quarta-feira, 5 de fevereiro de 2003


Não mais que de repente...
Então, segundona, braba como todas, toca o telefone à onze da manhã. Trabalho, poderia viajar antes do almoço? Vixe, não mesmo, dá pra jogar umas horas pra frente? Ok. Resultado, ao pôr-do-sol chegava eu a uma paisagem bucólica, lagos e matas e passarinhos cantando enquanto a noite chegava. Onze da noite, eu e minha lanterna percorrendo caminhos de terra na noite sem lua, enquanto Órion e as Plêiades brilhavam sobre mim como não brilham em Sampa. Inquieta com o dia que nunca chegava, amanheci já longe da casa, e quando o sol finalmente mostrou a cara acima do horizonte eu estava molhada de orvalho, tinha o caderno de campo cheio de anotações e atravessara uma ponte pênsil que não faria feio num Indiano Jones. O almoço com o contratante teve papos que foram de vampiros a estrelinhas, Chile a Rousseau, vendedores de enciclopédia a biodiversidade (e uma picanha da hora). Cheguei de volta a tempo de deixar os filmes pra revelar e ainda retornar telefonemas de trabalho. Dia produtivo.

Livros, livros, livros
As últimas leituras foram interessantes:
Cabelos de Vênus (Ed. Thesaurus), da luso-brasileira Maria Filomena da Costa Coelho, é uma delícia de livro. Um romance histórico passado no século XIII, com personagens reais e resultante de descobertas da autora, professora da UnB, durante pesquisas em arquivos obscuros em Portugal. Agradável de ler, uma história gostosa, uma mostra de que as editoras e a mídia muitas vezes não estão à altura dos autores que publicam.
Corações Sujos, de Fernando Morais. Absolutamente fascinante! Conta a inacreditável história da Shindo Renmei, uma organização secreta criada no estado de São Paulo por japoneses fanáticos pelo imperador Hiroito, logo depois do fim da guerra, e que chegou a ter 200.000 associados!!! Espetacular. Se fosse nos EUA, você conheceria o assunto tão bem como conhece os gangsters de Chicago. Mas foi no interior caipira, ninguém tá interessado. Viva o imperialismo cultural da terra do baby Bush.
Dinosaurios en la Patagonia, de Rodolfo A. Coria. Por que é que você sabe tudo sobre o tiranossauro e nunca ouviu falar do giganotossauro, que é maior e mais interessante? Resposta: porque o primeiro é dos EUA e o segundo é sul-americano? Talvez, mas talvez pelo fato do segundo ter sido descoberto recentemente, na década de 90, quando a pesquisa paleontológica explodiu na Patagônia. O livro de Coria é emocionante: as peripécias de um pesquisador de campo ''cucaracha'' que vai pro deserto com um carro velho e biscoitos e faz descobertas que deixa os primeiro-mundistas roxos de inveja. Me fez ter vontade de largar tudo já e ir embora pra Patagônia. Quem sabe ainda faço isso.

Bom, por enquanto é só. Desejo que todos suportem o calor, a crise e a guerra da melhor forma possível e consigam tocar adiante seus sonhos mais preciosos.

Martha Argel

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