Ontem tive um típico dia de turista em Buenos Aires. Nos enrolamos no hotel de manhã, esperando que os primos Suzana e Negro chegassem de Rauch. Enquanto isso, deleitei-me com o charme e a malemolência de nossos compatriotas no saguão do hotel, principalmente os adolescentes idiotas que não saíam do orkut, no computador disponibilizado para os hóspedes, ao lado do qual um cartazinho rogava que o tempo de uso não superasse os quinze minutos. Rá.
Só saímos ao meio-dia, e logo estávamos na calle Florida, reduto dos brazucas consumistas aqui em terras austrais. Jesus amado. Um mar de tapuias ávidos por investir em pechinchas duvidosas seus reais transformados em pesos e dólares. Eu estava por pedir arrego, por falta de ar e uma incipiente alergia aos conterrâneos, quando minha prima nos arranca do caos e nos leva por uma rua lateral. Ufa! Destino: uma loja com um nome absolutamente improvável.
"Vamos a Perramus".
E foi em Perramus que se produziu um milagre. Depois de anos de busca infrutífera, comprei fi-nal-men-te meu sobretudo longo! Custou tão, mas tão caro, que minha posterior visita à famosa livraria El Ateneo foi estéril e inútil. Estado de choque.
Não tive outro remédio senão voltar ao hotel, largar as poucas compras que tinha feito, vestir meu sobretudo novo e cair na rua outra vez.
Fui para a avenida Corrientes, a meca portenha do livro barato, e junto com meu amigo Juan passamos em revista umas dez ou quinze. O estado de choque já tinha passado, e comprei vários livros, mas não encontrei os dois que queria – um está esgotado, e o outro parece que não existe.
Teve um diálogo que foi uma pérola: "O senhor tem o livro de Rodolfo Coria, Los dinosaurios en la Patagonia? " E o livreiro, com cara de ofendido: "No, no, señora! Mas se esse livro está esgotado faz muito, porque é um trabalho muito sério sobre os dinossauros da nossa Patagônia! "
Como disse o Juan, "Gostei da inteligência do comentário". Vai que de repente o título da obra me levasse a crer que o livro era sobre os besouros do Chile.
Durante nossa caminhada, enfrentamos algumas vezes uma turba diferente dos turistas verde-amarelos: crianças. Milhares delas. Com o começo das férias de inverno, elas estão por toda parte, um tsunami nanico, ruidoso e totalmente fora de controle.
No fim, quando escureceu, entramos no café La Paz, em Corrientes e Uruguay (acho), onde o sistema de vedação da área dos fumantes é bem menos que perfeito. Daí a pouco eu não podia respirar. Minha amiga Ana Inés chegou, e Juan se foi. Apesar da poluição atmosférica, e do óbvio resfriado dela, ficamos conversando por umas duas horas. Quando resolvi que já tinha alugado demais a coitada, e sugeri que ela fosse embora pra casa, descansar, ela me perguntou o que eu planejava fazer.
"Continuar visitando as livrarias". Eram umas oito e meia da noite. "Ah, então vou com você". Isso por mais quase uma hora. Não há resfriado, nem frio, que detenha um bibliófilo alucinado!
No meio da caçada literária, passamos por El Gato Negro, um café onde eu já tinha estado uns anos antes, e que vende especiarias. Um monte delas eu nunca tinha visto antes. Acabei comprando coriandro e junípero, pra fazer vinho quente quando volte ao Brasil. Putz, fazia uns três anos que eu buscava esses dois condimentos.
Depois de me despedir de Ana Inés, voltei caminhando, quase dez e meia da noite, por avenidas cheias de gente. Isto é Buenos Aires.
E hoje tem mais... apesar do frio que voltou!
Besos y quesos
Martha Argel
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário