quinta-feira, 15 de setembro de 2005

Bom dia, todos. O sol brilha la' fora, vou tentar ser rapida e cair na rua mais uma vez.
Ontem resolvi explorar com mais detalhes Chinatown. Tracei com cuidado minha rota, coloquei-me a caminho e, sai do metro, mudei de ideia. O caminho cruzava a Universidade de Toronto (UT), e acabei passando um bom tempo por la', percorrendo as ruas repletas de estudantes e me admirando com as construcoes antigas, creio que neogoticas. Lindo, lindo, lindo. Eu adoraria estudar la'.
Saindo de la', peguei a Spadina Avenue e, depois de algumas quadras, comecaram a aparecer os letreiros orientais. Lugar otimo para praticar peoplewatching, rostos orientais misturados a rencas de turistas com maquinas fotograficas. Bancas de frutas, vendedores de ervas, tocadores de instrumentos estranhos. O mais estranho eram as vitrines de lojas de assados, expondo fieiras de frangos, carnes e coisas absolutamente inidentificaveis; numa delas, vi duas lulas imensas, gordonas e de um laranja berrante, que juro que vieram da cidade dos cartoons de Roger Rabbit!
La' pela uma da tarde resolvi comer algo. Saquei meu guia Lonely Planet e achei uma recomendacao a meia quadra da esquina onde estava parada, feito a turista perdida que eu era: Pho Hu'ng, descrito como "um autentico restaurante vietnamita". Nunca comi comida vietnamita. Era la' mesmo! Depois de meia hora de indecisao, escolhi algo com frango e noodles, e esperei ansiosa pra ver o que e' que ia vir. Meu, uma tigela imensa de uma sopa de cor doentia e cheiro delicioso, acompanhada por um pratinho de algo que pareciam brotos de feijao, mas bem mais grossos. Sei la' o que era aquilo. Detalhe: nada de talheres. Olhei ao redor e estava todo mundo usando palitos e uma colher estranhissima. Tinha uma pequeno artefato em minha mesa, cheio desses instrumentos. Aparelhei-me devidamente e comecei a comer, discretamente observando um sujeito numa mesa a minha frente e uma mocinha atras de mim (esta ultima, nao tao discretamente). Dai' a pouco peguei o jeito da coisa. Descobri que por baixo da superficie da sopa estavam pedacos de frango, os tais noodles, um pedacao de batata, os tais brotos e MUITA cebola. Esta foi a pior, mas com bastante paciencia removi todos os pedacos. Outro detalhe: a sopa era de curry. Ardeu ate' os recantos mais remotos de minha alma. Mas tomei minha sopa ate' o fim. O mais complicado era que os noodles ficavam escorregando e caindo de volta no curry, e com isso sai' com curry ate' na lente dos oculos. Foi uma porqueira, inda mais que os sovinas forneceram um unico e misero guardanapo, que tive que usar com sabedoria maxima. Percebi a expressao de reprovacao na cara da garconete, quando veio retirar os pratos e, com meu guardanapo emporcalhado, limpou toda a mesa que eu tinha salpicado de sopa. No fim das contas, valeu a pena, foi um almoco diferente, saborosissimo e barato.
Voltei pra casa percorrendo a Queen, que cada vez curto mais. A fauna humana que tem por la'. Piercings, maquiagem gotica, dreadlocks, hippies tardios pedindo pelas calcadas, roupas rasgadas, cabelos estranhos... Demais! Pena que nao consigo registrar com a camera...
Mais algumas observacoes sobre a paisagem e a fauna urbanas:
- lembram aquelas manobras que os carros fazem nos filmes ianques, dobrando no meio da rua pra pegar a direcao oposta? A gente acha um absurdo, mas aqui e' pratica absolutamente normal. E em Toronto, quando o sinal fecha, vc pode numa boa dobrar a direita. Mas todo mundo para pros pedestres. Tem um monte de regras pra cruzar a rua, e aos poucos a gente aprendi direitinho.
- A quantidade de asiaticos que a gente ve pelas ruas e' enorme, e nao apenas em Chinatown. Na universidade achei que todo mundo ou era chines (e asemelhados) ou arabe (e assemelhados). Muculmanas com seus veus na cabeca sao comuns, mas ontem vi pela primeira vez uma daquelas que so' deixam os olhos de fora.
- eu ja tinha reparado em filmes na tv (por exemplo em Highlander, a serie) e pelo visto ainda nao saiu de moda: muitas mulheres usam saias es-can-da-lo-sa-men-te curtas. Nao sao garotinhas, nao, sao mulheres maduras, algumas delas executivas, com sapatos de salto e sem meia de nailon. O resultado nao e' muito agradavel. Vi uma com umas pernas que, se fossem minhas, eu so' usava saia arrastanto pelo chao!
Por enquanto e' so'.
Ate' amanha. Aproveitem as oportunidades e vivam a vida.

Martha Argel

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