Mais um dia tipicamente turístico ontem. Sempre acordo cedo, mas entre tomar banho, escolher a roupa do dia (toda uma ciência, mesmo que eu sempre saia de jeans e camiseta), dar uma arrumada no quarto, escrever o diário e procurar uma internet pra atualizar, já são dez e meia, onze horas quando afinal consigo cair no mundo.
Seria mais fácil se eu pudesse usar por dez minutos o computador do hotel pra carregar o post do blog, mas sempre tem um desocupado olhando as notícias do Pan, ou algum adolescente no orkut ou msn. E adivinha. Sempre compatriotas.
O pior é que ontem a Cintia me mandou um e-mail com um artigo sobre a brasileirização do mundo, como alguns sociólogos (de fora do Brasil, hein?) chegaram à conclusão de que fenômenos sociais e comportamentais aparecem na nossa adorável terrinha antes, e depois se espalham como uma peste pelo resto do globo. Mais pior ainda? Ontem, conversando com um amigo, ele mencionou, cheio de dedos, a brasileirização da Argentina (empobrecimento da população, aumento da desigualdade social, sucateamento da infraestrutura, etc), sem que eu tivesse sequer mencionado o e-mail da Cin. Algo me diz que, por mais assustador que seja, o fenômeno é real. Medo. Tenham muito medo.
Mas voltando a assuntos mais amenos e menos aterrorizantes. No fim da manhã minha mãe e eu saímos pela avenida de Mayo, destino calle Florida. Enroscamos na primeira loja. Na segunda (que era uma livraria). Na terceira. Bem mais carregadas, chegamos ao que seria uma parada para tomar algo. Era o Café Tortoni, famosíssimo por ter sido um ponto de encontro de Borges e outros escritores e artistas. Acabamos ficando umas duas horas lá, almoçamos e tomamos vinho (que café, o quê!). Sugestão: se vierem a Buenos Aires, não percam esse programa por nada do mundo.
Depois de comer, meio vacilantes das pernas, nos separamos. Minha mãe voltou ao hotel e eu saí para percorrer Florida (leia-se visitar a livraria El Ateneo).
Pelo meio do caminho fiquei pela Plaza de Mayo, onde depois de muitos anos visitei a Catedral, imponente e solene. Já estava de saída quando o órgão começou a soar. Que bonito!
Na Plaza de Mayo queria visitar, ainda, o Cabildo, talvez o edifício histórico mais importante da Argentina, pois ali foi declarada a independência. Cheguei a entrar no prédio, mas desisti. Havia uma manifestação do MST (!) ali do lado, barulhenta, com um sujeito cantando pelo alto-falante uma ladainha engajada, horrorosa, desafinada. Tinham fechado duas ruas e soltavam rojões um atrás do outro. Guardas de trânsito tentavam por ordem na baderna. Com medo que a coisa deteriorasse, resolvi me afastar. Já saindo da praça, escuto o seguinte diálogo entre duas vendedoras de rua. "Y... eso lo vamos a tener por toda la tarde", afirmou uma, aborrecida. "Siiiii, porque esos son de los pesados", respondeu a outra, com ar de entendedora.
Então cheguei a Florida. Uma hoste de brasileiros num frenesi de comprar, pra variar. Os mais diversos sotaques brasileiros, discutindo preços, comparando câmbio, decidindo em que loja entrar. Num dado ponto havia um daqueles mímicos de rua, que ficam parados como estátuas. Esse estava vestido de demônio! No meio da audiência que se juntara a seu redor, duas mocinhas com vestidos típicos de algum luar (que concluí serem mexicanas). O demônio estava tentando convencer a menina a tirar uma foto com ele, sob as risadas da platéia. Quando estendeu a mão e tentou pegá-la pelo braço, ela deu um grito de terror e saiu correndo, arrastando a amiga que tentava segurá-la. Vai ver que o sujeito era mesmo um demônio, e só ela percebeu... Mais adiante, um turista italiano dançava tango com uma moça de um grupo de dança. O sujeito estava dando um show. Até os próprios argentinos paravam para olhar, e trocavam comentários de aprovação.
Afinal consegui passar algum tempo em El Ateneo e comprar algumas coisas interessantes sobre arte, dinossauros e lobisomens. Desta vez, nada de vampiros.
Saindo da livraria, o passeio prolongou-se até a Plaza San Martín, linda, com árvores imensas e amplos passeios. Ali, numa área fechada, os cachorreiros (os passeadores de cachorros tão típicos de B. A.), deixam livres seus protegidos, que correm, brincam, fazem cocô e xixi, estabelecem sua rede de relacionamentos e latem alucinados para os semelhantes que passam do lado de fora. Um barato. Cachorros grandes, pequenos, velhos, peludos, pelados, sujos, limpos, de tudo. A maioria de roupinha. Um tinha tipo uma camiseta de mangas longas enfiada nas patas da frente. Fiquei um tempão ali olhando, e de vez em quando acariciando um labrador que me seguia ao redor da grade.
Voltei dali para o hotel, descansei um pouco e às sete e meia já tomava o metrô para ir me encontrar com amigos. Aquela linha de metrô era velhíssima! Nos vagões, bancos de madeira e iluminação com a abajures de teto e lâmpadas incandescentes! As portas eram abertas pelos próprios usuários. Uma viagem no tempo.
Fomos a La Violeta, um bar antigo que foi remodelado, lindíssimo. Outro programa que recomendo. Pedimos uma tábua de frios e queijos e, claro, vinho.
Demos a noite por encerrada às onze e meia, e para minha surpresa, me informaram que o metrô já tinha fechado. Meus amigos me acompanharam até o ponto do ônibus, me explicaram direitinho onde tinha que descer e eu, claro, desci no lugar errado, várias quadras antes. Foi uma linda caminhada pela avenida de Mayo, à meia-noite, e cheguei sã e salva ao hotel. Claro que tinha um brazuca olhando as notícias do Pan. Putz, se tivesse ficado no Brasil ia ser mais fácil de acompanhar os jogos, né?!
beijos a todos!
Martha Argel
quinta-feira, 26 de julho de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário