domingo, 4 de maio de 2003

Dias intensos.

Sábado na Praça. I.O pão dos pães
Sábado é dia de Benedito Calixto e de encontrar um monte de gente. Nos instalamos, Giu, Cintia, Priscilla e eu, no Espaço do Alberico e simplesmente deixamos o mundo girar e trazer as pessoas. De repente, lá vem um monumento. Puta homem. Lindão. Ah, não acredito, é o Olivier Anquier, aquele dos pães, marido da Débora Bloch. Passou, entrou no banheiro, fechou a porta. As quatro de queixo caído. Que tal subir no piano e olhar pela janelinha? O homem sai, um troço de looouco. Seca a mão na bunda dos jeans. Afffffff! Porra, a gente podia dar um diurético pra ele voltar, né?! Daí a pouco... lá vem ele de novo! Entra no banheiro de novo! Jesus! Quer uma ajudinha pra segurar?! A porta se abre e um amigos que estava na mesa com a gente, acho que o Lorenzo, sussurra decepcionado. “É isso aí?!” Putaqueopariu, o cara que saiu não era ele! Como pode?! O Luiz Carlos se estica e soluciona o mistério: “Ele ainda tá lá dentro. Lavando as mãos”. Aaaaahhh! Sai o sujeito, a gente babando. E ele seca a mão na bunda de novo. Será que na tevê ele faz o mesmo?

Sábado na Praça. II. A história mais linda
Depois de horas, chega a Ligia, escoltada pelo filhão Tiago e pelo Reginaldo. Divertida como sempre, poeta de primeira, declama que é uma maravilha e ilumina qualquer reunião. Falamos e rimos muito, e já estávamos pra ir embora quando chegou nosso amigo Joaquim Luiz, que ontem tinha os cabelos num belíssimo tom de pink. Feitas as apresentações, de repente a Ligia diz: “Uma vez, há muitos anos, conheci um Joaquim. Parecido com você. Ele também teria pintado o cabelo de rosa.” E daí a pouco, do nada “Você conhece a Padaria [um nome que não me lembro]?” E ele: “Por coincidência, sim”. Ela: “Um dia você me amou”. Ninguém entendeu nada, muito menos o Joaquim. Ela repetiu: “Um dia você me amou”. Ele ainda com aquela cara de confusão. Ela: “Uma vez você dedicou um livro a mim”. Ele a olhando sem compreender. E então ela, finalmente: “Joaquim, sou eu, a Ligia, você não se lembra de mim?” Os olhos dele se arregalaram, o queixo caiu. Ele lembrou. O que se seguiu foi uma bagunça. Os dois se levantaram, e se abraçaram e se beijaram e foi a coisa mais linda que eu já vi. Tinham sido amigos, daqueles que nunca se largam e estão sempre grudados um no outro. O Joaquim tinha sido perdidamente apaixonado pela Ligia, mas nunca tinha tido coragem de chegar nela. Fazia 36 anos que não se viam. Passaram o resto da noite de mãos dadas. O sorriso de um se refletia no rosto do outro. De vez em quando trocavam um carinho e mergulhavam no passado, e a gente só ficava olhando, abismado com a grandeza daquele momento. Foi maravilhoso. Foi duro não chorar de emoção. Mais tarde, quando nos despedimos, todos bêbados com um brinde de conhaque, a Giu e eu concordamos: foi um evento sublime. Saiu todo mundo de alma lavada. E eu, com minha pontinha de orgulho por ser culpa minha que a Ligia tivesse ido à praça naquele dia. Acho que consegui retribuir todas as coisas maravilhosas que ela já fez por mim...

E no primeiro domingo de maio...
O telefone toca às seis e meia da manhã e eu levo um puta susto. Minha mãe. Mas não era nada. Quer dizer, nada ruim. Era só uma notícia extraordinária. Ela estava ligando de Dois Córregos. Eu tinha mandado o Café Literário pro Centro Cultural da cidade. Pois não é que o Chico Cestari, o responsável, adorou meus microcontos e acabou publicando todos no jornal da cidade??? Tá lá: Treze Microcontos de Terror de Martha Argel, na página 7 da edição de 3 de maio de 2003 d’O Democrático, de Dois Córregos, SP!!! Fiquei tão atarantada com a notícia que saí pra passear com o Thor, esqueci de levar a chave e fiquei trancada na rua, um puta frio, às oito da matina. Como resolvi o problema? Consegui uma escada com uma vizinha que mora a duas quadras de distância, larguei o cachorro com ela, carreguei a escada até em casa, pulei o muro, peguei a chave e carreguei a escada de volta. Aí a vizinha me convidou pra tomar café da manhã daí a pouco com ela e as filhas, então fui pra casa, larguei o tothór em casa, voltei pra tomar o café e ficamos até as dez conversando sobre vampiros! Que delícia de manhã!

É isso. Vou desaparecer por uns dias porque no meio do mato não vai ter internet. Façam coisas interessantes e vivam de verdade.

Martha Argel

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