terça-feira, 8 de outubro de 2002

Bom dia.

Acordei como de costume, amorfa. Acreditando da vida, apesar dela. Barry Manilow, quem aí lembra, doin’ ok, but not very well. Um carinho enorme, um calor guardado aqui dentro, mas é, até onde sei, um doce passado, que vai me aquecer até não sei quando e daí pra frente continuo não sabendo. Sem expectativas.

Por outro lado (que bom quando existe ao menos um outro lado; que bom que tenho dois deles pra me fazer VIVER), de repente caiu uma ficha. Amanhã vou brincar de gente grande, reconhecimento profissional e coisa e tal. Sem fingimentos, não a grande escritora, não a heroína pulp fiction. Terreno sólido debaixo dos meus pés. Estranho isso, aquilo que estou tentando transformar em passado é o que, quando o mundo oscila violento a meu redor a ponto de me deixar enjoada, me acalma, me tranqüiliza, me conforta. Armadilha: última vez porque, lembra, estou caindo fora. Eu me odeio quando saboto minha própria paz. E sou muito boa nisso.

Assim: no jolts no surprises, no crisis or rises, my life goes along as it should, it’s all very nice, but not very good. Li nalgum lugar: no meio da tempestade, os marinheiros derramavam óleo e o mar amansava ao redor do navio. Serenidade, paz. Smoothness. Derramar óleo é uma via de duas mãos. Eu sempre soube, mas a covardia é um magistrado implacável em seus vereditos. A vida segue mansa, tamponada. Mild weather.

E a gente transfere os arroubos de fúria para um terreno não pessoal: você aí que votou no patético arremedo de líder Enéas Carneiro: vá para a putíssima mãe que te pariu. Você humilhou todos aqueles que votaram com responsabilidade. Você transformou meu voto em merda. Por tabela, e sem saber, você deu a autoridade (e a responsabilidade) de representar 30 milhões de eleitores a um boçal que recebeu menos de 300 votos, e que foi carregado para dentro da Câmara dos Deputados como um parasita confortável, nas costas dessa caricatura grotesca a quem sua rebeldia ignorante e inconseqüente deu seu voto de confiança. Esse serzinho histriônico que você, bobinho(a), elegeu porque acha que votar é um saco, é a favor da construção da bomba atômica, sabia? Com seu votinho de merda você ajudou a eleger uma bancada de seis lunáticos que numa hipotética votação quanto a uma guerra nuclear (os céus nos livrem!), dariam um glorioso e afoito SIM a Hiroshima e Nagasaki. Com seu raciocínio de ‘político é tudo uma merda, então vou votar no pior’, você conseguiu o que queria: transformar o cenário político (que já não é dos mais sérios), num circo em que os palhaços somos nós todos. Parabéns. Vá à merda.

Pronto. Adrenalina pra atravessar o dia. Estão vendo como é fácil viver sem olhar para dentro da bruma que nos esconde de nós mesmos?

Que seja bom o dia de vocês. O meu vai ser. Vou me preparar para a reunião de amanhã. Já com saudades do que ainda não é passado.

beijos
(e um especial para você, Paulo, farol que ao menos um pouquinho me ajudou a devassar o nevoeiro)
tita

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