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Cada profissão tem seus fetiches próprios, e zoólogos não são diferentes. Um dos sonhos inconfessáveis que muitos bichólogos acalentam é terem uma espécie batizada com seu nome. Pra que isso aconteça, algum colega de profissão tem que descobrir uma espécie que ainda não foi formalmente descrita, e então fazer a descrição. A descrição é algo chatíssimo, cheio de palavras longas e ininteligíveis, que deve ser publicada em alguma revista científica que aceita esse tipo de, digamos, burocracia científica. E se, ao fazer tal descrição, seu colega achar que você merece, ele pode muito bem decidir dar seu nome à espécie.
E aí nascem coisas como
Draculoides bramstokeri, ou
Juscelinomys candango (um camundongo de Brasília, aparentemente extinto!), ou
Piseinotecus divae (em homenagem a uma pesquisadora chamada Diva e a seu cachorro Teco, em quem alguém certa noite pisou – juro, é tudo verdade!).
Pois é. Quando eu ainda era uma bióloga dedicada, que achava que uma tese era a coisa mais importante de minha vida (e, pobre de mim, passei por isso duas vezes), confesso que devaneava que alguém iria me dedicar um bicho. Claro, não esperava nada muito vistoso, como uma ave ou um mamífero, nem mesmo um caracol bonito ou uma borboleta. Esses daí são, sem querer criar uma confusão zoológica, mosca branca. Você tem que se dedicar muito, muito, muito para ter a honra de ser homenageado com algum bicho que não precise de lupa para ser visto.

John Cleese:
Avahi cleesei, um lêmure de Madagascar (dã, como todos os lêmures), que homenageia os esforços do ator pela conservação dos lêmures. (Fonte da foto
aqui)
Em geral, você é homenageado com algum bicho muito menor, um invertebrado bem pequenininho que ainda não tinha sido reconhecido pela ciência pelo simples fato de que é difícil de ver. Para dizer a verdade, por muito tempo invejei meu cartunista favorito,
Gary Larson (o cartunista favorito de 10 entre 10 biólogos, ao lado de
Fernando Gonsales), que inspirou o nome de uma espécie de piolho que só dá em corujas (!). Ele declarou publicamente ter ficado extremamente honrado com o fato, mesmo porque ele jamais teve a ilusão de que seria algum cisne que receberia seu nome.

Gary Larson:
Strigiphilus garylarsoni (Fonte da foto
aqui)
O tempo se encarregou de me fazer abandonar essas tolas ideias da juventude. Mudei de profissão (várias vezes), e da cientista hoje só restam os diplomas, um currículo desatualizado e uma série de maus hábitos mentais, que me fazem tratar qualquer assunto como um objeto de estudo sistemático. Em resumo, fazia anos que nem pensava nessa coisa de ser imortalizada por meio de um epíteto latino.
Até que uns dias atrás, estava eu fuçando o Google Books, pra ver se aqueles safados estavam infringido algum de meus parcos direitos autorais (não estavam: quase todos meus livros estão lá, mas só os títulos), quando me deparei com algo espantoso:

Uma espécie com meu nome!!!!
Pode ser verdade? Não, tem que ser engano.
Demorou um pouco mas afinal constatei: não era engano. De fato, uma espécie fora batizada com meu nome em 1997, e eu jamais soube disso... até agora.
Bom: pra encurtar a história, nos idos de 1989, durante uma viagem de trabalho a Rondônia, eu recolhera algum material zoológico, que depois foi incorporado ao acervo de um museu científico. No meio desses exemplares, veio ou vieram algum(ns) representante(s) de uma espécie ainda desconhecida pela ciência, um opilião que acabou recebendo o sonoro nome de
Stygnus marthae. É, eu, é, é. Vasculhando na internet, não achei informação absolutamente nenhuma sobre o bichinho. É algum animal totalmente insignificante, provavelmente conhecido apenas pelos exemplares que peguei.
Não encontrei foto nenhuma do elemento, mas ele deve ser meio parecido com isto daqui:

(foto tirada
daqui)
Pode não ser nenhuma maravilha, mas tem o meu nome. É meu, meu, meu! rsrsrsrs
Bom, agora lanço um desafio. A primeira pessoa que conseguir uma imagem do bichinho e me enviar, vai ganhar um exemplar autografado de algum de meus livros, a escolher:
– O Vampiro da Mata Atlântica (Idea, 2009)
– O Vampiro Antes de Drácula (Aleph, 2008), com Humberto Moura Neto.
– Relações de Sangue (Giz, no prelo)
Mas tem que provar que é o bicho, hein???
É isso aí. Mãos à obra, pessoal!
beijos a todos,
Martha