quarta-feira, 16 de maio de 2007

16 de maio, quarta-feira

Choveu quase que a noite toda. Gostoso dormir com o barulhinho da chuva. Ontem foi um dia quente e abafado para os padrões canadenses – deve ter feito uns 27 graus. E choveu de ter trovoada. Quando a gente vê nos noticiários que está prevista uma thunderstorm dá até medo. Palavra impressionante, né? Aí cai uma chuvinha com meia dúzia de trovões graves e prolongados (e juro que o som deles é diferente do que estou acostumada, deve ser por causa do lago), and that’s it. Perto de nossas tempestades tropicais... Algo assim como visitar Niagara Falls quando você já esteve em Iguaçu, entende?
O livro continua avançando lentamente. Bem, “lentamente” é um advérbio que uso com freqüência junto ao verbo “escrever”. Continuo incorporando cenas soltas escritas nas semanas anteriores, e é tão bom constatar que não foram trabalho vão.
Ontem fui com a Clau até uma biblioteca pública onde ela tinha uma entrevista de emprego, e me aboletei na sala de leitura com meu inseparável caderno de anotações. Azar. Aquela sala era destinada mostly a crianças. Daí a pouco elas chegaram. As escolas daqui levam a garotada para passear na biblioteca, não no Wet n’Wild. O sapo de fora era eu. Observar a molecadinha se divertindo era tão ou mais interessante do que escrever. Primeiro mundo é isso: não é comprar o último trinket ou gadget eletrônico Made in China que vai permitir que você leia seus e-mails enquanto dirige seu BMW, mas ter professores que sabem incentivar o contato com livros e espaços culturais (cultura de verdade, puh-lease!, não esses arremedos que pululam por aí, sob o rótulo guarda-chuva de “cultura popular”).
Em seguida fomos passear no Kensington Market, que fica perto de China Town. Nem bem saímos da primeira loja, alguém grita o nome da Clau – nome e sobrenome! “Pronto, a polícia me achou”. Era a Cris, amiga nossa, passeando o bebê que ela cuida. Mundinho pequeno.
O Kensington Market é demais. Lojas de bugigangas chinesas, casas especializadas em cafés, ou queijos, ou produtos orgânicos, ou até em atender maconheiros. Por toda parte bandos de outcasts, aquelas tribos que vivem nas bordas da sociedade – punks, hippies, umas figuras com quem você não gostaria de cruzar na rua de noite. Um estudo em auto-moda. Resultado da expedição: uma compra tão grande de queijos que poderia ser considerada investimento (a frase é da Clau). E fi-nal-men-te encontrei o chá de alcaçuz que eu procurava há uns quatro ou cinco anos!
E de noite, quando a casa aquietou, minha prima e eu nos sentamos para uma maratona de episódios de Blood Ties, acompanhada de uma degustação (ou seria consumo excessivo?) de queijos, com o barulho bom da chuva lá fora.
Cai o pano em mais um dia de minha jornada torontoniana. Hoje tem mais.

beijos a muuuuitos queijos a todos
Martha Argel

(PS. Um pequeno incidente curioso e que vale a pena contar: ontem, quebrando a cabeça num dado ponto de meu livro, bolei uma frase para um de meus personagens, Dá pra ler a cara dele como um livro de letras bem grandes. Fiquei na dúvida quanto a acrescentar “com figuras coloridas”, mas achei demais. De noite, retomando a leitura do conto This Town Ain’t Big Enough, da Tanya Huff, estrelando Vicki Nelson e Mike Celluci, topo com a seguinte frase: I can read you like a book. With large type. And pictures. Tive de ler umas quatro vezes pra conseguir acreditar. Caramba, não é à toa que ela é minha escritora favorita atualmente. Até as mesmas idéias nós temos. Com a diferença de que eu ainda precisaria crescer pra escrever como ela... Mas não é coincidência demais?! Foi também com um livro da TH que aconteceu um episódio dois anos atrás, em minha primeira vinda a T.O.: fui caminhando a esmo até chegar num sebo onde acabei comprando um livro dela. Chegando em casa, comecei a lê-lo... e o caminho que a personagem fazia no começo da história era e-xa-ta-men-te o mesmo que eu tinha feito pra chegar ao sebo. Really weird)

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