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Pois é, acabou!
Uma festa linda, doze dias de livros e leitores apaixonados, um mundo de letras que a gente nem acredita que possa existir em nosso lindo e complexo país tropical.
A constatação que ilumina a alma da gente: os leitores existem! A mídia diz que não existem, mas eles estão por toda parte. Talvez o que não exista são os leitores do que a mídia *acha* que deve ser lido, e que quer a todo custo empurrar goela abaixo de quem tem outros interesses. Mídia cega? Ou deturpada? Ou, até, mal-intencionada?
E são leitores vorazes. Gente que compra livro quase que de baciada. E não são [apenas] senhores vetustos, brancos e bem vestidos, moradores de condomínios de luxo da Zona Sul. São garotas negras, pardas, morenas, brancas e mestiças. São meninos, rapazes e jovens adultos. São atendentes de lanchonete, gorduchinhas, sorridentes e pobres. Moram ali na periferia. Moram lá longe e pegaram ônibus, barcas e vans para chegar. Vieram de outros estados. Vieram sozinhos. A mãe trouxe. Trouxeram a turma toda e fazem vaquinha para comprar o livro amado.
A diversidade espanta, fascina e encanta. Tem "Antes de sair decidimos quanto cada filho pode gastar em livro", "a pequenininha ali já chegou dizendo que queria algo de ciência", "minha filha adora ler, acho maravilhoso", "queria comprar um livro pro meu avô", mas também tem "minha mãe ia ficar brava se eu comprasse", e as colegas concordam, acenando a cabeça pesarosas.
A diversidade às vezes parte o coração. Uma garota de doze ou treze anos, namorando os livros de capas coloridas com um olhar deliciado: "Meu sonho é ter uma biblioteca em casa, mas não posso, meu pai odeia, não quer nem ver livro na frente". E quando é que você vai poder comprar livro?" "Só quando eu tiver meu próprio canto". E lá se vai ela, sonhando, cercada dos livros que não pode ter, não pode ler.
A Bienal é o mundo perfeito para tantos, tantos, tantos. Lá eles não se sentem sozinhos, e reafirmam o que já sabem. Ser leitor não é ser rídículo, não é ser uma aberração. No meio da massificação da burrice, da mediocridade e da falta de bom senso, eles são leitores, sim, com orgulho e com euforia, e são uma legião. E sabem disso.
Não importa qual o verdadeiro intuito de quem organiza uma Bienal. Faturar uma nota preta, alimentar o ego, fortalecer o sistema, favorecer os amigos ou agradar os poderosos. Tudo isso ou nenhuma das alternativas anteriores. O fato é que, na festa dos grandes, os miúdos se esbaldam. Tem espaço pra toda essa gente doida por livros, letras, vampiros, anjos, dragões e romances cor-de-rosa, talvez não porque esse espaço lhes seja dado, mas porque eles o conquistam. Vão lá, se infiltram, juntam-se aos amigos e fazem a parte mais linda da celebração literária: a participação do leitor.
Quero saudar a todos vocês que fizeram a festa, independente de nome na programa, fila de adoradores, espaço na tevê. Vocês são lindos percorrendo os estandes em grupos de estudantes, leitores, blogueiros, ratos de saldos. Vocês são adoráveis, proclamando no meio do corredor seu orgulho pelo Pavilhão Verde, das editoras nanicas, o primo pobre e charmoso do outro, o Azul, o nobre espaço onde abundaram as confusões e o mau-humor editorial. Vocês são fantásticos, autores desconhecidos que ganham sua meia dúzia de leitores com esforço e dedicação. E muita garra.
Ano que vem tem mais. Ano que vem será a vez de darem vida a mais uma Bienal que, sem vocês, seria apenas uma grande livraria sem alma... e sem leitores!
M
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sexta-feira, 16 de setembro de 2011
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7 comentários:
É, Martha, acabou. Para mim, que estava longe, foi um conto de fadas. Estou lendo seu livro com vagar, saboreando cada momento, feliz por tê-la conhecido pessoalmente depois de tanto tempo de web. E a cada página virada, me emociono. Sou assim, coração alimentado a papel e tinta, comtos e histórias. Em minha vida agitada e de lutas, os livros são meus companheiros e, de certa forma, os autores são a minha família. obrigada pelo prazer de ler mais uma obra sua. Estou amando!!!
Oi Martha, texto lindo não só sobre a Bienal, mas sobre o que é ser leitor.
Guilherme (aquele da Baratos!) rsrs
Em toda a minha vida, s´odeixei de ir em duas edições da Bienal. É o meu evento favorito. Pena que é anual. Poderia ser todos os dias. Fico feliz em saber que o brasil se interessa mais pela leitura ^^
A mídia só fala de quem segue, ouve, veste, assiste e até lê o q está na moda. Mas nós, público leitor de personalidade q escolhe aquilo q realmente gosta somos ignorados. Maldita ditadura da moda! Q normalmente leva as pessoas a serem meros "soldadinhos" todos iguaizinhos. Bj p/ vc Marthinha
Texto lindo! Amei, Martha, concordo com tudo. Somos até heróis por sermos alguém naquele mundão!
Fiquei curioso... Quando se contabiliza os leitores, levam em consideração quem pega livro emprestado com o vizinho, na biblioteca, que compra livro usado, etc?
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Ou leitor é apenas aquele que compra livro em livraria?
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Leitor...
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Sinto falta das bibliotecas da minha cidade...
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Quem sabe um dia, teremos milhares de bibliotecas, ao invés de livrarias, e teremos milhões de autores que conseguem viver do que escrevem, sem precisar vender um único livro...
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Sonhar não custa :)
Oi! Adorei o texto, com que facilidade e realismo você consegue nos mostrar o que ocorre em uma bienal do livro, é maravilhoso saber que somos sim, um País de leitores, ainda um pouco inibidos, mas, não há como evitar ter orgulho do movimento literário que acontece hoje no Brasil, e é graças a escritoras (es) como você, que as mudanças de comportamento em relação a esta tão bela arte de se expressar está cada vez mais inclusa na cultura dos brasileiros. Parabéns.
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