sexta-feira, 25 de abril de 2003

Sol lá fora, mas já não é verão. Os andorinhões (Chaetura andrei) se foram dos céus paulistanos em busca do calor de sabe Deus qual região mais ao norte. O último registro que tenho é do dia 16. Ano passado eles sumiram mais cedo.

O caminho das pedras e das estrelas
Poucas vezes fiquei tão feliz por ter vencido a preguiça quanto ontem. Noite de autógrafos do livro O caminho das pedras, de Auro Lúcio Silva, com direito a palestra sobre o Caminho de Santiago. Delícia de palestra. Finalmente conheci o Lúcio, de quem já ouvia falar há quatro anos, e ele é um barato! Revi duas das pessoas mais adoráveis que já conheci, a Lígia Batista Silva e a Cecília Reggiani Lopes. Minhas primeiras editoras, as primeiras pessoas a me chamarem de escritora, com conhecimento de causa. O que essas duas fizeram por minha auto-estima nenhum de vocês consegue imaginar. E depois da palestra, degustação de vinhos da vinícola Salton, regada a um show de rock dos anos 60 que foi o máximo. A banda, Skeletons, toca há 30 (!) anos e é formada só por médicos. Ótimos. Quando tocaram “Festa de arromba” não ficou ninguém parado. Espaço para publicidade: os Skeletons vão tocar no La Vie en Rose, lá no edifício Copan, dia 16 de maio à noite. Não percam!!! Fim da publicidade. Depois do show, fui falar com um dos músicos e entreguei o cartão do meu livro Relações de Sangue. O cara quase teve um troço. “Sangue!”, gritava ele, “sangue! Sou alucinado por tudo que fale de sangue! Eu preciso ter esse livro! Estou excitado! Quando falam de sangue fico priápico!”. ELE ERA HEMATOLOGISTA, MÉDICO ESPECIALIZADO EM SANGUE!!!! Meu, e eu perdi essa chance de vender o RdS prum especialista!!! Já tinha vendido os míseros quatro exemplares que levara. A Lígia quase me bateu. Saí de lá bêbada, rindo à toa e com uma estrelinha grudada na testa. Acabei perdendo a estrelinha. Buá.

Antes da chuva I
A TPT (Tensão pré-Temporal) se agrava. Quase posso sentir as descargas elétricas percorrendo meu corpo por baixo da pele. A sensação de algo-grande-iminente. Me sinto embriagada, inquieta. Nervosa, faço o que não devo: exagero na cafeína. Capuccino Três Corações, o melhor capuccino do mundo. Trilha sonora da inquietação: Before the Rain, do filme macedônio de mesmo nome e Leão Dourado de Veneza em 1994.

O fantasma dos tempos passados
Numa voz casual me prometeu montanhas e mares. Aves coloridas no mato. Navegar em águas tranqüilas. Um vestido branco, um jantar perfeito e bobagens deliciosas ao ouvido. E me pegou pela mão. Não sei o que pensar. Não quero sonhar, porque nos sonhos sempre há um fantasma do passado, insistente, me assustando, me fazendo correr em angústia para dentro de minha concha. A recordação constante de que quem tem poder não sabe o poder que tem, e brinca, e fere fundo e segue em frente. Nem sempre o passado é bem vindo de volta. Há vezes em que o melhor é que ele permaneça debaixo daquela pedra, daquela lápide que marca, definitivamente, sua condição de passado. E eu choro, fecho os olhos e olho para o outro lado. Não quero ser enganada de novo.

Direto do olho do furacão, subscrevo-me, ansiosamente

Martha Argel

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