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Em setembro de 1988 estive a trabalho na Cachoeira Couto Magalhães, situada no rio Araguaia, logo a norte das cidades de Alto Araguaia (MT) e Santa Rita do Araguaia (GO).
Em minha caderneta de campo, encontrei o único esboço de paisagem que fiz na vida. Não tinha máquina fotográfica, e achei tão maravilhoso aquele momento que quis registrar de algum modo.
Os comentários que acompanham a imagem são o testemunho de um tempo que já é passado, em que pessoas comuns como eu ainda podiam de repente sentir-se exploradoras de um vasto mundo desconhecido.
"Fomos até uma fazenda próxima ao que chamam aqui de Cachoeira Grande (ou Couto Magalhães, segundo o mapa). É maravilhosa, e isso que estamos na seca (quatro meses sem chuva). A montante tem rápidos e a jusante a margem esquerda [sic?] parece um cânion. A direita [sic?] permite o acesso humano. É uma pena que com a construção da barragem a cachoeira vá secar... Isso vai desalojar as centenas de andorinhões que aí habitam. Calculo em pelo menos 300 andorinhões, mas seu Fuad diz que na primavera concentram-se aí milhares de indivíduos."
Ainda, acrescentei em minhas notas algumas informações sobre os andorinhões que lá vi, pertencentes a duas espécies - andorinhão-de-coleira e taperuçu-velho:
Nas escarpas da cachoeira que posso ver, mais de 200 andorinhões, agarrados às faces das rochas, voando sobretudo a jusante da cachoeira. Voam também sobre esta, a grande altura. Ficam inclusive em locais muito úmidos, onde respinga a água; vi uns que pareciam entrar sob a queda d'água. Concentram-se em um pilar de rocha no meio da cachoeira, principalmente na face não batida pelo sol, mas pousam também em paredões mais secos, a jusante. Penduram-se na face da rocha, mas vários estão deitados em saliências -- ninhos feitos com o que parece ser capim seco. Vi muitas aves pousadas salpicadas de água.
PS. A usina planejada para o local nunca foi construída. Couto Magalhães continua bela e imponente e, até onde sei, seus andorinhões continuam lá.
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