Bom dia. Pleno feriado, ontem (na verdade hoje) fui dormir quase quatro e este maldito relógio biológico me faz já estar de pé, pouco mais de duas horas depois.
Tenho me sentido estranha nas últimas semanas, como se algo grande estivesse para acontecer. A inquietude que se sente quando o céu escurece antes da tormenta. Coisas têm ocorrido. Oportunidades inusitadas, algumas concretas, outras meras possibilidades. Receio até acreditar que cada uma possa dar certo.
Passado presente...
Depois de 25 anos, voltei a ter contato com o Fábio. Fomos colegas no primário. Uns meses atrás cheguei à conclusão de que embora não tenhamos tido muito contato então, quando crianças, ele teve um papel crucial na definição do que sou hoje. Sabe aquele evento que parece irrelevante mas te marca pela vida afora? Tenho lembrança de dois, ambos envolvendo o Fábio. Um me levou a uma descoberta importante na arte literária quanto à relação autor-leitor. Outro teve a ver com minha obsessão precoce pela informação científica, quando encontrei nele um dos cúmplices que me mostrou que, afinal, se eu não era a única, então não era tão anormal assim. Ele me ajudou a descobrir a literatura e a ciência. Será que tenho como agradecer por tanta coisa?!
... e cada vez mais!
O mais louco foi que, nesses anos todos, mais de duas décadas, quase não tive notícias de nossos ex-colegas. Então, de repente, na última semana eles tomaram de assalto a mídia. Primeiro, uma zapeada insone me fez ver, quatro da manhã (!) num noticiário da Rede Vida (!), um rosto conhecido. “Esta médica mineira acaba de voltar da China e nos fala sobre a pneumonia asiática”. Mineira o cacete. Foi colega minha e do Fábio. Alguns dias depois, no noticiário nacional, cenas de destruição na Febem, e aparece uma autoridade que tomou medidas polêmicas. Presidente da Febem. Também ex-colega. E no mesmo dia, vejo a capa de uma revista: “Roberto Carlos revela fotos de seu casamento com Maria Rita”. A falecida foi minha colega. Maria Martha, Maria Rita. Na lista de chamada ela vinha logo atrás de mim. Doideira.
Ontem
Um dia típico do que têm sido meus dias. Ansiedade, obsessão. Trabalhei o dia inteiro num sonho, enquanto outros povoavam meu cérebro. Há um torvelinho na minha cabeça, não consigo me concentrar em nada, a não ser numa só palavra, tomara. Nem os decibéis de um show de rock (Winghead, banda do Paul Arnoux, querido amigo apresentado pela Giulia meses atrás) foram suficientes para me trazer totalmente ao presente concreto. Como, se passado e futuro conspiram em minha mente?
Tenham um bom final de semana. Pra mim vai continuar esta doce sobreposição de dois mundos, o real e o ideal, que espero algum dia tornem-se num só.
Martha Argel
sábado, 19 de abril de 2003
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