Bom dia.
Os dois ultimos dias foram de morgacao quase total. Talvez um mes seja meu limite maximo para ficar fora do Brasil. Ou talvez o espirito das ferias finalmente tenha me alcancado, e eu esteja fazendo o que realmente se deve fazer nas ferias, ficar de papo pro ar vendo as nuvens cruzarem o ceu.
Alias, nuvens andar rarissimas por aqui. O outono esta' sendo anormalmente seco e quente. Ontem de manha estava friozinho, mas 'a tarde sai' de moletom e acabei tendo de tirar. E tem gente que me pergunta, por e-mail, pelo orkut, se estou congelando aqui... Se continuar assim, as duas malhas de la~ voltam pra Sampa do jeito que vieram. Alias, nao, porque uma delas eu usei quando embarquei.
No sabado fomos fazer comprar num complexo de outlets numa das cidades satelite de Toronto. Uma das principais vias da cidade, a Highway, que corre paralela ao lago Ontario, estava fechada. Meu, o transito estava medonho na cidade inteira! Como pode uma unica via ferrar toda uma cidade de 3 milhoes de habitantes?! Tudo bem, suponho que se fecharem a 23 de maio, ferra boa parte de uma cidade de 11 milhoes...
Uma coisa que me impressiona aqui e' como os espacos publicos sao imensos. Parques enormes e estacionamentos gigantescos. Os saguoes de entrada e patios internos dos edificios, e os quintais mal-divididos por cerquinhas de madeirinha (ate' em NY!) ou telas de arame. Nao tem economia de espaco aqui. Fico imaginando porque e' que nos vivemos tao apertadinhos em Sampa, sendo o Brasil um pais quase tao grande quanto estes dois norte-americanos anglofonos.Ontem levamos o Andrew para Riverdale Farm, uma fazenda urbana, onde os pais levam os pimpolhos para verem vacas, cavalos, mulas, galinhas, ovelhas, coelhos e por ai' afora. Lindo lugar. Eu ja tinha estado la', fica vizinha a Cabbage Town, um dos lugares que mais amei aqui na cidade.
Tambem tive de novo a confirmacao de que os Torontonianos adoram falar. Li outro dia, num livro que, fora isso detestei, que no Canada um estranho puxa conversa e cinco minutos depois voce ja sabe todos os podres da familia dele. Duas vezes, ontem, puxei papo sobre bichos, uma vez sobre um cabritos que estavam balindo e outra sobre dois cachorrinhos muuuito fofos, e as pessoas desandaram a falar e nao paravam mais! Nas duas vezes tive que ser eu a por um ponto final na arenga, mesmo porque nao entendia mais da metade do falatorio.
Ah, eu tinha prometido contar a tragicomedia da noite em que cheguei de NY.
Estavamos todos aqui na sala, a Clau e eu sentadas e o Terry em pe, olhando o Andrew dancar em frente a televisao. De repente o Terry diz "Temos um rato aqui em casa. Um rato pequeno. Talvez um camundongo". Eu achei que ele estava fazendo alguma piadinha sobre o Andrew, mais uma das coisas que ele fala e que eu nao entendo. Mas ele pegou o Andrew no colo e repetiu "Temos um rato! Ele passou por ali" e apontou na direcao da porta do quintal. "Um rato ali fora?!" perguntei "Nao, um rato aqui dentro. Ele passou para tras da estante!"
Foi um rebulico! A Claudia catou o Andrew e pulou pra cima do sofa "Eu odeio ratos!".
Sem saber o que fazer, comecamos a cutucar embaixo da estante (imensa, com teve, som, livros, brinquedos, pesadissima e com muuuitos lindo lugares onde um rato se enfiar), e nada.
De repente, o Terry se levanta e toma uma decisao. "Vou chamar o zelador. Ele esta' no bar. Vou ate' la'", e saiu muito decidido.
A Claudia e eu nos entreolhamos. "Temos um rato em casa e portanto preciso ir ao bar." Vcs ja' ouviram desculpa melhor?!
Dai a pouco ele volta com um zelador, um hungaro esquisitissimo, de olhar meio alucinado, oculos de aros escuros e grossos, magro alto e com um cabecao enorme. Careca.
"O rato esta ali!" apontamos para a estante.
Muito decidido, o zelador afirmou "O problema e' o mercado! Muito lixo, ratos, racoons, aquele outro bicho... como e' que chama... Venha, venha. Venha comigo que vou lhe mostrar!" e levou o Terry para fora de novo.
A Clau, ainda encolhida em cima do sofa', me olhou espantada "O rato esta' aqui e ele leva o Terry pra ver o mercado?!"
Dai' a pouco eles voltam. "O rato esta' ali, a gente tem que tirar ele daqui senao nao vamos conseguir dormir".
"Voces tem que deixar isso aqui fechado" instruiu o zelador, apontando para a tela de correr, na porta, "senao os ratos entram".
"Mas ele ja' entrou, se a gente fechar ele nao tem como sair", eu disse.
"Nao, nao, tem que fechar, senao eles entram. O problema e' o mercado, todo aquele lixo..."
"Mas ele ja' esta' aqui. O senhor pode ajudar a gente a tirar ele daqui?"
"Voces tem que fazer uma reclamacao, porque senao a administradora nao vai tomar nenhuma providencia. Eu vou trazer um formulario e voces fazem a reclamacao por escrito, senao vamos continuar a ter ratos por aqui". Ele virou as costas e se foi.
"Ele nao vai ajudar a expulsar o rato?!" perguntei, exasperada, ao Terry.
"Ele diz que a administradora tem que tomar uma providencia, o problema e' ter muito lixo por ai."
"Mas o rato esta' aqui dentro!" e como ninguem fazia nada, continuei cutucando embaixo da estante com a vassoura.
Dai a pouco batem na porta. Umas batidinhas tao meigas que imaginei que do outro lado estaria a Branca de Neve, ou a Cinderela. Era o zelador hungaro com um formulario que parecia ter sido mimeografado.
"Aqui." explicou ao Terry. "Voces tem que preencher aqui, aqui e aqui", disse, apontando para todos os lugares onde havia linhas em branco. Acho que ele queria que ficasse claro que NAO deveriamos escrever por cima do texto ja' impresso. "Sem isso, o problema continua".
Vendo que os dois pareciam se entender muito bem, resolvi interferir.
"O senhor tem uma ratoeira?"
Eu devo ter falado grego.
"Nao, ratoeira nao. Voces preenchem o formulario, senao o problema nao vai ser resolvido".
"O senhor nao entendeu. NOS TEMOS UM RATO AQUI DENTRO. NOS ESTAMOS EM PANICO. NOS PRECISAMOS TIRAR O RATO DAQUI SENAO NAO VAMOS DORMIR! O senhor tem uma ratoeira?"
"RATOEIRA NAO! Voces precisam preencher o formulario, se nao preencherem, ninguem vai ligar pras reclamacoes e ninguem vai fazer nada. Preencham o formulario."
"E o que a gente faz com o rato que JA esta aqui?"
"O problema e' o mercado, eles nao tem higiene, todos aqueles restos de comida... E' por isso que voces tem que preencher o formulario".
Eram 11 de noite e eu tinha viajado de Nova York ate' aqui.
"Muito obrigada por sua ajuda, o senhor foi muito gentil. Nos vamos preencher o formulario."
"Nao se preocupem, preencham o formulario e alguma coisa vai ser feita. Boa noite" e ele se foi, muito satisfeito.
Naquela noite dormimos com as portas fechadas e toalhas enfiadas nos vaos. A tela ficou aberta a noite toda. O rato deve ter saido porque nao tivemos mais noticias dele. E ninguem quis saber quem foi que, durante a noite, comeu o resto de macarrao que estava sobre o fogao...
beijos e queijos (sem ratos)
Martha Argel
segunda-feira, 3 de outubro de 2005
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