segunda-feira, 13 de junho de 2005

Uma leitora do Relações de Sangue, a Beatriz Rezende Ramos, assistiu à palestra que dei sobre Origem e Evolução dos Vampiros e ficou com algumas dúvidas, que me mandou por e-mail. Como achei que outras pessoas podem se interessar, em vez de responder em pvt, decidi postar aqui. Espero que as respostas estejam a contento, Beatriz!

1. Na sua palestra, você só falou da evolução dos vampiros que tomam sangue, mas em uma de suas histórias, há um vampiro psíquico. Você teria alguma explicação?
R. Muita gente acredita na existência de "vampiros psíquicos", pessoas que sugariam a força vital de outras pessoas, e que se alimentariam de sua energia. Quando escrevi minha história, resolvi usar com personagem esse tipo especial de vampiro, pois ele me permitiria alcançar o resultado que eu tinha planejado para o desenrolar da ação.
Ao escrever uma obra de ficção, temos a liberdade de incorporar à história todos os elementos que, em nossa opinião, vão enriquecê-la e torná-la mais interessante. Agora, atenção: o fato de usar certos elementos numa história não quer dizer que um escritor acredite neles ou os leve a sério na vida real, ok?

2. No Relações de Sangue você comentou que um vampiro só tem medo da cruz dependendo da crença dele antes da morte. Mas os vampiros são seres sem alma, e na palestra você disse que eles têm medo da cruz, porque ela representa Deus. O que você acha?
R. Não se esqueça de que o vampiro é um personagem da ficção, e como tal, está totalmente à mercê da vontade do autor. Cada escritor cria seus vampiros da forma como bem entende, e isso é válido para Bram Stoker, Anne Rice, eu, você e qualquer outro que queira escrever sua própria história.
Essa noção de que vampiros não têm alma vem de crenças folclóricas antigas. Não tenho muito interesse por discussões "filosóficas" sobre religião, e nem pretendo discutir "a sério" a natureza de seres mitológicos. A relação que estabeleci entre meus vampiros e os símbolos religiosos é puramente pragmática, e permite que eu introduza na história um elemento de tensão: será que o vampiro ameaçador X pode ser detido com uma simples hóstia? Só isso. Meus vampiros são todos inventados, e não preciso obedecer a nenhuma crença ou concepção criada por outras pessoas.

3. Você disse na palestra que a criação dos vampiros é cultural, não biológica. Você acredita que existam vampiros, do tipo que só sai de noite e chupa sangue? Por que?
R. Claro que existem! Os morcegos-vampiros Desmodus rotundus, Diaemus youngi e Diphylla ecaudata só voam após o pôr-do-sol e alimentam-se do sangue de mamíferos e/ou aves.
Mas acho que você se refere aos mortos-vivos, não é? (rs)
Em Ciência, a ausência de evidência não é evidência de ausência. Em outras palavras, você pode provar que uma coisa ou fenômeno existe, mas não pode provar que ela não existe. Se eu afirmasse "vampiros mortos-vivos-sugadores-de-sangue não existem", eu estaria sendo tão pouco científica quanto se eu afirmasse "vampiros mortos-vivos-sugadores-de-sangue existem" sem ter provas de sua existência.
Posso colocar da seguinte forma a minha visão do assunto: há séculos as pessoas tentam comprovar a existência de vampiros mortos-vivos-sugadores-de-sangue, sem conseguir nenhuma prova (científica de verdade) acerca de sua existência. Duas hipóteses podem explicar esse fato: ou eles de fato não existem, ou são muito bons em se manter escondidos. Tendo em vista que muitas das características que consideramos "clássicas" nos vampiros morto-vivos-sugadores-de-sangue foram comprovadamente inventadas pela literatura e pelo cinema, eu diria que a maior probabilidade é que os vampiros morto-vivos-sugadores-de-sangue (do jeito que nós gostaríamos que existissem!) não existem.
Mas claro, eu posso estar completamente enganada!

4. Na palestra você disse que só tinha dado metade de tudo o que queria falar... Me conta?
R. Nessa palestra eu queria ter falado mais sobre as características atribuídas aos vampiros em cada uma das três fases evolutivas que identifiquei (monstro-da-aldeia, vampiro-vilão, vampiro-objeto-do-desejo) e como elas se desenvolveram em resposta ao ambiente social/cultural em que a figura do vampiro se inseria.
E ficou de fora toda a discussão sobre o mecanismo de surgimento de uma espécie na natureza, que por sua vez levaria à discussão sobre os ancestrais do vampiro eslavo (ele próprio ancestral do vampiro contemporâneo) e sobre seus parentes mais próximos, como as bruxas e o lobisomem.
Mas fica pra próxima, prometo!

abraços a todos

Martha Argel

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