terça-feira, 29 de abril de 2003


Hum, dizer o que? Que o temporal não se abateu... ainda? Que o ar está estranhamente parado, e não sou só que quem sente isso? Talvez as engrenagens do universo estejam em movimento e eu não perceba. Talvez, como a Amanda disse, são os pequenos movimentos, e não os grandes eventos, os que trazem as mudanças de cenário. Hum, já vi essa discussão antes, em algum curso entre as dúzias que fiz na universidade.

Os leads do laptop me avisam que tenho dez minutos de bateria. Não dá pra divagar muito. Ou dá pra ir até os confins do universo e voltar, quem sabe.

Estou sem o micro de mesa -- o monitor queimou. Minhas contas de e-mail não funcionam. Estou ilhada num mar de informação e contato.

O pisca-pisca dessa luzinha está me incomodando, hora de dizer chega.

Que os dias sejam bons. Cuidem-se, pensem nos outros, procurem não fazer nenhuma merda que ferre com a vida de vocês e daqueles que gostam de vocês.

Martha Argel

sexta-feira, 25 de abril de 2003

Sol lá fora, mas já não é verão. Os andorinhões (Chaetura andrei) se foram dos céus paulistanos em busca do calor de sabe Deus qual região mais ao norte. O último registro que tenho é do dia 16. Ano passado eles sumiram mais cedo.

O caminho das pedras e das estrelas
Poucas vezes fiquei tão feliz por ter vencido a preguiça quanto ontem. Noite de autógrafos do livro O caminho das pedras, de Auro Lúcio Silva, com direito a palestra sobre o Caminho de Santiago. Delícia de palestra. Finalmente conheci o Lúcio, de quem já ouvia falar há quatro anos, e ele é um barato! Revi duas das pessoas mais adoráveis que já conheci, a Lígia Batista Silva e a Cecília Reggiani Lopes. Minhas primeiras editoras, as primeiras pessoas a me chamarem de escritora, com conhecimento de causa. O que essas duas fizeram por minha auto-estima nenhum de vocês consegue imaginar. E depois da palestra, degustação de vinhos da vinícola Salton, regada a um show de rock dos anos 60 que foi o máximo. A banda, Skeletons, toca há 30 (!) anos e é formada só por médicos. Ótimos. Quando tocaram “Festa de arromba” não ficou ninguém parado. Espaço para publicidade: os Skeletons vão tocar no La Vie en Rose, lá no edifício Copan, dia 16 de maio à noite. Não percam!!! Fim da publicidade. Depois do show, fui falar com um dos músicos e entreguei o cartão do meu livro Relações de Sangue. O cara quase teve um troço. “Sangue!”, gritava ele, “sangue! Sou alucinado por tudo que fale de sangue! Eu preciso ter esse livro! Estou excitado! Quando falam de sangue fico priápico!”. ELE ERA HEMATOLOGISTA, MÉDICO ESPECIALIZADO EM SANGUE!!!! Meu, e eu perdi essa chance de vender o RdS prum especialista!!! Já tinha vendido os míseros quatro exemplares que levara. A Lígia quase me bateu. Saí de lá bêbada, rindo à toa e com uma estrelinha grudada na testa. Acabei perdendo a estrelinha. Buá.

Antes da chuva I
A TPT (Tensão pré-Temporal) se agrava. Quase posso sentir as descargas elétricas percorrendo meu corpo por baixo da pele. A sensação de algo-grande-iminente. Me sinto embriagada, inquieta. Nervosa, faço o que não devo: exagero na cafeína. Capuccino Três Corações, o melhor capuccino do mundo. Trilha sonora da inquietação: Before the Rain, do filme macedônio de mesmo nome e Leão Dourado de Veneza em 1994.

O fantasma dos tempos passados
Numa voz casual me prometeu montanhas e mares. Aves coloridas no mato. Navegar em águas tranqüilas. Um vestido branco, um jantar perfeito e bobagens deliciosas ao ouvido. E me pegou pela mão. Não sei o que pensar. Não quero sonhar, porque nos sonhos sempre há um fantasma do passado, insistente, me assustando, me fazendo correr em angústia para dentro de minha concha. A recordação constante de que quem tem poder não sabe o poder que tem, e brinca, e fere fundo e segue em frente. Nem sempre o passado é bem vindo de volta. Há vezes em que o melhor é que ele permaneça debaixo daquela pedra, daquela lápide que marca, definitivamente, sua condição de passado. E eu choro, fecho os olhos e olho para o outro lado. Não quero ser enganada de novo.

Direto do olho do furacão, subscrevo-me, ansiosamente

Martha Argel

quarta-feira, 23 de abril de 2003

Bons dias. Espero que hoje seja melhor que ontem, que foi um saco. Tédio. Nada dava certo. Esperas longuíssimas. Gente confusa. Vendedoras reclamonas. Nem as roupas que comprei ajudaram. E quero que a Symantec vá à merda. E ponto final. Hoje é um novo dia, o que não deu certo ontem vai dar hoje. Ass. Pollyanna.

Finalmente tomei vergonha na cara...
... e arrumei os links do blog. Tudo em ordem, funcionando, com muita novidade. Ainda não tem tudo o que eu quero, mas fazer o quê...

TEXTOS MEUS NO CAFÉ LITERÁRIO!!!
Minha grande novidade é a publicação, no Café Literário no. 8, de meus Treze microcontos de terror, que aparecerão junto com um conto da minha amiga e excelente escritora Giulia Moon, no que batizamos de Página Rubra. O jornal, editado por Eduardo Barrox com a colaboração inestimável de Lilian Alves, Rebecca Frassetto e Cláudia Rio, será lançado oficialmente neste final de semana. A Giu e eu convidamos a todos pra dar uma chegadinha na Praça Benedito Calixto, aqui em Sampa, no sábado, dia 26, à 15:00. Estaremos em um dos dois lugares de sempre: em frente à barraca do Autor na Praça ou no Espaço Cultural do Alberico. Aviso aos habitués : o JC, o Stephen e o Artério estão prometendo ir...

... e crônica minha numa antologia virtual!!
A crônica inédita Um hóspede discreto foi aceita e saiu publicada na e-antologia De burro e de louco todo poeta tem um pouco organizada pela escritora Dalva Agnes Lynch e publicada na Biblioteca Virtual do Portal Cá Estamos Nós . Além de minha crônica, a coletânea inclui, entre outros, textos da própria Dalva, que é uma poeta de mão cheia, e ainda de meu querido amigo Adriano Siqueira. Vão lá e baixem o arquivo, é de graça!!!

Por enquanto é só, pessoal. Cuidem-se.

Martha Argel

sábado, 19 de abril de 2003

Bom dia. Pleno feriado, ontem (na verdade hoje) fui dormir quase quatro e este maldito relógio biológico me faz já estar de pé, pouco mais de duas horas depois.

Tenho me sentido estranha nas últimas semanas, como se algo grande estivesse para acontecer. A inquietude que se sente quando o céu escurece antes da tormenta. Coisas têm ocorrido. Oportunidades inusitadas, algumas concretas, outras meras possibilidades. Receio até acreditar que cada uma possa dar certo.

Passado presente...
Depois de 25 anos, voltei a ter contato com o Fábio. Fomos colegas no primário. Uns meses atrás cheguei à conclusão de que embora não tenhamos tido muito contato então, quando crianças, ele teve um papel crucial na definição do que sou hoje. Sabe aquele evento que parece irrelevante mas te marca pela vida afora? Tenho lembrança de dois, ambos envolvendo o Fábio. Um me levou a uma descoberta importante na arte literária quanto à relação autor-leitor. Outro teve a ver com minha obsessão precoce pela informação científica, quando encontrei nele um dos cúmplices que me mostrou que, afinal, se eu não era a única, então não era tão anormal assim. Ele me ajudou a descobrir a literatura e a ciência. Será que tenho como agradecer por tanta coisa?!

... e cada vez mais!
O mais louco foi que, nesses anos todos, mais de duas décadas, quase não tive notícias de nossos ex-colegas. Então, de repente, na última semana eles tomaram de assalto a mídia. Primeiro, uma zapeada insone me fez ver, quatro da manhã (!) num noticiário da Rede Vida (!), um rosto conhecido. “Esta médica mineira acaba de voltar da China e nos fala sobre a pneumonia asiática”. Mineira o cacete. Foi colega minha e do Fábio. Alguns dias depois, no noticiário nacional, cenas de destruição na Febem, e aparece uma autoridade que tomou medidas polêmicas. Presidente da Febem. Também ex-colega. E no mesmo dia, vejo a capa de uma revista: “Roberto Carlos revela fotos de seu casamento com Maria Rita”. A falecida foi minha colega. Maria Martha, Maria Rita. Na lista de chamada ela vinha logo atrás de mim. Doideira.

Ontem
Um dia típico do que têm sido meus dias. Ansiedade, obsessão. Trabalhei o dia inteiro num sonho, enquanto outros povoavam meu cérebro. Há um torvelinho na minha cabeça, não consigo me concentrar em nada, a não ser numa só palavra, tomara. Nem os decibéis de um show de rock (Winghead, banda do Paul Arnoux, querido amigo apresentado pela Giulia meses atrás) foram suficientes para me trazer totalmente ao presente concreto. Como, se passado e futuro conspiram em minha mente?

Tenham um bom final de semana. Pra mim vai continuar esta doce sobreposição de dois mundos, o real e o ideal, que espero algum dia tornem-se num só.

Martha Argel

quarta-feira, 16 de abril de 2003

Boa noite, querido web-diário online.

Estou meio em crise faz uns dois dias. Será que estou fazendo a coisa certa, dando as costas à minha profissão para embarcar noutra? Ou será que dá pra tocar as duas? Será que dá pra dividir meu tempo e minhas forças e fazer tudo bem feito, como deve ser? Sei lá. O jeito é continuar neste caos, tentando fazer tudo ao mesmo tempo e já.

O que vocês vão fazer no feriado? Eu vou ficar aqui por Sampa, com nenhuma programação em especial. Às vezes é bom ter o tempo à nossa disposição, sem nada urgente a ser terminado. Talvez um cinema, talvez um restaurante japonês, uma ou outra compra dentro das limitações de um saldo bancário para o qual tenho planos mais ousados. Quem sabe termino de ler algum livro.

Fiquem bem consigo próprios.

Martha Argel,
preguiçosa depois de um dia bom e produtivo

segunda-feira, 14 de abril de 2003

Boa tarde! Linda, de sol, tem um sabiá-do-campo (Mimus saturninus) gritando lá fora. Sempre que ouço essa ave acho que ela está falando comigo. Foi com essa espécie que fiz minha tese de mestrado, há tanto, tanto tempo atrás.

O final de semana foi agridoce. A morte de pessoas que a gente conhece, e com quem tem contato todos os dias, é sempre algo difícil de aceitar. E foram duas, uma na sexta-feira, outra no sábado. Dois senhores, amáveis, simples, dessas pessoas que tornam a nossa vida possível e em quem só reparamos quando se vão. Seu João, há anos mantinha em ordem o telhado aqui de casa. Bastava uma chuva mais forte, seu João aparecia no dia seguinte para ver se estava tudo bem. E o seu Manoel, o jornaleiro, que a vida toda conheci como "O Português da Banca". Os dois adoravam cachorros. Seu João, quando ninguém estava olhando, pegava meu cachorrinho no colo e o abraçava como se ambos, homem e cão, fossem crianças companheiras de brincadeiras. Seu Manoel tinha uma viralatinhas enfezada que morava na banca de jornal, e que ele levava para passear todos os dias, trajando a camisa do SPFC, seu orgulho. Chorei muito por esses duas pessoas que eu mal conhecia, mas cujo sorriso e amabilidade se foram para sempre de minha vida.

Por outro lado, teve os amigos, teve meu irmão Billy todo feliz me ajudando num projeto e fazendo maravilhas com o computador, teve a companhia sempre agradável da Giu e da Cintia, teve o cano divertido do amigo que vinha de Cosmópolis, teve o sábado na Benedito Calixto com papos produtivos, papos hilariantes e papos estranhíssimos, teve meu sobrinho Mathias (lindo, guitarrista talentoso como o pai, e não me venham chamar de coruja), me guiando pelo estranho mundo da Galeria do Rock. Os telefonemas longos e e-mails inesperados. Ah, e a música maravilhosa do After Forever, indicação da Priscilla.

No todo, um resumo da vida. Tristezas, amizades, trabalho e momentos em que o tempo escoa sem dor e sem pressa. O que um fim de semana deve ser...

E hoje, começo da semana, às dez da manhã eu no meio do mato com mais dois colegas lutando por mais de meia hora para tirar o carro do meio de um barro teimoso e pegajoso. DIVERTIDÍSSIMO (depois que o carro saiu, claro)!!! Voltei com barro até no meio dos dentes. Se vocês nunca passaram por isso, não sabem COMO a gente se sente bem resolvendo por conta própria uma encrenca desse tamanho! A gente sente que PODE. E eu com certeza posso.

Beijos a todos, tenham uma boa semana.

Martha Argel
(PD. Y, Mirta, por si acaso volvés acá... SÍ! SÍ! SÍ! Acepto! Lili, vos y yo, juntas, allí?!? Guau!!!)

quarta-feira, 9 de abril de 2003

Caramba, tanto tempo se passou desde o último post? Ok.
Mais um suspeito de pneumonia asiática. Pra quantos o menininho terá transmitido o vírus antes de ser isolado?
Meu sobrinho foi assaltado ontem por um moleque que o seguiu desde a escola, e que até se explicou: tinha uma dívida de trezentos reais numa boca de fumo. "Não quero perder a minha vida por essa grana, e você não vai querer perder a sua por causa desse diskman". Cinismo infantil. Mais um subproduto da cultura droga&prazer imediato.
Meus colegas de profissão são uns alienados. Um aumento tributário de 300% para os profissionais inscritos como autônomos na PMSP e só eu acionei o órgão classista para entrar com recurso. Dá vontade largar mão desse lance de consciência de classe e entrar com um recurso individual só pra ver um bando de biólogo desiformado se foder.
Minhas descobertas dos últimos dias:
- vinho: Viñas Riojanas Selección, honesto e muuuuito barato.
- música: Poesie Noire, grupo belga (1985-1992), que hoje seria rotulado de gótico; Ambeon, gótico holandês, do selo Hellion, indicado pela Priscilla. Ambos têm um som maravilhoso.
- anime: Hellsing, vampiros (claro!) indicação da Giulia Moon. Maravilha!
- blog: Lilissama, ri muito ontem.

É isso. Lembrem-se de que boa parte dos problemas individuais vêm da inércia da maioria. Tentem enxergar além do círculo estreito de suas próprias vidas e aprendam a tomar ATITUDES.

Martha Argel

sexta-feira, 4 de abril de 2003


Trabalho. Cansaço.
O tempo nunca alcança.
Céus, estou tão, tão cansada.

Ontem estive no Morumbi, a trabalho. Que nojo, que nojo. Prédios novos, cubículos maquiados. Somem as árvores, aparecem torres em que “área verde” só existe na propaganda. Um córrego que é merda líquida. E os Aedes reinam soberanos. Que os corruptos que aprovam essa vergonha de uso do solo morram de dengue. Que as construtoras se fodam. Que a massa amorfa e insípida da maioria silenciosa e inerte colha os frutos de sua ignorância e omissão: morram nas mãos do filho drogado, morram do tiro do crime organizado, morram da pneumonia “atípica” que o país sucateado não vai conseguir deter.

E que todos os filhos da puta vão para as mais negras e abissais profundezas do inferno e nos deixem em paz.

Vocês que se importam, parem de perder tempo em fofoquinhas de internet e vão fazer alguma coisa real por si mesmos e por este nosso país lindo que tanto precisa de gente que trabalhe de verdade.

Martha Argel,
num dia de fúria