sexta-feira, 27 de abril de 2007

Dia 27 de abril

Cá estou, em Toronto, de madrugada, sentada no chão de meu quarto, na frente de um computador enquanto o resto da casa dorme. Foi desse mesmo jeito que comecei a escrever o Relações de Sangue (bom, ao menos o conto que deu origem a ele, e que um monte de gente me pergunta se existe. Sim, existe. E está na rede. Só tem que procurar com muito cuidado).

Saí de Sampa no dia 25 de noite. Sem feriado, sem greve, sem apagão aéreo, o check-in e o embarque foram uma maratona exasperante. Fila do check-in gigantesca. Nota: todo mundo parece ter chegado três horas antes. Dica: se foi viajar, chegue você também. Aí me ocorreu que era bom declarar a saída do laptop. A moça do balcão da Air Canada me olhou com expressão de pânico. “Vá voando, porque a fila da Imigração está imensa”. Afff, quase me deu dor de estômago escutar aquilo. Foi voando. Claro que a receita federal era na ponta oposta do aeroporto. E claro que havia uma nova fila, descomunal. Dica: se for viajar para o exterior com seus brinquedinhos eletrônicos, chegue umas quatro horas antes. No fim deu tudo certo. Por algum milagre, a fila da imigração estava curtinha, curtinha, se bem que só pros brasileiros. Passei pelo raio X na boa e, milagre, ele não apitou pra mim.

A viagem foi o tédio de sempre. Sem incidentes, sem comentários. Chegamos na fria manhã canadense do dia 26 com dois minutos de atraso. Não tive nenhum problemas na Imigração, não quiseram revistar minhas malas e não tinha fila em lugar nenhum. Não demorou e logo, logo, estava eu no carro de minha prima, as duas tagarelando como doidas, em pleno congestionamento matinal torontoniano indo pra casa.

A manhã passou-se entre fofocas e desarrumação das malas. “Tá cansada?” Claro que estou. “Quer descansar?” Claro que não. Fomos ao St Lawrence Market comprar o almoço. Um dos dez melhores mercados do mundo. Queijos franceses? Tem. Maças chilenas? Tem. Comida grega? Tem. Turistas entupindo os corredores? Tem.

Previsão para os próximos dias: eu vou engordar.

Depois do almoço, a Clau tinha que ir para a região da Bloor. Hum, isto muito me interessa! Logo de cara já passei por vários lugares que aparecem em Blood Ties. E não acreditei quando, de repente, vi exatamente o prédio onde o vampiro Henry Fitzroy mora!!!

Ah, essa eu não podia deixar passar. Enquanto a Clau estava ocupada, decidi ir até lá. Tinha uma hora pra ir e voltar, mas no meio do caminho, uma livraria me capturou. Entre várias coisas interessantes, descobri que um seriado ótimo que estou acompanhando, “The Dresden Files”, é baseado numa série de livros, de Jim Butcher. Hum. Estou tão tentada...

Bom, coisa vai, coisa vem, o fato é que calculei mal a distância, e era bem mais longe do que eu pensava. Com 8 graus de temperatura e uma umidade altíssima, o frio era tanto que anestesiou o meu rosto. Pô, vinte e quatro horas antes eu estava a 30 graus! Mas persisti.

Qual não foi minha surpresa ao descobrir que o prédio fica bem de frente ao Royal Ontario Museum, um museu de história natural maravilhoso, e que está passando por uma ampliação maluquíssima – parece que uma espaçonave de vidro cai de ponta-cabeça num prédio do século dezenove. Putz, essa é a vista que o vampiro tem quando olha por suas enormes janelas de vidro... durante a noite, claro.

Depois de registrar em fotos, voltei correndo, atrasadíssima para encontrar minha prima. Começou a chover. Meio que me perdi numas ruas cheias de curvas. Eu não tinha nada de dinheiro canadense. Estava longe pra cacete de casa. E se a Clau fosse embora sem mim?! Mas minha querida prima me esperou. “Minha prima vem do Brasil me visitar e eu abandono ela assim desse jeito? Nunca!”. Priminha adorada, essa!

Antes de voltar pra casa, resolvemos passar no Nosso Talho. What the hell? Um açougue português! Que vende produtos brasileiros como Guaraná Antarctica e mistura para pão de queijo. Can you believe it? Mas o mais bizarro era o Guaraná Brasília, fabricado... nos Estados Unidos!

Voltamos pra casa e o cansaço da viagem me alcançou. O corpo todo doía por conta da correria no aeroporto carregando uma bagagem de mão pesadíssima. Quando deitei na cama, não senti nem a cabeça tocando o travesseiro.

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