domingo, 3 de julho de 2005

Boa tarde! Apenas a título de informação: minha sala continua exatamente do mesmo jeito, no estilo que costumo definir como "contemporâneo bagdali".
Quinta-feira passada estive na noite de autógrafos de meu amigo André Vianco. Quem gosta de dizer que brasileiro não gosta de ler precisava ter estado lá pra ver a fila gigantesca de leitores em busca de autógrafo, alguns deles carregando sob o braço a obra completa do autor (e olha que precisa ser forte pra conseguir segurar aquele monte de livro!). O próprio André estava maravilhado.
É isso aí. Academias de letras, câmaras do livro, secretarias e ministérios deveriam prestar um pouquinho mais de atenção nos leitores e talvez assim conseguissem ter êxito em seus projetos "culturais" (como a vergonhosa Lei Rouanet, por exemplo).

Mais perguntas de leitores

Fabian Thorm: Lendo "O Vampiro de Cada Um" e lembrando dos contos da extinta página da Lucila percebi que você usa sua cria para matar todo mundo que te aporrinha, ou que já te aporrinhou no passado. Deve ser algum tipo de terapia. A própria história que a originou [ops... não devemos falar muito sobre esse tesouro secreto] é assim. O que você me diz?

Eu diria que é prerrogativa do escritor transferir a realidade para a ficção e aí dar a seus problemas a solução que gostaria de ter dado de verdade! A sensação de poder é fantástica, e não só para o autor. De certa forma, se já passou por uma situação semelhante, o leitor também sente sua alma lavada. Talvez uma das virtudes de um escritor seja reconhecer e usar os elementos e cenários familiares não apenas a ele, mas a seu público potencial.
Na verdade, nem todas as situações e personagens "aporrinhantes" dos contos cruzaram minha vida. Você mencionou o conto original. Esse é um bom exemplo. Ele surgiu de uma experiência que jamais tive em primeira mão, mas quando descobri que seis ou sete amigos meus já tinham passado por aquilo, resolvi que era momento de fazer algo. A minha moda.
Terapia? Pode ser a palavra certa. Não gosto daquela literatura que deprime o leitor e cria mais problemas na cabeça dele. Deve ser alguma deficiência minha, mas gosto que meus personagens, se incomodados, tirem o traseiro da cadeira e tomem uma atitude, pô! Talvez seja porque acredito que, na vida real, é assim que as pessoas devem agir, e não ficar se lamuriando derrotadas num canto, enchendo o saco do próximo.

Beatriz Rezende Ramos: O vampiro-sugador-de-energia também tem uma evolução como o vampiro-sugador-de-sangue? Mas se for a minha teoria que eles são pessoas normais que abusam das outras, tanto no dinheiro como no esforço físico, eu sei... Mas deve ter surgido de algum lugar...

Sim, vampiro-sugador-de-energia teve uma evolução, pois ele é uma derivação do vampiro-sugador-de-sangue. Quando a figura do vampiro eslavo chegou à Europa Ocidental (final do século XVIII, ainda sob a forma do vampiro-monstro-da-aldeia), as pessoas mais esclarecidas ficaram indignadas com o fato da sociedade levar a sério uma figura obviamente folclórica e imaginária. Já em 1764, o pensador Voltaire afirmava que os vampiros existiam, e eram os especuladores, cobradores de impostos e comerciantes que sugavam o sangue das pessoas em plena luz do dia. Muito cedo, portanto a palavra vampiro tornou-se uma metáfora para pessoas que exploram outras, e não pelo estrito consumo de sangue. A idéia de que havia um tipo de vampirismo em que certas pessoas roubavam a energia de outras (as ?esponjas psíquicas?) surgiu no final do século XIX, e logo foi incorporada à ficção, por exemplo no conto Luella Miller, de Mary E. Wilkins-Freeman (1903).
Nas últimas décadas, o conceito de vampiro psíquico tornou-se extremamente popular. O fenômeno talvez se explique pelo fato de que, apesar da ânsia que muita gente tem em crer na existência real dos vampiros, as provas físicas (mordidas, corpos dessangrados, registro de mortos-vivos saindo da covas, etc) se recusam a aparecer.
A saída, então, é defender a existência de um vampirismo que não deixa marcas físicas, e cuja aceitação só depende da disposição em crer nos relatos porventura apresentados.

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