segunda-feira, 7 de maio de 2007

6.mai – Domingo

Morrendo de sono, só vou postar algo (longo) que escrevi hoje de manhã. E amanhã em mais, incluindo fotos!

Fui!
M

Neste momento estou deitada em minha cama aconchegante, certamente muito mais velha do que eu, em um quartinho de sótão e teto de duas águas, em Little Compton, Rhode Island. Ao meu redor, entre outras companhias, dois carrinhos com tacos de golfe, um espelho com armação de madeira (com certeza uma passagem para outra dimensão), e um carrinho verde de lata. Nenhum deles deve ter menos de cinqüenta anos. Lá fora o dia está nublado e o gramado verde. As árvores lentamente se vestem de folhas novas e os jardins estão rebrotando, no expectante intervalo entre os narcisos já em plena floração e as tulipas quase-mas-ainda-não-no-ponto. Meu cérebro tropical custa a assimilar a metamorfose completa e radical da primavera das latitudes temperadas. Que coisa!
Um momento de calmaria, que faço o possível para estragar com laptop, iPod e câmara digital, esmagando com o século XXI o clima de 1930.
Resumindo os dois últimos dias.
Sexta-feira 4
saí com a Clau pra mais um dia de Meals on Wheels, entregando comida pra velhinhos descapacitados. O runner era Eugene, um bonitão descendente de Ucranianos, com quem a Clau e eu tínhamos de tomar cuidado ao falar português, pois o cara tinha um dom para línguas e entendia quase tudo o que dizíamos. Minha priminha ficava tentando me convencer de que o cavalheiro era um bom partido. Bonitão mesmo, e belos olhos azuis. Enquanto eles cumpriam as complicadas tarefas de encontrar as ruas, separar as refeições e entregar, eu estava noutro mundo, rabiscando cenas provavelmente imprestáveis para meu livro.
Terminada a tarefa, fomos almoçar. Depois do fiasco da comida coreana, a Clau não arriscou e me levou num restaurante brazuca. Todos falando português, coxinha no balcão e Vale a Pena Ver de Novo na tevê. A Clau comeu arroz com feijão.
Voltei sozinha para casa de metrô, e foi esquisito. Há um ano não fazia isso. Tudo parecia novidade, e ao mesmo tempo tão familiar.
É uma sensação estranha estar em Toronto. Me sinto em casa, conheço as ruas, sei as lojas onde quero ir. Mas estou a milhares de quilômetros de minha casa de verdade. Como é que essas coisas acontecem? A distância desaparece. Um lugar que até dois anos atrás era um ponto inatingível em um mapa de atlas de repente é real e cotidiano, e vira um lar com o qual você não tem qualquer conexão histórica, a não ser a mais recente possível, aquela história que a gente cria sem perceber, no dia a dia.
De qualquer modo, rompi essa conexão no momento em que, algumas horas depois, subi no ônibus rumo a Nova York. Outra casa longe de casa.
A viagem foi parecida com a que fiz quase dois anos atrás, a não ser que a sempre tensa passagem pela imigração foi muito mais tranqüila, parte porque eu já sabia o que me esperava, parte porque o funcionário que me atendeu era simpático, e parte porque junto comigo estavam passando dois italianos, um rapaz e uma moça, com que tinha feito amizade no ônibus. No fim acabamos todos, incluindo os funcionários, falando italiano, rindo e fazendo piadas. Realmente incomum para uma entrada nos EU da América.

Sábado 5
O amanhecer nos encontrou em New Jersey, e havia uma lindíssima lua quase-cheia no céu. A claridade insipiente da manhã transformou o skyline de Nova York numa pintura maravilhosa, que apareceu por curtos segundos no horizonte antes que mergulhássemos no túnel que nos levou, por baixo do rio Hudson, para o coração da Big Apple.
Fiquei muito orgulhosa de mim, ao desembarcar decidida e saber exatamente o caminho até o ponto de táxi, que tomei como se fizesse isso todo dia.
Como o Central Park estava lindo! Verdíssimo, a primavera muito mais avançada que em Toronto. De novo a sensação esquisita, e ainda mais forte. Aqui não tenho família, não tenho brasileiros ao redor, mas tenho bons amigos e uma independência muito maior. Se me dissessem algum dia que estaria por minha conta em NY, eu pediria pra contar outra piada.
O táxi me deixou em frente ao “meu”prédio. O porteiro uniformizado me cumprimentou, abriu a porta pra mim e me entregou as chaves do “meu” apartamento. Tinha um bilhete de boas vindas na porta. Eram seis e meia da manhã e eu tinha chegado em casa.
Mais tarde tomei com meus amigos um café da manhã meio truncado. Enquanto púnhamos em dia as novidades, a pergunta: vamos pra Rhode Island hoje? SIM!!!
Ok, então minha estada em NY durou umas quatro horas (que aliás renderam: fomos ao parque, fizemos umas compras, comemos pizza, o MF achou uma muleta no lixo e saiu usando, só para esquecê-la na porta de uma farmácia, observamos aves, comentamos sobre as pessoas, achei uma cabeça de passarinho).
O dia estava simplesmente espetacular para viajar. Tivemos uma viagem maravilhosa. Paisagem linda, companhia interessante e divertida, estrada tranqüila. Ei, que tal esquecer de voltar pro Brasil? Hum, tá. Ok.
Já em Rhode Island paramos pra comprar o jantar: halibut (um peixe), camarões (enormes, e diferentes dos brasileiros, aos menos para meus olhos de zoóloga), little necks (um tipo de marisco), chouriço e inhame.
HEIN???? CHOURIÇO E INHAME?! Pois é, acreditem se quiserem, mas aqui na região de Little Compton tem uma tradicional colônia portuguesa, pescadores que se estabeleceram há muito tempo e que influenciaram a cultura local. Tem missa e jornal em português. E do café da manhã consta um pãozinho doce português que hoje vou experimentar.
Coisa mais doida! Amaral, Goulart, Coelho, Cadeira. Todos esses nomes você vê por aqui, neste cenário de filme 100% estadunidense tradicional.
Surpresas, surpresas. A vida está cheia delas.
Bom, chegamos na casa, me instalei neste lindo quarto, que eu tinha ocupado da outra vez que estive aqui, e saímos para explorar.
Tudo tão, tão lindo quanto eu me lembrava. Ou ainda mais, porque agora tem sol.
Mas não vou descrever. Vejam as fotos no multiply (incluindo o álbum da viagem passada, ok?).
Agora vou tomar o café da manhã que me trouxeram na cama. Eita!
Depois tem mais.
Beijos e paes de queijo!
Martha Argel

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