segunda-feira, 12 de maio de 2003
Fim de jogo
Ok. Homens complicados. Vão à merda. Desta vez nem doeu muito, talvez o que mais machuque seja o vazio que fica nos sonhos, a falta de um alvo para o afeto que muitas vezes não é o mítico amor, mas simplesmente aquele afeto rotulado como especial. A maior merda desses punheteiros emocionais, que gozam com seus sonhos desvairados e exaurem as forças que deveriam aplicar no mundo real (e não me venham com aquele lugar-comum pseudo-filosófico de “mas Martha, o que é real e o que é ilusório?” Se vocês não sabem, o problema é de vocês) é que tomam o tempo de outros afetos. Ao menos uma grande amizade sinto ter perdido na brincadeira insana de egos intumescidos.
Céus estrelados, espelhos e vinganças bem-comportadas
Tem quem passe sempre por aqui para saber de minhas viagens. Obrigada. Não sabem como é importante para mim. Dias atrás embarquei sem vontade numa viagem que mais sentia como um sacrifício. Tempo, energia, essas coisas urbanas que tanto prezamos, me pareciam desperdiçados. O sujeito a meu lado tinha o cotovelo mais mal-educado que já vi; o fedelho do banco de trás berrava sem cessar, a mãe era amorfa; até o carpete amarfanhado do corredor me irritava. Mas a sensação de sermos apenas eu, a daypack e uma mala ínfima era, como sempre, gloriosa; se quisesse, eu poderia mudar de idéia e ir para a Patagônia, não para o interior paulista. Desembarquei a quase 400 km daqui, direto pra uma 4x4 suja de barro e pouco depois estava vendo o sol se pôr numa paisagem que poucos podem curtir. Invejem-me. Na noite fria, límpida, de uma paz inacreditável, vi dois céus estrelados: aquele lá em cima e outro na água imóvel de uma lagoa em meio à mata intocada. Um ar tão cristalino que a lua, um fiapo pendurado na escuridão, lançava sombras nítidas e mostrava em detalhes o caminho entre as árvores. Os dias que se seguiram foram variações sobre os mesmos temas: mata, frio, céu limpo, sentimentos desencontrados, beleza sublime. Bons dados ornitológicos coletados e algumas espécies boas, inclusive uns formicariídeos que gostei de ver (Formicivora rufa e Thamnophilus punctatus). A sensação de estar num filme de aventura. Um hotel, uma cidade e personagens saídos diretamente das páginas de García Márquez. Não era filme, não era ficção, mas diante de meus olhos e ao alcance de minha mão. Uma angústia: não ter a arte, a inspiração e a serenidade de converter em ficção, na minha ficção, a realidade que vivo. Talvez a literatura tenha me abandonado. E, no fundo, no fundo, uma vingança moralmente inatacável: viver a vida enquanto aqueles que me ferem somente a sonham. Ei, vocês, mordam-se de raiva, estou lhes mostrando uma língua metafórica.
(Amanda, sei que você viaja em meus relatos. Algum dia você vai poder, e vou te mostrar algum pedacinho desse mundo que hoje você só vê por olhos alheios)
Loucuras livrescas
Falta do que fazer, cartão de crédito dando sopa e uma voltinha na Amazon, só pra curtir. Ingredientes de uma catástrofe financeira, em dólares (e nove livros de vampiros). Como não bastasse, numa lista de discussão por aí, uma oferta irresistível, em reais (mais dez livros de vampiros). As caixas da Amazon estão a caminho. A brasileira já chegou. Realidade tupiniquim: os livros vieram... numa caixa de cuecas Zorba!!!
Fiquem bem. Curtam o friozinho.
Martha Argel
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