quarta-feira, 26 de novembro de 2003

Lindo sol lá fora. Vocês já perceberam que é época de floração das camélias? O perfume delas é algo extraordinário, faz pensar em palácios e jardins franceses e rendas e um entardecer suave.

O perfume das camélias tem me ajudado nestes dias em que ando nervosa, irritada e disposta a comprar briga por todo e qualquer motivo. Por sorte tenho ouvido muita gente amiga me dizendo "calma" ou "cautela" ou "vai devagar" ou "não vale a pena". Esses amigos estão certos: existem pessoas demais no mundo que não valem a pena. A grande catástrofe é ter uma pessoa que não vale a pena num cargo onde ela pode colocar as manguinhas de fora, tomar decisões, dar canetadas e atrapalhar a vida de gente que vale. A expressão "abuso de autoridade" tem povoado minhas conversas nos últimos dias.

E também "cérebro de minhoca". Esta ofensa aos pobres anelídeos oligoquetas me faz rir e diminui um pouco a tensão. Me lembra algo que li, há décadas, no livro "A ilha" de Aldous Huxley. Não vou ocupar espaço contando. Leiam o livro e descubram.

Nesta minha fase de indignação com a palermice de muitos que me cercam, o que segura a barra é a contagem regressiva. Cada dia que passa é um dia a menos para A Viagem. Os Preparativos avançam, pois uma Viagem como essa deve ser bem pensada. Ontem gastei uma grana violenta (do tipo quatro dígitos) e cometer essa audácia me fez bem, muito bem.

Sem esquecer de agradecer a quem deixa comentários (que recebo com carinho e leio com atenção, embora nem sempre responda) despeço-me, lembrando a todos que a vida é curta demais pra gente perder com pessoas chatas e bobas e que, coitadas, não sabem o que fazem.

Beijos e queijos e muito suco de cupuaçu a todos.

Martha Argel

sexta-feira, 21 de novembro de 2003

Bom dia a todos. Na madrugada chove, e o sabiá canta lá fora. Já não canta como há um mês. A estação reprodutiva vai bem avançada, e os machos não precisam mais conquistar fêmeas, e sim criar os filhotes, que há vários dias começaram a sair dos ninhos.

Quais as cenas mais horripilantes em que vocês pensam quando alguém diz cemitério? Pois faço aqui um breve relato de minha recente experiência.

Ontem visitei, a trabalho, um cemitério num município da Grande São Paulo. Cemitério-parque, bonito, florido. Ladeando cada lápide, dois tubos enterrados no chão, suponho que de PVC, com cerca de dez centímetros de diâmetro e uns vinte de profundidade, fechados no fundo e destinados a servirem de vasos. Na maioria das vezes, porém, servem como armadilhas. Vocês calculam a quantidade de baratas que existem num cemitério?! Pois é. Adivinhem o que elas comem. A gente não percebe, mas os bichinhos infestam o lugar. Devem sair de noite, passeiam por toda parte e... caem nos tubos e não conseguem mais sair, pois os tubos são lisos e altos. Minha sócia Cli e eu, morbidamente interessadas, examinamos dúzias de armadilhas. Em muitas, havia uma camada compacta de uns cinco centímetros de espessura, dezenas de baratas movendo-se frenéticas, umas sobre as outras, agitadíssimas, tentando sair desesperadas. Algumas tinhas as asas roídas, indicando que, quando a fome aperta, elas se comem entre si. Nalguns tubos, a água de chuva acumulada transformava-se num caldo espesso de baratas podres. Vimos tanta barata que chegou a hora em que eu tinha a nítida impressão de que elas estavam subindo por dentro da minha calça. Aterrorizante.

Mas outra coisa também me horrorizou. Estavam sendo feitos quatro enterros. A maioria de rapazes novos. "É o mais comum por aqui, rapazinhos mortos em violência ou acidentes", esclareceu nosso contratante. O "por aqui" significa a periferia de uma cidade pobre, violenta e populosa. Dois enterros eram de jovens mortos numa briga de gangues. Mortos por engano. Os cortejos me assustaram. Muitos rapazes, provavelmente as gangues, mas poucas lágrimas. Ali a morte é banal. O crime é aceitável e a violência uma necessidade. Pobre Brasil. Construído com a ajuda de todos aqueles que fumam unzinho no fim da tarde, "pra relaxar", ou dão uma cheiradinha antes da festa, "pra ficar legal". Vão todos à merda.

Bom, menos papo e mais trabalho. Abraços, aproveitem o dia e levem um guarda-chuva, porque parece que vai chover.

Martha Argel

quinta-feira, 20 de novembro de 2003

Bons dias.

Está no ar, no site Planeta Zeist, meu conto Incompatibilidade Imortal. O site é dedicado a fanfics sobre o seriado Highlander, do qual sou fã de carteirinha. Pra quem não sabe, fanfic é a ficção escrita por fãs, que pegam emprestado personagens e situações de seus livros, seriados e filmes favoritos e criam suas próprias tramas. Meu conto é o que se chama de cross-over, que é o cruzamento de dois universos ficcionais diferentes; nele, aproveito para misturar o universo de Highlander com outro universo que os leitores de meus livros conhecem muito bem...
O site é mantido por minha amiga Aka Draven MacWacko, do fã-clube de Highlander no Brasil. Você pode acessar diretamente meu conto clicando aqui. Mas não deixe de ler os contos dos outros autores, hein?

Agora vou andando. Hoje tem trabalho de campo. Coisinha básica: um cemitério. Almas penadas e alminhas emplumadas.

Aproveitem bem o dia.

Martha Argel

quarta-feira, 19 de novembro de 2003

Boa tarde a todos.

Só pra dizer que este blog NÃO está morto.

Pessoal que deixou comentário, obrigada pela visita e pela gentileza. Quem não deixou, idem.

Bem, vejamos, um breve resumo dos últimos dias (mais de meio mês? vixe!), usando o muito útil conceito das palavras-chave.
Viagem: sol, paisagens, céu azul, estradas sem fim, bons amigos, maria-mole, rios e cachoeira, leituras, gente gentil, maria-mole, varanda & pôres-de-sol, cidadezinhas acolhedoras, paz, maria-mole, pequenas compras fúteis e divertidas, cachorrinhos, muita paz.
Pós-viagem: muito trabalho, viagens a campo, reuniões produtivas (e como é BOM sentir reconhecida sua competência), agenda lotada, contos terminados.

E para hoje, nada de palavras-chave: trabalho novo, e desci a serra por essa maravilha que é a Nova Imigrantes. Sempre é bom ver o mar, sempre é bom saber que tua participação vai ajudar a vida de muita gente.

Tanta coisa que tenho pensado em postar aqui, mas não tenho tido oportunidade. Estou correndo contra o tempo: teve início a contagem regressiva para a próxima Grande Viagem. Mal posso esperar que janeiro chegue.

Cuidem-se, e não se esqueçam de construir seus Grandes Planos para o ano que está chegando.

Martha Argel

sábado, 1 de novembro de 2003

Dia de luz, manhã de sol...

Gafanhoto
Agora há pouco, vinha eu pela rua, caminhando distraída de volta do supermercado e meditando sobre questões profundas como o fato dos rolos de papel higiênico terem encurtado de 40 para 30 metros e os pacotes de absorventes trazerem 8 em vez de 10 unidades, quando escuto "Psiu, moça". Olhei. Um vigia de rua, sentado numa cadeira. "Por favor", disse ele, me chamando com a mão. Ué. Achei que ele ia pedir as horas. "Pois não?" "A senhora é discípula de Shao-Lin?" Hã, como é que é?! "Como assim?" Aí ele apontou para o dragão de estanho que eu trazia ao pescoço. "É que a senhora usa isso aí" ele apontou de novo "e nos filmes os discípulos de Shao-Lin usam uma coisa parecida. A senhora é budista?". Essa eu nunca tinha ouvido! Já me perguntaram se eu era bruxa (uma vez em que usava um pentagrama) e vampira de verdade (numa noite de autógrafos). Uma outra vez, enquanto eu observava aves, uma mocinha me perguntou, com olhos arregalados e assombro na voz, "a senhora é... cientista?!", e só faltou me cutucar com o dedo pra comprovar que eu era de verdade. Mas nunca tinham me parado na rua pra perguntar se era budista! E antes de eu ir embora, inconformado, o rapaz ainda tentou de novo: "Mas a senhora luta, né?".

Ritual noturno
Ontem foi noite de Halloween. Não fui a nenhuma das festas que pulularam por aí, em parte por um certo desencontro e falta de comunicação. Mas principalmente porque, em homenagem à data e como boa escritora de histórias macabras, tive de participar de um ritual secreto. Algo muito mais sério que uma festa. Só para iniciados. Éramos três durante a cerimônia, realizada em um recinto especial, na calada da noite, em torno de uma mesa especialmente preparada para a ocasião. Sobre a mesa, a vítima ritual, coberta por rubro e vital líquido em homenagem a uma entidade antiqüíssima e muito cultuada, proveniente da península itálica. Num ato de sublime abnegação, comungamos e compartilhamos nossa vítima, por nós consumida até que, como exigia o ritual, não restasse dela vestígio algum. Foi uma cerimônia maravilhosa, que nos deixou num estado de plena satisfação, tão total que sentíamos como se não coubéssemos mais dentro de nós mesmos. Vocês deveriam tentar. Todos nós, adoradores desse entidade divina, nos sentimos felizes em nossa devoção. Seu nome, glorioso, magnífico, único e redentor, é... Parmeggiana!


Hasta la vista, babies!
Para este blog não vai fazer muita diferença porque à vezes passo quase duas semanas sem postar, mas estou saindo para breves férias numa cidadezinha pacata e bonita. Estarei fora do ar. Lá não tem internet. Deixo aqui os problemas, as frustrações, os incompetentes, mal-educados e filhos da puta com que sou forçada a conviver e interagir. Os amigos e as coisas boas carrego sempre comigo, na alma e no coração. Assim como carrego os sonhos e os planos para os próximos meses.

Fiquem bem, acalentem e alimentem seus ideais.

Martha Argel