Boa tarde
Já de volta a Sampa, e ao batente.
A viagem de volta foi looonga. Começou com uma espera de três horas no aeroporto de Paramaribo. Normal em se tratando de Suriname Airways, e uma excelente chance de observar os tipos físicos mais variados, e as roupas, penteados, jóias e sapatos mais bizarros que vocês possam imaginar. Fiz até uma amiga: uma coreana minúscula, três anos se tanto, que se materializava como por encanto a meu lado cada vez que eu tirava algo de dentro da mochila. Fazia um monte de comentários e, como eu não entendia nada, só podia responder com um sorriso estúpido. Seus principais interesses eram meu binóculo e o JC.
Por fim tomamos nosso vôo, rumo a Belém com escala em Caiena. Estava previsto o pernoite na capital paraense, pois só haveria vôo para o sul no dia seguinte. Se o vôo não tivesse atrasado, poderíamos ter desfrutado de um belo jantar em algum bom restaurante. Mas chegamos às onze da noite, mortos de sono e cansaço, e o máximo que conseguimos foram uns sanduíches à beira da piscina do hotel, com uma bela lua minguante brilhando entre a folhagem de esguias palmeiras açaí.
Putz, que maravilha entender o que as pessoas falavam, ler avisos e cartazes, ver tevê em português! Que delícia voltar ao país da gente.
Madrugamos para pegar a tempo nosso próximo vôo, que ainda não era para São Paulo. Mudamos de avião em Brasília. Aterrissamos em Sampa no fim da manhã, quase vinte e quatro horas depois de termos nos despedido dos donos do hotel em Paramaribo. Haja paciência!
Cheguei em casa sã e salva.
Um monte de desastres me aguardavam, mas não quero falar sobre eles.
Obrigada a todos que acompanharam mais esta viagem aqui por meu blog. Valeu a companhia.
Beijos & queijos, e cuidem-se.
Martha Argel
(respirando fundo pra colocar todos os abacaxis em fila e ir descascando um por um)
quarta-feira, 25 de agosto de 2004
segunda-feira, 23 de agosto de 2004
Bom dia.
Tenho alguns minutos, poucos. Ultimo dia. Ainda temos que ir a alguns orgaos publicos reunir informacoes. Partiremos 'as quatro da tarde, as malas ja estao prontas e o cansaco atinge niveis alarmantes. O cheiro da cozinha, aqui do lado do computador me irrita.
Normal, ansiedade de fim de viagem.
Ontem o Ed nos botou em sua pick-up e nos carregou para o interior do pais. Depois de sair da area mais urbanizada, ao longo das estradas vimos vilas de crioulos, de amerindios e de maroons. Passamos por savanas de area branquissimas, resorts turisticos em meio 'a mata tropical e por fim chegamos a regiao de mata onde vivem os maroons, quilombolas com uma cultura propria, que constituem a maior parte da populacao do interior do pais.
Apos cerca de uma hora e meia de viagem, chegamos a gigantesca represa de Brokopondo. Visitamos todas as intalacoes, passamos por cima da barragem e minha vista se perdeu na vastidao do lago. Depois de quarenta anos, ainda ha um paliteiro das arvores mortas. O fechamento de Brokopondo foi um dos maiores desastres ambientais do mundo. Hoje o lago tem aguas verdes e nenhuma ave nas margens. Ja no caminho de volta, visitamos aldeias de quilombolas reassentados, e acompanhaos as belissimas aguas do rio Suriname, com as kankantries, imensas arvores sagradas, se destacando imponente acima de matas e vilas.
A viagem foi linda, impressionante, e deu o que pensar.
Mas algum dia a gente conversa sobre isso. Agora tenho de correr.
Nos lemos no Brasil!
beijos
Martha Argel
(dando adeus aos restos mortais do mosquito esmagado na tela. Nunca mais vou ve-lo!)
Tenho alguns minutos, poucos. Ultimo dia. Ainda temos que ir a alguns orgaos publicos reunir informacoes. Partiremos 'as quatro da tarde, as malas ja estao prontas e o cansaco atinge niveis alarmantes. O cheiro da cozinha, aqui do lado do computador me irrita.
Normal, ansiedade de fim de viagem.
Ontem o Ed nos botou em sua pick-up e nos carregou para o interior do pais. Depois de sair da area mais urbanizada, ao longo das estradas vimos vilas de crioulos, de amerindios e de maroons. Passamos por savanas de area branquissimas, resorts turisticos em meio 'a mata tropical e por fim chegamos a regiao de mata onde vivem os maroons, quilombolas com uma cultura propria, que constituem a maior parte da populacao do interior do pais.
Apos cerca de uma hora e meia de viagem, chegamos a gigantesca represa de Brokopondo. Visitamos todas as intalacoes, passamos por cima da barragem e minha vista se perdeu na vastidao do lago. Depois de quarenta anos, ainda ha um paliteiro das arvores mortas. O fechamento de Brokopondo foi um dos maiores desastres ambientais do mundo. Hoje o lago tem aguas verdes e nenhuma ave nas margens. Ja no caminho de volta, visitamos aldeias de quilombolas reassentados, e acompanhaos as belissimas aguas do rio Suriname, com as kankantries, imensas arvores sagradas, se destacando imponente acima de matas e vilas.
A viagem foi linda, impressionante, e deu o que pensar.
Mas algum dia a gente conversa sobre isso. Agora tenho de correr.
Nos lemos no Brasil!
beijos
Martha Argel
(dando adeus aos restos mortais do mosquito esmagado na tela. Nunca mais vou ve-lo!)
domingo, 22 de agosto de 2004
Fa un de? (em Snaram Tongo, "como estao todos?")
Ontem, a Ana e eu conseguimos um tempinho para dar uma volta pela cidade, enquanto o Mario e o Gabriel continuavam trabalhando nos relatorios. Do meu ponto de vista, excelente divisao de tarefas!
Nosso guia nativo foi Soekirman Moeljoredjo, nome um tanto complicado para nossos cerebros cansados. "Podem me chamar de Molho, era como o pessoal me chamava no Brasil". Molho e' descendente de javaneses, e morou sete anos em Recife, onde se formou como engenheiro de pesca. Um cara inteligente e com um senso de humor incrivel, que nos confessou que mesmo tendo voltado do Brasil ha' cinco anos, ainda nao se readaptou a seu Pais. De fato, apesar do sotaque forte, enquanto conversavamos com ele eu tinha de ficar o tempo todo me lembrando de que ele nao era brasileiro.
Molho nos levou para andar pelo centro de Parbo, que nos sabados de manha e' um inferno de agitacao e congestionamentos. Entramos nas lojas para que a Ana visse que tipos de produtos sao oferecidos e tivesse ideia dos precos, e acabamos caindo numa loja de souvenirs para turistas. So que faltavam dez minutos para fechar, e nao consegui comprar quase nada, foi uma correria para localizar esse ou aquele item que costumo levar como recordacao, e depois de pagar foi descobrindo outras coisas interessantes. Chance perdida, fazer o que...
Tirei dezenas de fotos, e claro que JC, o Pinguim Viajante, esta' em muitas delas. Num dado momento, eu estava tirando uma foto particularmente bizarra (alguma hora voces vao ver!), e um onibus parou a meu lado para que os passageiros pudesse observar com mais cuidado minha atividade. Alias, foi no mesmo lugar onde, logo nos primeiros dias, depois de uma foto do JC na frente de uma mesquita, fui praticamente perseguida por um casal numa moto, que subiu na calcada para perguntar se o pinguim era de verdade.
Depois da uma da tarde, a cidade morre. No caminho de volta para o carro, as ruas que estavam apinhadas no meio da manha agora estavam totalmente desertas. Calorao danado. Cenario de filme tropical. Decidimos ir comer algo na beira do rio, no mesmo lugar onde ja' tinhamos comido de outras vezes. Alias, nao parece haver muitas opcoes na cidade, e nenhuma delas e' barata.
Novamente comemos comida javanesa, e nao vou me lembrar do nome de nada. Tinha uns espetinhos de frango, camaroes e bananas empanadas. Aproveitei para tirar fotos do JC 'a beira do rio Suriname, e juntou um monte de criancas ao redor. Claro que nem eu nem elas iamos perder a chance, e no fim fiz lindas fotos da galerinha abracada ao pinguim.
De volta ao hotel, o resto da tarde foi reuniao de trabalho. So pra variar.
Hoje, domingo, teremos uma programacao diferente. Daqui a pouco passam pra nos pegar e vamos conhecer um pouco do interior do Suriname, desta vez por terra.
Amanha sera' nosso ultimo dia no pais. Espero conseguir postar. Se nao conseguir, o proximo post ja sera em terras brasilicas.
Daag! (isso e' tchau, em holandes)
Martha Argel
Ontem, a Ana e eu conseguimos um tempinho para dar uma volta pela cidade, enquanto o Mario e o Gabriel continuavam trabalhando nos relatorios. Do meu ponto de vista, excelente divisao de tarefas!
Nosso guia nativo foi Soekirman Moeljoredjo, nome um tanto complicado para nossos cerebros cansados. "Podem me chamar de Molho, era como o pessoal me chamava no Brasil". Molho e' descendente de javaneses, e morou sete anos em Recife, onde se formou como engenheiro de pesca. Um cara inteligente e com um senso de humor incrivel, que nos confessou que mesmo tendo voltado do Brasil ha' cinco anos, ainda nao se readaptou a seu Pais. De fato, apesar do sotaque forte, enquanto conversavamos com ele eu tinha de ficar o tempo todo me lembrando de que ele nao era brasileiro.
Molho nos levou para andar pelo centro de Parbo, que nos sabados de manha e' um inferno de agitacao e congestionamentos. Entramos nas lojas para que a Ana visse que tipos de produtos sao oferecidos e tivesse ideia dos precos, e acabamos caindo numa loja de souvenirs para turistas. So que faltavam dez minutos para fechar, e nao consegui comprar quase nada, foi uma correria para localizar esse ou aquele item que costumo levar como recordacao, e depois de pagar foi descobrindo outras coisas interessantes. Chance perdida, fazer o que...
Tirei dezenas de fotos, e claro que JC, o Pinguim Viajante, esta' em muitas delas. Num dado momento, eu estava tirando uma foto particularmente bizarra (alguma hora voces vao ver!), e um onibus parou a meu lado para que os passageiros pudesse observar com mais cuidado minha atividade. Alias, foi no mesmo lugar onde, logo nos primeiros dias, depois de uma foto do JC na frente de uma mesquita, fui praticamente perseguida por um casal numa moto, que subiu na calcada para perguntar se o pinguim era de verdade.
Depois da uma da tarde, a cidade morre. No caminho de volta para o carro, as ruas que estavam apinhadas no meio da manha agora estavam totalmente desertas. Calorao danado. Cenario de filme tropical. Decidimos ir comer algo na beira do rio, no mesmo lugar onde ja' tinhamos comido de outras vezes. Alias, nao parece haver muitas opcoes na cidade, e nenhuma delas e' barata.
Novamente comemos comida javanesa, e nao vou me lembrar do nome de nada. Tinha uns espetinhos de frango, camaroes e bananas empanadas. Aproveitei para tirar fotos do JC 'a beira do rio Suriname, e juntou um monte de criancas ao redor. Claro que nem eu nem elas iamos perder a chance, e no fim fiz lindas fotos da galerinha abracada ao pinguim.
De volta ao hotel, o resto da tarde foi reuniao de trabalho. So pra variar.
Hoje, domingo, teremos uma programacao diferente. Daqui a pouco passam pra nos pegar e vamos conhecer um pouco do interior do Suriname, desta vez por terra.
Amanha sera' nosso ultimo dia no pais. Espero conseguir postar. Se nao conseguir, o proximo post ja sera em terras brasilicas.
Daag! (isso e' tchau, em holandes)
Martha Argel
sábado, 21 de agosto de 2004
Goeie Morgen!
Os ultimos dias foram um loucura de reunioes, encontros, conversacoes e, inevitavelmente, atrasos. A quantidade de orgaos publicos, ONGs, autoridades e pessoas-chave que visitamos foi enorme. Acho que conversamos com meia populacao do Suriname, e levantamos toda a bibliografia e documentacao existentes no pais.
Ontem consegui colocar um ponto final em minha lista de contatos indispensaveis. Fora um no' cego que se recusou a me receber (infelizmente um no' cego crucial, mas isso a gente resolve depois), correu tudo bem, dentro das expectativas. Assim, pra todo voces ai' que tiveram de aguentar minha TPV (tensao pre-viagem): no final das contas foi como voces disseram, acabou tudo bem. Obrigada pela paciencia e pelo incentivo (e muitas vezes por me dar uma dura).
Consegui me virar bastante bem em ingles. No comeco, a coisa tava dificil, mas aos poucos a gente vai lembrando as palavras, vai copiando o que os outros dizem, incorporando os termos certos pra usar na hora certa e ai' fica tranquilo.
Entre uma reuniao e outra, sempre sobrava tempo para algum detalhe curioso ou engracado,
Ou dramatico, como e' o caso do transito. Caotico. Infernal. Incompreensivel. Como e' que um pais com menos de meio milhao de habitants consegue ter congestionamentos tao... permanentes?! Eles estao la' o tempo todo. Voce numa agonia do caramba, atrasado pra um compromisso e num calorao equatorial, e a rua totalmente entupida de carros velhos e novos, bonitos e horrorosos, com direcao na esquerda ou na direita, ao gosto do fregues. Conselho: aja em Parbo (e' como eles proprios se referem 'a cidade de Paramaribo) como em Sao Paulo: nunca saia pra uma reuniao com menos de meia hora de antecendencia (ou mais se for horario de pico, que a gente nao sabe exatamente qual e').
Pegar um taxi em Parbo e' um desafio. Os taxis nao trazem qualquer identificacao e e' impossivel distingui-los dos outros carros. Voce tem de procurrar uns barracos decrepitos com uma placa escrita TAXI na frente. Eles estao por toda parte, menos nos lugares onde voce precisa. Quando chove - e cai um aguaceiro todos os dias de tarde - eles tambem desaparecem. Ha' outras duas opcoes: (1) voce pode andar com a carteira recheada de cartoes de taxistas, e quando voce ligar nenhum deles vai atender, ou (2) voce pode fazer cara de desepero e pedir a qualquer pessoa que esteja por perto que te consiga um taxi, e ai' ela vai olhar para os lados, confusa, e tambem nao vai saber o que fazer, mas pelo menos agora voce nao vai estar sozinho se desesperando.
Os motoristas de taxi sao umas figuras. Absolutamente todos falam um ingles ininteligivel que deve ser um dialeto proprio dos taxistas surinamenses. Outro dia pegamos um sujeito gordo, com chapelao negro de feltro, cujo cartao de visitas anunciava, orgulhoso, Midnight Cowboy. Seu carro anterior havia sido um Cadillac, que ele teve de vender porque nao cabia mais nas ruas apinhadas de Parbo. Agora tinha um carro "menor", um BMW que nem por magica caberia na garagem da minha casa!
Depois de uns dias tentando entender os complicados caminhos que levam do hotel ao centro, peguei o costume de acompanhar o trajeto com um mapinha que consegui no Torarica, o hotel chiquitissimo da cidade. Nao tem um taxista cujo olho nao cresca pra cima de meu mapa. Assim que o veem, o efeito e' imediato, e comecam a me tratar com um respeito e uma admiracao comoventes. Teve um com quem puxei papo antes de sacar o mapa. Falei como a cidade era interessante e como o povo era friendly (amigavel, simpatico). Entao tirei o mapa da pasta e o sujeito se derreteu todo quando comecei a perguntar o nome das ruas em meu holandes horroroso. A partir dai', a cada rua que cruzavamos ele dizia o nome, esticava o pescoco para olhar o mapa, olhava na minha cara e perguntava "Did you find it?" (achou?), tudo isso numa fracao de segundo que nao me dava margem nem pra respirar, e invariavelmente minha resposta era not yet (ainda nao). Na verdade eu ainda nao tinha procurado porque estava olhando para a frente pra ver se nao vinha algum carro de encontro ao nosso, afinal alguem tinha de olhar para a frente, e cara estava ocupado demais examinando meu mapa. Foi assim o caminho todo. Quando chegamos saos e salvos a nosso destino, a universidade, o homem me presenteou com um tremendo sorriso e perguntou "Was I friendly?". Sim. Muito. Demais.
Bom, ainda tem muita coisa pra contar, mas vou deixar pra depois. Se eu nao tiver condicoes de postar aqui, vai estar tudo numa versao mais longo deste diario, que pretendo disponibilizar, depois da volta, na pagina Yahoo de minha lista de distribuicao de noticias e textos.
Bye, bye
Martha Argel
Os ultimos dias foram um loucura de reunioes, encontros, conversacoes e, inevitavelmente, atrasos. A quantidade de orgaos publicos, ONGs, autoridades e pessoas-chave que visitamos foi enorme. Acho que conversamos com meia populacao do Suriname, e levantamos toda a bibliografia e documentacao existentes no pais.
Ontem consegui colocar um ponto final em minha lista de contatos indispensaveis. Fora um no' cego que se recusou a me receber (infelizmente um no' cego crucial, mas isso a gente resolve depois), correu tudo bem, dentro das expectativas. Assim, pra todo voces ai' que tiveram de aguentar minha TPV (tensao pre-viagem): no final das contas foi como voces disseram, acabou tudo bem. Obrigada pela paciencia e pelo incentivo (e muitas vezes por me dar uma dura).
Consegui me virar bastante bem em ingles. No comeco, a coisa tava dificil, mas aos poucos a gente vai lembrando as palavras, vai copiando o que os outros dizem, incorporando os termos certos pra usar na hora certa e ai' fica tranquilo.
Entre uma reuniao e outra, sempre sobrava tempo para algum detalhe curioso ou engracado,
Ou dramatico, como e' o caso do transito. Caotico. Infernal. Incompreensivel. Como e' que um pais com menos de meio milhao de habitants consegue ter congestionamentos tao... permanentes?! Eles estao la' o tempo todo. Voce numa agonia do caramba, atrasado pra um compromisso e num calorao equatorial, e a rua totalmente entupida de carros velhos e novos, bonitos e horrorosos, com direcao na esquerda ou na direita, ao gosto do fregues. Conselho: aja em Parbo (e' como eles proprios se referem 'a cidade de Paramaribo) como em Sao Paulo: nunca saia pra uma reuniao com menos de meia hora de antecendencia (ou mais se for horario de pico, que a gente nao sabe exatamente qual e').
Pegar um taxi em Parbo e' um desafio. Os taxis nao trazem qualquer identificacao e e' impossivel distingui-los dos outros carros. Voce tem de procurrar uns barracos decrepitos com uma placa escrita TAXI na frente. Eles estao por toda parte, menos nos lugares onde voce precisa. Quando chove - e cai um aguaceiro todos os dias de tarde - eles tambem desaparecem. Ha' outras duas opcoes: (1) voce pode andar com a carteira recheada de cartoes de taxistas, e quando voce ligar nenhum deles vai atender, ou (2) voce pode fazer cara de desepero e pedir a qualquer pessoa que esteja por perto que te consiga um taxi, e ai' ela vai olhar para os lados, confusa, e tambem nao vai saber o que fazer, mas pelo menos agora voce nao vai estar sozinho se desesperando.
Os motoristas de taxi sao umas figuras. Absolutamente todos falam um ingles ininteligivel que deve ser um dialeto proprio dos taxistas surinamenses. Outro dia pegamos um sujeito gordo, com chapelao negro de feltro, cujo cartao de visitas anunciava, orgulhoso, Midnight Cowboy. Seu carro anterior havia sido um Cadillac, que ele teve de vender porque nao cabia mais nas ruas apinhadas de Parbo. Agora tinha um carro "menor", um BMW que nem por magica caberia na garagem da minha casa!
Depois de uns dias tentando entender os complicados caminhos que levam do hotel ao centro, peguei o costume de acompanhar o trajeto com um mapinha que consegui no Torarica, o hotel chiquitissimo da cidade. Nao tem um taxista cujo olho nao cresca pra cima de meu mapa. Assim que o veem, o efeito e' imediato, e comecam a me tratar com um respeito e uma admiracao comoventes. Teve um com quem puxei papo antes de sacar o mapa. Falei como a cidade era interessante e como o povo era friendly (amigavel, simpatico). Entao tirei o mapa da pasta e o sujeito se derreteu todo quando comecei a perguntar o nome das ruas em meu holandes horroroso. A partir dai', a cada rua que cruzavamos ele dizia o nome, esticava o pescoco para olhar o mapa, olhava na minha cara e perguntava "Did you find it?" (achou?), tudo isso numa fracao de segundo que nao me dava margem nem pra respirar, e invariavelmente minha resposta era not yet (ainda nao). Na verdade eu ainda nao tinha procurado porque estava olhando para a frente pra ver se nao vinha algum carro de encontro ao nosso, afinal alguem tinha de olhar para a frente, e cara estava ocupado demais examinando meu mapa. Foi assim o caminho todo. Quando chegamos saos e salvos a nosso destino, a universidade, o homem me presenteou com um tremendo sorriso e perguntou "Was I friendly?". Sim. Muito. Demais.
Bom, ainda tem muita coisa pra contar, mas vou deixar pra depois. Se eu nao tiver condicoes de postar aqui, vai estar tudo numa versao mais longo deste diario, que pretendo disponibilizar, depois da volta, na pagina Yahoo de minha lista de distribuicao de noticias e textos.
Bye, bye
Martha Argel
quarta-feira, 18 de agosto de 2004
Boa noite.
Sobrevoei o Suriname!!! Foi uma das coisas mais incriveis que ja fiz na vida. Horas e horas vendo a floresta la embaixo, seguindo rios sinuosos, sobrevoando pistas de pouso perdidas no meio do nada.
Nosso aviao era de dez lugares e estavamos em cinco passageiros: a Ana, eu e tres gringos da companhia que nos contratou. Por causa do barulho, usavamos tampoes de ouvido. A comunicacao estava uma beleza! Mas bem ou mal, conseguimos nos localizar durante todo o sobrevoo -- eu ia acompanhando pelo GPS dos pilotos e por um mapa de navegacao aerea, e ia fotografando tudo o que podia com uma camara digital da empresa e a minha.
Putz, nao vou ter tempo para descrever a viagem. Daqui a pouco temos um jantar num restaurante javanes, com os mesmos gringos que viajaram conosco (com quem, alias, passamos a tarde reunidos, discutindo o projeto). Afff, estou um caco, so quero a minha cama. Mas quem sabe tem gado gado nesse restaurante!
beijos a todos
Martha Argel
P.S. nao pensem que sai' de maos abanando para o sobrevoo da floresta; levei um kit de sobrevivencia na selva: isqueiro, garrafa dagua, comida, repelente, um espelho. Tudo improvisado, mas levei. Seguro morreu de velho, ne? Nao precisei usar nada. Ainda bem!
Sobrevoei o Suriname!!! Foi uma das coisas mais incriveis que ja fiz na vida. Horas e horas vendo a floresta la embaixo, seguindo rios sinuosos, sobrevoando pistas de pouso perdidas no meio do nada.
Nosso aviao era de dez lugares e estavamos em cinco passageiros: a Ana, eu e tres gringos da companhia que nos contratou. Por causa do barulho, usavamos tampoes de ouvido. A comunicacao estava uma beleza! Mas bem ou mal, conseguimos nos localizar durante todo o sobrevoo -- eu ia acompanhando pelo GPS dos pilotos e por um mapa de navegacao aerea, e ia fotografando tudo o que podia com uma camara digital da empresa e a minha.
Putz, nao vou ter tempo para descrever a viagem. Daqui a pouco temos um jantar num restaurante javanes, com os mesmos gringos que viajaram conosco (com quem, alias, passamos a tarde reunidos, discutindo o projeto). Afff, estou um caco, so quero a minha cama. Mas quem sabe tem gado gado nesse restaurante!
beijos a todos
Martha Argel
P.S. nao pensem que sai' de maos abanando para o sobrevoo da floresta; levei um kit de sobrevivencia na selva: isqueiro, garrafa dagua, comida, repelente, um espelho. Tudo improvisado, mas levei. Seguro morreu de velho, ne? Nao precisei usar nada. Ainda bem!
terça-feira, 17 de agosto de 2004
Vixe, so posso dizer que estou muito feliz por este dia ter terminado. Foi um saco. Um monte de blablabla, apresentacao aqui, apresentacao ali, e la se vai um dia inteiro que eu podia muito bem ter usado pra conseguir as informacoes que preciso.
Exausta. Nao tenho muito a dizer, a nao ser que o jantar foi fantastico. Um peixe com curry e vegetais, que comi com roti, o pao indiano, que tem o aspecto de uma panqueca e que voce recheia com a comida, enrola e como com a mao. Acompanhando a comida, tomei um refrigerante esquisitissimo, cor de rosa e a base de gengibre, que desce queimando a garganta.
Apesar da refeicao excelente, estou meio deprimida porque tem taaaanta coisa que ainda quero fazer e nao consigo.
Amanha vou fazer um sobrevoo da area do projeto. Fiquem torcendo pra que tudo de certo.
kusjes (beijos, em holandes)
Martha Argel
Exausta. Nao tenho muito a dizer, a nao ser que o jantar foi fantastico. Um peixe com curry e vegetais, que comi com roti, o pao indiano, que tem o aspecto de uma panqueca e que voce recheia com a comida, enrola e como com a mao. Acompanhando a comida, tomei um refrigerante esquisitissimo, cor de rosa e a base de gengibre, que desce queimando a garganta.
Apesar da refeicao excelente, estou meio deprimida porque tem taaaanta coisa que ainda quero fazer e nao consigo.
Amanha vou fazer um sobrevoo da area do projeto. Fiquem torcendo pra que tudo de certo.
kusjes (beijos, em holandes)
Martha Argel
segunda-feira, 16 de agosto de 2004
Rapidinho.
To morta de cansaco, o dia foi pauleira, um entra-e-sai de instituicoes publicas, entidades privadas e ONGs, reuniao atras de reuniao, um compromisso depois do outro. Afff, chegou uma hora que ja nao saia mais nada em ingles.
O povo aqui e muito simpatico e prestativo, imaginem so: voce trabalha num ministerio e uma fulana que voce nunca viu na vida chega, se apresenta, te da um cartaozinho chinfrim, te pede um monte de informacao complicada e... voce da! Ainda por cima e' gentil e se oferece pra fazer uma puta pesquisa e passar uma porrada de dados mais tarde. Da pra acreditar???
Num determinado ministerio foi inacreditavel: a chefe nao-sei-do-que estava passando umas estatisticas pra gente, de repente mostra um documento para a Ana e diz: "Esse aqui eu nao posso deixar voces xerocarem porque a gente vai mostrar pro ministro daqui uns dias, e' uma analise que nem ele viu". Uau.
Nao sei se eu ja disse que os horarios aqui sao bem estranhos: o povo comeca a trabalhar as sete da manha, e as duas da tarde ja nao tem mais ninguem nas reparticoes! Ficamos imaginando o que e' que esse povo faz depois que volta pra casa. Dorme?
Pois entao, trabalhamos ate que o ultimo ministerio fechou e ai que remedio senao bater um pouco de perna pela cidade. Acabamos indo comer num tipo de galpao com um monte de botequenhos fuleiros e imundos, na beira do rio. Escolhemos a esmo, e acabamos num lugar de comida javanesa. pedi gado gado e eles nao tinham, e acabei comendo uma salada de verduras cozidas com uns espetinhos de frango. Veio o tal molho de amendoim que a gente tinha usado ontem no gado gado e que eu tinha adorado porque nao era apimentado. Puta que o pariu! Este daqui era literalmente fogo! Fiquei com a boca toda ardendo, mas que era uma delicia, era.
Depois de comer, passamos por uma loja de artesanato maroon. Ja falei dos maroons aqui, sao os quiolombolas locais. Acabei comprando um prato de madeira entalhada, muito bonito, de uma etmia chamada saramacca.
Ai voltamos pro hotel e estivemos ate agora pouco colocando as informacoes em ordem. A unica coisa que quero agora e' uma cama!!!
Amanha devo fazer a tal apresentacao do projeto pra uma plateia seleta, e ja estou morrendo de nervoso de novo...
beijos a todos, fiquem torcendo pra tudo dar certo pra mim!
Martha Argel
To morta de cansaco, o dia foi pauleira, um entra-e-sai de instituicoes publicas, entidades privadas e ONGs, reuniao atras de reuniao, um compromisso depois do outro. Afff, chegou uma hora que ja nao saia mais nada em ingles.
O povo aqui e muito simpatico e prestativo, imaginem so: voce trabalha num ministerio e uma fulana que voce nunca viu na vida chega, se apresenta, te da um cartaozinho chinfrim, te pede um monte de informacao complicada e... voce da! Ainda por cima e' gentil e se oferece pra fazer uma puta pesquisa e passar uma porrada de dados mais tarde. Da pra acreditar???
Num determinado ministerio foi inacreditavel: a chefe nao-sei-do-que estava passando umas estatisticas pra gente, de repente mostra um documento para a Ana e diz: "Esse aqui eu nao posso deixar voces xerocarem porque a gente vai mostrar pro ministro daqui uns dias, e' uma analise que nem ele viu". Uau.
Nao sei se eu ja disse que os horarios aqui sao bem estranhos: o povo comeca a trabalhar as sete da manha, e as duas da tarde ja nao tem mais ninguem nas reparticoes! Ficamos imaginando o que e' que esse povo faz depois que volta pra casa. Dorme?
Pois entao, trabalhamos ate que o ultimo ministerio fechou e ai que remedio senao bater um pouco de perna pela cidade. Acabamos indo comer num tipo de galpao com um monte de botequenhos fuleiros e imundos, na beira do rio. Escolhemos a esmo, e acabamos num lugar de comida javanesa. pedi gado gado e eles nao tinham, e acabei comendo uma salada de verduras cozidas com uns espetinhos de frango. Veio o tal molho de amendoim que a gente tinha usado ontem no gado gado e que eu tinha adorado porque nao era apimentado. Puta que o pariu! Este daqui era literalmente fogo! Fiquei com a boca toda ardendo, mas que era uma delicia, era.
Depois de comer, passamos por uma loja de artesanato maroon. Ja falei dos maroons aqui, sao os quiolombolas locais. Acabei comprando um prato de madeira entalhada, muito bonito, de uma etmia chamada saramacca.
Ai voltamos pro hotel e estivemos ate agora pouco colocando as informacoes em ordem. A unica coisa que quero agora e' uma cama!!!
Amanha devo fazer a tal apresentacao do projeto pra uma plateia seleta, e ja estou morrendo de nervoso de novo...
beijos a todos, fiquem torcendo pra tudo dar certo pra mim!
Martha Argel
domingo, 15 de agosto de 2004
Goeie avond! (Boa noite, em holandes)
Domingao, dia de descanso? Naaaao! Passamos quase todo o dia organizando as informacoes obtidas e planejando as acoes de amanha e depois. Vejam bem: quase todo.
Algumas horas foram passadas esperando, com muita paciencia (que outro remedio?) que o garcom nos atendesse, num restaurante javanes. Um lugar bonito, num bairro semi-rural, com muita vegetacao exuberante ao redor, e a ja costumeira miscelanea etnica nas mesas vizinhas. Claro, com um predominio evidente de javaneses.
Foi engracadissimo. Quase nao ha restaurantes abertos no domingo, e era esse ou nada. Chegamos la, nos sentamos, e depois de uns dez minutos chegou o menu. Quem diz que entendemos alguma coisa??? Tava tudo em javanes! Depois de uma meia hora, conseguimos que um garcom, um rapazinho javanes lindo de morrer, chegasse em nossa mesa. Perguntamos se ele podia nos ajudar e... ele nao falava ingles! Putz, assim ficava dificil. No fim, pedimos que ele escolhesse quatro pratos que ele achasse que gostariamos. Ele escolheu um Nasi Goreng, e entendemos que era arroz frito com frango; um Nasi Koening, arroz amarelo com frango; e Bami goreng, macarrao com frango. Aparentemente todos os pratos ali levavam frango. Como ele estava na duvida, acabamos escolhendo o quarto prato, sem saber o que era e sem conseguir entender a explicacao dele, so porque tinhamos achado engracado o nome e tinhamos discutido sobre o que seria: Gado gado. Aventamos a hipotese de que seria um monte de bifes... Ele olhou meio na duvida, mas concordou. Confesso que fiquei preocupada com o que seria o tal gado gado. Demorou mais ou menos uns 45 minutos, uma hora pra vir toda a comida. Tempo suficiente para nos preocuparmos 'a beira da obsessao sobre o quao apimentado seria tudo aquilo.
Quando chegou a comida... era tudo uma delicia. Pouquissima pimenta, tudo saboroso, o tempero do frango muito gostoso, adorei o arroz amarelo. Mas o melhor de todos foi o tal gado gado, que vinha acompanhado de um molho especial de amendoim, muito bom mesmo.
No fim das contas, valeu muito a pena ter ido la.
Amanha vai ser um dia corrido, por isso estou postando agora; espero conseguir postar no final da tarde.
Beijos a todos!
Martha Argel
P.S. So lembrando que nao consigo visualizar a caixa de comentarios aqui neste computossauro (ainda com o mosquito esmagado no canto da tela, e' nojento mas nao consigo tira-lo); quem quiser comentar algo, por favor escreva pra titaargel@ig.com.br. Dank!
Domingao, dia de descanso? Naaaao! Passamos quase todo o dia organizando as informacoes obtidas e planejando as acoes de amanha e depois. Vejam bem: quase todo.
Algumas horas foram passadas esperando, com muita paciencia (que outro remedio?) que o garcom nos atendesse, num restaurante javanes. Um lugar bonito, num bairro semi-rural, com muita vegetacao exuberante ao redor, e a ja costumeira miscelanea etnica nas mesas vizinhas. Claro, com um predominio evidente de javaneses.
Foi engracadissimo. Quase nao ha restaurantes abertos no domingo, e era esse ou nada. Chegamos la, nos sentamos, e depois de uns dez minutos chegou o menu. Quem diz que entendemos alguma coisa??? Tava tudo em javanes! Depois de uma meia hora, conseguimos que um garcom, um rapazinho javanes lindo de morrer, chegasse em nossa mesa. Perguntamos se ele podia nos ajudar e... ele nao falava ingles! Putz, assim ficava dificil. No fim, pedimos que ele escolhesse quatro pratos que ele achasse que gostariamos. Ele escolheu um Nasi Goreng, e entendemos que era arroz frito com frango; um Nasi Koening, arroz amarelo com frango; e Bami goreng, macarrao com frango. Aparentemente todos os pratos ali levavam frango. Como ele estava na duvida, acabamos escolhendo o quarto prato, sem saber o que era e sem conseguir entender a explicacao dele, so porque tinhamos achado engracado o nome e tinhamos discutido sobre o que seria: Gado gado. Aventamos a hipotese de que seria um monte de bifes... Ele olhou meio na duvida, mas concordou. Confesso que fiquei preocupada com o que seria o tal gado gado. Demorou mais ou menos uns 45 minutos, uma hora pra vir toda a comida. Tempo suficiente para nos preocuparmos 'a beira da obsessao sobre o quao apimentado seria tudo aquilo.
Quando chegou a comida... era tudo uma delicia. Pouquissima pimenta, tudo saboroso, o tempero do frango muito gostoso, adorei o arroz amarelo. Mas o melhor de todos foi o tal gado gado, que vinha acompanhado de um molho especial de amendoim, muito bom mesmo.
No fim das contas, valeu muito a pena ter ido la.
Amanha vai ser um dia corrido, por isso estou postando agora; espero conseguir postar no final da tarde.
Beijos a todos!
Martha Argel
P.S. So lembrando que nao consigo visualizar a caixa de comentarios aqui neste computossauro (ainda com o mosquito esmagado no canto da tela, e' nojento mas nao consigo tira-lo); quem quiser comentar algo, por favor escreva pra titaargel@ig.com.br. Dank!
Goede dag.
Aha!!! Aproveitei que nao tem ninguem olhando e limpei a tela do computador. Agora posso enxergar um pouco melhor. So nao consegui tirar o mosquito esmagado no canto inferior esquerdo, mas tudo bem, ele nao incomoda muito.
Sol danado la fora.
Ontem, tivemos uma manhan de trabalho intenso. Finalmente nos reunimos com alguem da empresa que nos contratou, o big boss por aqui, natural de algum lugar no meio do Caribe, um homem jovem, simpatico e extremamente inteligente. Depois chegou outro peixe graudo, um belga muito eficiente e amavel. Caramba, acho que estamos virando os maiores especialistas mundiais em Suriname!
Terminadas as reunioes, saimos para dar uma volta pelo centro da cidade, finalmente, pois nosso hotel esta nas aforas, lugar lindo mas longe da agitacao.
Sabado de manha, a cidade estava num movimento danado. Transito caotico, pedestres se enfiando por todos os cantos, aquele ar caribenho pero no mucho por conta das arquitetura tao peculiar. A cidade tem um aspecto decadente, que nao eh apenas impressao. Construcoes e infraestrutura comecaram a se deteriorar com a partida dos holandeses (ha quase quarenta anos!). Aparentemente, a independencia nao foi um bom negocio para o pais.
Fomos a uma livraria bonita e fiz uma aquisicao fantastica. Tem algum ornitologo por ai? Comprei o livro do Haverschmidt, Birds of Suriname, segunda edicao, publicada aqui em Paramaribo (!!!). Um livro espetacular, do porte do livro do Sick. Invejem-me! Acho que ninguem tem esse livro no Brasil. As ilustracoes sao maravilhosas. E como a sobrecapa estava rasgada, ainda tive 20% de desconto! Mesmo assim doeu pagar. Mas eh MEU, MEU, MEU!
Almocamos com um outro brasileiro, um paulista que eh representante da nossa empresa. Outra cena de filme da decada de cinquenta: mesa na varanda, comida apimentada (frango, arrox, feijao, salada, parece banal, mas o lance eh o tempero), la fora a chuva passageira caindo sobre a vegetacao luxuriante, e na conversa, a condicao social, politica e tecnica do pais sintetizada de forma admiravel. "Nosso homem em Paramaribo", nao parece nome de filme?
Depois de comer, conhecemos o Hotel Torarica (acento no primeiro A), um sonho tropical, enormes gramados e jardins com palmeiras e flores, decoracao com muita madeira entalhada por indios e maroons, e a velha duvida: elas sao mesmo assim ou tentam corresponder aos sonhos e estereotipos esperados pelo turista europeu?
De volta ao hotel, feliz com minha aquisicao, sai para dar uma banda nos arredores nosso hotel. Bairro de casas lindas, pelo visto de bom padrao, com muita muita muita vegetacao. Observei algumas aves, mas nada de novo, sao bichos comuns em Sampa & arredores. Fiquei impressionada com a quantidade de cachorros. TODAS as casas tem pelo menos dois peludos, varias tem tres ou quatro. Tudo viralata, exceto por alguns dobermans e rottweilers. Eles fazem a vigilancia de casas muito envidracadas, amplas e cercadas por cercas baixinhas ou sebes de arbustos floridos. Tudo permeado pela sempre-presente sensacao de abandono. Bonito e tropical.
De noite, no jartar, cheguei a conclusao de que estou comendo demais e me exercitando de menos, e resolvi moderar, pra nao ter de sofrer quando voltar a casa.
Agora preciso ir encontrar com o pessoal para tomar o cafe (sim, sim, vou me controlar!).
Ate amanha, tenham um bom domingo.
Martha Argel
Aha!!! Aproveitei que nao tem ninguem olhando e limpei a tela do computador. Agora posso enxergar um pouco melhor. So nao consegui tirar o mosquito esmagado no canto inferior esquerdo, mas tudo bem, ele nao incomoda muito.
Sol danado la fora.
Ontem, tivemos uma manhan de trabalho intenso. Finalmente nos reunimos com alguem da empresa que nos contratou, o big boss por aqui, natural de algum lugar no meio do Caribe, um homem jovem, simpatico e extremamente inteligente. Depois chegou outro peixe graudo, um belga muito eficiente e amavel. Caramba, acho que estamos virando os maiores especialistas mundiais em Suriname!
Terminadas as reunioes, saimos para dar uma volta pelo centro da cidade, finalmente, pois nosso hotel esta nas aforas, lugar lindo mas longe da agitacao.
Sabado de manha, a cidade estava num movimento danado. Transito caotico, pedestres se enfiando por todos os cantos, aquele ar caribenho pero no mucho por conta das arquitetura tao peculiar. A cidade tem um aspecto decadente, que nao eh apenas impressao. Construcoes e infraestrutura comecaram a se deteriorar com a partida dos holandeses (ha quase quarenta anos!). Aparentemente, a independencia nao foi um bom negocio para o pais.
Fomos a uma livraria bonita e fiz uma aquisicao fantastica. Tem algum ornitologo por ai? Comprei o livro do Haverschmidt, Birds of Suriname, segunda edicao, publicada aqui em Paramaribo (!!!). Um livro espetacular, do porte do livro do Sick. Invejem-me! Acho que ninguem tem esse livro no Brasil. As ilustracoes sao maravilhosas. E como a sobrecapa estava rasgada, ainda tive 20% de desconto! Mesmo assim doeu pagar. Mas eh MEU, MEU, MEU!
Almocamos com um outro brasileiro, um paulista que eh representante da nossa empresa. Outra cena de filme da decada de cinquenta: mesa na varanda, comida apimentada (frango, arrox, feijao, salada, parece banal, mas o lance eh o tempero), la fora a chuva passageira caindo sobre a vegetacao luxuriante, e na conversa, a condicao social, politica e tecnica do pais sintetizada de forma admiravel. "Nosso homem em Paramaribo", nao parece nome de filme?
Depois de comer, conhecemos o Hotel Torarica (acento no primeiro A), um sonho tropical, enormes gramados e jardins com palmeiras e flores, decoracao com muita madeira entalhada por indios e maroons, e a velha duvida: elas sao mesmo assim ou tentam corresponder aos sonhos e estereotipos esperados pelo turista europeu?
De volta ao hotel, feliz com minha aquisicao, sai para dar uma banda nos arredores nosso hotel. Bairro de casas lindas, pelo visto de bom padrao, com muita muita muita vegetacao. Observei algumas aves, mas nada de novo, sao bichos comuns em Sampa & arredores. Fiquei impressionada com a quantidade de cachorros. TODAS as casas tem pelo menos dois peludos, varias tem tres ou quatro. Tudo viralata, exceto por alguns dobermans e rottweilers. Eles fazem a vigilancia de casas muito envidracadas, amplas e cercadas por cercas baixinhas ou sebes de arbustos floridos. Tudo permeado pela sempre-presente sensacao de abandono. Bonito e tropical.
De noite, no jartar, cheguei a conclusao de que estou comendo demais e me exercitando de menos, e resolvi moderar, pra nao ter de sofrer quando voltar a casa.
Agora preciso ir encontrar com o pessoal para tomar o cafe (sim, sim, vou me controlar!).
Ate amanha, tenham um bom domingo.
Martha Argel
sábado, 14 de agosto de 2004
Bunde! (isso e' "bom dia" em snaram tongo)
Acordei com os bentevis cantando do lado de fora de minha janela. Parece que certas coisas nunca mudam...
Pois e'. O dia ontem foi brabo, primeiro o stress de tentar marcar ao menos alguma reuniao que valesse o dia e depois, quando finalmente conseguimos, o stress de fazer tudo direitinho. Para minha extrema alegria, o primeiro contato foi logo de cara com um ornitologo. Ueba. Eu podia nao ter muita seguranca quanto ao idioma, mas pelo menos o assunto eu dominava.
No fim, ate que foi legal, tenho a impressao de que meu ingles vai aos poucos se desenferrujando e se desenrolando, e a comunicacao vai se fazendo mais facil.
Boa parte do dia se passou dentro de ambientes fechados, mas durante as viagens de taxi deu pra ver um monte de coisas. Eu quase ficava enjoada de tanto virar a cabeca de um lado para o outro, tentando ver tudo, absorver tudo.
Pra mim, Paramaribo e linda. Nosso hotel esta afastado do centro, e a vizinhanca e' incrivelmente verde e luxuriante, cheia de flores e plantas de folhagem vicosa. No trajeto ate o centro, cada esquina e' um susto, por conta da mao de conducao invertida. Os carros viram nos lugares errados, aparecem de onde menos espera, e voce sempre fica om a impressao de que vai vir um onibus e te pegar de frente porque, afinal, voce esta na contra-mao! As ruas sao estreitas, praticamente nao vi avenidas, e o trafego e uma loucura, super-intenso. O centro da cidade e' a coisa mais pitoresca que ja vi, com a arquitetura em madeira, a profusao de varandas que 'as vezes faz lembrar aquelas cidades de velho-oeste estadunidense, a vegetacao sempre muito verde e abundante e o predominio de gente de pele escura (de todas as etnias possiveis e imaginaveis).
Como tem gente bonita aqui! Negros, mulatos, indianos, gente com tracos orientais que nao da pra saber de que origem sao, loiros, de tudo. As misturas sao incriveis. A gente costuma achar que Sao Paulo tem todas as racas imaginaveis, e e' esquisito ver tantos tipos fisicos com os quais nao estamos familiarizados. Tenho de me controlar principalmente com relacao aos indianos, que acho tao bonitos. Minha tendencia e ficar encarando. Ontem de noite, no restaurante, havia uma enorme familia de origem hindu e eu ficava o tempo todo observando-os de rabo de olho. O, falta de educacao!
A Ana, uma da minhas companheiras de viagem, que ja rodou meio mundo, disse que nunca tinha visto nada parecido, e eu concordei. Nao e' Europa, mas tambem nao e' nada do que eu conheco como America Latina. Acho que e' Caribe. Eu nao consigo deixar de me imaginar, o tempo todo, num daqueles filmes do James Bond com o Sean Connery, em que ele vai para a Jamaica. Acho que e' bem isso.
Quanto 'a comida: eles adoram pimenta!!! No jantar comemos um frango com curry que estava uma delicia, mas minha boca ficou pegando fogo. No almoco tinhamos comido uns salgadinhos. Achei engracado que tinha algo parecido com uma empadinha, mas nao comi, acabei escolhendo um enroladinho de carne, gostoso e, claro, apimentadinho. Para beber, em geral peco suco de laranja, na esperanca de que venha algo parecido com o que tomei no aviao, mas sempre me trazem algo que deve ter vindo da Holanda numa embalagem tetrapak. Na janta, peco outra coisa: Parbo. E' a cerveja local. Fiquei fan (imaginem so, eu que nao gosto de cerveja...). Na lingua local, cerveja e' "biri".
Hoje temos algumas reunioes marcadas para a parte da manha. Tomara que sejam produtivas. E tomara que sobre um tempinho 'a tarde para voltar ao centro e ver um pouco da paisagem.
Heb een goede dag! (isso e' "tenham um bom dia" em holandes)
Beijos
Martha Argel
Acordei com os bentevis cantando do lado de fora de minha janela. Parece que certas coisas nunca mudam...
Pois e'. O dia ontem foi brabo, primeiro o stress de tentar marcar ao menos alguma reuniao que valesse o dia e depois, quando finalmente conseguimos, o stress de fazer tudo direitinho. Para minha extrema alegria, o primeiro contato foi logo de cara com um ornitologo. Ueba. Eu podia nao ter muita seguranca quanto ao idioma, mas pelo menos o assunto eu dominava.
No fim, ate que foi legal, tenho a impressao de que meu ingles vai aos poucos se desenferrujando e se desenrolando, e a comunicacao vai se fazendo mais facil.
Boa parte do dia se passou dentro de ambientes fechados, mas durante as viagens de taxi deu pra ver um monte de coisas. Eu quase ficava enjoada de tanto virar a cabeca de um lado para o outro, tentando ver tudo, absorver tudo.
Pra mim, Paramaribo e linda. Nosso hotel esta afastado do centro, e a vizinhanca e' incrivelmente verde e luxuriante, cheia de flores e plantas de folhagem vicosa. No trajeto ate o centro, cada esquina e' um susto, por conta da mao de conducao invertida. Os carros viram nos lugares errados, aparecem de onde menos espera, e voce sempre fica om a impressao de que vai vir um onibus e te pegar de frente porque, afinal, voce esta na contra-mao! As ruas sao estreitas, praticamente nao vi avenidas, e o trafego e uma loucura, super-intenso. O centro da cidade e' a coisa mais pitoresca que ja vi, com a arquitetura em madeira, a profusao de varandas que 'as vezes faz lembrar aquelas cidades de velho-oeste estadunidense, a vegetacao sempre muito verde e abundante e o predominio de gente de pele escura (de todas as etnias possiveis e imaginaveis).
Como tem gente bonita aqui! Negros, mulatos, indianos, gente com tracos orientais que nao da pra saber de que origem sao, loiros, de tudo. As misturas sao incriveis. A gente costuma achar que Sao Paulo tem todas as racas imaginaveis, e e' esquisito ver tantos tipos fisicos com os quais nao estamos familiarizados. Tenho de me controlar principalmente com relacao aos indianos, que acho tao bonitos. Minha tendencia e ficar encarando. Ontem de noite, no restaurante, havia uma enorme familia de origem hindu e eu ficava o tempo todo observando-os de rabo de olho. O, falta de educacao!
A Ana, uma da minhas companheiras de viagem, que ja rodou meio mundo, disse que nunca tinha visto nada parecido, e eu concordei. Nao e' Europa, mas tambem nao e' nada do que eu conheco como America Latina. Acho que e' Caribe. Eu nao consigo deixar de me imaginar, o tempo todo, num daqueles filmes do James Bond com o Sean Connery, em que ele vai para a Jamaica. Acho que e' bem isso.
Quanto 'a comida: eles adoram pimenta!!! No jantar comemos um frango com curry que estava uma delicia, mas minha boca ficou pegando fogo. No almoco tinhamos comido uns salgadinhos. Achei engracado que tinha algo parecido com uma empadinha, mas nao comi, acabei escolhendo um enroladinho de carne, gostoso e, claro, apimentadinho. Para beber, em geral peco suco de laranja, na esperanca de que venha algo parecido com o que tomei no aviao, mas sempre me trazem algo que deve ter vindo da Holanda numa embalagem tetrapak. Na janta, peco outra coisa: Parbo. E' a cerveja local. Fiquei fan (imaginem so, eu que nao gosto de cerveja...). Na lingua local, cerveja e' "biri".
Hoje temos algumas reunioes marcadas para a parte da manha. Tomara que sejam produtivas. E tomara que sobre um tempinho 'a tarde para voltar ao centro e ver um pouco da paisagem.
Heb een goede dag! (isso e' "tenham um bom dia" em holandes)
Beijos
Martha Argel
sexta-feira, 13 de agosto de 2004
Ca estou, em Paramaribo (eles pronunciam ParaMAribo, com a enfase no ma). Pra variar, problemas de acentuacao. Estou escrevendo off-line, num word-pad que me deixa maluca, uma unica e longa linha. A tela do computador tem a camada de poeira mais grossa que eu ja vi, e embaca todas as letras. O inferno dos escritores deve ser mais ou menos assim. Paciencia.
A viagem foi longa, interminavel, um entra-e-sai em aeroportos e avioes. Primeira etapa: Sao Paulo - Brasilis. Parecia que apenas nos nao estavamos de camisa social e terno preto. Segunda etapa, Brasilia - Belem, e a mudanca na clientela foi radical. Agora todos tinham cara de ambientalistas xiitas. A meu lado viajou um rapaz que desenvolve sites na internet que ia para uma apresentacao em Macapa. Provavelmente um nerd, bonitinho e sempre cheio de assunto. Conversamos bastante, e a viagem foi agradavel.
Foi em Belem que comecaram as novidades. Primeiro, o calor. Que delicia, depois do longo e frio inverno que se instalou em Sampa! Em seguida, o balcao da Surinam Airways, onde fomos cercados por gente que falava frances. Passageiros rumo a Caiena, na Guiana Francesa, onde fariamos escala. Ao passar pela policia federal, uma outra novidade: meu recem-tirado passaporte e inaugurado... com um carimbo do Brasil! Nosso voo saiu *apenas* meia uma hora atrasado. Bem-vindos ao ritmo amazonico. Parece que tivemos sorte. Durante a a espera, encontramos o Ed, um surinamense que tem ajudado o pessoal da empresa por aqui. Ok, consegui me comunicar, meu ingles esta enferrujado mas nada que um ou dois dias nao deem jeito.
Outro fato inusitado: viajamos de classe executiva! Hum, minha primeira vez tinha de ser pela Surinam Airways? As poltronas eram mais largas e nos serviram um suco gostoso, que nao consegui identificar (era de "surinamese orange", que ja me disseram que tem o tamanho de um melao grande ou uma melancia pequena!), and that`s all. Serviram algo para comer (parece que na economica nao servem), e era exatamente isso: "algo", um sanduiche seco de peixe (?!), com rodelinhas ressecadas de pepino e tomate (gostoso). Mas quem liga pra isso? Eu estava numa janelinha, e la embaixo passaram o rio Amazonas (imenso), a ilha de Marajo (interminavel), de novo o rio, e entao o que suponho que foi o vastissimo nada do Amapa. Voamos junto a costa, e era uma visao interessantissima, a "terra" - suponho que na verdade tudo manguezal - a linha da costa bem delimitada, e entao uma faixa de agua barrenta antes do mar azul escuro. Incrivel: a agua salgada nao chega na praia, a agua que banha a costa e agua doce, do rio Amazonas (situado centenas de quilometros a leste). Eta rio poderoso!
E depois do voo cheio de belas imagens... pousamos em Caiena! Muito mato, calor e quase todos os passageiros desceram: a maioria negros falando frances, mas tambemm alguns brasileiros, uma familia loirissima - pai, mae, cinco filhos - que em Belem falavam algo ininteligivel mas que agora tambem usavam o frances, turistas que poderiam ser de qualquer lugar. O voo continuou viagem quase vazio, e por fim chegamos a Paramaribo quando ja escurecia.
Eu estava exausta, depois de viajar o dia inteiro.
Fomos recebidos no aeroporto de Zanderij (algo assim) por nossos motoristas - iriamos em dois carros. O nosso era um rapaz bem negro com uma camisa estampada com oncas e folhagens de cores berrantes.
Ok, primeira licao: os carros andam pelo lado esquerdo. Segunda licao: nao seja pedestre no Suriname. Nao ha calcadas. Terceira licao: nao ha nada igual ao Suriname em nenhum outro pais da America Latina, e provavelmente do mundo!
O longo caminho do aeroporto a capital, uns 30-40 km (pergunta: porque tao longe? resposta: o aeroporto foi construido durante a segunda guerra e foi adaptado depois, nao quiseram gastar grana num novo) me revelou, apesar da escuridao, uma arquitetura particular, muitas casas de madeira, a maioria de dois andares, espalhadas por uma paisagem ainda cheia de restos de matas. Lindas as casas, grandes, espacosas. A medida que chegavamos perto da capital, a paisagem ficava mais e mais urbana: dezenas de "bar and restaurant", todos com nomes chineses. Tambem dezenas de supermercados chineses, e a palavra se escreve de tres jeitos diferentes: supermarkt, supermarket e supermarkeet. Pais maluco, suponho que seja, respectivamente, holandes, ingles e takitaki (os idiomas usados aqui).
E as mesquitas!!! Quando cheguei a 10 parei de contar.
Bom, por fim chegamos a nosso hotel, o de Luifel, simpatico e com uma comida deliciosa - comi uns camaroes que voces nao acreditam!
Dormi como uma pedra.
Hoje ainda nao sabemos o que fazer. Aparentemente nao temos compromissos marcados, o que e um contratempo, e tempo perdido, mas vamos ver o que podemos fazer.
Ate a proxima, cuidem-se.
Martha Argel, por enquanto feliz com o calor...
A viagem foi longa, interminavel, um entra-e-sai em aeroportos e avioes. Primeira etapa: Sao Paulo - Brasilis. Parecia que apenas nos nao estavamos de camisa social e terno preto. Segunda etapa, Brasilia - Belem, e a mudanca na clientela foi radical. Agora todos tinham cara de ambientalistas xiitas. A meu lado viajou um rapaz que desenvolve sites na internet que ia para uma apresentacao em Macapa. Provavelmente um nerd, bonitinho e sempre cheio de assunto. Conversamos bastante, e a viagem foi agradavel.
Foi em Belem que comecaram as novidades. Primeiro, o calor. Que delicia, depois do longo e frio inverno que se instalou em Sampa! Em seguida, o balcao da Surinam Airways, onde fomos cercados por gente que falava frances. Passageiros rumo a Caiena, na Guiana Francesa, onde fariamos escala. Ao passar pela policia federal, uma outra novidade: meu recem-tirado passaporte e inaugurado... com um carimbo do Brasil! Nosso voo saiu *apenas* meia uma hora atrasado. Bem-vindos ao ritmo amazonico. Parece que tivemos sorte. Durante a a espera, encontramos o Ed, um surinamense que tem ajudado o pessoal da empresa por aqui. Ok, consegui me comunicar, meu ingles esta enferrujado mas nada que um ou dois dias nao deem jeito.
Outro fato inusitado: viajamos de classe executiva! Hum, minha primeira vez tinha de ser pela Surinam Airways? As poltronas eram mais largas e nos serviram um suco gostoso, que nao consegui identificar (era de "surinamese orange", que ja me disseram que tem o tamanho de um melao grande ou uma melancia pequena!), and that`s all. Serviram algo para comer (parece que na economica nao servem), e era exatamente isso: "algo", um sanduiche seco de peixe (?!), com rodelinhas ressecadas de pepino e tomate (gostoso). Mas quem liga pra isso? Eu estava numa janelinha, e la embaixo passaram o rio Amazonas (imenso), a ilha de Marajo (interminavel), de novo o rio, e entao o que suponho que foi o vastissimo nada do Amapa. Voamos junto a costa, e era uma visao interessantissima, a "terra" - suponho que na verdade tudo manguezal - a linha da costa bem delimitada, e entao uma faixa de agua barrenta antes do mar azul escuro. Incrivel: a agua salgada nao chega na praia, a agua que banha a costa e agua doce, do rio Amazonas (situado centenas de quilometros a leste). Eta rio poderoso!
E depois do voo cheio de belas imagens... pousamos em Caiena! Muito mato, calor e quase todos os passageiros desceram: a maioria negros falando frances, mas tambemm alguns brasileiros, uma familia loirissima - pai, mae, cinco filhos - que em Belem falavam algo ininteligivel mas que agora tambem usavam o frances, turistas que poderiam ser de qualquer lugar. O voo continuou viagem quase vazio, e por fim chegamos a Paramaribo quando ja escurecia.
Eu estava exausta, depois de viajar o dia inteiro.
Fomos recebidos no aeroporto de Zanderij (algo assim) por nossos motoristas - iriamos em dois carros. O nosso era um rapaz bem negro com uma camisa estampada com oncas e folhagens de cores berrantes.
Ok, primeira licao: os carros andam pelo lado esquerdo. Segunda licao: nao seja pedestre no Suriname. Nao ha calcadas. Terceira licao: nao ha nada igual ao Suriname em nenhum outro pais da America Latina, e provavelmente do mundo!
O longo caminho do aeroporto a capital, uns 30-40 km (pergunta: porque tao longe? resposta: o aeroporto foi construido durante a segunda guerra e foi adaptado depois, nao quiseram gastar grana num novo) me revelou, apesar da escuridao, uma arquitetura particular, muitas casas de madeira, a maioria de dois andares, espalhadas por uma paisagem ainda cheia de restos de matas. Lindas as casas, grandes, espacosas. A medida que chegavamos perto da capital, a paisagem ficava mais e mais urbana: dezenas de "bar and restaurant", todos com nomes chineses. Tambem dezenas de supermercados chineses, e a palavra se escreve de tres jeitos diferentes: supermarkt, supermarket e supermarkeet. Pais maluco, suponho que seja, respectivamente, holandes, ingles e takitaki (os idiomas usados aqui).
E as mesquitas!!! Quando cheguei a 10 parei de contar.
Bom, por fim chegamos a nosso hotel, o de Luifel, simpatico e com uma comida deliciosa - comi uns camaroes que voces nao acreditam!
Dormi como uma pedra.
Hoje ainda nao sabemos o que fazer. Aparentemente nao temos compromissos marcados, o que e um contratempo, e tempo perdido, mas vamos ver o que podemos fazer.
Ate a proxima, cuidem-se.
Martha Argel, por enquanto feliz com o calor...
quarta-feira, 11 de agosto de 2004
Ok, cá estou eu, véspera de viagem e ainda no escritório, quase oito e meia da noite, ainda arrumando o material pra viagem.
Viagem de trabalho é isso aí.
O vôo é (quase) madrugador, sete e pouco da manhã. Viajaremos o dia inteiro. Vai ser um loooongo dia... Não sei se conseguirei escrever aqui. De qualquer forma, o próximo post já será em Paramaribo, sem dúvida cheio dos costumeiros problemas com teclados estrangeiros.
beijos a todos, cuidem-se e até breve!
Martha Argel
Viagem de trabalho é isso aí.
O vôo é (quase) madrugador, sete e pouco da manhã. Viajaremos o dia inteiro. Vai ser um loooongo dia... Não sei se conseguirei escrever aqui. De qualquer forma, o próximo post já será em Paramaribo, sem dúvida cheio dos costumeiros problemas com teclados estrangeiros.
beijos a todos, cuidem-se e até breve!
Martha Argel
terça-feira, 10 de agosto de 2004
Eu de novo, em edição extraordinária.
Hamartia, aviões e belas imagens
Saiu na Folha de hoje, na página E5 da Ilustrada, uma matéria sobre o filme Hamartia - Ventos do destino, do diretor e roteirista Rondon de Castro (muitos de vocês já me ouviram falar dele, né?). Rondon é professor da Universidade de Santa Maria (RS) onde também montou um núcleo de cinema muito ativo.
Vai ser o primeiro filme brasileiro a ser rodado em instalações da FAB, e uma das grandes estrelas é o avião AMX, que segundo o Rondon é o avião mais bonito que existe. O filme não é tipo aventura com pilotos gostosões, mas intimista, centrado em emoções e, claro, cenas aéreas. Vai ser rodado em várias bases pelo país, inclusive na Amazônia, e promete imagens incríveis, inclusive da destruição de uma pista clandestina usada por traficantes.
Outro dia vi as provas dos cartazes e da capa do vídeo. Acreditem, o material está MARAVILHOSO!!!!
Não vejo a hora do filme estar pronto. Fiquem de olho, quando estiver nos cinemas, não deixem de ir. Quem sabe vamos todos juntos????
beijos, cuidem-se
Martha Argel,
arrumando as malas, a viagem ao Suriname começa depois de amanhã
Hamartia, aviões e belas imagens
Saiu na Folha de hoje, na página E5 da Ilustrada, uma matéria sobre o filme Hamartia - Ventos do destino, do diretor e roteirista Rondon de Castro (muitos de vocês já me ouviram falar dele, né?). Rondon é professor da Universidade de Santa Maria (RS) onde também montou um núcleo de cinema muito ativo.
Vai ser o primeiro filme brasileiro a ser rodado em instalações da FAB, e uma das grandes estrelas é o avião AMX, que segundo o Rondon é o avião mais bonito que existe. O filme não é tipo aventura com pilotos gostosões, mas intimista, centrado em emoções e, claro, cenas aéreas. Vai ser rodado em várias bases pelo país, inclusive na Amazônia, e promete imagens incríveis, inclusive da destruição de uma pista clandestina usada por traficantes.
Outro dia vi as provas dos cartazes e da capa do vídeo. Acreditem, o material está MARAVILHOSO!!!!
Não vejo a hora do filme estar pronto. Fiquem de olho, quando estiver nos cinemas, não deixem de ir. Quem sabe vamos todos juntos????
beijos, cuidem-se
Martha Argel,
arrumando as malas, a viagem ao Suriname começa depois de amanhã
segunda-feira, 9 de agosto de 2004
Bom dia, todos.
O frio voltou a se instalar em Sampa, mas não sofrerei com ele por muito tempo.
Na quinta-feira começo minha viagem ao Suriname. Tomarei um vôo rumo a Belém, e aí tomarei o avião de uma empresa surinamense, com destino a Paramaribo, a capital do País.
Com cerca de 250 mil habitantes, Paramaribo é a maior cidade do país, e concentra mais da metade de sua população.
A composição étnica do Suriname é a mais excêntrica possível: 37% de paquistaneses, 31% de crioulos (= nativos) ou "surinameses", 15% de indonésios, 10% de maroons (mais ou menos o equivalente a quilombolas, descendentes de escravos fugidos), 2% de chineses, 2% de ameríndios, 1% de europeus e 2% de "outros".
Fala-se holandês lá, mas a língua mais usada é um dialeto cujo nome ainda não sei ao certo: em diferentes sites, enciclopédias e documentos é chamado de "surinamês", "taki-taki" ou algo como "sranam lango" (não estou bem certa se é isso).
Bem, por enquanto é só. Vou tentar manter o diário online da viagem, mas não estou certa se encontrarei internet fácil em Paramaribo, ou se minha agenda me permitirá.
abraços a todos, torçam por mim (estou realmente ansiosa)
Martha Argel
O frio voltou a se instalar em Sampa, mas não sofrerei com ele por muito tempo.
Na quinta-feira começo minha viagem ao Suriname. Tomarei um vôo rumo a Belém, e aí tomarei o avião de uma empresa surinamense, com destino a Paramaribo, a capital do País.
Com cerca de 250 mil habitantes, Paramaribo é a maior cidade do país, e concentra mais da metade de sua população.
A composição étnica do Suriname é a mais excêntrica possível: 37% de paquistaneses, 31% de crioulos (= nativos) ou "surinameses", 15% de indonésios, 10% de maroons (mais ou menos o equivalente a quilombolas, descendentes de escravos fugidos), 2% de chineses, 2% de ameríndios, 1% de europeus e 2% de "outros".
Fala-se holandês lá, mas a língua mais usada é um dialeto cujo nome ainda não sei ao certo: em diferentes sites, enciclopédias e documentos é chamado de "surinamês", "taki-taki" ou algo como "sranam lango" (não estou bem certa se é isso).
Bem, por enquanto é só. Vou tentar manter o diário online da viagem, mas não estou certa se encontrarei internet fácil em Paramaribo, ou se minha agenda me permitirá.
abraços a todos, torçam por mim (estou realmente ansiosa)
Martha Argel
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