quarta-feira, 18 de julho de 2007

17-18 de julho de 2007

(ontem deu uma merda geral na internet aqui na cidade, e nao pude postar o que tinha escrito. posto hoje, sem muita vontade, passada com o acidente terrível ocorrido em minha cidade)

17 de julho de 2007

Dizem que não existe cansaço acumulado. Sei lá. O fato é que, de uns dias pra cá, bateu uma vontade de trabalhar que há muito eu não sentia. Depois dos primeiros dias de lezeira total, não consigo mais ficar na cama por muito tempo, dá uma vontade danada de levantar e fazer algo que preste.
Ontem, mais uma vez, às seis e meia estava diante do computador trabalhando no livro das aves do Brasil. Como a consciência começa a pesar se eu também não fizer algo físico, dei o trabalho por encerrado às dez e meia e saí para, como se diz aqui, "hacer unos mandados", ou seja, fazer as coisas que se tem que fazer na rua. O frio já tinha diminuído de forma sensível. Hurra!
Passei por um dos dois caixas eletrônicos que existem na cidade, fui à livraria bater papo com o dono, Gabriel Fedor (que nome!), e então me encontrei com minha mãe e uma amiga dela para tomar algo e "picar" (comer uns aperitivos) no café Paris (se pronuncia Páris).
O Paris parece algum lugar saído de um filme. Antiquado, acolhedor, com uma dúzia de mesas de cadeira maciça e cadeiras pesadas de assento estofado. Os fregueses são pessoas de meia idade que se encontram aí para conversar e, detalhe importante, observar pela enorme vidraça a vida que passa na calçada em frente. Cada um que desfilava diante da vidraça do Paris era objeto de um longo e detalhado relatório por parte da amiga de minha mãe, uma senhora elegante, de belos olhos azuis e porte aristocrático.
"Y... Así es la vida en el pueblo, ¿viste?" Assim é a vida na cidade pequena. Não há muito o que fazer a não ser manter-se a par da vida alheia.
"Agora já não é como antes. Antes se conhecia todo mundo, agora já tem tanta gente jovem que não dá pra saber quem são". A cidade cresce. Os velhos costumes são duros de manter. Mas nestes dias vi gente novinha mantendo a tradição. "Que sobrenome tem?" Filho de fulana, vizinho do velho sicrano, o avô é o falecido beltrano.
E sem perceber de repente você se vê privando da intimidade de gente que morreu há vinte, trinta anos. Mas o passado, no "pueblo", não morre, e quando diferentes gerações se reúnem a "matear", pontes formam-se através das décadas, histórias antigas repetem-se, enriquecidas pelo presente, enriquecendo novas histórias. Campo fértil para um historiador. Não vi nenhum historiador profissional por aqui, mas historiadores amadores os há de monte.
Entre os Argel há uma verdadeira paixão em traçar sua própria história, talvez por ser um sobrenome tão peculiar, tão único. Aparentemente, todos os Argel, ao menos na América do Sul, provém do mesmo e diminuto estoque original que aportou aqui vindo da Vascongada francesa, a quase desconhecida porção do País Basco que a fronteira separou das muito mais conhecidas províncias bascas da Espanha – Alava, Guipúzcoa e Navarroa, aprendi quando era criança.
Os Argel percorrem a Argentina, cruzam o "charco" (o Oceano Atlântico), entrevistam os poucos velhos que restam, buscam os outros Argel. Criam teorias, revelam histórias que ninguém sabe se são reais. Como boa Argel, faço também minha parte. Um dia vou escrever um livro, minha versão fantasiosa dos Argel, família misteriosa que simplesmente surgiu na América, pois ninguém ainda a encontrou, ou a sua origem, no Velho Mundo... Peculiar simetria: uma família basca repetindo o própria história do povo basco.
Afff, que digressão genealógica de uma herdeira das tradições vilarinhas!
Voltando a um passado bem mais recente, depois do ritual no Paris fui ao cibercafé colocar em dia minhas obrigações eletrônicas. Lucrécia, que atende atrás do balcão, abriu um sorriso. Eu tinha reaparecido depois de vários dias! O fato é que Sérgio, outras das pessoas que trabalha ali, e que também tem um programa em uma rádio local, estava doido atrás de mim. Ele já tinha até divulgado no ar que ia entrevistar "em breve", uma escritora brasileña que andava pela cidade... e a referida escritora tinha sumido! Putz, eu já tinha dito que não queria falar pela rádio, muito menos ao vivo... Mas parece que ninguém deu muita bola. Não tive como escapar. Assim, se algum de vocês aí estiver passando por Rauch hoje, às dez e meia da manhã, não perca, hein?!
No fim da tarde (pouco depois das cinco!), depois de "hacer unos mandados más", fui visitar uma amiga, Anita, e me arrependi de não ter feito isso antes. Anita é cheia de energia, de iniciativa, uma daquelas pessoas que dá vida a um lugar morto como este, que sente um prazer imenso em conectar as pessoas. Pegou o celular e num instante comunicou a meio pueblo que eu estava aqui, e restabeleceu contatos que fiz anos atrás e tinha esquecido.
Puxa vida, que droga. Demoro em sair da toca, e aparece um monte de coisa interessante pra fazer, justo quando acabo de traçar os planos para sair da cidade.
Bom, não dá pra gente fazer tudo, né? E descansar um pouco às vezes é necessário. Se bem que descansar demais pode ser um saco...

Beijos (não tão gelados) e queijos (con dulce de membrillo) a todos!
Martha Argel


18 de julho de 2007

Chocada com a acidente de ontem. Tão perto de minha casa, e eu tão longe.
Nem dá vontade de relatar minha aventuras tão banais, mas vá lá, pra cumprir tabela, mesmo porque enquanto as coisas aconteciam eu, sem uma bolo de cristal à mão, estava me divertindo muito.
Primeiro, não atualizei o blog com o que tinha escrito porque esqueci o cabo do iPod em casa quando fui ao ciber, e depois quando voltei a internet não funcionava (como de resto não funcionava em toda a cidade!).
Depois dei a entrevista na rádio R, e embora não me lembre direito do que falei, parece que as pessoas curtiram, porque um monte de gente veio falar comigo e disseram que adoraram.
Aí saí pra tomar um café com um amigo meu que é repórter do jornal local, e depois fui almoçar com minha mãe e suas amigas.
À tarde, depois de voltar ao ciber e xingar por um bom tempo, desisti, fui pra livraria Fedor (de novo, que nome!)e lá passei um com tempo – e gastei uma boa grana! Quer dizer, boa em termos, comprei sete livros e gastei uns noventa reais.
De noite fui à casa de uma amiga, depois a um aniversário de criança e então à casa de uma prima.
Que dia!
Bom, espero que a internet tenha voltado. Estar longe de casa e não ter notícias é horrível.

Martha Argel

PS. este é meu último dia aqui em Rauch. Amanhã viajo cedo para La Plata. Não sei se terei acesso à internet pelos próximos dias.

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