terça-feira, 20 de maio de 2003
Bom dia a todos!
Everybody else is doing it, so why can't I? I
Todo mundo resume seu final de semana, como se fosse a coisa mais importante do mundo dizer "levantei tal hora" ou "revi a prima distante e nossa, coitadinha, como ela engordou desde a última vez que nos vimos, em 1988!" (sorriso pérfido). Então. Agora é minha vez.
Ok, coisas que realmente valeram a pena: a emoção de ver minha sobrinha Natália estrear nos palcos; quase chorei com seu monólogo (Carlos Drummond de Andrade) sobre a solidão, como é bom ver alguém que a gente ama criando beleza. O telefonema transcontinental que me permitiu ouvir de novo a voz de uma amiga querida, Rita Besana, mexicana que hoje vive no Reino Unido e que, ah, notícia maravilhosa, vai passar pelo Brasil no final do ano. A expedição urbana domingo de manhã, cedinho, cidade ainda adormecida, as maravilhas todas somente para nós -- como ouvi tantas vezes nos últimos dias como é que ninguém nunca fez isso antes???; esperem e verão.
Mea culpa
Como me penitencio por não ter assistido, semana passada, ao primeiro show da banda Dram, de meu sobrinho Mathias. Dizem que eles se saíram muito bem. Meu sobrinho é um guitarrista de primeira. Mas juro que não ia agüentar a barulheira infernal. Punk rock. Já não tenho idade e nem ouvidos...
Everybody else is doing it, so why can't I? II
Outra coisa que todo mundo faz: pôr fotos de si mesmo em seu blog. Também quero.
Brasília, Lago Paranoá, 2003.
Noroeste da Argentina, província de Salta, Quebrada de Cafayate, 2002.
Norte do Chile, nos Andes, perto de San Pedro de Atacama, 2002.
Tenham uma boa semana e aproveitem os dias claros de maio.
Martha Argel
Everybody else is doing it, so why can't I? I
Todo mundo resume seu final de semana, como se fosse a coisa mais importante do mundo dizer "levantei tal hora" ou "revi a prima distante e nossa, coitadinha, como ela engordou desde a última vez que nos vimos, em 1988!" (sorriso pérfido). Então. Agora é minha vez.
Ok, coisas que realmente valeram a pena: a emoção de ver minha sobrinha Natália estrear nos palcos; quase chorei com seu monólogo (Carlos Drummond de Andrade) sobre a solidão, como é bom ver alguém que a gente ama criando beleza. O telefonema transcontinental que me permitiu ouvir de novo a voz de uma amiga querida, Rita Besana, mexicana que hoje vive no Reino Unido e que, ah, notícia maravilhosa, vai passar pelo Brasil no final do ano. A expedição urbana domingo de manhã, cedinho, cidade ainda adormecida, as maravilhas todas somente para nós -- como ouvi tantas vezes nos últimos dias como é que ninguém nunca fez isso antes???; esperem e verão.
Mea culpa
Como me penitencio por não ter assistido, semana passada, ao primeiro show da banda Dram, de meu sobrinho Mathias. Dizem que eles se saíram muito bem. Meu sobrinho é um guitarrista de primeira. Mas juro que não ia agüentar a barulheira infernal. Punk rock. Já não tenho idade e nem ouvidos...
Everybody else is doing it, so why can't I? II
Outra coisa que todo mundo faz: pôr fotos de si mesmo em seu blog. Também quero.
Brasília, Lago Paranoá, 2003.
Noroeste da Argentina, província de Salta, Quebrada de Cafayate, 2002.
Norte do Chile, nos Andes, perto de San Pedro de Atacama, 2002.
Tenham uma boa semana e aproveitem os dias claros de maio.
Martha Argel
sábado, 17 de maio de 2003
sexta-feira, 16 de maio de 2003
Travelling light
Eu deveria estar trabalhando o texto que tenho que entregar agora de manhã, e não aqui colocando sentimentos ao alcance de todos. Talvez tenha sido a lua de ontem. Sim, Ceres, é possível ver o eclipse na cidade, mas a lua perde brilho por conta da poluição e da maldita iluminação viária.
Sinto, cada vez mais, que a literatura me abandona, ou antes, que eu abandono a literatura. Por literatura me refiro à ficção. É uma sensação de perda incalculável. Escrever ficção me dá um prazer imenso, mas nenhuma atividade humana é solitária. Estamos sempre dentro de um universo maior que, queiramos ou não, envolve outras pessoas. Esse universo maior que cerca minha escrita ficcional está se tornando um fardo com o qual tenho cada vez menos paciência. Nunca gostei de bagagens volumosas.
Southbound mind
O Sul acena, irresistível. Duvido que estejam lá as soluções para meus problemas. Mas a fuga é, em si, sedutora.
Roaring Forties
E antes que vocês pensem “que diabos escrevo para confortá-la?!?”: agradeço as boas intenções, mas não estou mal, não estou deprimida. Estou com um puta fôlego para trabalhar. Minha vida tem um ritmo muito acelerado. Foram grandes e várias as decepções desta semana, mas houve também grandes e várias novidades ocupando o vácuo dos fracassos. Creio estar em pleno furacão. Quando os elementos se agitam em fúria, algumas perdas são inevitáveis, mas a rapidez com que a tempestade nos arrasta, e a distância que percorremos em breves instantes, são impressionantes. Não é fácil prever onde vamos parar. A velocidade e a incerteza dão sensação de liberdade e fazem brotar e germinar a tentação de romper quaisquer amarras que nos prendam à normalidade.
Desculpem a egotrip, mas devo procurar dentro de mim, e não fora, as respostas de que necessito.
Fiquem bem
Martha Argel
quarta-feira, 14 de maio de 2003
Bons dias a todos.
Outra forma de viagem
Ontem. Uma expedição à cidade nossa de cada dia. Dois dias atrás, começo de semana, dia de boas e más notícias, um telefonema até que breve colocou em ação um projeto há meses adormecido. Tenho até receio de pensar que pode dar certo, pois realizaria um sonho que cultivo há quase 30 anos. Ainda tenho guardados os esboços, letra e traços infantis que me arrepiam ao provar que, afinal, em todo esse tempo não mudei muito. Então. Ontem, duas e meia da tarde, catracas do metrô. Um grande livro sobre o tao da fotografia me informa que aquele sujeito de cara simpática é quem estou procurando: o fotógrafo Juarez Silva. Juntos, depois de um longo papo, começamos uma peregrinação a pé por Sampa. Descobrindo detalhes, cantos, pessoas, lugares, possibilidades, ângulos. O olhar do fotógrafo e o olhar da bióloga. Conversamos com porteiros, manobristas, taxistas, jardineiros, vigias, jornaleiros. Entramos em paraísos secretos que estão aí pra todos verem e sentirem mas que poucos percebem, e cada um a sua maneira. Descobrimos um tesouro incalculável. Apenas o prólogo, a ponta do iceberg, o couvert. Mal posso esperar pelos capítulos seguintes.
Drácula de pernas pro ar
Acabo de ler Quincey Morris, Vampire, de P. N. Elrod. A premissa: retomando perto do final a trama do Dracula, de Bram Stoker, no ponto em que Quincey Morris morre após exterminar o vilão, a autora traz o texano (em tempos de George “Pequeno” Bush, esse adjetivo é quase um insulto) de volta das trevas, agora como vampiro. Não posso dizer que tenha gostado. Entretenimento divertido, e só isso. Insuficiente para tornar bom um livro. A autora faz malabarismos, sem pudores, para atingir um fim, em minha opinião, absolutamente louvável. Usando os incontáveis buracos da trama de Bram Stoker, ela subverte conceitos e mostra os personagens como a gente realmente os quer, Drácula o verdadeiro herói e Van Helsing um lunático idiota que só faz merda. Infelizmente, a dona Patricia conseguiu provar, uma vez mais, que os fins não justificam os meios. Forçação de mão, casuísmos, clímaces tirados da cartola. Quer um bom fanfic de Drácula? Leia uma tal Jeanne Kalogridis. Dez a zero!
Curtas
O Nnato tá mais calminho. Fiz uma promessa ao Bardo e estou cumprindo. Além de muito alto-astral, a Kiki é um vulcão de reflexões. A Vanessa eu tenho vontade de abraçar. A Giu tá ocupada demais pra deixar comentário, quem sabe reunindo $$ pruma daquelas viagens que a gente planeja. A Carmilla continua bola pra frente, apesar das barras. O Tetsuo é o sashimi de meus sonhos, sempre. A Lilissama e a H.e.r.o.i.n.a são ótimas! A Carollia é uma alma-gêmea que fala a mesma língua que eu: irmã de mato! Amanda, a mãezona de todos, que nunca deixa a peteca cair. Juan de BsAs e Liliana de MdP, sinto a falta de vocês. Ceres, vem pra Sampa mais vezes, você não mora tão longe assim! Alex, lembrei de você ontem, no Frans-aquário da Paulista! E perdão a quem ficou de fora. Podem entrar nos comentários e deixar pisões no pé, puxões de cabelo e palavrões cabeludos. Eu agüento. Conforme for, retribuo...
Curtam a vida!
Martha Argel
segunda-feira, 12 de maio de 2003
Fim de jogo
Ok. Homens complicados. Vão à merda. Desta vez nem doeu muito, talvez o que mais machuque seja o vazio que fica nos sonhos, a falta de um alvo para o afeto que muitas vezes não é o mítico amor, mas simplesmente aquele afeto rotulado como especial. A maior merda desses punheteiros emocionais, que gozam com seus sonhos desvairados e exaurem as forças que deveriam aplicar no mundo real (e não me venham com aquele lugar-comum pseudo-filosófico de “mas Martha, o que é real e o que é ilusório?” Se vocês não sabem, o problema é de vocês) é que tomam o tempo de outros afetos. Ao menos uma grande amizade sinto ter perdido na brincadeira insana de egos intumescidos.
Céus estrelados, espelhos e vinganças bem-comportadas
Tem quem passe sempre por aqui para saber de minhas viagens. Obrigada. Não sabem como é importante para mim. Dias atrás embarquei sem vontade numa viagem que mais sentia como um sacrifício. Tempo, energia, essas coisas urbanas que tanto prezamos, me pareciam desperdiçados. O sujeito a meu lado tinha o cotovelo mais mal-educado que já vi; o fedelho do banco de trás berrava sem cessar, a mãe era amorfa; até o carpete amarfanhado do corredor me irritava. Mas a sensação de sermos apenas eu, a daypack e uma mala ínfima era, como sempre, gloriosa; se quisesse, eu poderia mudar de idéia e ir para a Patagônia, não para o interior paulista. Desembarquei a quase 400 km daqui, direto pra uma 4x4 suja de barro e pouco depois estava vendo o sol se pôr numa paisagem que poucos podem curtir. Invejem-me. Na noite fria, límpida, de uma paz inacreditável, vi dois céus estrelados: aquele lá em cima e outro na água imóvel de uma lagoa em meio à mata intocada. Um ar tão cristalino que a lua, um fiapo pendurado na escuridão, lançava sombras nítidas e mostrava em detalhes o caminho entre as árvores. Os dias que se seguiram foram variações sobre os mesmos temas: mata, frio, céu limpo, sentimentos desencontrados, beleza sublime. Bons dados ornitológicos coletados e algumas espécies boas, inclusive uns formicariídeos que gostei de ver (Formicivora rufa e Thamnophilus punctatus). A sensação de estar num filme de aventura. Um hotel, uma cidade e personagens saídos diretamente das páginas de García Márquez. Não era filme, não era ficção, mas diante de meus olhos e ao alcance de minha mão. Uma angústia: não ter a arte, a inspiração e a serenidade de converter em ficção, na minha ficção, a realidade que vivo. Talvez a literatura tenha me abandonado. E, no fundo, no fundo, uma vingança moralmente inatacável: viver a vida enquanto aqueles que me ferem somente a sonham. Ei, vocês, mordam-se de raiva, estou lhes mostrando uma língua metafórica.
(Amanda, sei que você viaja em meus relatos. Algum dia você vai poder, e vou te mostrar algum pedacinho desse mundo que hoje você só vê por olhos alheios)
Loucuras livrescas
Falta do que fazer, cartão de crédito dando sopa e uma voltinha na Amazon, só pra curtir. Ingredientes de uma catástrofe financeira, em dólares (e nove livros de vampiros). Como não bastasse, numa lista de discussão por aí, uma oferta irresistível, em reais (mais dez livros de vampiros). As caixas da Amazon estão a caminho. A brasileira já chegou. Realidade tupiniquim: os livros vieram... numa caixa de cuecas Zorba!!!
Fiquem bem. Curtam o friozinho.
Martha Argel
domingo, 4 de maio de 2003
Dias intensos.
Sábado na Praça. I.O pão dos pães
Sábado é dia de Benedito Calixto e de encontrar um monte de gente. Nos instalamos, Giu, Cintia, Priscilla e eu, no Espaço do Alberico e simplesmente deixamos o mundo girar e trazer as pessoas. De repente, lá vem um monumento. Puta homem. Lindão. Ah, não acredito, é o Olivier Anquier, aquele dos pães, marido da Débora Bloch. Passou, entrou no banheiro, fechou a porta. As quatro de queixo caído. Que tal subir no piano e olhar pela janelinha? O homem sai, um troço de looouco. Seca a mão na bunda dos jeans. Afffffff! Porra, a gente podia dar um diurético pra ele voltar, né?! Daí a pouco... lá vem ele de novo! Entra no banheiro de novo! Jesus! Quer uma ajudinha pra segurar?! A porta se abre e um amigos que estava na mesa com a gente, acho que o Lorenzo, sussurra decepcionado. “É isso aí?!” Putaqueopariu, o cara que saiu não era ele! Como pode?! O Luiz Carlos se estica e soluciona o mistério: “Ele ainda tá lá dentro. Lavando as mãos”. Aaaaahhh! Sai o sujeito, a gente babando. E ele seca a mão na bunda de novo. Será que na tevê ele faz o mesmo?
Sábado na Praça. II. A história mais linda
Depois de horas, chega a Ligia, escoltada pelo filhão Tiago e pelo Reginaldo. Divertida como sempre, poeta de primeira, declama que é uma maravilha e ilumina qualquer reunião. Falamos e rimos muito, e já estávamos pra ir embora quando chegou nosso amigo Joaquim Luiz, que ontem tinha os cabelos num belíssimo tom de pink. Feitas as apresentações, de repente a Ligia diz: “Uma vez, há muitos anos, conheci um Joaquim. Parecido com você. Ele também teria pintado o cabelo de rosa.” E daí a pouco, do nada “Você conhece a Padaria [um nome que não me lembro]?” E ele: “Por coincidência, sim”. Ela: “Um dia você me amou”. Ninguém entendeu nada, muito menos o Joaquim. Ela repetiu: “Um dia você me amou”. Ele ainda com aquela cara de confusão. Ela: “Uma vez você dedicou um livro a mim”. Ele a olhando sem compreender. E então ela, finalmente: “Joaquim, sou eu, a Ligia, você não se lembra de mim?” Os olhos dele se arregalaram, o queixo caiu. Ele lembrou. O que se seguiu foi uma bagunça. Os dois se levantaram, e se abraçaram e se beijaram e foi a coisa mais linda que eu já vi. Tinham sido amigos, daqueles que nunca se largam e estão sempre grudados um no outro. O Joaquim tinha sido perdidamente apaixonado pela Ligia, mas nunca tinha tido coragem de chegar nela. Fazia 36 anos que não se viam. Passaram o resto da noite de mãos dadas. O sorriso de um se refletia no rosto do outro. De vez em quando trocavam um carinho e mergulhavam no passado, e a gente só ficava olhando, abismado com a grandeza daquele momento. Foi maravilhoso. Foi duro não chorar de emoção. Mais tarde, quando nos despedimos, todos bêbados com um brinde de conhaque, a Giu e eu concordamos: foi um evento sublime. Saiu todo mundo de alma lavada. E eu, com minha pontinha de orgulho por ser culpa minha que a Ligia tivesse ido à praça naquele dia. Acho que consegui retribuir todas as coisas maravilhosas que ela já fez por mim...
E no primeiro domingo de maio...
O telefone toca às seis e meia da manhã e eu levo um puta susto. Minha mãe. Mas não era nada. Quer dizer, nada ruim. Era só uma notícia extraordinária. Ela estava ligando de Dois Córregos. Eu tinha mandado o Café Literário pro Centro Cultural da cidade. Pois não é que o Chico Cestari, o responsável, adorou meus microcontos e acabou publicando todos no jornal da cidade??? Tá lá: Treze Microcontos de Terror de Martha Argel, na página 7 da edição de 3 de maio de 2003 d’O Democrático, de Dois Córregos, SP!!! Fiquei tão atarantada com a notícia que saí pra passear com o Thor, esqueci de levar a chave e fiquei trancada na rua, um puta frio, às oito da matina. Como resolvi o problema? Consegui uma escada com uma vizinha que mora a duas quadras de distância, larguei o cachorro com ela, carreguei a escada até em casa, pulei o muro, peguei a chave e carreguei a escada de volta. Aí a vizinha me convidou pra tomar café da manhã daí a pouco com ela e as filhas, então fui pra casa, larguei o tothór em casa, voltei pra tomar o café e ficamos até as dez conversando sobre vampiros! Que delícia de manhã!
É isso. Vou desaparecer por uns dias porque no meio do mato não vai ter internet. Façam coisas interessantes e vivam de verdade.
Martha Argel
Sábado na Praça. I.O pão dos pães
Sábado é dia de Benedito Calixto e de encontrar um monte de gente. Nos instalamos, Giu, Cintia, Priscilla e eu, no Espaço do Alberico e simplesmente deixamos o mundo girar e trazer as pessoas. De repente, lá vem um monumento. Puta homem. Lindão. Ah, não acredito, é o Olivier Anquier, aquele dos pães, marido da Débora Bloch. Passou, entrou no banheiro, fechou a porta. As quatro de queixo caído. Que tal subir no piano e olhar pela janelinha? O homem sai, um troço de looouco. Seca a mão na bunda dos jeans. Afffffff! Porra, a gente podia dar um diurético pra ele voltar, né?! Daí a pouco... lá vem ele de novo! Entra no banheiro de novo! Jesus! Quer uma ajudinha pra segurar?! A porta se abre e um amigos que estava na mesa com a gente, acho que o Lorenzo, sussurra decepcionado. “É isso aí?!” Putaqueopariu, o cara que saiu não era ele! Como pode?! O Luiz Carlos se estica e soluciona o mistério: “Ele ainda tá lá dentro. Lavando as mãos”. Aaaaahhh! Sai o sujeito, a gente babando. E ele seca a mão na bunda de novo. Será que na tevê ele faz o mesmo?
Sábado na Praça. II. A história mais linda
Depois de horas, chega a Ligia, escoltada pelo filhão Tiago e pelo Reginaldo. Divertida como sempre, poeta de primeira, declama que é uma maravilha e ilumina qualquer reunião. Falamos e rimos muito, e já estávamos pra ir embora quando chegou nosso amigo Joaquim Luiz, que ontem tinha os cabelos num belíssimo tom de pink. Feitas as apresentações, de repente a Ligia diz: “Uma vez, há muitos anos, conheci um Joaquim. Parecido com você. Ele também teria pintado o cabelo de rosa.” E daí a pouco, do nada “Você conhece a Padaria [um nome que não me lembro]?” E ele: “Por coincidência, sim”. Ela: “Um dia você me amou”. Ninguém entendeu nada, muito menos o Joaquim. Ela repetiu: “Um dia você me amou”. Ele ainda com aquela cara de confusão. Ela: “Uma vez você dedicou um livro a mim”. Ele a olhando sem compreender. E então ela, finalmente: “Joaquim, sou eu, a Ligia, você não se lembra de mim?” Os olhos dele se arregalaram, o queixo caiu. Ele lembrou. O que se seguiu foi uma bagunça. Os dois se levantaram, e se abraçaram e se beijaram e foi a coisa mais linda que eu já vi. Tinham sido amigos, daqueles que nunca se largam e estão sempre grudados um no outro. O Joaquim tinha sido perdidamente apaixonado pela Ligia, mas nunca tinha tido coragem de chegar nela. Fazia 36 anos que não se viam. Passaram o resto da noite de mãos dadas. O sorriso de um se refletia no rosto do outro. De vez em quando trocavam um carinho e mergulhavam no passado, e a gente só ficava olhando, abismado com a grandeza daquele momento. Foi maravilhoso. Foi duro não chorar de emoção. Mais tarde, quando nos despedimos, todos bêbados com um brinde de conhaque, a Giu e eu concordamos: foi um evento sublime. Saiu todo mundo de alma lavada. E eu, com minha pontinha de orgulho por ser culpa minha que a Ligia tivesse ido à praça naquele dia. Acho que consegui retribuir todas as coisas maravilhosas que ela já fez por mim...
E no primeiro domingo de maio...
O telefone toca às seis e meia da manhã e eu levo um puta susto. Minha mãe. Mas não era nada. Quer dizer, nada ruim. Era só uma notícia extraordinária. Ela estava ligando de Dois Córregos. Eu tinha mandado o Café Literário pro Centro Cultural da cidade. Pois não é que o Chico Cestari, o responsável, adorou meus microcontos e acabou publicando todos no jornal da cidade??? Tá lá: Treze Microcontos de Terror de Martha Argel, na página 7 da edição de 3 de maio de 2003 d’O Democrático, de Dois Córregos, SP!!! Fiquei tão atarantada com a notícia que saí pra passear com o Thor, esqueci de levar a chave e fiquei trancada na rua, um puta frio, às oito da matina. Como resolvi o problema? Consegui uma escada com uma vizinha que mora a duas quadras de distância, larguei o cachorro com ela, carreguei a escada até em casa, pulei o muro, peguei a chave e carreguei a escada de volta. Aí a vizinha me convidou pra tomar café da manhã daí a pouco com ela e as filhas, então fui pra casa, larguei o tothór em casa, voltei pra tomar o café e ficamos até as dez conversando sobre vampiros! Que delícia de manhã!
É isso. Vou desaparecer por uns dias porque no meio do mato não vai ter internet. Façam coisas interessantes e vivam de verdade.
Martha Argel
sexta-feira, 2 de maio de 2003
Meu mês preferido
Sombras podem ir
Façam o favor
É mês de maio
Tempo de ser sonhador
Quem não se enamorou
No mês de maio
Bem que tentou
E quem não tiver ainda amor
Dos solitários
O mês de maio é o protetor
(Almir Sater / Paulo Simões)
Não me enamorei em maio. Aconteceu em abril. Maio apenas trouxe novos sonhos. E acalmou os medos.
Ensaio geral
Então. Ontem. Um dia infernal, continuação de outros, uma seqüência de más notícias, de angústias, de preocupações. De repente foi como se o vento cessasse. Ou antes: o diretor de repente se pôs de pé, farto, abriu os braços e ordenou “Pára tudo!”. Silêncio, imobilidade súbita. Todos olharam para ele, em suspense. “Ok, vamos começar tudo de novo. Agora com calma”. O dia que começou em quase-lágrimas terminou em sorrisos.
Alimento para a alma
Cintia, Giulia e eu na casa da Ligia. Ligia é artista. Poeta. Anjo da guarda. Corintiana, mas tudo bem, ninguém é perfeito. Um gosto impecável para vinhos: um Valmont Cabernet Sauvignon – Malbec que agora me arranca suspiros de saudades, em taças de cristal e acompanhado por um queijo amarelo surgido do nada. E um faro para a música rara e única: Irupé Tarragó Ros, apenas 8 citações no Google, uma pérola ainda não descoberta; e “irupé” é a vitória-régia, em idioma guarani. Minha trilha sonora neste momento. Ligia fez mágica. Já contei que foi a primeira pessoa a me chamar de escritora? Já, eu sei, mas não canso de repetir.
Resumo
Cli, Júlio, Bento, Dante, Eduardo Barrox, Claudia Terdiman, Leo, Priscilla, Fábio, Cintia, Giulia & família, Ligia. E vocês que escrevem aqui. Obrigada.
Não se esqueçam de aproveitar ao máximo o mês de maio. É a melhor época do ano.
Martha Argel
PD. vino argentino, música argentina, sueños patagonicos, ¿querrá todo eso decir algo, Lili? ¡Ojalá Mirta traiga noticias buenas!
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