quinta-feira, 17 de outubro de 2002

Bom dia, querido quase-diário cibernético egotrípico.
Ontem de madrugada tentei postar e não consegui, tinha algo fora do ar por aqui, e ao longo do dia acabei desistindo.
Preguiça, ou falta de vontade mesmo.
Pros que me perguntam como estou: estou, a dor está fraquinha, a impressão que tenho é de que tinha um belo componente de ansiedade nela. Me disseram ontem que eu não tinha de ter me preocupado com a dor, e me explicaram porque. Ok. Deixa pra lá.
Foi um dia bom. Ou deve ter sido, porque hoje não faz diferença. As camadas de algodão voltaram a abafar, neutralizar tudo. Altos e baixos não têm qualquer significado, frente a um agora tão cinzento e neutro como o dia que amanhece lá fora.
Antes que comecem a se preocupar ''ah, não, lá está ela deprimida de novo''. Eu NÃO estou deprimida. Também não estou esfuziante. As coisas não são branco ou negro, há uma grande zona de gradações de cinza no meio, e o ponteiro está marcando o centro exato. Tem uma etiquetinha por cima onde se lê ''Modo Trabalho''. Ter cortado as unhas e pintado de preto foi simbólico: passei por algumas semanas de montanha-russa emocional, e antes disso por meses de euforia com um livro que, sinceramente, já me cansou. Ok, Martha, hora de cair na real, sim? A ornitologia está aí, à espera de uma decisão tua. A situação bancária nunca esteve tão negra. Tem trabalho enrolado à espera de que vc tome uma atitude. Há quantos meses você não escreve um conto, começo ao fim?
Estou mais magra e em sentindo bem, as pessoas continuam gostando das coisas que eu escrevo, e ontem na rua um conhecido casual me disse que eu tinha um sorriso de criança e que estava bonita. Ok. Não sou um desastre social. "Você chora de barriga cheia'', ouvi ontem pelo telefone. Sim. Continuo, como sempre, sozinha e sem grana, e cheia de planos que nunca dão inteiramente certo. Running to stand still, ouvindo conselhos em músicas: you got to get yourself together, you got stuck in a momment, and you can't get out of it.
Viajo hoje, a trabalho, e nada mais reconfortante, neste momento, do que a idéia de horas e horas no silêncio de um eucaliptal histórico. Árvores gigantes, e, tenho certeza, no calor do meio do dia o canto melancólico, sonoro e repetitivo do pitiguari. Eu quero isso, a solidão boa onde eu sou eu, e não um personagem cheio de obsessões e idéias fixas. Quem sabe eu saio desse momento no qual estou atolada.

beijos, num dia em que, se o sol não aparecer, vou sentir muito a falta dele
tita

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