fantastica, a comida chilota e tida como muito particular, as paisagens sao lindas, com campos verdes entremeados a florestas (e que me lembrou muito a Galicia, na Espanha), e casas de madeira muito particulares. E, para mim, um detalhe muito especial: aparentemente a familia Argel e bem numerosa aqui, talvez descendente de um irmao de meu bisavo. E como se fosse minha terra tambem. Tive a extrema felicidade de estar em companhia especial, una brasileira entre chilenos. Marcelo, Carmen, Viviana e, sobretudo, Ismael, meu anjo da guarda, guia, amigo e trauco pessoal (brincadeirinha chilota, hehehe). Tambem protetor do JC, que sofreu uma queda horrivel mas foi salvo pela interferencia oportuna do referido rapaz. Chegamos de volta a Puerto Montt as dez e meia da noite, quando recem escurecia. Antes da volta ao hotel, uma caminhada pela beira mar, um frio do demo, e um vento que parecia vir direto do polo sul.
Putz, preciso terminar por aqui. Tenho que resolver como vai ser meu dia, que sera algo complicado.
Carpe diem!!!! Nunca essa frase teve tanto sentido para mim como nestes dias de eventos subitos e inesperados. Sejam felizes e vivam cada minuto.
Martha Argel
diretamente do outro lado dos Andes
O tempo virou, faz frio aqui. Deixei meu casaco mais quente em Bariloche. No fim do mundo sem agasalho? Bem...
Anteontem: depois de sair do cyber, fui dar uma volta por Puerto Montt. Acabei caindo no Pueblito, uma comunidade de artesaos, e la conheci a Carmen, que tem uma barraquinha, tres filhos e uma simpatia imensa. Estivemos conversando um tempao, e ela me indicou um restaurante bacana, La Mami. Recomendo, gente. La comi um prato carissimo, um molusco chamado loco, que e ESPETACULAR. Valeu cada dolar. E depois dos locos, fui a beira mar e fiquei um tempao, com minha "musica de viagem", olhando o Pacifico, as aves marinhas e pensando na vida. Outro tipo de viagem. Pela primeira vez desde que sai do Brasil fui dormir cedo e funcionei em meu proprio ritmo de eremita voluntaria.
Ontem: oito da manha e eu ja chegava na rodoviaria. Excursao: Ilha de Chiloe. Ficaria horas aqui falando sobre esse lugar magico e especial, num dia magico e especial, mas como disse anteontem, a internet aqui e beeeem cara. So os pontos essenciais: Chiloe e conhecida por sua mitologia farta e fantastica, a comida chilota e tida como muito particular, as paisagens sao lindas, com campos verdes entremeados a florestas (e que me lembrou muito a Galicia, na Espanha), e casas de madeira muito particulares. E, para mim, um detalhe muito especial: aparentemente a familia Argel e bem numerosa aqui, talvez descendente de um irmao de meu bisavo. E como se fosse minha terra tambem. Tive a extrema felicidade de estar em companhia especial, una brasileira entre chilenos. Marcelo, Carmen, Viviana e, sobretudo, Ismael, meu anjo da guarda, guia, amigo e trauco pessoal (brincadeirinha chilota, hehehe). Tambem protetor do JC, que sofreu uma queda horrivel mas foi salvo pela interferencia oportuna do referido rapaz. Chegamos de volta a Puerto Montt as dez e meia da noite, quando recem escurecia. Antes da volta ao hotel, uma caminhada pela beira mar, um frio do demo, e um vento que parecia vir direto do polo sul.
Putz, preciso terminar por aqui. Tenho que resolver como vai ser meu dia, que sera algo complicado.
Carpe diem!!!! Nunca essa frase teve tanto sentido para mim como nestes dias de eventos subitos e inesperados. Sejam felizes e vivam cada minuto.
Martha Argel
diretamente do outro lado dos Andes
quinta-feira, 15 de janeiro de 2004
CHEGUEI!!!
Estou no Chile! VI O PACIFICO.
Ismael, si llegas a entrar a este blog, esto es para ti: GRACIAS POR TODOOOO!!! Mañana nos vemos!!!
Ok, um resumo rapido que a internet aqui é ca-ris-si-ma: peguei o onibus hoje de manha e cruzei os Andes. Correndo o risco de me repetir, paisagens belíssimas. Sentado a meu lado ia o Ismael, que além de patrioticamente me ajudar a devorar os sanduiches e bolachinhas que eu tinha trazido (e que nao poderiam cruzar a fronteira com o Chile), continuou me ajudando praticamente com tudo - hotel, câmbio, informacoes turisticas, city tour relampago - quando cheguei aqui.
Assim, estou instalada no Hostal Patagonia, que nao merece nenhuma estrela mas está no centro, tem banheiro e café da manha, e aparentemente tem um atendimento muito simpàtico.
A cidade é interessante, a maioria das construcoes é de madeira. Cruzar a rua é adrenalina pura: vc vai indo e os carros... simplesmente param!!!! E eu sempre achando que eles vao passar por cima de mim e acabar com este blog...
Ainda nao deu pra conhecer muito, mas o que já vi me lembra um pouco Ushuaia. Mas tem sua personalidade propria. Vou ver se tiro algumas fotos.
Amanha a programacao inclui uma excursao à ilha de Chiloé. E o Ismael resolveu me acompanhar! Buenisimo!!!
E aquele outro mundo, o virtual, que se mantem paralelo e simultaneo ao real, continua ativo. Noticias do Brasil e agora também da Argentina me alcançam onde quer que eu vá. Será verdade mesmo que estou no sul do Chile? Ou estarei sonhando em frente a meu computador?
beijos austrais a todos!!!
Martha Argel,
uma vampira em Puerto Montt
Estou no Chile! VI O PACIFICO.
Ismael, si llegas a entrar a este blog, esto es para ti: GRACIAS POR TODOOOO!!! Mañana nos vemos!!!
Ok, um resumo rapido que a internet aqui é ca-ris-si-ma: peguei o onibus hoje de manha e cruzei os Andes. Correndo o risco de me repetir, paisagens belíssimas. Sentado a meu lado ia o Ismael, que além de patrioticamente me ajudar a devorar os sanduiches e bolachinhas que eu tinha trazido (e que nao poderiam cruzar a fronteira com o Chile), continuou me ajudando praticamente com tudo - hotel, câmbio, informacoes turisticas, city tour relampago - quando cheguei aqui.
Assim, estou instalada no Hostal Patagonia, que nao merece nenhuma estrela mas está no centro, tem banheiro e café da manha, e aparentemente tem um atendimento muito simpàtico.
A cidade é interessante, a maioria das construcoes é de madeira. Cruzar a rua é adrenalina pura: vc vai indo e os carros... simplesmente param!!!! E eu sempre achando que eles vao passar por cima de mim e acabar com este blog...
Ainda nao deu pra conhecer muito, mas o que já vi me lembra um pouco Ushuaia. Mas tem sua personalidade propria. Vou ver se tiro algumas fotos.
Amanha a programacao inclui uma excursao à ilha de Chiloé. E o Ismael resolveu me acompanhar! Buenisimo!!!
E aquele outro mundo, o virtual, que se mantem paralelo e simultaneo ao real, continua ativo. Noticias do Brasil e agora também da Argentina me alcançam onde quer que eu vá. Será verdade mesmo que estou no sul do Chile? Ou estarei sonhando em frente a meu computador?
beijos austrais a todos!!!
Martha Argel,
uma vampira em Puerto Montt
quarta-feira, 14 de janeiro de 2004
Boa tarde!
Ultimo dia em Bariloche, despedida em grande estilo, navegando nas águas azuis do lago Nahuel Huapi. O barco, o Modesta Victoria, embarcaçao histórica, na qual viajaram, segundo um tripulante, "de Fidel Castro a Bill Clinton". E, segundo uma amiga minha, também "Martha, Ana e Jorge". E, ainda segundo ela, "é o que vao dizer às proximas personalidades que vierem a bordo".
Visitamos o Bosque de los Arrayanes, situado em uma ilha no meio do lago. O arrayán é uma árvore cuja casca tem um lindo tom de canela, e o bosque, nos locais onde bate o sol, parece em brasa. Nao dá pra descrever o cenario. Diz a lenda que Walt Disney esteve nesse bosque e se inspirou para o desenho do Bambi. E dizem que a lenda é só lenda. Sei lá, prefiro minha versao: na ilha mora o fantasma do Disney, que rapta as criancinhas que visitam a ilha, mata-as, estripa-as e manda-as para a Terra do Nunca Mais.
(credo, estou tendo dificuldade para escrever em português!)
Do bosque, fomos para a Isla Victoria, onde passamos praticamente todo o dia. Fomos à praia, e desta vez consegui entrar até o joelho! A ilha tem, pra variar (e jà está ficando até repetitivo) paisagens deslumbrantes.
Voltei agora há pouco, direto para o cyber. Hoje parece que o dia termina cedo.
Mas estou nervosa. Amanha, sete e meia da manha, parto para o Chile. Nao tinha planejado cruzar os Andes (inicialmente nao pensava sequer vir a Bariloche!), mas a ideia surgiu e germinou e ganhou força, e portanto, Puerto Montt, aqui vou eu! E, repetindo, estou nervosa com a ideia de ir de improviso para outro paìs. Tudo bem, já fiz isso outras vezes, mas sempre acompanhada. Sei lá. Vamos ver que bicho dá.
E por mais intensa que seja a viagem, a vida normal nao para. É estranho receber aqui, em plenos Andes Patagönicos, mensagens que dizem respeito ao dia-a-dia, aos assuntos pendentes e os lugares-comuns de sempre. Ontem foi especial, recebi algumas mensagens que me deixaram num estado de espirito um tanto estranho. É como se eu fosse duas pessoas, uma aqui, viajando e aproveitando o momento, a outra em Sampa, em frente a meu computador, trabalhando e escrevendo como sempre, sonhando com as viagens. Espero, durante a viagem amanha, ter um pouco de sossego para pensar um pouco e curtir tudo o que está acontecendo com essas duas pessoas.
Se tudo der certo, amanha escrevo-lhes de outro país, às margens do Pacífico.
beijos, queijos e felicidades
Martha Argel,
à beira de outra aventura
Ultimo dia em Bariloche, despedida em grande estilo, navegando nas águas azuis do lago Nahuel Huapi. O barco, o Modesta Victoria, embarcaçao histórica, na qual viajaram, segundo um tripulante, "de Fidel Castro a Bill Clinton". E, segundo uma amiga minha, também "Martha, Ana e Jorge". E, ainda segundo ela, "é o que vao dizer às proximas personalidades que vierem a bordo".
Visitamos o Bosque de los Arrayanes, situado em uma ilha no meio do lago. O arrayán é uma árvore cuja casca tem um lindo tom de canela, e o bosque, nos locais onde bate o sol, parece em brasa. Nao dá pra descrever o cenario. Diz a lenda que Walt Disney esteve nesse bosque e se inspirou para o desenho do Bambi. E dizem que a lenda é só lenda. Sei lá, prefiro minha versao: na ilha mora o fantasma do Disney, que rapta as criancinhas que visitam a ilha, mata-as, estripa-as e manda-as para a Terra do Nunca Mais.
(credo, estou tendo dificuldade para escrever em português!)
Do bosque, fomos para a Isla Victoria, onde passamos praticamente todo o dia. Fomos à praia, e desta vez consegui entrar até o joelho! A ilha tem, pra variar (e jà está ficando até repetitivo) paisagens deslumbrantes.
Voltei agora há pouco, direto para o cyber. Hoje parece que o dia termina cedo.
Mas estou nervosa. Amanha, sete e meia da manha, parto para o Chile. Nao tinha planejado cruzar os Andes (inicialmente nao pensava sequer vir a Bariloche!), mas a ideia surgiu e germinou e ganhou força, e portanto, Puerto Montt, aqui vou eu! E, repetindo, estou nervosa com a ideia de ir de improviso para outro paìs. Tudo bem, já fiz isso outras vezes, mas sempre acompanhada. Sei lá. Vamos ver que bicho dá.
E por mais intensa que seja a viagem, a vida normal nao para. É estranho receber aqui, em plenos Andes Patagönicos, mensagens que dizem respeito ao dia-a-dia, aos assuntos pendentes e os lugares-comuns de sempre. Ontem foi especial, recebi algumas mensagens que me deixaram num estado de espirito um tanto estranho. É como se eu fosse duas pessoas, uma aqui, viajando e aproveitando o momento, a outra em Sampa, em frente a meu computador, trabalhando e escrevendo como sempre, sonhando com as viagens. Espero, durante a viagem amanha, ter um pouco de sossego para pensar um pouco e curtir tudo o que está acontecendo com essas duas pessoas.
Se tudo der certo, amanha escrevo-lhes de outro país, às margens do Pacífico.
beijos, queijos e felicidades
Martha Argel,
à beira de outra aventura
terça-feira, 13 de janeiro de 2004
Doideira!!!
Estou na ativa desde as sete e meia da manha, o tempo nao alcanca para fazer tudo o que ha para fazer aqui.
Ontem: meio de bobeira, sai para caminhar. O plano era subir uma montanha, por um caminho que comeca a 200 m da casa de meus amigos. Uma simples caminhada de umas tres horas. Sai as 9 da manha. Voltei so as quatro e meia da tarde, depois de um passeio ESPETACULAR!! O tempo todo com vista para o lago Nahuel Huapi, aguas azuis com as montanhas nevadas ao fundo. O caminho seguia entre bosques cheios de passarinhos que cantavam. Depois de umas duas horas de caminhada, cheguei ao paraiso na terra, um refugio andino, uma cabana de troncos construida na decada de 40, e ai fiquei mais de uma hora, tomando cafe com leite e misto quente, olhando a paisagem de sonho, brincando com Lenga uma simpatica sao-bernardo. Nao queria mais sair dali, mas continuei caminho ate o topo, onde ha... uma confeitaria giratoria! Vista de 360 graus, todo e cada um espetacular. Lagos azuis, florestas e montanhas nevadas por todo lado. Na volta, parei no refugio de novo e me larguei por la, dormi, lanchei, li um pouco - um livro da Buffy, vampiros, claro! - e fiquei brincando com a ideia de passar uns dias naquele lugar que mais parecia um cenaio de filme. Alias, isso e o que mais passa pela minha cabeca, parece impossivel que eu esteja VIVENDO tanta beleza. O que tinha demorado mais de duas horas pra subir, fiz em 45 minutos na descida - peguei um atalho, tao inclinado que em muitos trechos desci de bunda! Vcs nao sabem como a terra solta com pedras no meio e traicoeira!!!
Hoje: visita a El Bolson, um dos grandes redutos hippies da face da Terra. Fui com quatro amigas, e rimos do comeco ao fim. De El Bolson fomos ao Lago Puelo, que, se me permitem repetir-me a exaustao, e maravilhoso. Um lago azul e gelado, com as montanhas nevadas ao fundo, e um sol de rachar mamona. Meu ombro parece um pimentao!
Na volta, vimos a paisagem que na ida ficaraas nossas costas. Visto de cima, um vale de tirar o folego, amplo, em forma de U, bosque embaixo e nas encostas, a marca dos deslizamentos provocados pelos degelos. Picos escarpados e nus, acima da linha das arvores, e muitos deles ainda nevados. Juro que ate dava pra ver o Aragorn, o Legolas e os hobbits percorrendo aquela paisagem imensa, em sua missao de destruir o anel.
E tudo isso com um sol maravilhoso, que permanece no ceu mais de quinze horas por dia.
Amanha vou navegar. E depois, a aventura rumo ao oeste continua. Saio daqui para um destino que logo logo conto qual e - quando chegar la!
beijos. Acreditem: o mundo e um lugar maravilhoso, basta a gente se lancar a ele.
Martha Argel
Estou na ativa desde as sete e meia da manha, o tempo nao alcanca para fazer tudo o que ha para fazer aqui.
Ontem: meio de bobeira, sai para caminhar. O plano era subir uma montanha, por um caminho que comeca a 200 m da casa de meus amigos. Uma simples caminhada de umas tres horas. Sai as 9 da manha. Voltei so as quatro e meia da tarde, depois de um passeio ESPETACULAR!! O tempo todo com vista para o lago Nahuel Huapi, aguas azuis com as montanhas nevadas ao fundo. O caminho seguia entre bosques cheios de passarinhos que cantavam. Depois de umas duas horas de caminhada, cheguei ao paraiso na terra, um refugio andino, uma cabana de troncos construida na decada de 40, e ai fiquei mais de uma hora, tomando cafe com leite e misto quente, olhando a paisagem de sonho, brincando com Lenga uma simpatica sao-bernardo. Nao queria mais sair dali, mas continuei caminho ate o topo, onde ha... uma confeitaria giratoria! Vista de 360 graus, todo e cada um espetacular. Lagos azuis, florestas e montanhas nevadas por todo lado. Na volta, parei no refugio de novo e me larguei por la, dormi, lanchei, li um pouco - um livro da Buffy, vampiros, claro! - e fiquei brincando com a ideia de passar uns dias naquele lugar que mais parecia um cenaio de filme. Alias, isso e o que mais passa pela minha cabeca, parece impossivel que eu esteja VIVENDO tanta beleza. O que tinha demorado mais de duas horas pra subir, fiz em 45 minutos na descida - peguei um atalho, tao inclinado que em muitos trechos desci de bunda! Vcs nao sabem como a terra solta com pedras no meio e traicoeira!!!
Hoje: visita a El Bolson, um dos grandes redutos hippies da face da Terra. Fui com quatro amigas, e rimos do comeco ao fim. De El Bolson fomos ao Lago Puelo, que, se me permitem repetir-me a exaustao, e maravilhoso. Um lago azul e gelado, com as montanhas nevadas ao fundo, e um sol de rachar mamona. Meu ombro parece um pimentao!
Na volta, vimos a paisagem que na ida ficaraas nossas costas. Visto de cima, um vale de tirar o folego, amplo, em forma de U, bosque embaixo e nas encostas, a marca dos deslizamentos provocados pelos degelos. Picos escarpados e nus, acima da linha das arvores, e muitos deles ainda nevados. Juro que ate dava pra ver o Aragorn, o Legolas e os hobbits percorrendo aquela paisagem imensa, em sua missao de destruir o anel.
E tudo isso com um sol maravilhoso, que permanece no ceu mais de quinze horas por dia.
Amanha vou navegar. E depois, a aventura rumo ao oeste continua. Saio daqui para um destino que logo logo conto qual e - quando chegar la!
beijos. Acreditem: o mundo e um lugar maravilhoso, basta a gente se lancar a ele.
Martha Argel
domingo, 11 de janeiro de 2004
Boa tarde.
O relógio marca 21 horas aquí, aí no Brasil sao dez da noite, mas lá fora o sol acaba de desaparecer, e o dia ainda está claro. Aquí na Patagonia, os vampiros estariam ferrados.
Pois é, finalmente. Depois de uma viagem de quase 20 horas, cheguei. Estou em San Carlos de Bariloche.
[putz, este teclado é uma doideira, nao consigo encontrar NADA aquí, as teclas nao correspondem ao que de fato aparece na tela, e tem uma autocorreçao que fica corrigindo tudo e mudando do portugues pro castelhano!]
A viagem foi longa, mas muito legal. Havia um único lugar vazio no onibus, e era justamente o que estava a meu lado. Vim esparramada nos dois assentos. Fiz amizade com uma socióloga e um professor. Assisti O Senhor dos Anéis II.
Vi o amanhecer já em plena estepe patagonica, uma vasta extensao de terreno ondulado revestido por arbustos baixos e que muitas vezes termina em mesetas de topo plano e encostas multicores erodidas pelo vento e pela chuva. Ao longo da estrada, uma verdadeira floresta de torres de alta tensao. De repente, algo surreal: um cartaz com um enorme dinossauro, anunciando a... Posada de los Dinosaurios!!!! Dá para acreditar nisso?!
Durante as ùltimas horas, a estrada correu ao longo da margem esquerda do rio Limay. Junto com varios outros passageiros, comecei a procurar nos céus os condores, que sao relativamente comuns por aquí. Da primeira vez que vim para esta regiao aprendi uns truques par encontrar seus pousos no penhascos e encostas das montanhas, e nao deu outra: foi só localizar um pouso e daí a pouco localizei também o condor, em voo ao redor de uma torre de pedra. Uma beleza. Cada vez que ele se virava, o sol brilhava na grande mancha branca que ele tem nas costas e asas.
De repente, aparece no horizonte a Cordilheira dos Andes, com seus picos ainda recobertos de neve. E a montanha mais espetacular é o vulcao Lanín, um cone perfeito e branco erguendo-se solitario e majestoso num horizonte que parece próximo mas que está a dezenas de quilometros.
Até que, finalmente, depois de uma curva da estrada, aparecem as aguas azuis do lago Nahuel Huapi, com a cidade se estendendo na margem esquerda e toda a cordilheira nevada ao fundo.
Neste momento estou na casa de meus amigos Silvia e Carlos. Estou com o sono atrasado de varios dias mas nao consigo dormir. Lá fora a noite finalmente está caindo num cenário de sonho, um bairro residencial de chalés e bangalos de madeira cercados de gramados, flores e uma arborizacao densa, onde o aparecimento de duendes ou gnomos nao pareceria nem um pouco impossível.
É isso aí. Nao consigo nem acreditar.
Beijos a todos.
Martha Argel
O relógio marca 21 horas aquí, aí no Brasil sao dez da noite, mas lá fora o sol acaba de desaparecer, e o dia ainda está claro. Aquí na Patagonia, os vampiros estariam ferrados.
Pois é, finalmente. Depois de uma viagem de quase 20 horas, cheguei. Estou em San Carlos de Bariloche.
[putz, este teclado é uma doideira, nao consigo encontrar NADA aquí, as teclas nao correspondem ao que de fato aparece na tela, e tem uma autocorreçao que fica corrigindo tudo e mudando do portugues pro castelhano!]
A viagem foi longa, mas muito legal. Havia um único lugar vazio no onibus, e era justamente o que estava a meu lado. Vim esparramada nos dois assentos. Fiz amizade com uma socióloga e um professor. Assisti O Senhor dos Anéis II.
Vi o amanhecer já em plena estepe patagonica, uma vasta extensao de terreno ondulado revestido por arbustos baixos e que muitas vezes termina em mesetas de topo plano e encostas multicores erodidas pelo vento e pela chuva. Ao longo da estrada, uma verdadeira floresta de torres de alta tensao. De repente, algo surreal: um cartaz com um enorme dinossauro, anunciando a... Posada de los Dinosaurios!!!! Dá para acreditar nisso?!
Durante as ùltimas horas, a estrada correu ao longo da margem esquerda do rio Limay. Junto com varios outros passageiros, comecei a procurar nos céus os condores, que sao relativamente comuns por aquí. Da primeira vez que vim para esta regiao aprendi uns truques par encontrar seus pousos no penhascos e encostas das montanhas, e nao deu outra: foi só localizar um pouso e daí a pouco localizei também o condor, em voo ao redor de uma torre de pedra. Uma beleza. Cada vez que ele se virava, o sol brilhava na grande mancha branca que ele tem nas costas e asas.
De repente, aparece no horizonte a Cordilheira dos Andes, com seus picos ainda recobertos de neve. E a montanha mais espetacular é o vulcao Lanín, um cone perfeito e branco erguendo-se solitario e majestoso num horizonte que parece próximo mas que está a dezenas de quilometros.
Até que, finalmente, depois de uma curva da estrada, aparecem as aguas azuis do lago Nahuel Huapi, com a cidade se estendendo na margem esquerda e toda a cordilheira nevada ao fundo.
Neste momento estou na casa de meus amigos Silvia e Carlos. Estou com o sono atrasado de varios dias mas nao consigo dormir. Lá fora a noite finalmente está caindo num cenário de sonho, um bairro residencial de chalés e bangalos de madeira cercados de gramados, flores e uma arborizacao densa, onde o aparecimento de duendes ou gnomos nao pareceria nem um pouco impossível.
É isso aí. Nao consigo nem acreditar.
Beijos a todos.
Martha Argel
sábado, 10 de janeiro de 2004
Olá, todos!
Já começo a sentir saudades do Brasil. Inevitável, sempre acontece.
Estou agora em Bolivar, uma cidade da qual nunca tinha ouvido falar e que nao sei onde fica. Vim trazida por minha prima, pra dar uma mao a ela em seu concurso para ir ao Brasil. Depois ela vai me colocar dentro de um onibus e viajo até a cidade de Azul, onde finalmente embarco rumo à Patagônia. Ou seriam os Andes? Talvez o mais correto seja dizer Andes Patagônicos. Se tudo correr bem, amanha já estarei escrevendo a partir de lá. Dizem que está fazendo frio no Sul. Depois dos trinta graus que tenho enfrentado todos os dias, vai ser uma mudança interessante.
Ontem, depois que saí do cyber, foi engraçado: por toda parte me diziam que tinham me visto na televisao. Celebridade instantânea. E o mais divertido: o repórter de um jornal pediu outra entrevista. Me senti a verdadeira escritora: marquei com ele no final da tarde no café Paris, onde sempre que podia costumava ir para escrever um pouco. A entrevista vai sair na versao digital também. Se ficar boa, coloco aqui o endereço, se nao... ¡olvídense!
Hoje viemos cedinho pra cá. Estradas retas e planas, a paisagem da pampa interminável, que tanto me fascina e pela qual tenho tanto carinho, frio e chuva. Bolivar é uma cidade bonita, maior que Rauch e quase tao bonita. As mesmas casa antigas sem recuo, ruas largas orladas de plátanos, a praça central ampla, bem arborizada, bem cuidada.
Fui muito bem recebida no Rotary, as pessoas estavam encantadas com a presença de uma brasileira. Nao tinha preparado palestra alguma, mas falei durante quase duas horas, sobre pronúncia, sotaques, palavras proibidas (tipo saco, esquisito, o nome da letra Q...), costumes, etiqueta, clima, comida, a situaçao social e economica do Brasil, Mercosul e por aì afora. Ah, agora me dou conta: milagre, nao falei sobre vampiros!!!
É isso. Agora vou dar uma voltinha e conhecer um pouco da cidade.
Sejam felizes! Beijos a todos e até amanha (se possível)!
Martha Argel
Já começo a sentir saudades do Brasil. Inevitável, sempre acontece.
Estou agora em Bolivar, uma cidade da qual nunca tinha ouvido falar e que nao sei onde fica. Vim trazida por minha prima, pra dar uma mao a ela em seu concurso para ir ao Brasil. Depois ela vai me colocar dentro de um onibus e viajo até a cidade de Azul, onde finalmente embarco rumo à Patagônia. Ou seriam os Andes? Talvez o mais correto seja dizer Andes Patagônicos. Se tudo correr bem, amanha já estarei escrevendo a partir de lá. Dizem que está fazendo frio no Sul. Depois dos trinta graus que tenho enfrentado todos os dias, vai ser uma mudança interessante.
Ontem, depois que saí do cyber, foi engraçado: por toda parte me diziam que tinham me visto na televisao. Celebridade instantânea. E o mais divertido: o repórter de um jornal pediu outra entrevista. Me senti a verdadeira escritora: marquei com ele no final da tarde no café Paris, onde sempre que podia costumava ir para escrever um pouco. A entrevista vai sair na versao digital também. Se ficar boa, coloco aqui o endereço, se nao... ¡olvídense!
Hoje viemos cedinho pra cá. Estradas retas e planas, a paisagem da pampa interminável, que tanto me fascina e pela qual tenho tanto carinho, frio e chuva. Bolivar é uma cidade bonita, maior que Rauch e quase tao bonita. As mesmas casa antigas sem recuo, ruas largas orladas de plátanos, a praça central ampla, bem arborizada, bem cuidada.
Fui muito bem recebida no Rotary, as pessoas estavam encantadas com a presença de uma brasileira. Nao tinha preparado palestra alguma, mas falei durante quase duas horas, sobre pronúncia, sotaques, palavras proibidas (tipo saco, esquisito, o nome da letra Q...), costumes, etiqueta, clima, comida, a situaçao social e economica do Brasil, Mercosul e por aì afora. Ah, agora me dou conta: milagre, nao falei sobre vampiros!!!
É isso. Agora vou dar uma voltinha e conhecer um pouco da cidade.
Sejam felizes! Beijos a todos e até amanha (se possível)!
Martha Argel
sexta-feira, 9 de janeiro de 2004
Buenos dias.
Meu último dia aqui, e só hoje descobri o melhor cyber da cidade.
Ontem gravei uma entrevista para a televisao local. Nao avisei ninguem que ia passar, porque estava me cagando de medo de que ficasse uma merda total, afinal foi tudo em castelhano. Até consigo conviver com meus erros quando estou conversando, mas pela televisao! Nao ficou tao ruim assim. E já senti os efeitos: agora há pouco estava parada numa esquina, minha amiga Anita me ensinando o caminho pra cá, e uma velhinha que ia passando parou e ficou nos olhando. Achei que era amiga da Anita, mas a velhinha me olha e toda sorridente diz "Vi vocë pela televisao, voce é a escritora brasileira, que tem muitos livros, que está de ferias aqui. E amanha vai para Bariloche, cuidado para nao ser assaltada" e como minha amiga nao tinha visto a entrevista, recomendou que ela visse hoje ao meio-dia, que iam reprisar. Se recomendou é porque deve ter gostado. Tö virando celebridade, pena que já estou de partida.
E ontem finalmente achei que ia conseguir ir pra cama antes da meia noite. Só que fomos comer alguma coisa, e enquanto falava algo sobre literatura e técnicas de escrita, percebi que havia uma senhora, cara muito simpática, prestando uma atencao de coruja a tudo que diziamos. Me disse "estou fascinada com a conversa". Convidei-a a nossa mesa, ela aceitou, e ficamos atá a uma da manha batendo papo. Estou acabada. Há uma semana nao durmo antes das 12 da noite, e todos os dias saio para caminhar (por uma hora!) as seis e meia.
Bizarrice: o quintal de minha prima está infestado por lesmas grandes e gordas. Toda manha ela sai com um pacote de sal para combatë-las. E elas caem na piscina e viram uma coisa nojenta. Desenvolvi uma tecnica elaborada para tirá-las lá de dentro com a ajuda de um rodo.
Como nao podia deixar de ser, minha prima aprendeu muito bem algumas das coisas que lhe ensinei: bunda, filho da puta e puta que o pariu. E lhe ensinei uma frase em espanhol que soa muito bonita aos ouvidos brasileiros. "Lá vai um careca maluco, com o casaco na mao, correndo atrás da van". Em espanhol é: "Ahi va un pelado tarado, con el saco en la mano, corriendo detrás de la buseta".
Amanha provavelmente nao postarei. Estarei viajando para Bolivar, onde darei uma palestra sobre cultura brasileira para um pessoal do Rotary. Dali sigo rumo sul. Chegarei a meu destino no domingo pela manha. De lá mando noticias.
beijos mil, curtam o verao
Martha Argel,
uma vampira a ponto de viajar.
Meu último dia aqui, e só hoje descobri o melhor cyber da cidade.
Ontem gravei uma entrevista para a televisao local. Nao avisei ninguem que ia passar, porque estava me cagando de medo de que ficasse uma merda total, afinal foi tudo em castelhano. Até consigo conviver com meus erros quando estou conversando, mas pela televisao! Nao ficou tao ruim assim. E já senti os efeitos: agora há pouco estava parada numa esquina, minha amiga Anita me ensinando o caminho pra cá, e uma velhinha que ia passando parou e ficou nos olhando. Achei que era amiga da Anita, mas a velhinha me olha e toda sorridente diz "Vi vocë pela televisao, voce é a escritora brasileira, que tem muitos livros, que está de ferias aqui. E amanha vai para Bariloche, cuidado para nao ser assaltada" e como minha amiga nao tinha visto a entrevista, recomendou que ela visse hoje ao meio-dia, que iam reprisar. Se recomendou é porque deve ter gostado. Tö virando celebridade, pena que já estou de partida.
E ontem finalmente achei que ia conseguir ir pra cama antes da meia noite. Só que fomos comer alguma coisa, e enquanto falava algo sobre literatura e técnicas de escrita, percebi que havia uma senhora, cara muito simpática, prestando uma atencao de coruja a tudo que diziamos. Me disse "estou fascinada com a conversa". Convidei-a a nossa mesa, ela aceitou, e ficamos atá a uma da manha batendo papo. Estou acabada. Há uma semana nao durmo antes das 12 da noite, e todos os dias saio para caminhar (por uma hora!) as seis e meia.
Bizarrice: o quintal de minha prima está infestado por lesmas grandes e gordas. Toda manha ela sai com um pacote de sal para combatë-las. E elas caem na piscina e viram uma coisa nojenta. Desenvolvi uma tecnica elaborada para tirá-las lá de dentro com a ajuda de um rodo.
Como nao podia deixar de ser, minha prima aprendeu muito bem algumas das coisas que lhe ensinei: bunda, filho da puta e puta que o pariu. E lhe ensinei uma frase em espanhol que soa muito bonita aos ouvidos brasileiros. "Lá vai um careca maluco, com o casaco na mao, correndo atrás da van". Em espanhol é: "Ahi va un pelado tarado, con el saco en la mano, corriendo detrás de la buseta".
Amanha provavelmente nao postarei. Estarei viajando para Bolivar, onde darei uma palestra sobre cultura brasileira para um pessoal do Rotary. Dali sigo rumo sul. Chegarei a meu destino no domingo pela manha. De lá mando noticias.
beijos mil, curtam o verao
Martha Argel,
uma vampira a ponto de viajar.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2004
Affff, e eu que pensei que ia ter de enrolar neste diário enquanto estivesse aqui en Rauch que, afinal, é uma cidadezinha pacata onde nada acontece. Nada o quê!
Ontem de noite, uma galera me convidou para ir ao Castillo, o castelo, que é como conhecem aqui uma mansao imensa, com tres andares e 77 aposentos, no meio da pampa, abandonada há anos. Fpi construída em 1918, e dizem que a primeira família que morou aí abandonou o lugar de repente, deixando tudo para trás, depois que um dos membros morreu. Dècadas depois, a mansao foi transformada em reformatório, mas a instituicao foi fechada depois que um dos internos assassinou um dos professores.
Meus amigos ficaram de me pegar às oito da noite, apareceram às nove e meia e estivemos perdidos pelas estradas da regiao até quase as onze. Finalmente encontramos o caminho no meio do bosque que levava al castelo, que iluminado pela imensa lua cheia que brilhava num céu limpo e estrelado. Incrível.
Entramos com velas, lanternas e um lampiao que, frente ao protesto de algumas meninas, foi apagado pra dar mais clima. Corujas (suindaras, também conhecidas como rasga-mortalha) voavam por cima do castelo enchendo a noite de griots arrepiantes. Em muitas salas, a luz da lanterna perturbava colonias inteiras de morcegos que revovavam assustados. A casa está aos pedacos, já náo tem vidros, em alguns pontos o teto está caindo e o assoalho idem. Paredes pichadas por levas e levas de babacas, em alguns lugares parecendo uma versáo tosca do Kama Sutra. Nao me animei a subir as escadas, embora as janelas dos andares superiores prometessem uma paisagem maravilhosa. Tirei algumas fotos, mas nao sei se alguma vai sair, pois nao conheco bem a camera recám-comprada. Depois de explorar a mansao e uma parte do bosque que a circunda (e que aqui se chama monte), nos sentamos e ficamos um bom tempo mateando (tomando chimarrao) e falando bobagens. Contei a todos o que significava "abobrinha" em paulistanês, e entao batizamos aquela hora, meia-noite passada, de La hora del zapallo (a hora da abóbora). Era mais de duas da manha quando finalmente voltei pra casa. Estávamos todos maravilhados com a aventura.
Alguns detalhes pitorescos desta cidadezinha perdida no meio da pampa: a quantidade de sapos atropelados pelas ruas. Como a cidade é muito plana, todos usam bicicletas, amigas pedalam lado a lado, de maos dadas, e namorados conseguem pedalar abracados, cada um na sua! Você tem de cumprimentar TODO MUNDO quando anda na rua; as formulas mais aceitas sao adiós, chau, hola que tal, buen dia, benas tardes, como le va. A siesta dura do meio dia às quatro da tarde, mas em compensacao as lojas ficam abertas até as dez da noite. Todos que me conhecem dizem, invariavelmente "Brasil, ¡ ay, que lindo! Me encanta."
É isso aí. Espero que por aì esteja fazendo o mesmo calor que aqui (para eu nao estar sofrendo sozinha!)
Beijos e queijos
Martha Argel
Ontem de noite, uma galera me convidou para ir ao Castillo, o castelo, que é como conhecem aqui uma mansao imensa, com tres andares e 77 aposentos, no meio da pampa, abandonada há anos. Fpi construída em 1918, e dizem que a primeira família que morou aí abandonou o lugar de repente, deixando tudo para trás, depois que um dos membros morreu. Dècadas depois, a mansao foi transformada em reformatório, mas a instituicao foi fechada depois que um dos internos assassinou um dos professores.
Meus amigos ficaram de me pegar às oito da noite, apareceram às nove e meia e estivemos perdidos pelas estradas da regiao até quase as onze. Finalmente encontramos o caminho no meio do bosque que levava al castelo, que iluminado pela imensa lua cheia que brilhava num céu limpo e estrelado. Incrível.
Entramos com velas, lanternas e um lampiao que, frente ao protesto de algumas meninas, foi apagado pra dar mais clima. Corujas (suindaras, também conhecidas como rasga-mortalha) voavam por cima do castelo enchendo a noite de griots arrepiantes. Em muitas salas, a luz da lanterna perturbava colonias inteiras de morcegos que revovavam assustados. A casa está aos pedacos, já náo tem vidros, em alguns pontos o teto está caindo e o assoalho idem. Paredes pichadas por levas e levas de babacas, em alguns lugares parecendo uma versáo tosca do Kama Sutra. Nao me animei a subir as escadas, embora as janelas dos andares superiores prometessem uma paisagem maravilhosa. Tirei algumas fotos, mas nao sei se alguma vai sair, pois nao conheco bem a camera recám-comprada. Depois de explorar a mansao e uma parte do bosque que a circunda (e que aqui se chama monte), nos sentamos e ficamos um bom tempo mateando (tomando chimarrao) e falando bobagens. Contei a todos o que significava "abobrinha" em paulistanês, e entao batizamos aquela hora, meia-noite passada, de La hora del zapallo (a hora da abóbora). Era mais de duas da manha quando finalmente voltei pra casa. Estávamos todos maravilhados com a aventura.
Alguns detalhes pitorescos desta cidadezinha perdida no meio da pampa: a quantidade de sapos atropelados pelas ruas. Como a cidade é muito plana, todos usam bicicletas, amigas pedalam lado a lado, de maos dadas, e namorados conseguem pedalar abracados, cada um na sua! Você tem de cumprimentar TODO MUNDO quando anda na rua; as formulas mais aceitas sao adiós, chau, hola que tal, buen dia, benas tardes, como le va. A siesta dura do meio dia às quatro da tarde, mas em compensacao as lojas ficam abertas até as dez da noite. Todos que me conhecem dizem, invariavelmente "Brasil, ¡ ay, que lindo! Me encanta."
É isso aí. Espero que por aì esteja fazendo o mesmo calor que aqui (para eu nao estar sofrendo sozinha!)
Beijos e queijos
Martha Argel
quarta-feira, 7 de janeiro de 2004
Buenos dias.
Ontem de noite. Lua cheia, fantasmagòrica através de um véu diáfano de umidade suspensa no céu, e mesmo assim iluminando tudo. Voltando pra casa depois de uma noitada com duas novas amigas, Anita e Eli. Ruas vazias. Calçadas amplas e gramadas, e de ambos os lados casas antigas, muito altas e sem recuo, geminadas. Por algum motivo, muitas das ruas estavam escuras, sem a iluminaçao viária. Chegando à esquina da igreja, as duas queriam continuar pela mesma rua, que tinha luz, mas eu as convenci a dobrar à direita, numa rua escura que margeava o jardim atrás da igreja. As árvores altas e esgalhadas formavam um túnel de vegetaçao que amortecia a luz da lua.
Íamos as três comentando que cenário mais perfeito para um vampiro, imaginando até onde ele apareceria, no alto das construçoes velhìssimas. Entao eu mostrei a elas um banco, sob as árvores da praça, bem nos fundos da igreja, e lhes contei que durante a tarde, havia conhecido ali um rapaz que estava tirando uma foto no mesmo angulo que eu tirara no dia anterior. Nesse exato momento, os sinos da igreja começam a tocar a meia noite! E entao a Anita olha o banco e dá um grito "Tem uma luzinha ali!". E nao é que tinha mesmo??? Alcancei a vê-la, um olho vermelho na escuridao, antes que desaparecesse. Começamos a rir, nervosas, e entao ela diz "e para completar, sabem que um tempo atrás um garoto se suicidou naquele banco?". Nos entreolhamos e continuamos andando. Cheguei em casa, me despedi delas e dormi como uma pedra.
Hoje o dia está feio e nublado. Saio daqui do cyber e vou para um cafè escrever um pouco. Tenho uma idèia, quem sabe sai um conto...
Ah, saiu uma entrevista comigo no site Alan Moore, senhor do caos. Façam uma visita. Tem umas fotos inèditas.
Beijos a todos
Martha Argel,
uma vampira em Rauch
Ontem de noite. Lua cheia, fantasmagòrica através de um véu diáfano de umidade suspensa no céu, e mesmo assim iluminando tudo. Voltando pra casa depois de uma noitada com duas novas amigas, Anita e Eli. Ruas vazias. Calçadas amplas e gramadas, e de ambos os lados casas antigas, muito altas e sem recuo, geminadas. Por algum motivo, muitas das ruas estavam escuras, sem a iluminaçao viária. Chegando à esquina da igreja, as duas queriam continuar pela mesma rua, que tinha luz, mas eu as convenci a dobrar à direita, numa rua escura que margeava o jardim atrás da igreja. As árvores altas e esgalhadas formavam um túnel de vegetaçao que amortecia a luz da lua.
Íamos as três comentando que cenário mais perfeito para um vampiro, imaginando até onde ele apareceria, no alto das construçoes velhìssimas. Entao eu mostrei a elas um banco, sob as árvores da praça, bem nos fundos da igreja, e lhes contei que durante a tarde, havia conhecido ali um rapaz que estava tirando uma foto no mesmo angulo que eu tirara no dia anterior. Nesse exato momento, os sinos da igreja começam a tocar a meia noite! E entao a Anita olha o banco e dá um grito "Tem uma luzinha ali!". E nao é que tinha mesmo??? Alcancei a vê-la, um olho vermelho na escuridao, antes que desaparecesse. Começamos a rir, nervosas, e entao ela diz "e para completar, sabem que um tempo atrás um garoto se suicidou naquele banco?". Nos entreolhamos e continuamos andando. Cheguei em casa, me despedi delas e dormi como uma pedra.
Hoje o dia está feio e nublado. Saio daqui do cyber e vou para um cafè escrever um pouco. Tenho uma idèia, quem sabe sai um conto...
Ah, saiu uma entrevista comigo no site Alan Moore, senhor do caos. Façam uma visita. Tem umas fotos inèditas.
Beijos a todos
Martha Argel,
uma vampira em Rauch
terça-feira, 6 de janeiro de 2004
¡Hola, amigos!
A pròxima etapa da viagem já està decidida. Havia um problema de passagens, e sò viajo no sábado. O destino é patagônico. Depois conto qual é.
A grande novidade é que estou gripada. Certeza absoluta de que foi a fulana no ônibus que tossiu de BsAs a Rauch, non-stop, quem me contaminou. Estou quebrada, me mantendo em movimento à base de paracetamol.
Agenda sempre lotada. Sendo a ùnica estrangeira da cidade, todos me conhecem e nao conheço ninguèm. Constrangedor. O que mais escuto é "COMO você nao se lembra de mim???". Estou me desincumbido com muita perseverança da agenda de visitas a parentes e amigos. É divertido, o unico problema é que todos me fazem tomar mate, que é o principal ritual de contato que há por aqui. Em vez de tomar um cafezinho, você compartilha a a bombilla (bomba) e o mate (cuia) com as pessoas com quem está socializando. Tem toda uma série de regras pra preparar a bebida, organizar a rodada, aceitar ou recusar o mate quando chega a sua vez. E qual o problema do mate? Para mim é terrivelmente diurético. Fora isso, beleza, seja doce seja amargo.
Ontem vi pela televisao uma serie argentina es-pe-ta-cu-lar, "Los Simuladores". Foi o ùltimo episòdio da segunda e ùltima temporada. Um grupo de quatro pessoas dedica-se a simular situacoes para resolver problemas das pessoas ou para sacanear alguém a pedido de algum interessado. Hilariante, pois as simulacoes sao extremamente complexas e carìssimas, com intuitos quase sempre muito banais. Ontem, numa das simulacoes, montaram um esquema carìssimo, com aluguel de um grande hotel, barcos, avioes, helicopteros e dezenas de pessoas, só pra fazer um yuppizinho, largar mao de ser besta e ir passar o natal com a família. De chorar de rir a seriedade como a encenacao foi feita, uma verdadeira operacao de espionagem, só pra enternecer o coracao do sujeito. Amei amei amei. Os atores fantásticos, uma inteligencia e um humor absolutamente perfeitos. Por que nao fazem coisas assim no Brasil?!
É isso aí. Continua o calor, a cidade continha parecendo um cenário de filme e estou atrasada para o almoço com uma amiga divertidíssima.
Beijos a todos, divirtam-se e faça a vida valer a pena.
Martha Argel,
em ritmo de férias (apesar da gripe)
A pròxima etapa da viagem já està decidida. Havia um problema de passagens, e sò viajo no sábado. O destino é patagônico. Depois conto qual é.
A grande novidade é que estou gripada. Certeza absoluta de que foi a fulana no ônibus que tossiu de BsAs a Rauch, non-stop, quem me contaminou. Estou quebrada, me mantendo em movimento à base de paracetamol.
Agenda sempre lotada. Sendo a ùnica estrangeira da cidade, todos me conhecem e nao conheço ninguèm. Constrangedor. O que mais escuto é "COMO você nao se lembra de mim???". Estou me desincumbido com muita perseverança da agenda de visitas a parentes e amigos. É divertido, o unico problema é que todos me fazem tomar mate, que é o principal ritual de contato que há por aqui. Em vez de tomar um cafezinho, você compartilha a a bombilla (bomba) e o mate (cuia) com as pessoas com quem está socializando. Tem toda uma série de regras pra preparar a bebida, organizar a rodada, aceitar ou recusar o mate quando chega a sua vez. E qual o problema do mate? Para mim é terrivelmente diurético. Fora isso, beleza, seja doce seja amargo.
Ontem vi pela televisao uma serie argentina es-pe-ta-cu-lar, "Los Simuladores". Foi o ùltimo episòdio da segunda e ùltima temporada. Um grupo de quatro pessoas dedica-se a simular situacoes para resolver problemas das pessoas ou para sacanear alguém a pedido de algum interessado. Hilariante, pois as simulacoes sao extremamente complexas e carìssimas, com intuitos quase sempre muito banais. Ontem, numa das simulacoes, montaram um esquema carìssimo, com aluguel de um grande hotel, barcos, avioes, helicopteros e dezenas de pessoas, só pra fazer um yuppizinho, largar mao de ser besta e ir passar o natal com a família. De chorar de rir a seriedade como a encenacao foi feita, uma verdadeira operacao de espionagem, só pra enternecer o coracao do sujeito. Amei amei amei. Os atores fantásticos, uma inteligencia e um humor absolutamente perfeitos. Por que nao fazem coisas assim no Brasil?!
É isso aí. Continua o calor, a cidade continha parecendo um cenário de filme e estou atrasada para o almoço com uma amiga divertidíssima.
Beijos a todos, divirtam-se e faça a vida valer a pena.
Martha Argel,
em ritmo de férias (apesar da gripe)
segunda-feira, 5 de janeiro de 2004
oi, todos!
Ainda em Rauch, ainda sol forte lá fora. Tô mais preta do que já estive nos ultimos dez anos. Irônico que uma criatura tropical tenha que baixar para zona temperada para se amoldar ao estereótipo, qual seja, o da brasileira morena.
Ontem, à beira da piscina, me transformei em embaixadora da cultura brasileira. Fui sabatinada: mercosul, Lula e Kirschner, conjuntura sócio-econômica. Temas amenos. A conferência de hoje já está marcada, mesmo lugar (desde que nao chova!!!), mesmos trajes (a náo ser que compre um maiô novo), mesma platèia (mas parece que vai ter mais gente). E vejam sò: me pediram pra levar meus livros porque há interessados em comprá-lo!! Eita, estou lançando minha carreira de escritora internacional.
E, de noite, fui ao festival da cidade. Me diverti muito: cantores, conjuntos, dança. O que me emocionou foi o grupo de cultura basca -- vocês sabem, meu Argel é basco-francês. Tenho um carinho imenso por essa parte de minha história familiar. Tirei foto com a bandeira euskera e tudo. Ah, e um dos integrantes do conjunto era um show à parte, um jovem loiro com quase dois metros de altura, de babar e que, ainda por cima, dançava de uma forma epetacular. Depois, meninas, mostro a foto...
Quase definido um novo roteiro de viagem. Preciso checar os horàrios. Aliás, enquanto estou aqui no cyber, chega un rapaz com uma notìcia que me arrepiou: agora de manha aconteceu um acidente com um ônibus de La Estrella, na Ruta 30. A estrada e a empresa de ônibus que tomei para chegar aqui. O motorista do ônibus morreu no choque. Um segredo: nunca viajo nos primeiros lugares do ônibus, sempre no meio. Just in case.
besos a todos, cariños y hasta mañana!
Martha Argel
Ainda em Rauch, ainda sol forte lá fora. Tô mais preta do que já estive nos ultimos dez anos. Irônico que uma criatura tropical tenha que baixar para zona temperada para se amoldar ao estereótipo, qual seja, o da brasileira morena.
Ontem, à beira da piscina, me transformei em embaixadora da cultura brasileira. Fui sabatinada: mercosul, Lula e Kirschner, conjuntura sócio-econômica. Temas amenos. A conferência de hoje já está marcada, mesmo lugar (desde que nao chova!!!), mesmos trajes (a náo ser que compre um maiô novo), mesma platèia (mas parece que vai ter mais gente). E vejam sò: me pediram pra levar meus livros porque há interessados em comprá-lo!! Eita, estou lançando minha carreira de escritora internacional.
E, de noite, fui ao festival da cidade. Me diverti muito: cantores, conjuntos, dança. O que me emocionou foi o grupo de cultura basca -- vocês sabem, meu Argel é basco-francês. Tenho um carinho imenso por essa parte de minha história familiar. Tirei foto com a bandeira euskera e tudo. Ah, e um dos integrantes do conjunto era um show à parte, um jovem loiro com quase dois metros de altura, de babar e que, ainda por cima, dançava de uma forma epetacular. Depois, meninas, mostro a foto...
Quase definido um novo roteiro de viagem. Preciso checar os horàrios. Aliás, enquanto estou aqui no cyber, chega un rapaz com uma notìcia que me arrepiou: agora de manha aconteceu um acidente com um ônibus de La Estrella, na Ruta 30. A estrada e a empresa de ônibus que tomei para chegar aqui. O motorista do ônibus morreu no choque. Um segredo: nunca viajo nos primeiros lugares do ônibus, sempre no meio. Just in case.
besos a todos, cariños y hasta mañana!
Martha Argel
domingo, 4 de janeiro de 2004
Hola todos!
Ontem: o calor infernal prometido para Buenos Aires nao se concretizou, mas mesmo assim estava quente e abafado. Voltei a Florida para mais vitrines e namoricos com tudo o que possam imaginar. Um ataque de consumismo mais do que violento. Que acabou da forma mais previsìvel: a aquisiçao de novos livros de vampiros. Já sao sete.
O almoço foi num shopping, um bife de chorizo (traduzindo: um puta filezao) de babar, com salada, e de sobremesa um alfajor Havana.
À tarde, tomei um onibus, daqueles double-deckers altos, superconfortáveis, rumo a Rauch, a cidade onde vive minha família. Atravessar a pampa ao pôr-do-sol, a paisagem totalmente plana, e ver as aves aquáticas às dúzias nos milhares de banhados, lagoas, brejos e sangas, tem gosto de infância. Quando era pequena, meus veroes eram passados nessa cidade tao linda e organizadas que parece um cenario de filme.
Cheguei às 10 da noite e nem bem deixei as malas na casa de minha prima, saímos de festa: cheguei justo para a feira de artesanato e folclore. A cidade toda estava lá, se divertindo, fazendo compras, vendo e sendo vista. É outro mundo, com suas regras e ritmos próprios, e mergulhei de cabeça nele. É como se nunca tivesse saído daqui. Fazia três anos que nao vinha Rauch. É como voltar pra casa.
Hoje: sol forte, calor sufocante. Saí para caminhar de manhazinha. Ruas largas, vazias, orladas de plátanos velhíssimos e casa antigas. Jardins floridos, fora da cidade, gramados ensolarados, recobertos por florzinhas amarelas.
Já náo sei exatamente como prosseguirá minha viagem. Surgiram algumas alternativas interessantes, vou tentar decidir hoje.
Para a tarde, a programacao é pegar uma piscina no clube local, e começar um curso intensivo de portugues & cultura brasileira para minha prima Mirta, que está concorrendo a uma vaga num curso de um mês em Brasìlia.
Parece que já faz um mês que saì do Brasil. Esquisito, isso. Nunca me acostumo com o ritmo diferente com que o tempo transcorre nas viagens.
Cariños a todos
Martha Argel
uma vampira na pampa ensolarada
Ontem: o calor infernal prometido para Buenos Aires nao se concretizou, mas mesmo assim estava quente e abafado. Voltei a Florida para mais vitrines e namoricos com tudo o que possam imaginar. Um ataque de consumismo mais do que violento. Que acabou da forma mais previsìvel: a aquisiçao de novos livros de vampiros. Já sao sete.
O almoço foi num shopping, um bife de chorizo (traduzindo: um puta filezao) de babar, com salada, e de sobremesa um alfajor Havana.
À tarde, tomei um onibus, daqueles double-deckers altos, superconfortáveis, rumo a Rauch, a cidade onde vive minha família. Atravessar a pampa ao pôr-do-sol, a paisagem totalmente plana, e ver as aves aquáticas às dúzias nos milhares de banhados, lagoas, brejos e sangas, tem gosto de infância. Quando era pequena, meus veroes eram passados nessa cidade tao linda e organizadas que parece um cenario de filme.
Cheguei às 10 da noite e nem bem deixei as malas na casa de minha prima, saímos de festa: cheguei justo para a feira de artesanato e folclore. A cidade toda estava lá, se divertindo, fazendo compras, vendo e sendo vista. É outro mundo, com suas regras e ritmos próprios, e mergulhei de cabeça nele. É como se nunca tivesse saído daqui. Fazia três anos que nao vinha Rauch. É como voltar pra casa.
Hoje: sol forte, calor sufocante. Saí para caminhar de manhazinha. Ruas largas, vazias, orladas de plátanos velhíssimos e casa antigas. Jardins floridos, fora da cidade, gramados ensolarados, recobertos por florzinhas amarelas.
Já náo sei exatamente como prosseguirá minha viagem. Surgiram algumas alternativas interessantes, vou tentar decidir hoje.
Para a tarde, a programacao é pegar uma piscina no clube local, e começar um curso intensivo de portugues & cultura brasileira para minha prima Mirta, que está concorrendo a uma vaga num curso de um mês em Brasìlia.
Parece que já faz um mês que saì do Brasil. Esquisito, isso. Nunca me acostumo com o ritmo diferente com que o tempo transcorre nas viagens.
Cariños a todos
Martha Argel
uma vampira na pampa ensolarada
sexta-feira, 2 de janeiro de 2004
¡Hola, todos!
Cà estou, mi Buenos Aires queriiiiido. Calor, muito mais do que em Sampa. O ventilador de teto parece que vai despecar sobre minha cabeça a qualquer minuto, mas è isso ou morrer assada.
A viagem foi assim: cheguei horas antes ao aeroporto, que a gente paulista vèio chama de Cumbica e o resto do mundo de Guarulhos. Enquanto esperava interminavelmente a hora do embarque, fiquei ouvindo o papo de dois caras, hispânicos de sotaque nào reconhecìvel. Um tinha passado o reveillon na Paulista, o outro em Copacabana. Ambos deslumbrados com a ordem e a segurança do Brasil. E eu sem entender nada. Aì ouvi a chamada para um vôo com destino ao Panamà. Os dois levantaram e foram. Entào saquei: eram mexicanos! Se tem uma cidade que consegue ser pior do que Sampa e Río em segurança, trânsito e caos urbano, è a Cidade do Mèxico. Eles devem ter achado o Brasil um paraìso!
No aviào, conheci a Francisca. Acreana, trabalhou com o Chico Mendes, e hà anos mora em Assis, na Itàlia. Acabei com um convite para ir visità-la.
Entre o free-shop e o embarque, descobri que a màquina fotografica tinha simplesmente morrido. Chegando a Buenos Aires, qual foi a primeira coisa que fiz? Claaaaro, gastei uma nota preta numa màquina. Jà comecei bem a viagem: nem 15 minutos em solo estrangeiro e estourei o orçamento.
Dica para quem vier à Argentina: NÂO troquem dinheiro na primeira casa de cämbio depois da aduana; eles pagam MUITO MENOS do que as outras. Troque no Banco de La Naciòn Argentina, como eu fiz, ou deixe para trocar na cidade. Aliàs, se eu tivesse trazido reais, e náo dòlares, teria me dado bem. Mas tudo bem, fiz um cämbio bom.
Peguei o bus pra cidade e consegui um lance legal, me deixaram bem na porta do prèdio do meu amigo Chendo. Cheguei, me instalei, pusemos algumas ornitofofocas em dia e aì saìmos para passear em Florida. Conhecem? A melhor rua de compras da America do Sul. Eu me prometi que náo ia comprar nenhum livro, e como resultado sò comprei seis (quatro deles de vampiros!).
À noite, saìmos pra jantar. Pasta y vino. Massa e vinho. Tô zonza e estufada. Voltamos caminhando por Florida. Onze da noite, turistas passeando e atè lojas abertas.
Antes que eu me esqueça: Buenos Aires è o segundo paìs do mundo em termos de homens bonitos. Sò perde para a Itàlia. Meninas, venham babaaaaar aquí!
Por enquanto è isso. Amanhá continuo minha jornada rumo sul, e embarco para uma cidadezinha a quatro horas de viagem, perdida no meio da pampa.
Besos a todos
Martha Argel,
uma vampira em Buenos Aires
Cà estou, mi Buenos Aires queriiiiido. Calor, muito mais do que em Sampa. O ventilador de teto parece que vai despecar sobre minha cabeça a qualquer minuto, mas è isso ou morrer assada.
A viagem foi assim: cheguei horas antes ao aeroporto, que a gente paulista vèio chama de Cumbica e o resto do mundo de Guarulhos. Enquanto esperava interminavelmente a hora do embarque, fiquei ouvindo o papo de dois caras, hispânicos de sotaque nào reconhecìvel. Um tinha passado o reveillon na Paulista, o outro em Copacabana. Ambos deslumbrados com a ordem e a segurança do Brasil. E eu sem entender nada. Aì ouvi a chamada para um vôo com destino ao Panamà. Os dois levantaram e foram. Entào saquei: eram mexicanos! Se tem uma cidade que consegue ser pior do que Sampa e Río em segurança, trânsito e caos urbano, è a Cidade do Mèxico. Eles devem ter achado o Brasil um paraìso!
No aviào, conheci a Francisca. Acreana, trabalhou com o Chico Mendes, e hà anos mora em Assis, na Itàlia. Acabei com um convite para ir visità-la.
Entre o free-shop e o embarque, descobri que a màquina fotografica tinha simplesmente morrido. Chegando a Buenos Aires, qual foi a primeira coisa que fiz? Claaaaro, gastei uma nota preta numa màquina. Jà comecei bem a viagem: nem 15 minutos em solo estrangeiro e estourei o orçamento.
Dica para quem vier à Argentina: NÂO troquem dinheiro na primeira casa de cämbio depois da aduana; eles pagam MUITO MENOS do que as outras. Troque no Banco de La Naciòn Argentina, como eu fiz, ou deixe para trocar na cidade. Aliàs, se eu tivesse trazido reais, e náo dòlares, teria me dado bem. Mas tudo bem, fiz um cämbio bom.
Peguei o bus pra cidade e consegui um lance legal, me deixaram bem na porta do prèdio do meu amigo Chendo. Cheguei, me instalei, pusemos algumas ornitofofocas em dia e aì saìmos para passear em Florida. Conhecem? A melhor rua de compras da America do Sul. Eu me prometi que náo ia comprar nenhum livro, e como resultado sò comprei seis (quatro deles de vampiros!).
À noite, saìmos pra jantar. Pasta y vino. Massa e vinho. Tô zonza e estufada. Voltamos caminhando por Florida. Onze da noite, turistas passeando e atè lojas abertas.
Antes que eu me esqueça: Buenos Aires è o segundo paìs do mundo em termos de homens bonitos. Sò perde para a Itàlia. Meninas, venham babaaaaar aquí!
Por enquanto è isso. Amanhá continuo minha jornada rumo sul, e embarco para uma cidadezinha a quatro horas de viagem, perdida no meio da pampa.
Besos a todos
Martha Argel,
uma vampira em Buenos Aires
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