Uma reminiscência
Uns dias atrás me lembrei de algo que há anos andava sepultado nas insondáveis profundezas da memória. Lembrei-me de minha primeira paixão platônica. Dois ou três anos mais velho que eu, então com 12-13 anos, Jean-Marie -- que todos chamávamos de Janô (Jeaneau?) -- tinha nascido no Zaire (então Congo Belga) e migrado para o Brasil com a família quando o país se independizou da Bélgica. Eu o via quando ia passar as férias na fazenda e ele vinha nos visitar, com seus irmãos. Eu era apaixonada pelas histórias que ele contava. Me lembro de uma vez em que os dois tínhamos subido na minha árvore favorita, de onde eu podia assistir às andorinhas voando rente ao rio enquanto o sol se punha. Naquele dia, Janô me contou que costumava subir no telhado da casa deles para olhar as manadas de elefantes quando eles invadiam as plantações da propriedade da família. Eu imaginei os bichos passando pela árvore em que estávamos. A amizade com ele e sua família durou anos. Nunca lhe disse que gostava dele e, com o tempo, a distância acabou por dissolver o sentimento. Há anos não me lembrava de Janô. Me pergunto por onde andará e o que estará fazendo.
Por que desenterrei essa lembrança? Talvez por causa dos noticiários recentes sobre os dez anos do massacre étnico em Ruanda. Centenas de milhares de pessoas mortas e o mundo nem aí. Ou a indignação que mil americanos ou duzentos europeus merecem não se aplica quando se trata de um milhão de africanos?
Beijos a todos. Lembrem-se que a devoção a uma religião só é verdadeira se houver AMOR e RESPEITO ao próximo e um empenho real em favor da paz.
Martha Argel
sábado, 10 de abril de 2004
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