sábado, 21 de agosto de 2004

Goeie Morgen!
Os ultimos dias foram um loucura de reunioes, encontros, conversacoes e, inevitavelmente, atrasos. A quantidade de orgaos publicos, ONGs, autoridades e pessoas-chave que visitamos foi enorme. Acho que conversamos com meia populacao do Suriname, e levantamos toda a bibliografia e documentacao existentes no pais.
Ontem consegui colocar um ponto final em minha lista de contatos indispensaveis. Fora um no' cego que se recusou a me receber (infelizmente um no' cego crucial, mas isso a gente resolve depois), correu tudo bem, dentro das expectativas. Assim, pra todo voces ai' que tiveram de aguentar minha TPV (tensao pre-viagem): no final das contas foi como voces disseram, acabou tudo bem. Obrigada pela paciencia e pelo incentivo (e muitas vezes por me dar uma dura).
Consegui me virar bastante bem em ingles. No comeco, a coisa tava dificil, mas aos poucos a gente vai lembrando as palavras, vai copiando o que os outros dizem, incorporando os termos certos pra usar na hora certa e ai' fica tranquilo.
Entre uma reuniao e outra, sempre sobrava tempo para algum detalhe curioso ou engracado,
Ou dramatico, como e' o caso do transito. Caotico. Infernal. Incompreensivel. Como e' que um pais com menos de meio milhao de habitants consegue ter congestionamentos tao... permanentes?! Eles estao la' o tempo todo. Voce numa agonia do caramba, atrasado pra um compromisso e num calorao equatorial, e a rua totalmente entupida de carros velhos e novos, bonitos e horrorosos, com direcao na esquerda ou na direita, ao gosto do fregues. Conselho: aja em Parbo (e' como eles proprios se referem 'a cidade de Paramaribo) como em Sao Paulo: nunca saia pra uma reuniao com menos de meia hora de antecendencia (ou mais se for horario de pico, que a gente nao sabe exatamente qual e').
Pegar um taxi em Parbo e' um desafio. Os taxis nao trazem qualquer identificacao e e' impossivel distingui-los dos outros carros. Voce tem de procurrar uns barracos decrepitos com uma placa escrita TAXI na frente. Eles estao por toda parte, menos nos lugares onde voce precisa. Quando chove - e cai um aguaceiro todos os dias de tarde - eles tambem desaparecem. Ha' outras duas opcoes: (1) voce pode andar com a carteira recheada de cartoes de taxistas, e quando voce ligar nenhum deles vai atender, ou (2) voce pode fazer cara de desepero e pedir a qualquer pessoa que esteja por perto que te consiga um taxi, e ai' ela vai olhar para os lados, confusa, e tambem nao vai saber o que fazer, mas pelo menos agora voce nao vai estar sozinho se desesperando.
Os motoristas de taxi sao umas figuras. Absolutamente todos falam um ingles ininteligivel que deve ser um dialeto proprio dos taxistas surinamenses. Outro dia pegamos um sujeito gordo, com chapelao negro de feltro, cujo cartao de visitas anunciava, orgulhoso, Midnight Cowboy. Seu carro anterior havia sido um Cadillac, que ele teve de vender porque nao cabia mais nas ruas apinhadas de Parbo. Agora tinha um carro "menor", um BMW que nem por magica caberia na garagem da minha casa!
Depois de uns dias tentando entender os complicados caminhos que levam do hotel ao centro, peguei o costume de acompanhar o trajeto com um mapinha que consegui no Torarica, o hotel chiquitissimo da cidade. Nao tem um taxista cujo olho nao cresca pra cima de meu mapa. Assim que o veem, o efeito e' imediato, e comecam a me tratar com um respeito e uma admiracao comoventes. Teve um com quem puxei papo antes de sacar o mapa. Falei como a cidade era interessante e como o povo era friendly (amigavel, simpatico). Entao tirei o mapa da pasta e o sujeito se derreteu todo quando comecei a perguntar o nome das ruas em meu holandes horroroso. A partir dai', a cada rua que cruzavamos ele dizia o nome, esticava o pescoco para olhar o mapa, olhava na minha cara e perguntava "Did you find it?" (achou?), tudo isso numa fracao de segundo que nao me dava margem nem pra respirar, e invariavelmente minha resposta era not yet (ainda nao). Na verdade eu ainda nao tinha procurado porque estava olhando para a frente pra ver se nao vinha algum carro de encontro ao nosso, afinal alguem tinha de olhar para a frente, e cara estava ocupado demais examinando meu mapa. Foi assim o caminho todo. Quando chegamos saos e salvos a nosso destino, a universidade, o homem me presenteou com um tremendo sorriso e perguntou "Was I friendly?". Sim. Muito. Demais.
Bom, ainda tem muita coisa pra contar, mas vou deixar pra depois. Se eu nao tiver condicoes de postar aqui, vai estar tudo numa versao mais longo deste diario, que pretendo disponibilizar, depois da volta, na pagina Yahoo de minha lista de distribuicao de noticias e textos.

Bye, bye

Martha Argel

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