quarta-feira, 19 de março de 2003

Bom dia.

Acordei de madrugada pensando se já havia gente morrendo estupidamente no Oriente Médio, mas a verdade é que sempre há gente morrendo estupidamente em toda parte. Por exemplo, nas grandes cidades brasileiras e até no ensolarado interior paulista. A guerra não está só lá. Está aqui. Você pode ter tentáculos da guerra dentro de sua própria casa. Não a guerra do Bush. Armas e petróleo são duas mercadorias cobiçadas, mas não as únicas. Drogas também são. E animais silvestres. A ganância age onde pode.

Ontem fui ao PromoCenter da Augusta comprar umas fitas virgens pra gravar as novas temporadas da Buffy e do Angel, que começaram à noite. Dei azar. Havia uma batida da polícia atrás de contrabando e pirataria. Um monte de gente presa e viaturas e mais viaturas de material apreendido (para onde irá, me pergunto...). Não comprei as fitas. Elas também eram contrabando. Se as lojas estivessem abertas, teria comprado. Mas comprei umas roupas. Nesses outlets, as roupas são muito mais baratas, e sabem por que? Porque são feitas por bolivianos e paraguaios mantidos em regime de escravidão por quadrilhas, em geral de coreanos. E eu comprei. Putaqueopariu. Nos shoppings, a blusa que eu queria custa 90 reais. Por menos que isso comprei cinco peças de roupa. Como é possível a a gente fazer o certo quando o errado é o único que está a nosso alcance?

E parte de meu dia foi passada diante da televisão, hipnotizada. Vi pronunciamentos de autoridades estadunidenses, britânicas, iraquianas, francesas e até daquele palhaço chamado José Maria Aznar (o cara é um energúmeno!). Horas e horas perdidas em conversa mole por gente influente que deveria estar usando seu precioso e escasso tempo para melhorar a vida das pessoas que vivem sob seus governos.

Mas não foi um dia totalmente negro, de recriminações e melancolia. Indo para uma reunião, topei na rua com o Joaquim, um dos Andarilhos das Letras lá da Benedito Calixto. Ele é inconfundível, com seus cabelos multicoloridos. Batemos um papo bacana, apesar de curto. E de noite, um papo telefônico muito mais longo, com um paulistano que estudou em Piracicaba, trabalhou em Quito e hoje está em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Um prazer conhecer telefonicamente alguém cujos e-mails são tão interessantes. Aliás, tão interessantes quanto as coisas que ele tem pra contar. Ele não visita o blog, mas fica registrado. Adorei o papo, Rondon!

E pra terminar, só uma palavra sobre o domingo e o pessoal que esteve no Salamandra. Adorei ter ido. Eu não estava num bom dia. A iminência da guerra, um reajuste injusto sobre um imposto que pago (aumento de 1.200% tá de bom tamanho para vocês?), a lembrança de um afeto sufocado, a ânsia de trabalhar sem ter no quê, tudo isso me deixou à beira das lágrimas durante todo o final de semana. Minha vontade era procurar refúgio na cama. Mas que bom que decidi sair e ver gente. Giulia, Priscilla, Cintia, Adriano, meus amigos há tanto tempo. Todo o pessoal que conheci mais recentemente. A alegria de ser procurada por uma leitora que disse como tinha adorado o livro. A felicidade do Cid relembrando o momento em que pôs a mão em seu livro Voivode pela primeira vez. Os contatos. Acho que estou de volta ao cenário gótico. Que bom.

Fiquem todos bem e nunca percam a capacidade de se indignar com os horrores criados pelas pessoas sem consciência.

Martha Argel

Nenhum comentário: