Ufa, consegui voltar.
Hoje vou fazer um resumo do feriado, o dia de ontem deixo pra amanhã. Hã... deu pra entender? :-/
Uma palavra sobre o feriado: é o Victoria Day. Hein, como é que é, o dia da Vicki?! Não, os canadenses são súditos de Sua Majestade, a rainha da Inglaterra. Então, têm um feriado nacional, no dia 24 de maio ou antes disso, para comemorar não apenas o aniversário da Rainha Vitória (!), mas o da atual soberana. Aí todos os Canadians urbanos carregam seus carros com toda a tralha imaginável e abandonam as grandes cidades, rumo a suas cottages nas praias (de lago, e geladas, of course). É o primeiro feriado da primavera, e as pessoas mais do que depressa querem colocar em ordem suas casas de veraneio e seus jardins. Então, o que se ouve o tempo todo, durante os três dias e por todo lado, são os inconfundíveis ruídos primaveris: cortadores de grama a pleno vapor, motores dos barcos sendo ligados pela primeira vez após o inverno, os golpes dos machados picando galhos caídos no inverno. Você fica com saudades dos decibéis da cidade. Neste ano, o feriado seria na segunda-feira, dia 21.
Saímos na sexta-feira, 18, ao anoitecer, e claro que pegar uma estrada desconhecida de noite é algo que ninguém deve fazer. Not my fault, a idéia não foi minha. Claro que nos perdemos. Mas...
Creio que não contei que na quinta-feira eu tinha comprado meu GPS. Foi um capricho planejado. Comprei por comprar, com a mais absoluta certeza de que jamais usaria pra valer. Mas queria porque queria (uns personagens meus usaram recentemente, por que é que eu, a autora, não usaria?.
O fato é que eu estava com meu GPS, ainda na caixa (porque se eu não planejava usar jamais, não tinha motivo pra tirar da caixa, não é?) quando vi que estava pra dar merda. Com a sensação de catástrofe eminente, violei a sagrada embalagem. Pilhas? Hum. As da máquina fotográfica. Como funciona essa bodega?
Aprendi na marra, abençoando o vendedor que não me deixou comprar um modelo mais sofisticado: “Se você nunca usou, e quer ligar e usar, leva este”. Foi o que aconteceu. Liguei e usei.
Até que chegou a hora inevitável em que realmente nos perdemos. De noite e no meio do nada, sem nenhum recurso a não ser um GPS novo em folha que eu não sabia usar – não conseguia mover o mapa e achar nele nosso destino, a cidade de Sutton. Aperta daqui, empurra dali, e o mapa absolutamente imóvel no ponto em que estávamos empacados. Quando todos desceram dos carros e ia começar a troca de acusações... voilà! Apertei alguma função e como por mágica o mapa se deslocou até que Sutton apareceu! Só tínhamos que voltar atrás uns 500 m e virar para norte no cruzamento que acabávamos de passar.
Daí pra frente navegamos com o GPS. Chegamos bem. Piece of cake.
Vou ser sucinta. Cottage (chalé) bonitinho mas ordinário. A água da torneira fedia ovo podre. Descarga racionada, só em último caso ou em casos... bem, sólidos. A água do chuveiro sumia depois de dois minutos (nunca aconteceu comigo, sou rápida). Quando havia uso de água, parecia que o Darth Vader estava nos encanamentos. Entre outros percalços irritantemente insuportáveis. Não sou, definitivamente, a mais sociável das criaturas
Eu resumo: quanto mais longe de casa, melhor. Assim, passei bastante tempo ao ar livre.
O lugar era bonito. Não lindo, mas agradável. Um condomínio de casas não muito luxuosas, em terrenos grandes e jardins que começam agora a ser cuidados para a primavera e o verão. O lago estava a pouco mais de 100 metros da cottage, e nos fundos do quintal gramado passava um rio (ou canal); todos os vizinhos tinham pequenos atracadouros com lanchas.
No sábado, logo de cara, fugindo do ambiente familiar, topei com um bosque na beira do lago, e lá me embrenhei. Lindo. Encharcado, com um barro preto pegajoso. Praticamente zero de aves. E compensação, uma biomassa inacreditável de mosquitos i-men-sos. Nunca tinha visto tão sarados. E esfomeados. Formavam nuvens ao redor de minha cara e das mãos. Devidamente protegida com repelente, o bosque logo se tornou meu lugar favorito. Mais tarde descobri que o Gustavo e sua esposa Claudia se interessam por aves e têm até binóculos! Ueba! Eu tinha outros birders comigo! Moral da história: a viagem não foi tão insuportável como poderia ser.
Vi várias espécies que nunca tinha visto, as lifers. A mais legal foi um pássaro migratório, que no Brasil se chama triste-pia e aqui Bobolink (nome bobo!). Quero ver esse bicho desde que comecei a observar aves, há quase 30 anos. Assim, imaginem minha emoção ao finalmente conseguir vê-lo.
Outro ponto alto ornitológico, foi ouvir o estranho chamado do Common Loon. um grito forte, melancólico, assombrado, a voz dos lago canadenses, que talvez vocês já tenham ouvido em filmes. Nossa, há quanto tempo queria ouvir isso. Fiquei arrepiada.
Numa das caminhadas pelo condomínio, acabei parando pra conversar com um casal de idade que tinha um jardim lindo, e um verdadeiro condomínio de casas de passarinho. Uma graça.
O marido, Eric, era muito simpático e comunicativo. Ao longo do feriado, conversamos algumas vezes, e ele acabou me apresentando a uma senhora portuguesa da Ilha da Madeira, a Lourdes, que todo mundo chama de Laura. Muito atenciosa, ela me convidou para ir visitar uma brasileira que é dona de um hotel de beira de estrada – um dos motéis daqui, que nada têm a ver com as putarias do Brasil. Foi assim que conheci Tereza, uma figura notável, personagem de filme mesmo. Ela sem qualquer ajuda toca o hotel, onde faz tudo: atende, administra, limpa, lava, tira a neve no inverno. So-zi-nha. Sem camareira, sem vigia, sem porteiro. No meio do nada. E ainda encontra tempo para ser bonita, vaidosa e elegante. E muito divertida. Passei um começo de noite delicioso em companhia de minhas duas novas amigas lusófonas.
Gustavo, Claudia e eu conversamos bastante. Acabamos criando mil e uma histórias de monstros, assombrações e casos de Arquivo X. E de noite, eu assistia Blood Ties com minha prima, a outra Claudia.
E falando nisso, durante a viagem aconteceu mais uma coincidência ref. Tanya Huff. Eu estava lendo, de caso pensado, o conto dela “The vengeful spirit of Lake Nepeakea”. Vicki e Mike vão resolver um caso num lago no norte de Ontario e ficam numa cottage. Tem uma hora em que o Mike descobre os mosquitos locais, e eu me senti incrivelmente solidária a ele. De repente, chego a um trecho em que um sujeito diz pra Vicki “No wait, tomorrow’s Sunday, place’ll be closed. Closed Monday too, seing as how, it’s Victoria Day”. Raios! O dia seguinte, o MEU dia seguinte, seria justamente... segunda-feira, Victoria Day! Só comigo essas coisas acontecem!
Voltamos na segunda à noite. No caminho, passamos pelo Sibald Point Provincial Park. Já tinha visitado o lugar no outono. Da primeira vez estava vazio. Desta, apinhado. Gente demais. Aves de menos. Não meu ideal.
E até que enfim, acabou (não, não me refiro ao post).
Daqui a pouco (amanhã) tem mais novidades. Stay tuned.
Beijos e queijos a todos!
(vejam as fotos que postei no álbum novo, On the shores of Lake Simcoe. Também andei adicionando fotos aos álbuns Toronto dos Vampiros: Depois que a noite cai e A Toronto de Blood Ties, durante o dia)
quinta-feira, 24 de maio de 2007
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