segunda-feira, 25 de novembro de 2002

Duas cenas urbanas...
Isto aqui não é a página policial de nenhum tablóide sensacionalista, mas não posso deixar de fazer comentar um fato muito mórbido. Estão todos aí devidamente estarrecidos pelo mais novo crime sensacional acontecido, para deleite da imprensa marrom (ou seria vermelha?), nesta Sampa que é nosso amor e nossa dor?
Pois bem, vocês sabem, eu caminho pra caralho todos os dias, de manhã bem cedinho. Pois todos os dias, de manhã bem cedinho, eu passo na frente da casa onde os assassinatos foram cometidos. É de arrepiar quando o grotesco está na casa ao lado, e não nas páginas da ficção ou na tela da televisão.
E o mais assustador é que, mais ou menos um mês atrás, a umas cinco quadras de casa, teve outro assassinato, não sei se alguém aí lembra, o da mulher que matou o marido e saiu dizendo que tinha sido assalto.
É o mesmo mundo em que eu vivo? É possível que essas flores que sempre vejo, as ruas tranqüilas, os sorrisos e bons-dias que salpicam meu percurso matinal escondam tantos dramas inconcebíveis?

... e duas cenas rurais.
No assentamento do INCRA do qual falei no post anterior:
1. Mal chegamos no sítio do casal, de idade mas nem tanto (uns 60?), a mulher, que acabávamos de conhecer, perguntou porque a gente não ficava pra passar a noite na casa deles. “A gente tá indo viajar, mas não tem problema, vocês podem ficar assim mesmo, a gente dá a chave para vocês. Vocês são gente boa, dá pra perceber”.
2. Choveu no penúltimo dia de nossa viagem. Uma tempestade medonha, que nos pegou em plena BR-153, já quase chegando ao alojamento, às dez da noite. Foram os quatro quilômetros mais longos de minha vida, e depois deles ainda enfrentamos atoleiros e galhos caídos de través na estrada, antes de chegarmos “em casa”, onde as goteiras se revelaram nos locais mais indesejados. No dia seguinte, a tentativa de atravessar uma poça resultou num carro atolado e inundado com água barrenta até a altura do tornozelo. Mas a cara de felicidade dos agricultores – que até um dia antes aravam a terra esturricada e procuravam no céu azul indícios do fim de meses de seca – nos mostrava que, para a lavoura, “tempo bom” não é exatamente aquele que nos leva às piscinas e à praia.
Também não é o mundo ao qual estou acostumada.

Mundos paralelos, estranhos, que surgem quando você ou eu dobramos uma esquina. Alguém aí se queixa de tédio em sua vida? É só abrir os olhos e começar a enxergar.

beijos, fiquem bem.

Martha Argel

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